quinta-feira, 27 de setembro de 2012

DIREITA E ESQUERDA. RÓTULOS E CONTEÚDOS






Existem determinadas coisas que não aprecio. Comunistas e quiabo são duas delas. Mas não estou aqui para falar-lhes sobre minhas preferências ideológicas ou alimentares. Falo dos rótulos. As sociedades sempre rotularam tudo e todos e assim continuarão a fazer. Não tem escapatória. Os rótulos são mais do que indicativos, são instrumentos que identificam, aprovam, reprovam, valorizam ou denigrem isto ou aquilo, este ou aquele. Dia desses assisti um debate entre dois sujeitos que faltou pouco para chegarem às vias de fato durante uma discussão sobre direita e esquerda como se a questão possuísse a importância de decidir o futuro da humanidade. Percebi imediatamente tratar-se mais de uma arengação de facção partidária do que um debate ideológico. O debate que travavam resumia-se no seguinte: quem possuía dinheiro era de direita e certamente conservador e quem não dispunha dele era de esquerda e, portanto, ferrenho defensor de que os mais abastados dividissem com os menos favorecidos e que o Estado deva sempre assumir uma política paternalista para com eles. Ficaram, pois, neste estreito entendimento. Conceitualmente, e só assim, podemos distinguir esquerda-direita, posto que na prática seja necessário considerar muitas outras coisas




O conceito de esquerda e direita remonta ao final do século XVIII, na França, quando o sistema político constituía-se de três grupos, os Estados Gerais, a saber: o clero, a nobreza e o terceiro estado composto de banqueiros, comerciantes, médicos, artesãos, etc. sendo este último o único obrigado a pagar impostos, além de sofrerem outras limitações como, por exemplo, ocupar cargos públicos. Tal modelo político era injusto e favorecia apenas uma pequena parcela da população o que permitiu a eclosão da Revolução Francesa. Os termos esquerda e direita originaram-se do fato de que os membros do terceiro estado sentavam-se do lado esquerdo do rei (girondinos) enquanto que os membros do clero e da nobreza sentavam-se à sua direita (jacobinos). Isto conceituou a esquerda como oposição e a direita como conservadora. Contudo, não são conceitos estáticos. Por exemplo, uma agremiação partidária pode perfeitamente num momento alinhar-se à esquerda e em outro à direita dependendo de seus interesses. Há muita contradição nos valores de cada grupo. Estas terminologias transcenderam o espaço e o tempo sofrendo constantes mutações ampliando o campo semântico incorporando contribuições de diversas áreas do conhecimento humano. De qualquer maneira a esquerda representa a transformação do mundo, isto é, a revolução. Enquanto a direita procura conservar os valores que entendem intemporais, isto é, contrária a todas as transformações. Dito desta maneira parece simples, mas não é. Norberto Bobbio em seu livro Destra e Sinistra (“Direita e Esquerda - Razões e Significados de uma Distinção Política”, Editora UNESP, 2001) define assim o conceito: “Convirá também notar que «esquerda» e «direita» são termos que a linguagem política veio utilizando desde o século XIX até aos nossos dias para representar o universo conflitual da política.”




Quando era jovem me deslumbrei com o discurso da esquerda incorporando suas premissas como autênticas e verdadeiras. Mas foi com os anos subsequentes, equipado com mais conhecimento e utilizando ferramentas mais adequadas para sua compreensão, é que logrei êxito e percebi o quanto estava embriagado com seu discurso. Restou, portanto, a direita e, estudando com mais profundidade, pude concluir que não se constituía na oitava maravilha do mundo. O que fazer? O mais racional era apreender a natureza dos fatos examinando-os minuciosamente, decompondo-os e recompondo-os segundo algumas premissas lógicas. Aprendi a estudar a estrutura das questões e, a partir dos resultados apurados, elaborar conclusões e construir possíveis soluções. Tal método pode apresentar falhas, porém tem me servido.




