segunda-feira, 28 de junho de 2010

A PETROBRÁS É DOS BRASILEIROS


Errado. A Petrobrás é de alguns poucos brasileiros que nasceram com a bunda para a lua. Aliás, as estatais, companhias de economia mista, autarquias, embaixadas, departamentos, escritórios, banheiros e corredores da administração pública brasileira são inesgotável estoque de moeda de troca de todos os governos, tenham eles a cor que tiverem e sempre em detrimento de toda a sociedade. Seu loteamento obedece a uma hierarquia rígida de importância político-partidária para o governo. A Petrobrás, o Banco do Brasil e a Eletrobrás são as maiores estatais brasileiras e, portanto, a menina dos olhos de qualquer governo para seduzir e aliciar apoios promovendo descaradamente seu inchaço para conceder mais lotes e mais benesses. Desta feita temos notícia de que estes três “sauros” (Petrosauro, Eletrosauro e Banco do Brasilsauro, royalties para Roberto Campos, 1917-2001) irão conceder 94% de reajuste salarial a 50 executivos ali incrustados. Não estamos colocando em questão a capacidade técnica destes diretores, porém contestamos salários tão elevados e reajustes tão aquém da realidade brasileira. Naturalmente que em tais funções há que se aferir um salário maior a seus ocupantes, pois - presume-se – para tal se prepararam e possuem capacidade da exercê-lo. Porém, é uma afronta à sociedade, um desperdício colossal e uma prova irrefutável de má gestão do governo, não só deste como também daqueles passados. A Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, etc. e etc. são caixas pretas que, abertas, revelarão as mais escabrosas manobras que estarreceriam esta nação. A bem da verdade tudo que se relacione com as administrações públicas estão impregnadas de todo tipo de ilicitudes que se possa imaginar. Não há reforma que possa ser concebida que venha a aboli-las ou minimizá-las pelo menos razoavelmente. É imprescindível que se reestruture o Estado brasileiro que se encontra em adiantada e inexorável decomposição. A Petrosal não terá destino diferente: corrupção, malversação do dinheiro público, desperdício, cabide de emprego, covil de salteadores e abrigo para incompetentes. A camada pré-sal é uma benção da Natureza que já foi transformada em maldição antes mesmo de ser uma realidade.



Ninguém me contou, eu vi. Há alguns anos atrás aprovou-se no Senado Federal uma Medida Provisória (um dos monstrengos aperfeiçoados pela Constituição Federal de 1988 que substituiu o famigerado Decreto-Lei dos milicos) concedendo crédito suplementar à Petrobrás da ordem de R$ 7 bilhões a título de adquirir no exterior máquinas e equipamentos para prospecção. No entanto, a estatal não informava coisa alguma a respeito da solicitação. Informações primárias como onde seriam adquiridos, quem forneceria, qual o preço, quem as transportaria, a que preço, quem as montaria, etc. A Estatal limitou-se a pedir o crédito e o Senado, sempre de cócoras, concedeu. A desfaçatez com a qual o governo mete a mão no dinheiro público é constrangedora, selvagem, ignóbil. Existem “conselheiros” e outras tralhas nestas instituições que sequer lá aparecem para dar o ar de sua graça (apesar de não terem graça alguma), porém recebem pontualmente seus proventos como, por exemplo, Dilma Rousseff. A questão de privatizar a Petrobrás é reducionista, mesmo porque já se encontra “privatizada” há muito tempo ou alguém tem alguma ilusão de que o título deste artigo é para valer? É puro eufemismo, trapaça e história para boi dormir e vaca roncar. A estatal do petróleo só é dos brasileiros para socializar os prejuízos, aliás, como todas as outras.



Com o coração amargurado o presidente Lula, O Ignorante Desbocado, concedeu os 7,7% para os aposentados com o devido cuidado de vetar o fim do fator previdenciário que “quebraria a Previdência”. Ora, o déficit previdenciário é tão real quanto à lâmpada de Aladim. Há décadas tenho ouvido a mesma ladainha e ela não quebra. Segundo levantamento da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) somente em 2009 o superávit da “falida” Previdência Social superou os R$ 20 bilhões e o acumulado entre 2000 e 2008 ficou na casa dos R$ 392,2 bilhões. Que quebra é essa? Na LDO (Lei das Diretrizes Orçamentárias) para o exercício de 2011 enviada ao Senado Federal o governo prevê um reajuste para o salário mínimo dos atuais R$ 510,00 para R$ 535,00. O senador Tião Viana (PT-AC) sinalizou um arredondamento para R$ 550,00. Considerando que a maioria do segurados percebem apenas um salário mínimo constataremos que o impacto nas contas da Previdência não seria de maneira nenhuma nada sequer próximo de catastrófico e há espaço para uma recomposição aquém do que prevê o governo e sinaliza o senador. Este argumento de quebra na Previdência é mais do que mentiroso, é um crime de genocídio perpetrado pelas autoridades contra os aposentados e os trabalhadores. No Brasil de hoje não existe falta de recursos e, como sempre, excesso de corruptos, salafrários, velhacos e safados de todas as categorias.



