sábado, 15 de janeiro de 2011

“DIZEM QUE OS QUE GOVERNAM SÃO ESPELHO DA REPÚBLICA: NÃO É ASSIM, SENÃO AO CONTRÁRIO. A REPÚBLICA É O ESPELHO DOS QUE A GOVERNAM”. (*)


Quanto mais conheço os politiqueiros brasileiros mais aprecio os cachorros. Realmente não se pode esperar dessa súcia outra coisa que não seja o desprezo, descaso, omissão e mesmo asco com relação ao povo. Somente durante as milionárias campanhas eleitorais (em sua totalidade financiada por canais escusos) pode a população ser notada por esta classe que ao em vez de servir servem-se dos cargos públicos transformando-os em meio meteórico de amealhar pequenas e grandes fortunas e poder. Demonstração cabal desta minha constatação está no fato de “o presidenta” tia Dilmão (acompanhada do governador-do faz-de-conta Sérgio Cabral) com menos de quinze dias empossada no cargo sobrevoar a Região Serrana do Rio de Janeiro (Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo, São Jose do Vale do Rio Preto, Sumidouro) vendo com seus próprios olhos que a terra há de comer a devastação provocada pelas chuvas e, a seguir, descendo no campo do Fluminense para ser homenageada com uma camisa do clube. Nada contra o clube homenagear, babar o ovo, perdão, puxar o saco, perdão, adular “a presidento”, porém não me parece ser a ocasião adequada. Creio que nem mesmo o mais capiau dos vereadores dos lugares mais longínquos do Brasil demonstraria tanta falta de sensibilidade, habilidade política, desprezo e descaso pelo sofrimento alheio. Bem, para quem já pegou em armas e se arvora de ter feito isto e aquilo ou vice-versa (registre-se que hoje diz a Excelentíssima que lutou pela democracia quando, na verdade, naquela época, apenas desejava substituir a ditadura militar pela ditadura stanilista) talvez a solidariedade e outros sentimentos humanos tenham sido banidos de seu espírito como, aliás, é praxe nestes regimes. De qualquer maneira “o nova mandatário” com esta atitude deixou transparecer realmente sua personalidade prepotente e arrogante que pessimamente disfarçou durante a campanha eleitoral por mais que se esforçasse e por maiores que fossem os esforços de seus marqueteiros pagos a peso de ouro. O comportamento “do presidenta” me lembrou aquele camarada que matou os pais e foi para o cinema como se nada tivesse acontecido. E, de fato, para “o nova morador” do Palácio do Planalto nada aconteceu, exceto a ferocidade com a qual o PT e PMDB se degladiam para a obtenção de mais cargos no governo, ameaçam até aumentar o salário-mínimo acima do fixado utilizando-o descaradamente como arma de pressão, o que é uma besteira porque não será tia Dilmão que pagará os salários e tanto a iniciativa privada como a Previdência Social têm espaço suficiente para absorver R$ 580,00. Portanto, o tiro poderá sair pela culatra. Contudo, admito, tia Dilmão não será tão generosa a ponto de aprovar valor tão “elevado”. Isto é mais uma demonstração que o trabalhador-aposentado-eleitor-contribuinte somente é notado por esta corja quando útil aos seus interesses mesquinhos, levianos, safados.