Existem elementos discursivos tanto na esquerda quanto na direita que não devemos desprezar, seja para endossá-los ou refutá-los. A radicalização do discurso, de um lado ou de outro, encobre intenções especificas e alvos muito bem marcados. É preciso examinar as questões em sua estrutura obedecendo a um raciocínio lógico. E isto pode ser alcançado reunindo princípios elementares construídos com o passar dos séculos. São incontáveis os mercenários a serviço de um esquema milimetricamente planejado para ocultar e distorcer conferindo aos fatos as aparências que seus contratadores desejam. Sem contar outro tanto de imbecis que ouvem o galo cantar e sequer sabem que se trata de um galo. É preciso analisar os fatos e as questões colocadas e suas implicações práticas, materiais e, portanto, mais abrangentes. O sujeito não precisa rotular-se ou ser rotulado para estabelecer e desenvolver uma discussão a cerca de qualquer assunto, mas é imprescindível estar equipado para apresentar argumentos que se sustentem, seja para aceitar ou rejeitar seu todo ou suas partes. Observamos corriqueiramente a sistemática simplificação mal intencionada de conceitos complexos e sobre os quais ainda se debruçam os estudiosos tentando compreendê-los com maior abrangência somando-lhe novos significados, atualizando-os e inaugurando outras discussões. Reduzir as díades esquerda-direita, capitalismo-socialismo, privatismo-estatismo, etc. à descrição pura e simples de seus conceitos dicionarizados servem somente para apedeutas, arrivistas e vendilhões que, aliás, constituem-se em expressiva parcela da sociedade brasileira, pelo menos as que detém poder político e econômico. Não é, pois, nada inteligente refutar-se ideias considerando apenas sua procedência e não sua essência. Afinal a flor de lótus nasce na lama.




No Brasil o conceito esquerda-direita sempre esteve mais para as discussões nas academias e nos bares do que na prática propriamente dita. A pobreza dos partidos políticos desde o Império e na República serviu somente para institucionalizar as práticas mais desprezíveis e criminosas das quais temos notícias diariamente. Os interesses pessoais e imediatos sempre são colocados como prioritários em detrimento da sociedade e da nação. Mas, admitamos, os partidos políticos são um dos reflexos da sociedade. Para compreendê-los é necessário estudarmos como a sociedade foi constituída e como e por quem é orientada. As conjunturas somente são compreendidas a partir do estudo das estruturas. Poucos exemplos podem ser descritos onde possamos detectar alguma clareza ideológica.




Com o fim da Primeira Guerra Mundial ideias autoritárias proliferaram em todo o mundo e a democracia liberal entrou em crise. Entre os anos de 1921 e 1930 aconteceram várias revoltas e rebeliões lideradas pela jovem oficialidade do Exército (Tenentismo) com o objetivo de depor os governos oligárquicos e assumir o poder convencidos da incapacidade dos governos civis. Em 1924 surge a Coluna Prestes que após percorrer quilômetros pelo país e travar combates com as forças governamentais termina em 1927 e os tenentes que dela participaram se juntariam as forças políticas que deflagraram a “Revolução” de 1930. O Movimento Tenentista teve participação na deposição de Vargas em 1945, participando das eleições presidenciais neste mesmo ano e em 1955. Em 1964, quando aconteceu o golpe de estado e na sequência o regime militar, dos cinco generais que ocuparam a presidência da República três eram tenentes à época da “Revolução de 1930” (Castelo Branco, Médici e Geisel). Desde o inicio do século XX o nazismo, o fascismo e o comunismo surgiam como alternativas ao modelo liberal-democrático e no Brasil dois importantes movimentos destacaram-se. De um lado a Ação Integralista Brasileira (1932) de caráter nacionalista e antiliberal e de outro a Aliança Nacional Libertadora (1935) composta por socialistas, comunistas, católicos e liberais (uma composição surreal) para combater o governo Vargas, o imperialismo e o latifúndio. Esta última com apenas quatro meses de fundada foi colocada na ilegalidade e após a revolta liderada pelos comunistas (Intentona Comunista), em novembro daquele mesmo ano o comunismo foi classificado como o inimigo número um do Estado brasileiro. Nestes episódios podem-se distinguir os posicionamentos, mesmo considerando a heterogeneidade de seus membros. Tanto um lado quanto o outro declaravam possuir posições definidas, certas ou erradas. Hoje a miscelânea é tão colossal, a descaracterização foi tão bem planejada, articulada e executada que, mesmo que nos esforcemos muito, é difícil identificar e estabelecer limites entre um discurso e outro.