No sistema capitalista a “mais valia” é irrevogável e, portanto – sabemos - que operário é operário e milionário é milionário e ponto final. No entanto, dentro deste sistema há bastante espaço para que se diminuam as diferenças tão avassaladoras existentes mediante uma distribuição de renda mais eqüitativa, mais humana. A raça humana não poderá ficar eternamente presa a este conceito predador do capitalismo sob pena de desintegrar-se. A negação de direitos elementares a bilhões de seres humanos acabará por romper todas as convenções que se possa imaginar tornando impossível qualquer tipo de relacionamento amistoso, cordial ou minimamente sincero que se espera. Caso esta postura selvagem, esse delírio pelo lucro financeiro não abra espaço para uma distribuição de renda com qualidade para um contingente maior da população mundial a raça humana estará irremediavelmente inviabilizada sobre a face da terra. Falo de inviabilidade e não de retrocesso, porque este último ainda seria um mal menor. A História está repleta de exemplos onde a ganância, a brutalidade, a repressão atingiram níveis insuportáveis provocando rupturas espetaculares que se fazem sentir ainda hoje. Portanto, não estou sendo alarmista, apocalíptico. Apenas descrevo uma situação inevitável caso permaneçamos neste caminho de iniqüidade, de loucura desenfreada pelo lucro exacerbado, de espoliação cada vez mais severa uns sobre os outros.



O petróleo, e outras riquezas naturais, podem estar em território brasileiro, mas definitivamente não pertencem aos brasileiros, quiçá a somente uns poucos deles.



CELSO BOTELHO

28.06.2010

quarta-feira, 23 de junho de 2010



FINGE QUE FUNCIONA

A fim de dar tratamento equânime aos dois principais candidatos à presidência da República (os demais nem contam) e para não pairar nenhuma suspeita sobre mim de que “tucanei” hoje vou baixar o cacete no José Serra do PSDB que diante dos problemas recomenda “finge que funciona”. Ainda defendo o voto nulo e é um absurdo que a urna eletrônica não tenha esta opção, afinal é também é uma expressão do eleitor. De vez em quando me perguntam insistentemente o porquê de tal opção ao que respondo candidamente: “com um ou com outro serei, inevitavelmente, estuprado. Portanto, a violência se dará sem a minha permissão”. Para início de conversa o dito cujo candidato, em entrevista, disse duas coisas que fiquei remoendo. A primeira foi que admitiu ser esta uma eleição difícil, aliás, para ele qualquer eleição presidencial será difícil, até contra um Zé das Couves e conta com sua biografia. A segunda quando afirmou ser o candidato do avanço e estão fazendo terrorismo na Internet contra ele. Vamos, portanto, analisar. As convicções de Serra sofreram bastantes alterações com o passar do tempo. De marxista-leninista à democrata empedernido podemos comparar à transformação de vinho em água. De mais a mais se biografia ganhasse eleição Abraham Lincoln (1809-1865) jamais teria sido presidente dos Estados Unidos, pois jamais ganhara uma. Serra foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) com o apoio da AP (Ação Popular), movimento engajado na tradição marxista-leninista que fora um dos fundadores (esta organização esteve envolvida no atentado ao aeroporto de Guararapes no Recife (PE) em 25.07.1966, o primeiro com vítimas fatais durante a ditadura militar) e do Partido Comunista Brasileiro. De fato é o candidato do avanço. Avançou contra os interesses dos trabalhadores e da nação quando deputado federal constituinte negando seu voto à redução da jornada de trabalho, a estabilidade do emprego, ao abono de férias de 1/3 do salário, para a garantia de 30 dias do aviso prévio, pela garantia do salário mínimo real. Como senador avançou no patrimônio público para dar prosseguimento a ação entre amigos que foram as privatizações do governo FHC (1995-2002) que também já foi marxista, basta lembrar que quando senador foi favorável à privatização (doação) da Cia. Vale do Rio Doce com capital estrangeiro. Posição antagônica que tomara quando teve que se declarar contra as multinacionais (e a favor da Revolução Cubana) para poder disputar sua primeira eleição que, aliás, perdera. Creio ser de bom alvitre Serra não tentar respaldar-se na sua biografia. Quanto ao fazerem terrorismo na Internet é a mais completa bobagem. O que chama de terrorismo são os mesmo artifícios empregados por todos os políticos em todos os lugares deste Brasil por todas as épocas. Isso é choro de perdedor. A diferença está na existência da Internet e o seu acesso livre. Posso até concordar que há excessos, mas eles não são privilégios da Internet. Antes de usar a palavra deveria verificar o que realmente significa e notaria que está fora do contexto (terrorismo: sistema de governar pelo terror ou por meio de medidas violentas).