Não sou adepto de adivinhações, mas o histórico dos governos em prevenir ou fornecer meios para a reconstrução de locais devastados seja por secas ou enchentes não é nada louvável. Na seca de 1877 a 1879 no Ceará o imperador D. Pedro II (1825-1891) sentenciava que se vendesse a ultima jóia da coroa, mas que nenhum cearense morresse de sede. O imperador foi deposto, a coroa continuou intacta e os nordestinos continuaram na penúria (1915; 1934/1936; 1979/1985, nesta o ex-presidente João Figueiredo declarou que só restava rezar para chover; 1997/1999 e 2001). No Rio de Janeiro, cartão postal do Brasil, o descaso, a incompetência, inoperância, inércia, omissão possui registros sólidos e irrefutáveis. Em 1756 o temporal que caiu sobre a incipiente cidade, além de fazer várias vítimas era possível transitar usando canoas como meio de locomoção. Em 1811 o Morro do Castelo desmoronou levando diversas casas e, pela primeira vez foram realizados estudos sobre a catástrofe. Em 1924 as fortes chuvas atingiram o Canal do Mangue atingindo a Praça da Bandeira (que imunda ainda hoje quando surge qualquer ameaça de chuva) e o evento repetiu-se em 1940, 1942 e 1962. Em janeiro de 1966 as chuvas duraram uma semana e devastou a cidade. Houve colapso nos serviços de emergência, “apagões” e transportes. Calculou-se a morte de 50 pessoas e mais de 250 desabrigados. No ano seguinte, 1967, a tragédia repetiu-se: 500 mortos e cerca de 25.000 feridos. 1982 as intempéries provocaram a morte de seis pessoas. 1983 as mortes foram triplicadas. Em 1987 registrou-se a perda de 292 vidas e, aproximadamente, 20.000 desabrigados. No ano seguinte, 1988, as mortes chegaram para 600 pessoas e com um número de desabrigados semelhantes aos do ano anterior castigando, além da Capital e Baixada Fluminense, a Região Serrana. Em 1991 foram 25 mortos e em 1999 contabilizou-se 41 mortos. Isto para não falar nas outras regiões do país que sofreram com os temporais (Blumenau 1911 e 1983; Porto Alegre 1941; Santa Catarina 1974 e 2008; Minas Gerais 1979 e 2001; Espírito Santo 1979; Acre 1997; Paraíba 2004; Alagoas e Pernambuco 2010) ou secas (1583/1585; 1606; 1615; 1652; 1736/1737; 1748/1751; 1776/1778 neste período houve um grande surto de varíola com a morte de inúmeras pessoas e animais; 1915; 1930, 1932, 1934/36; 1953, 1954, 1958; 1962; 1966; 1970; 1979/1985; 1993; 1997; 1998; 1999 e 2000/2001 estiagem relativa) e aguardam (deitados, pois sentados fatalmente irão se cansar) que os governos tomem providências para, senão evitar, posto ser impossível, ao menos minimizar as conseqüências provocadas por tais variações climáticas extremas. Ora, se na Capital de um estado importante e mundialmente conhecida constatamos que nada se faz efetivamente imaginem em outras regiões. Mesmo em São Paulo que é o centro da economia brasileira encontra-se ao Deus dará e nas inundações deste ano o governo ainda autorizou a abertura de comportas de uma represa para aumentá-la. O que se tem visto ao longo dos anos são medidas paliativas, demagógicas e ineficientes que maqueiam o problema até que o sol brilhe novamente (no caso dos temporais) ou que a chuva caia (no caso das secas). As prefeituras não possuem um único estudo, planejamento e muito menos projetos sérios que possa ser apresentado para pleitear verbas do governo federal e, creio eu, não é pela ausência de profissionais gabaritados (geólogos, topógrafos, ambientalistas, etc) que isto ocorre e sim pela omissão, descaso e desprezo pela vida humana. Há mais ou menos um ano o Clube de Engenharia no Rio de Janeiro apresentou ao ministro das Cidades relatórios que foram devidamente engavetados. Portanto, diante de um histórico desses, não fica difícil adivinhar ou previr que tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes, lamentavelmente.


O governador-do-faz-de-conta (faz-de-conta que as comunidades carentes foram pacificadas, faz-de-conta que os hospitais estão funcionando, faz-de-conta que a educação é de qualidade e tudo o mais) disse, publicamente, que a responsabilidade é da população que constrói moradias em áreas de risco. Governadorzinho Serginho Faz-de-Conta vá lamber sabão (e isto para ter o mínimo de elegância em respeito aos meus leitores).

(*) PADRE ANTONIO VIEIRA, 1608-1697

CELSO BOTELHO

15.01.2011