O regime militar inaugurado em 1964 suprimiu da política brasileira o que restava de uma direita conservadora, liberal, míope e viciada pelos favores estatais criando um ser disforme, estranho e profundamente herético e, concomitantemente, cedeu grandes espaços (imprensa, universidades, sindicatos, etc.) para uma esquerda gananciosa, genocida e muito mais ditatorial que eles próprios. Caso dissesse que abriram caminho para a esquerda seria um eufemismo, os militares criaram as condições necessárias e suficientes para a esquerda tomar o poder e aparelhar o Estado como “nunca antes na história deste país” (como bem gostava de dizer o ex-presidente Lula). Mesmo nesta época a confusão entre o que se mostrava esquerda e direita estava estabelecida. Havia quem não simpatizasse com os postulados da esquerda e encontrava-se inscrito em suas fileiras, o mesmo acontecendo com aqueles engajados na direita. E a raiz de todo esse caos era a luta visceral que travavam pela posse do Estado. Naquela ocasião a direita e a esquerda se articularam para isso e um golpe de estado seria inevitável naquele contexto, restando apenas saber quem o desferiria primeiro se a esquerda ou a direita. Num primeiro momento a direita venceu, mas logo a seguir os militares trataram de podar suas asas evitando que alçassem voos mais altos estabelecendo altitudes que os permitissem caçá-los quando bem quisessem. Quanto a esquerda o regime militar mostrou-se ingênuo ou espetacularmente ignorante ao imaginar que o desmantelamento das organizações clandestinas a destruiria para todo o sempre. Ledo engano. A guerrilha funcionou como cortina de fumaça. Prova disso é que quando o regime militar terminou em 1985 só havia esquerda e até hoje se constitui num pecado mortal simpatizar-se por qualquer coisa que não seja rotulada de esquerda, mesmo não sendo de fato. Observem que todos os partidos políticos brasileiros estão simetricamente alinhados com os postulados socialistas, mesmo que desta forma não se apresentem, na prática atuam em perfeita sintonia com eles. No passado, considerando as ambiguidades, constatamos algumas clarezas nos discursos e nas práticas da direita e da esquerda. Hoje, porém, o discurso socialista encampou o que havia sobrado da direita e prevalece como única corrente capaz de conduzir a vida nacional. Desnecessário dizer que isto acarreta um desastre de proporções apocalípticas que já estamos vivenciando.




Em 1884 foi fundada em Londres, Inglaterra, a Sociedade Fabiana por cientistas, escritores, políticos e intelectuais. O nome da entidade remete ao general Quinto Fábio Máximo (275 a.C.-203 a.C.) nomeado cônsul por cinco vezes e ditador por duas vezes. Quinto Fábio preferiu enfrentar Aníbal (248 a.C.- 183 ou 182 a.C.) pelo método da guerrilha, provocando ataques de surpresa em emboscadas que iam pouco a pouco enfraquecendo o inimigo, pois num confronto aberto suas forças seriam, esmagadas. Os fabianos, ao contrário dos comunistas, não desejam tomar o poder pela revolução e sim gradativamente utilizando-se da lei por meio de reformas sempre objetivando manter seus privilégios, aumentar seus poderes e controlar definitivamente todas as áreas de atuação humana. E estão fazendo isso com sucesso, com o dinheiro do próprio povo, seu consentimento e adesão ao encobrir suas reais intenções. Eles não querem parecer socialistas, mas são até a raiz dos cabelos. Mas um socialismo da elite. Seus métodos vão desde os mais sutis e quase imperceptíveis àqueles mais explícitos, mas todos perfeitamente identificáveis mediante uma análise mais acurada ou a pura e simples percepção dos mais atentos. O Socialismo Fabiano vem minando o espaço que ainda pode estar ocupado pela direita e roendo o capitalismo de dentro para fora até o consumir plenamente estabelecendo uma discussão da esquerda com a esquerda que, no final das contas, será um monólogo. Neste ponto terão alcançado a supremacia e a raça humana a derrocada irreversível. O modelo de denominação do Socialismo Fabiano está implantado. Não são como os comunistas, nazistas e fascistas que sempre pregaram a revolução imediata. O símbolo do Socialismo Fabiano é uma tartaruga. São lentos na estratégia e algumas vezes chegam a perder, outras fingem perder, porém sempre saem ganhando de algum modo, em algum lugar, em algum momento.