José Serra, a exemplo de Dilma Roussef, não apresentou um programa, uma proposta, algumas linhas gerais que sejam que tenham direção e consistência para quem pretende ocupar o cargo mais importante do país. O que encontramos, vez por outra e sob os holofotes, são menções avulsas aos inúmeros problemas que afligem a sociedade brasileira recebendo um tratamento superficial, oco, demagógico, completamente desarticulado e eleitoreiro. Que propostas o candidato tem para combater um dos maiores flagelos que assola a humanidade atualmente que é o narcotráfico? Como tratará a questão da violência, urbana e rural, que atinge todos indiscriminadamente? A tributação no Brasil não passa de uma hedionda extorsão, apropriação indébita ou, num sentido mais amplo, roubo oficial. A indecência tributária não precisa de uma reforma, pois você pode reformar alguma coisa que ainda venha a servir e – neste caso – não há nada que se aproveite, portanto urge pensar uma política tributária. E a tal da reforma política cantada em verso e prosa por todos os candidatos? A fábula de que a previdência social irá quebrar continuará a servir de muleta para o governo espoliar seus segurados? Quando ocupou o ministério da Saúde Serra zerou os investimentos em saneamento, demitiu mais de seis mil “mata-mosquitos” para a felicidade do Aedes Aegypti. Dos R$ 81 milhões gastos em publicidade apenas R$ 3 milhões foram destinados a campanhas educativas de combate a dengue. O resultado disso foi, só no Rio de Janeiro entre janeiro e maio de 2002, mais de 207.521 casos de dengue com 63 óbitos. E o déficit habitacional crônico? A geração de energia? A malha rodoviária brasileira está em pandarecos e a ferroviária é praticamente inexistente. E a reforma agrária? Como pretende lidar com essa questão? Até hoje somente os latifundiários, empresários e banqueiros foram beneficiados por todas as tentativas que se fez. Tem o caso do banqueiro Andrade Vieira do falecido Bamerindus, um dos financiadores e ex-ministro da Agricultura de Fernando Henrique Cardoso, vender terras localizadas dentro de reservas indígenas. E por falar nisso é outro calcanhar de Aquiles que não vejo nenhum candidato sequer mencionar. Será que as contendas entre fazendeiros, posseiros, grileiros e índios não merecem a atenção? Quantos episódios similares ao ocorrido na Serra Raposa do Sol ou para a construção da estrovenga de uma hidroelétrica inútil em Belo Monte teremos que assistir? Outra questão que já abordei aqui diversas vezes e tem sido uma constante nos últimos vinte e cinco anos: o sucateamento das Forças Armadas. Não que defenda uma posição belicista do Estado brasileiro, porém é vital para um país mantê-las em condições mínimas para o cumprimento de seu objetivo constitucional de garantir a segurança e integridade do território nacional. O Exército mais parece um museu de armas e equipamentos de tão obsoletos. A Marinha não possui navios e sim banheiras flutuantes para patrulhar uma imensa costa e a maioria dos aviões da aeronáutica são verdadeiras arapucas voadoras. Outra reforma que ninguém é besta de falar é a administrativa que precisa e deve ser feita nos três poderes. Enxugar o Estado é uma prioridade nacional. Somente o presidente Lula, O Ignorante Desbocado, criou centenas de empregos desnecessários para atender a demanda da pelegada, associados e cúmplices. Esta semana mesmo um conhecido meu declarou-me seu voto para Dilma Roussef por interesse pessoal, quer seja, continuar se locupletando com o Partido dos Trabalhadores no governo. Falam isso e aquilo para a Educação, porém ela continua sendo negligenciada governo após governo e a pesquisa científica no Brasil é um vexame. São estas e outras questões que o Serra e demais postulantes deveriam responder, mas preferem ficar se alfinetando, partir para ataques pessoais e inventarem dossiês. Em vez de campanha eleitoral temos uma lavagem de roupa suja e a tradicional batalha para saber quem é mais bravateiro, demagogo, mentiroso e, portanto, apto ao cargo.



