segunda-feira, 19 de abril de 2010

SE CORRER O BICHO PEGA, SE FICAR ELE COME


Depois que elegeram os governos anteriores como bode expiatório para todas as mazelas as administrações seguintes passaram à condição de imaculadas. Caso todos os governos que já passaram por estas terras além de atribuírem as malfeitorias aos seus antecessores tivessem procurado fazer algo para corrigi-las e/ou suprimi-las em, pelo menos, 10% haveria um ganho substancial para a sociedade. Porém, no caso das benfeitorias recusam reconhecer a autoria dos predecessores incorporando-as descaradamente como mérito unicamente de sua administração. É a velha história “filho feio não tem pai ou não sou eu”. É muito comum os governos - seja municipal, estadual ou federal – abandonarem, postergarem, interromperem, remanejarem, reduzirem e mesmo suspenderem recursos, moldarem às suas conveniências obras e projetos que tenham a marca da administração anterior. Apesar de haver uma legislação pertinente sempre se encontra uma maneira de burlar, manipular ou em alguns casos ignorar. Caso clássico disso se deu com os CIEP’s (Centro Integrado de Educação Pública) no Estado do Rio de Janeiro que engoliu o Estado da Guanabara numa manobra politiqueira atendendo os interesses do regime militar (1964-1985) teve somente um governador que administrou com lucidez e voltado para o futuro: Carlos Lacerda (1914-1977) de quem, por sinal, também tenho minhas ressalvas no modo e no temperamento para fazer política, mas isso é outra história. Daí para frente foi uma sucessão de incompetência, omissão, complacência e flagelos. Esta prática vai muito além da simples tentativa de justificar a impotência, inoperância, descaso, eximir-se de responsabilidades ela remete para algo mais concreto que são os interesses políticos e econômicos aos quais os governos encontram-se atrelados. Não há uma única atitude governamental que não os beneficie em detrimento de toda a sociedade mesmo que não aparente. Só não enxerga isso sob duas situações: ou se é um tolo inveterado ou está sendo beneficiado pelo sistema. De outra maneira é fácil perceber os engodos e não se precisa ler nas entrelinhas.


A administração petista se reconhece como a única eficaz, transformadora, uma verdadeira benção divina e devido a isso entendem que devem permanecer no comando enquanto durar a eternidade e um pouco mais. É óbvio que sob a batuta do presidente Lula, O Ignorante Desbocado, mesmo porque ninguém dentro da agremiação petista ousaria dizer o contrário sob pena de ser sumariamente defenestrado. Contagiados (ou contaminados) pelos delírios esquizofrênicos do “cumpanheiro-mor” foram obrigados a engolir Dilma Roussef (PT-SP), ex-assaltante de bancos, ex-guerrilheira/terrorista, pseudo-doutoranda, ex-chefe do Gabinete Civil e atual desocupada, mesmo sob o risco de uma intoxicação. Uma última pesquisa (sic) dá vantagem ao ex-governador José Serra (PSDB-SP) e mesmo que fosse digna de crédito é muito cedo para se dizer alguma coisa mais concreta. Estamos - como já disse - mais uma vez irremediavelmente entre a catástrofe e o desastre. Amigo meu, pouco afeito a termos elegantes, saiu-se com uma metáfora obscena para expressar-se a cerca da vitória nas urnas de um ou de outro candidato: “se a curra é inevitável...” Devo dizer que a sociedade brasileira não tem feito outra coisa. Não por gosto e sim por falta de opção. E caso permaneça alienada esta situação não será alterada de modo algum. Eleição após eleição estamos concedendo permissão para nos violentarem e, eis o pior, não tomamos providência alguma para que os abusos cessem. Somos violentados sistematicamente moral e fisicamente, a fórmula milenar para efetivar-se a dominação. A pobreza moral e intelectual é ovacionada como atributos magníficos aqueles que se propõem a governar este país e, de fato, vêm a governá-lo.


Jose Serra é oriundo do governo anterior e, portanto, segundo a avaliação do presidente, responsável por todas as agruras da sociedade brasileira. Dilma Roussef é, segundo a mesma avaliação, a certeza na continuidade do fenomenal governo que se instalou nos idos de 2003. No Brasil jamais se pensou em políticas de Estado, mas sim de governos, ou seja, personagens com conveniências bem delineadas (às vezes pitorescos, outras grosseiros e na maioria das vezes desleixados, omissos e negligentes com os negócios públicos). Aliás, sequer se pensou seriamente na formação e condução de um Estado eficiente. De forma que, diante do “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”, recomendo o voto nulo. Certamente que alguém será eleito, porém, sem a nossa permissão para a consumação de mais um estupro à nação.