A discussão esquerda-direita não faz nenhum sentido no contexto atual pela simples razão de que a direita, na acepção do conceito incluindo todos os acréscimos e supressões que verificou-se ao longo dos anos, está praticamente perdida. Os poucos que ainda possam representar o pensamento da direita não possuem os instrumentos e mecanismos que possam sequer ameaçar o Socialismo Fabiano com reais possibilidades de vir a provocar danos severos impedindo seu avanço no controle definitivo das sociedades. Aliás, a direita no Brasil quer parecer mais esquerda do que a própria esquerda. Os possíveis liberais conservadores empenham-se em esconder-se para não afrontar os socialistas, ora vejam! Fazer com que as pessoas ignorem ou minimizem os fatos fartamente documentados sobre a atuação desta gente em várias partes do mundo trata-se de mais uma de suas estratégias. Estratégia que dilata seus espaços e aumenta sua influência e poder. Não tenho nenhuma fórmula pronta para que se evite a extinção total da direita, mas para sobreviverem a única sugestão que faço é que deixem de ser preguiçosos, acomodados e ignorantes (no sentido de ignorar o que se passa). Esqueçam os rótulos e examinem o conteúdo.



CELSO BOTELHO

27.09.2012

domingo, 16 de setembro de 2012

MARTA SUPLICY E A CULTURA DO RELAXA E GOZA



Falando francamente: tanto faz se o ministério da Cultura seja ocupado por Marta Suplicy ou a macaca Chita do Tarzã porque dará no mesmo. Aliás, no governo petista vale tudo e mais um pouco. Esta senhora, quando ministra do Turismo (uma das sinecuras da República tupiniqueira), questionada sobre a crise que ocorria no setor aéreo em 2007 não titubeou em afrontar a sociedade afirmando: "Relaxa e goza que depois você esquece de todos os transtornos!" Somente este episódio seria o suficiente para removê-la do cargo e bani-la da vida pública, mas no Brasil isto não acontece. Ao contrário, em 2010 a sexóloga (sic) foi eleita para o imprestável Senado Federal e agora contemplada com outro ministério inútil. A predileção pelo medíocre é algo assustador na História da República brasileira, bem como a inarredável vocação de defendê-lo, enaltecê-lo e perpetuá-lo, tai o Luiz Inácio Lula Satanás da Silva que não me deixa mentir. A nova ministra da cultura reúne todos os quesitos para ocupar o cargo, inclusive e principalmente nenhum. Sua antecessora reclamou do baixo orçamento do ministério da Cultura e foi para o olho da rua. Mas desde quando a cultura no Brasil mereceu atenção dos governantes? Perdeu o emprego por nada. Bem feito.