O PMDB é um partido para profissionais, desde 1985 é o dono do poder de fato. O PSDB sequer é aprendiz porque lhe faltam quadros e discurso. Não souberam ser situação e, na oposição, foram incompetentes e oportunistas. O PT mostrou-se competente na oposição e um desastre para o país na situação. O governo Lula aplicou, com sucesso, a diabólica fórmula paternalista: para a maioria tostões e para uma minoria bilhões. Para dizer a verdade desde o tempo do Império todas as agremiações partidárias só serviram para atender os interesses da elite e de seus donos. Atualmente contamos com quase trinta partidos políticos que, reunidos e com muita boa vontade, não vale coisa alguma. Disse e repito: estamos entre o desastre e a catástrofe. A campanha eleitoral à presidência mais parece uma disputa entre duas quadrilhas rivais pela posse da chave do cofre, no caso público. Serra é um homem indeciso, fraco e desinteressante. Dilma é arrogante, prepotente, egocêntrica e presunçosa. Seja quem for o eleito não podemos sequer sonhar de haver a mais tênue perspectiva de que ocorrerão as mais simplórias transformações neste país, pois ambos são órgãos do mesmo degenerado corpo.


CELSO BOTELHO
23.06.2010

sábado, 19 de junho de 2010

DANONINHO VALE POR UM BIFINHO




E Dilma Roussef, caso eleita, nem isso valerá. Mas isso não quer dizer que algum dos demais candidatos à sucessão presidencial valha mais. A ex-guerrilheira/terrorista, assaltante de banco, ladra de armas e dinheiro, pseudodoutoranda, ex-ministra da Casa Civil, “queridinha” e capacho do presidente reafirmou o que seu Chefe já havia dito ao dizer que “agora os brasileiros têm acesso a bife e danone”. Para este tipo de gente o povo é tal e qual porco de engorda, se é que uma dieta composta apenas por estes dois itens reúna os nutrientes essenciais à manutenção da vida humana e atenda a tantas outras de nossas necessidades. Havia a máxima, no Império Romano, de que o povo queria pão e circo então os imperadores distribuíam pão e espetáculos sangrentos no Coliseu. Pouca coisa mudou desde então. No Brasil o pão (que o diabo amassou com o rabo e depois não quis comer) ficou por conta da Bolsa-Família também conhecido como Bolsa-Esmola. O circo tem muitas versões (futebol, programação das emissoras de televisão, carnaval, etc.), porém a função de palhaço sempre caberá ao povo. O presidente Lula, O Ignorante Desbocado, na campanha de 2002, alardeava aos quatro ventos que ao cabo de seu mandato os brasileiros fariam três refeições por dia. Muito bem. Oito anos depois ele não precisa se afastar muito do Palácio do Planalto para constatar que não logrou êxito é só dar uma passada nas cidades satélites e nós - seja nas grandes, médias ou pequenas cidades em seus perímetros urbanos ou rurais, quer nos estados mais ricos da federação ou nos mais pobres, no litoral ou no interior – constatamos que a promessa não passou de demagogia, bravata, coisa bem de seu estilo. Seu fantoche trilha os meus caminhos. O presidente poderia ter obtido até sucesso caso houvesse levado a efeito uma reforma agrária, não baseada nos modelos já tentados e praticados ou aquela que os latifundiários e associados querem, quer seja, a União distribuir hectares e mais hectares de terras no Oceano Atlântico. Poderia ter determinado que o MST (Movimento dos Sem-Terra) utilizasse as terras já recebidas para produzir alimentos ou – e seria o mais sensato – pôr esta quadrilha de malfeitores na cadeia, mas está comprometido com baderneiros de tudo quanto é espécie e, portanto, não possui autoridade moral nenhuma sequer para repreendê-los.