CELSO BOTELHO

19.04.2010

sexta-feira, 9 de abril de 2010

ENTRE O DESASTRE E A CATÁSTROFE


As opções apresentadas em todas as eleições das quais já participei (sejam municipais, estaduais e federais) são lamentáveis, para se dizer o mínimo. Porém, com o sistema eleitoral que dispomos isto não é surpreendente. Durante o regime militar (1964-1985) havia uma estrovenga (entre tantas outras) que chamavam de legislação eleitoral e abrigava dois cândidos partidos políticos, a saber: o do “sim” e o do “sim, senhor” (Arena e MDB). Um quarto de século depois do retorno dos milicos às casernas a legislação eleitoral continua sendo uma estrovenga muito mais inútil e agora com uma multiplicidade de partidos políticos que, para sintetizar, classificam-se em três categorias: “os que já roubaram”, “os que estão roubando” e “os que anseiam por roubar”. Caso a profissão do brasileiro seja de fato a esperança posso recomendar que a abandonem e descubram outra ocupação, tendo em vista que esta não lhe proporcionou os rendimentos desejados e necessários. Sugiro que se adote a profissão “participação intensiva e ostensiva”. Seguramente os resultados serão muito mais profícuos. O tempo passa; as ciências e a tecnologia avançam numa velocidade sem precedentes; os conceitos são reexaminados sob novas perspectivas; as formas e os conteúdos culturais, sociais, econômicos, políticos e religiosos são debatidos, expandidos, reformulados; descobre-se outras direções, outros sentidos, novas orientações para a raça humana e a maioria da sociedade brasileira permanece empacada, alienada, divagando, embrutecida por falsas e meias verdades permitindo sua difusão e, eis o pior, prontamente assimilando-as. Isso não pode ser esperança, mas sim estupidez. Deixar-se manipular com os recursos que dispomos para nos informar não pode merecer outro adjetivo. Décadas após décadas venho assistindo a procissão diabólica de patifes de toda natureza com seus incontáveis truques ludibriando multidões com suas ladainhas sobre resgatar-se valores (não se pode resgatar o que nunca se teve), apontarem horizontes mais promissores (como apontar horizontes sem sequer poder vê-los?) e outras baboseiras. Encontro por ai um apreciável número de compatriotas que se utilizam do ineficiente, prosaico e detestável critério de votar no “menos ruim” como se isso fosse possível. Tal critério é tão fajuto que poderia enumerar aqui centenas de políticos eleitos e reeleitos para diversos cargos anos a fio portadores de ficha criminal; e um número maior daqueles apontados, suspeitos e acusados de envolvimento nos mais escabrosos ilícitos. A esperança, sendo ou não uma profissão, reforça a fé e transcende o sofrimento. E é exatamente isso que atende os interesses políticos desta corja que ai está.


Nesta eleição dá-se uma situação ímpar: a sociedade não está à procura de um “salvador da pátria” como já se deu no passado. Desta vez foi e será orientada, manipulada, induzida no sentido de que deve eleger o reflexo (distorcido, é bem verdade) do já eleito e reeleito salvador da pátria. Não que tais instrumentos não tenham sido usados por reiteradas vezes. Este mito, ou melhor, peixe (podre) que querem nos vender e se comermos provocará uma intoxicação mais dolorosa do que as anteriores com seqüelas que irão bem além de quatros. Caso a sociedade prossiga nesta teimosia idiota de perseguir heróis, salvadores da pátria, pais, mães e sucedâneos ai não há doutor que vá dar um jeito nesta joça. Homens íntegros, comprometidos com os interesses do país, sensatos e abnegados certamente não serão encontrados em eleições brasileiras ou no exercício do poder. Certamente haverá exceções, afinal não podemos e não devemos generalizar mesmo que, como eu, raramente os encontre. As opções eleitorais situam-se entre o desastre e a catástrofe, o horror e o terror, o patife e o cafajeste. Ao “escolhermos” nossos candidatos não estamos fazendo mais que fomentar a mediocridade moral e intelectual que conduz a República para a derrocada, visto que o Estado já se encontra em processo falimentar há muitos anos.


A eleição presidencial deste ano reúne todos os motivos para vir a ser mais um engodo onde o grande lesado é a sociedade brasileira como, aliás, sempre foi. O mais lamentável é a constatação de que se deixa ludibriar com extrema facilidade ano após ano pelos calhordas de ontem e de hoje. Não desejo e nem quero defender nenhuma destas candidaturas que estão colocadas por não merecerem um pingo de respeito de minha parte. Infelizmente um deles sairá vitorioso e, como sempre, o Brasil derrotado e entregue para um dos principais bandos que estão competindo, sendo que um deles está na posse da máquina pública federal, quer seja, a chave do cofre, há oito anos. Caso isso não seja fato determinante para fazer-se o sucessor (a) devemos admitir que se constitua numa vantagem apreciável, notadamente vinda de um presidente que chega ao final do segundo mandato com o índice de popularidade que ostenta. Mas isso não quer dizer a “queridinha” (do presidente) já ganhou, porque bolsa de mulher e urna só abrindo para ver o que tem dentro. Sendo esta última em muitos casos ser desnecessário abrir para saber o conteúdo.


Os que quer que digam os candidatos à presidência da República a despeito de qualquer coisa podem tomar como mero discurso recheado de inverdades, ufanismo, demagogia e tapeação. Todos são potenciais representantes dos interesses internacionais em detrimento do Brasil e de seu povo, pelo menos daquela grande parcela que é decente. Pode ser um termo antigo, porém, expressa adequadamente o que toda essa gente tem feito ao longo da nossa História: entreguismo. Portanto, é uma tolice imaginar que sairemos das garras destes abutres através do voto. Caso não promovamos uma drástica ruptura com toda essa esculhambação só nos restará (e as futuras gerações) lamentar o quanto nos acovardamos diante do inimigo (assim podemos tomar o governo brasileiro) que possui os mecanismos de coerção (física e psicológica), porém, nenhum deles é suficientemente eficaz contra uma população enfurecida pelos anos de desmandos, exploração e desprezo.


CELSO BOTELHO

09.04.2010