Em entrevista a herege ministra classificou o ex-presidente Lula como deus, é realmente uma pena que não tenhamos mais o Santo Ofício para condená-la à fogueira. Mas Marta foi mais além na blasfêmia ao referir-se a ela e “ao presidento” aludindo à Santíssima Trindade. “Lula é deus, eu sou quem faz, e Dilma é bem avaliada”. Vamos examinar a frase. Lula está quatrilhões de anos-luz de assemelhar-se a qualquer coisa divina. Está mais alinhado com as coisas do inferno. Caso Lula fosse deus eu preferiria morrer ateu convicto. Marta, segundo sua concepção, seria o filho, portanto, compara-se a Jesus Cristo como se Ele tivesse sido desleal, infiel, mentiroso, politiqueiro, arrivista e mais um montão de coisas e vícios que se pode imputar a ministra. “O presidenta” Dilma foi alçada à condição de Espírito Santo. Só se for o Espírito de Porco. A “boa avaliação” de Dilma Rousseff soa mais como uma piada de muito mau gosto. Vejamos. Dilma Rousseff afirma e reafirma que lutou no movimento clandestino contra o regime militar. Correto. Só esqueceu-se de acrescentar que defendia a substituição da ditadura militar pela ditadura soviética, jamais a democracia. Dilma afirma que foi torturada, porém não apresenta sequelas físicas ou emocionais. Caso Dilma possuísse a importância que lhe atribuem enquanto membro de organizações clandestinas porque o governo militar reduziu sua pena? Teria sido um acesso de bondade dos militares? Não. Certamente receberam alguma coisa em troca. Mas o quê? A promessa de que doravante não seria mais terrorista? Ou será que cantou a melodia que os milicos queriam ouvir? Dilma, quando ministra da Casa Civil, acrescentou um doutorado em economia que não possuía. Dilma declarou ao Jornal Diário do Nordeste que “uma grande nação não se mede pelo PIB”. Ora, cacete por onde que se mede? Responde “o presidenta” “é a capacidade do país, do governo, e da sociedade de proteger o seu presente o seu futuro, que são suas crianças e seus adolescentes". Mas o que seu (des) governo tem feito pelas crianças e adolescentes, pela educação, pela erradicação do trabalho infantil, pela extinção da prostituição infantil, redução da mortalidade infantil? Atualmente a taxa de mortalidade infantil no Brasil é de 23,6/1000 (no Chile são 13/1000; na Costa Rica, na Tailândia 10/1000). Caso isto seja “boa avaliação” é bom nem pensarmos na ruim.





O fato é que d. Marta ganhou o ministério como prêmio de consolação por haver sido preterida para disputar a prefeitura de São Paulo. Quando foi prefeita desta cidade saiu deixando um rombo de R$ 2 bilhões. Que competência e lisura no trato dos dinheiros públicos, heim!? A ministra teve participação importante na tentativa de implementar o “kit gay” contra a homofobia nas escolas públicas do país tendo sido suspenso sua distribuição “pelo presidenta” Dilma Rousseff e do projeto de lei PLC 122/2006 que criminaliza a homofobia (a PEC tem como um de seus principais ponto a criminalização da homofobia e estabelece a pena de dois a cindo anos de reclusão para aqueles que praticarem atos de discriminação e preconceito em virtude da orientação sexual de alguém. A mesma punição se estende aos que incitarem o ódio ou pregarem [contra a] orientação sexual ou identidade de gênero.) que encontra-se pendente no Clube dos Mercenários ou Congresso Nacional, dá no mesmo. Como está engajada no movimento gay o ministério poderá trocar de nome, da Cultura LGBT. O Estatuto da Diversidade Sexual conta com 109 artigos, que alteram 132 dispositivos legais. Este Estatuto defende que o Estado é obrigado a investir dinheiro público para homossexuais que querem caros procedimentos de reprodução assistida por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e também o Estado é obrigado a criar delegacias especializadas para o atendimento de denúncias por preconceito sexual contra homossexuais, atendimento privado para exames durante o alistamento militar e assegura a visita íntima em presídios para homossexuais e lésbicas. E tem muito mais. Não se trata de se colocar contra ou a favor dos homossexuais e sim de proceder uma análise profunda indo ao cerne das questões apresentadas e discuti-las com embasamento. Não se pode reduzir o tema à simples concessão de reivindicações. Mas para a nova ministra da Cultura tudo se resume em relaxar e gozar, gozar, gozar...