A candidatura desta senhora é uma afronta. Prova cabal de que o crime compensa. Não venham com esta conversa de que são crimes políticos e blá-blá-blá. Não há daquela época nenhum documento de nenhum grupo que se dizia oposição ao regime militar (1964-1985) que sequer sugira a defesa dos valores democráticos. Aquele pessoal queria mesmo um regime comunista nos moldes stalinistas. Arquitetavam trocar a ditadura dos militares pela ditadura deles. O resto é balela. A coisa era tão ao estilo soviético que nestes grupos existiam “tribunais” que “justiçavam” integrantes do regime capturados, simpatizantes, pessoas seqüestradas acusadas de colaborarem com a ditadura, membros da própria facção acusados de “fraqueza” ou traição. Ora, pousar agora de mártir é pretender nos passar um vistoso diploma de asno. Dilma Roussef declarou que fora presa e torturada durante três anos e isso é uma mentira muito da descarada por dois simples motivos. Primeiro: ninguém (seja o Miketson ou o Maguila) suporta ser torturado durante tanto tempo; segundo: na maioria dos casos não havia necessidade de torturas excessivas porque este pessoal (inclusive D. Dilma Roussef) quando era preso pelo regime já chegavam a suas instalações cagando pelas pernas abaixo de tanto medo e “cantavam” tudo que os milicos queriam ouvir sem desafinar. Teve um sujeito membro de um desses grupos que se mostrava durão, inflexível, disposto a morrer pela “causa”, porém uma vez na Barão de Mesquita (RJ), incorporou o espírito de Judas Iscariotes e delatou conhecidos, desconhecidos, mortos, vivos, terráqueos e marcianos em poucas horas. Só para lembrar devo dizer que fui contra esses movimentos armados que por si só não representavam uma ameaça ao regime militar, mas que foram brutalmente reprimidos numa demonstração de selvageria. Fui contra porque aquelas organizações não tinham compromisso algum com a democracia, estaríamos trocando de ditadura (o verde-oliva pelo vermelho). Volto a dizer: os verdadeiros mentores, líderes e interessados na guerrilha não visavam outra coisa senão o ganho político e econômico que poderiam obter. Como também fui, sou e sempre serei contra todo e qualquer regime ditatorial, seja civil ou militar ou qualquer coisa que com isso se pareça. Os excessos foram cometidos de ambos os lados e a Lei da Anistia (1979) foi um acordo entre as lideranças civis e os militares que não passou de um esbulho. Não se tratava de evitar revanchismo e apaziguar os ânimos e sim de punir crimes cometidos de parte à parte. Esta lei garantiu a impunidade até hoje para os mais diversos crimes e violações de direitos humanos.



Uma vez que tenho acesso a bife e danone gostaria de ter acesso a esta candidata para lhe dizer, entre outras coisas, que nós brasileiros (a grande parte decente) não tem culpa alguma dela existir e ser nossa compatriota e, sendo assim, num esforço imenso para demonstrar grandeza e amor ao país, deveria renunciar à sua pretensão presidencial e tratar de sua vidinha, o que já é muita coisa. Isto não antes de explicar ao povo brasileiro o que foi feito dos mais de US$ 2,5 milhões surrupiados da casa da amante do ex-governador de São Paulo Ademar de Barros no bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro em julho de 1969 equivalentes a mais de US$ 20 milhões hoje e naquela época diziam que seria revertido em favor do povo. Que povo? O povo deles, dos larápios! O roubo jamais poderá ser tipificado como crime político.



CELSO BOTELHO

19.06.2010

domingo, 6 de junho de 2010

CARTA AO ONOFRE VI



De inicio, caro amigo, vou confessar-lhe o motivo pelo qual se deu longo espaço de tempo entre a última missiva e esta. Não penses que irei engendrar histórias fantasiosas com o único propósito de apresentar-lhe motivo para o ocorrido. Não. Bem sabes que tais artifícios não fazem parte de nosso feitio e, de mais a mais, somos amigos há décadas e, portanto, gozamos de intimidade o bastante para não ficar a mentir um para o outro, mesmo porque saberíamos no mesmo momento caso um de nós tentássemos. Meu estimado Onofre perdoe minha negligência, desleixo e – porque não? – indolência. Talvez, e só talvez, tais atributos tenham-me vindo junto com o passar dos anos, não sei. Porém, não imagine que, durante este período, não houve lembrança minha de vossa pessoa, de sua encantadora esposa e deste seu sítio aprazível, suave, sereno, onde podemos assistir o pôr do sol em silêncio cismando com isto ou aquilo e vice-versa. Este pedacinho de chão nos envolve, tranquiliza e em nada nos lembra aqueles dias de furdúncios, de encontros, desencontros e – às vezes – reencontro. Rogo, pois, que não faça conta deste deslize mesmo que injustificável não é – creio eu – imperdoável.



Ditoso amigo, bem sei que andas muito melhor informado do que eu, no entanto, desejo comentar sobre a sucessão presidencial. Já examinamos, reiteradas vezes, tal processo ao longo destes últimos vinte e cinco anos, porém cada uma delas, em qualquer tempo, mostra-se inédita com elementos completamente distintos a constituir-lhes a forma e o conteúdo, devo frisar que este último, em linhas gerais, pouco se diferencia uns dos outros. Nos cinco pleitos presidenciais desde a tal da “redemocratização” os discursos assemelhavam-se em muito com a obra do grande Nelson Rodrigues (1912-1980, “Bonitinha, Mas Ordinária”, 1962, Rj.) bonitinhos, mas ordinários. E, dileto amigo, redemocratizaram o quê? Um Estado que mesmo antes do regime militar (1964-1985) não era democrático e – sabemos - que na essência ainda não é, apenas na aparência, e olhe lá! As práticas políticas são somente ordinárias com invólucros algumas vezes bonitinhos para sustentarem o engodo e as administrações extraordinariamente incompetentes, omissas, negligentes, coniventes, permissivas, clientelistas, assistencialistas, paternalistas e outros “istas”. E depois nós é que éramos comunistas, terroristas, bardenistas. Ora veja, se é assim porque nem eu nem você estamos no governo? Porque é essa gente que está no poder desde a Lei da Anistia (1979). Apesar de que esta mulambada que se diz de esquerda não engana ninguém. Não passam de meros oportunistas e salafrários e seu Chefe sequer sabe a diferença entre socialismo e comunismo. A campanha deste ano não traz lá grandes novidades, os vícios e os viciados podem até serem novos, porém o balde não. Após as eleições de 2006 vivíamos sob a ameaça de uma ruptura constitucional por conta da idéia de jerico da “cumpanheirada” encasquetar com um terceiro mandato para o atual presidente, em especial os inúmeros integrantes da ANABOL (Associação Nacional dos Baba Ovo do Lula) que só não prosperou devido à pressão da sociedade cuja banda boa é bem superior à podre e menos pelo desejo do “Cumpanheiro-Mor”. Eu mesmo, em um de meus escritos sobre esta indecente manobra, questionei que se o presidente tem tanto apego pelo poder deveria ter seguido a carreira eclesiástica articulando para assumir o trono terreno de São Pedro, pois o papado é vitalício.



Sobre José Serra (PSDB-SP) e Dilma Roussef (PT-SP) já me pronunciei a respeito e fui categórico: encontramo-nos entre o desastre e a catástrofe, basta um passar de olhos em suas biografias para sabermos onde podemos situá-los seja na vida pública ou privada e depois darmos graças ao Senhor por não ser nem um nem outro. Mas tem a Marina Silva (PV-AC). É. O discurso verde é muito atrativo, apocalíptico, necessário e indiscutivelmente urgente, porém, não sustenta uma disputa presidencial onde os leões e as hienas estão disputando ferrenhamente uma carcaça. Aliás, porque diabos a ex-ministra do Meio-Ambiente trocou uma reeleição certa no longínquo Estado do Acre por uma aventura eleitoral que, certamente, não a conduzirá ao Palácio do Planalto? Existem mesmo certos mistérios... Cale-te boca! Bem, prezado Onofre, estes são os mais celebres concorrentes que disputam um cargo que trabalha muito; viaja bastante; não tem privacidade; está rodeado de bajuladores e pedintes de todos os tipos, desde um empreguinho para a vizinha da sogra até um favorecimentozinho qualquer que implica num ganho de milhões e/ou bilhões e, eis o pior, ganha mal para cachorro, gato e papagaio. Qualquer vendedor de automóveis tem um salário muito melhor. Seria desprendimento? Patriotismo? Idealismo? Porcaria nenhuma. É pelo poder. O poder fascina, enlouquece, embriaga. Citarei caso que conheces melhor do que eu: lembremos do dr. Ulisses Guimarães (1916-1992) que deteve quatro presidências simultaneamente (do PMDB, da Câmara dos Deputados, da Assembléia Nacional Constituinte e da República, Sarney era o vice-presidente empossado na presidência com a morte de Tancredo Neves, 1910-1985) sendo o homem que mais poder concentrou durante a República, em 1990 disse num programa de televisão: “sou louco pelo poder, seduzido pelo poder e para isso que vivo”. É claro que enriquecer e/ou proporcionar o enriquecimento dos seus (parentes e aderentes) vem junto. Mas é sobre uma outra candidatura que vou falar. Devo dizer que ela não me assusta, encanta, comove, preocupa ou mereça mais que um tostão de atenção. Ah, não existem mais tostões? Então não merece atenção alguma, mas vou comentá-la assim mesmo, de graça.



Trata-se de um cidadão que atende pelo nome de Mário Oliveira (PT do B). No currículo consta como engenheiro, advogado, executivo e torneiro mecânico, tal qual o pródigo filho de Garanhuns (PE). Reporta-se como centro-direita, denominação, aliás, completamente inútil e desnecessária em nosso país, visto que há muitos anos inexiste qualquer coisa que se pareça com esquerda, direita, centro-esquerda, centro-direita ou outra bobagem qualquer, o que prevalece são os interesses poíticos-partidários-eleitoriais e financeiros. Em seu site consta um perfil de nacionalista, conservador e governará (caso eleito) sob “o império da Lei”. Penso que talvez tenha confundido nacionalismo com patriotismo, conservador como conservação e império da lei com ditadura na lei. Em outra época, digno Onofre, poderiam classificá-lo como muitas coisas, inclusive algumas aqui impublicáveis, mas nos limitaremos em relacioná-lo como mais um representante das ideias autoritárias, ditatoriais, opressivas e repressoras. Uma classe que está inquieta, saudosa, raivosa e revoltada pelo fracasso de conspirações das mais tenebrosas para assumirem o controle desta nação. Tem um contingente apreciável de viúvas e órfãos do regime militar a apoiá-lo, saudá-lo, estimulá-lo e respaldá-lo. Tenho procurado me informar sobre as propostas deste “moço” para depois manifestar-me. Portanto, o que segue está baseado pura e simplesmente nas propostas apresentadas pelo próprio candidato. Já li que o chamaram de aventureiro numa alusão ao presidente Collor (1990-1992) o que penso ser um equívoco, pois Collor pode ter sido um aventureiro, porém de modo algum comprometido com alguma forma de ruptura institucional (ao menos no seu sentido estreito), já o senhor Mario Oliveira deixa transparecer senão este objetivo certamente o caminho para atingi-lo. Mário Oliveira não é dessas candidaturas exóticas que recheiam todas as eleições, ele representa tudo aquilo que repudiamos, lutamos contra, fomos perseguidos, presos, mortos, desaparecidos e o diabo a quatro em nome da liberdade e da democracia que pode ser capenga, porém ainda não me convenceram da existência de um sistema melhor. Esta candidatura me insulta pelas propostas claras de supressão, arbitrariedades e cerceamento. Não é uma candidatura exótica, estapafúrdia, desconexa e sim uma afronta. Nada contra pessoalmente o candidato que sequer vi mais gordo ou mais magro que, para mim, não passa de um instrumento programado de um mecanismo muito bem lubrificado de apropriação do Estado brasileiro para impor o terror a toda nação. Esta candidatura é uma pequena introdução da sinfonia macabra que está sendo composta ao longo dos anos em partituras que exigem sangue para serem escritas. Uma lamentável demonstração de que não foram eliminados do nosso convívio e a tal Lei da Anistia foi uma das responsáveis por isso. Onofre, não nos iludamos, os brucutus (com ou sem verde-oliva) estão agindo de maneira adversa da de outrora. Antes se punham na linha de frente e assumiam seus lugares de facínoras. Hoje, sem a proteção legal, conspiram nos subterrâneos, infiltram-se, arregimentam, assediam, doutrinam, enganam, prometem e corrompem. E muitas vezes são bem sucedidos, basta ver o número crescente deles nas esferas do poder e sua capacidade de convencimento de que trazem as melhores soluções para o país.



Vejamos, pois, as propostas do dito cujo candidato ao Palácio do Planalto. O carro chefe é a implantação imediata da pena de morte e da prisão perpétua sob a justificativa de reduzir o número de homicídios praticados anualmente no Brasil (segundo ele cerca de 55.000) entende então o candidato que é uma situação de guerra (“vivemos numa situação de guerra essa alternativa é para acabar já com a violência que tomou conta do país.”). Entende, como muitos, erradamente. Numa guerra você tem dois lados esforçando-se de todas as maneiras para aniquilar o outro. Reforçar este conceito contribuirá para que as forças policiais e os criminosos aumentem a matança em ambos os lados, porque estarão se vendo como inimigos quando a visão correta seria a do Estado exercendo seu poder coercitivo sobre aqueles elementos que transgrediram suas normas. Ademais com o poder Judiciário e todo arcabouço legal que dispomos a pena máxima só traria mais injustiças e desta vez irreparável. Até mesmo os Estados que adotaram e mantém tal instituto não lograram extirpar a violência de suas sociedades. Esta questão merece um exame acurado, uma ampla e longa discussão e não ser estabelecida como uma medida unilateral de um governo à revelia de todos. Sabes com todas as letras que a pena de morte não é novidade em terras tupiniquins. A Constituição Federal de 1967 estabeleceu tal pena para crimes de segurança nacional (Decreto-Lei 314), afinal os milicos se sentiram frustrados e poderiam até ficarem deprimidos se não a tornassem constitucional. O candidato em questão sinaliza com outras iniciativas tais como rever o Bolsa-Família, insiste na idéia de que tem pôr seus beneficiários para trabalhar o que contraria o espírito desta esmola afugentando possíveis eleitores. Pretende ampliar a idade mínima para a aposentadoria, hoje aos 53 anos, mas não revela quantos anos iria acrescentar e arrisco deduzir que seria mais sete, pois assim ficaria uma conta redonda. A redução da maioridade penal também está dentro de suas proposituras, porém, qualquer cristão, ateu ou mulçumano sabe que isto não resolve em nada a violência. Promete a manutenção da jornada de trabalho em 44 horas semanais (“a questão da redução da jornada de trabalho é para economias desenvolvidas e ricas, o que não é o nosso caso.”), uma vez eleito e tendo em mente que somos subdesenvolvidos e pobres decerto desejará esticá-la para – digamos - cinqüenta horas ou mais. O ensino superior, segundo proposta do candidato, será pago ou, depois de formado, o aluno deverá prestar serviços ao Estado pelo tempo do curso frequentado, naturalmente isso deve implicar na extinção do FIES, do Prouni e de qualquer outra ajuda governamental e também propõe a extinção do sistema de cotas. Prevê o fim do ministério da Reforma Agrária e das Cidades, mas - ô Mário - dos trinta e oito só irá acabar com dois? Que reforma ministerial mais chinfrim. Porém, há uma coisa que estou plenamente de acordo com o postulante a mandatário supremo deste Brasil varonil: ...”o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) é composto por bandidos.” Mas seria impossível que não houvesse nada para eu concordar!



Mas o que de fato me incomoda é saber do apoio que tem recebido das viúvas e órfãos do regime militar. Apareceu uma “cientista política” que afirmou que “existe um grande eleitorado à procura de um novo Estado” e justifica-se alegando que os dois últimos governos relegaram ao segundo plano setores médios da sociedade priorizando os mais pobres. Bom, este é o discurso da classe média e não poderia ser diferente até porque sempre haverão de estar preocupados com uma viagem à Disneylândia, a troca do carro da família outros supérfluos e bugigangas. O site “Ternuma (Terrorismo Nunca Mais) poleiro dos participantes, defensores, simpatizantes e outros abutres do regime militar apóia e incentiva “seus leitores” a votarem em Mário Oliveira. O delegado aposentado Carlos Alberto Augusto conhecido na época da ditadura como “Carteira Preta” atualmente lotado na Delegacia de Meio-Ambiente de São Paulo (não é o único torturador que esteve ou está empregado após 1985) pede apoio para a candidatura de Mário Oliveira argumentando “ele é nacionalista de verdade. Temos que mudar nosso país, tirando-o das mãos do crime organizado que está no poder.” Naturalmente jamais viu suas ações e todas as outras perpetradas contra a nação pelo regime militar como crimes. Este “senhor” na década de 1970 estava diretamente ligado ao não menos “senhor” Sérgio Paranhos Fleury (chefe do Dops-SP, Departamento de Ordem Política e Social – São Paulo), o “Doutor Barreto” nas sessões de tortura, o participante ativo na operação que matou Carlos Marighela, o mentor do “esquadrão da morte”, entre tantos “serviços” prestados a ditadura que o premiou editando a “Lei Fleury” que proibia a prisão de réus primários em 1973 quando foi condenado pela participação em vários assassinatos praticados pelo esquadrão da morte. Sua morte em 1979 por afogamento ainda é um mistério visto que os milicos não permitiram a realização de uma autópsia. O general-de-brigada Paulo Chagas, ex-sub-chefe do Estado Maior do Exército de Brasília entre 2004 e 2006 declarou: “suas propostas de mudanças são bem centradas e podem acabar com os costumes negativos da política brasileira.” Mesmo que eu estivesse a caminho do inferno não suportaria essa gente ao meu lado nem por um segundo.



Pois então? Caro Onofre, tanto labuta para hoje assistirmos este tipo de coisa. Certo, porém, é que jamais nos furtaremos em enfrentar estes tipos. Fizemos isso uma vez e faremos tantas quantas forem necessárias e possíveis com os instrumentos dos quais pudermos dispor. Calarmos significará seu fortalecimento e alcance de seus malignos objetivos. O sacrifício de toda uma geração não foi em vão, jamais aceitaremos o cabresto da ditadura como também jamais iremos calar diante das injustiças, arbitrariedades e covardias levadas a cabo pelo regime democrático visando sempre seu aperfeiçoamento e não sua destruição ou mutilação.



Peço-lhe desculpas, meu bom Onofre, por ter me alongado. No entanto, ainda considero extremamente superficial meu texto tal a gravidade do assunto. Fico grato por o haver lido e no aguardo de seus comentários o mais breve possível. Aproveito para informar-lhe que no próximo mês, mais folgado, deverei estar e, sendo assim, já estou a me convidar para uns dias ai no seu sítio paradisíaco desfrutando de sua companhia, de sua esposa e dos maravilhosos quitutes que faz. Um forte abraço daquele que muito o estima e admira.




CELSO BOTELHO

06.06.2010