CELSO BOTELHO

16.09.2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O INDEX TUPINIQUIM



 
O Index Librorum Prohibitorum era uma lista de publicações literárias que eram proibidas pela Igreja Católica e ali estavam também as regras para que um livro entrasse nessa lista. A primeira versão do Index foi promulgada pelo Papa Paulo IV (1476-1559) em 1559 e uma versão revista foi autorizada pelo Concílio de Trento (1545-1563). A última edição do índice foi publicada em 1948 e o Index só foi abolido pela Igreja Católica em 1966 pelo Papa Paulo VI. A principio o Index tinha por objetivo conter a expansão do protestantismo e o Santo Ofício o administrava. A trigésima-segunda edição, publicada em 1948, continha 4 000 títulos censurados por várias razões: heresia, deficiência moral, sexualidade explícita, incorreção política, etc. A relação dos livros proibidos é extensa e nela constam autores como Galileu, Emmanuel Kant, Roberto de Roterdã, Descartes, Pascal, Maquiavel, Voltaire, Rousseau, Copérnico, Montesquieu, John Locke, Diderot, Baruch de Espinosa, Alexandre Dumas (pai e filho), Victor Hugo, Balzac, Thomas Hobbe e Émile Zola ( estes dois últimos a obra completa), e muitos outros. Tudo indica que o Conselho Nacional de Educação deseja instituir este instrumento de censura na versão tupiniquim.





O Supremo Tribunal Federal é chamado para deliberar sobre as mais diversas pendengas que vão desde cisco nos olhos, topada nas vias públicas, briga de vizinho, furdúncio em bordel até os processos mais complexos como o do Mensalão. Desta feita o egrégio tribunal foi provocado para decidir se os livros de Monteiro Lobato (1882-1948) devem ou não serem adotados na rede pública de ensino por conta de mandado de segurança impetrado pelo Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (IARA) e pelo técnico em gestão educacional Antônio Gomes da Costa Neto que afirmam existirem “elemento racistas” na obra do escritor. Em 2010 o Conselho Nacional de Educação determinou que a obra Caçadas de Pedrinho não fosse mais distribuída às escolas públicas por considerar que ela apresentava conteúdo racista. O ministério da Educação (MEC) recomendou que o CNE reconsiderasse e a proibição foi anulada, mas determinou que as próximas edições devessem conter “nota técnica” que instruíssem o professor a contextualizar a obra no momento histórico no qual foi produzida. Não conheço e nem desejo conhecer o tal de IARA e muito menos esse tal técnico de gestão educacional, porém os alcei à categórica dos imbecis convictos e oportunistas astutos. Política racial só serve para reafirmar, difundir, avolumar, denegrir e discriminar aqueles que supostamente pretende defender, pelo menos em nosso país.



 
Monteiro Lobato era racista, segundo a avaliação do CNE, mas o que dizer do “Kit Gay” e dos livros didáticos distribuídos com erros? Caso o caminho seja este haverá que se proibirem dezenas de milhares de obras literárias, imagéticas, auditivas, iconográficas, fotográficas, etc. e elaborar-se uma legislação específica para cada segmento da sociedade seja ele étnico, profissional, religioso, cultural, esportivo, etc. desfazendo o Estado brasileiro da forma como o conhecemos. O Estado deve amparar, proteger, defender e punir quando necessário todos os cidadãos independentemente de quaisquer outros fatores, sejam eles de ordem política, social, cultural, religiosa, econômica, etc. e não fazer concessões especificas para este ou aquele grupo comprometendo a estabilidade e a harmonia. Não será com a adoção de políticas raciais que o preconceito será extinto da sociedade brasileira. Aliás, os governos brasileiros têm uma tara incontrolável em tentar resolver tudo através das leis. Seja para debelar a inflação, para conter as intempéries ou para alterar a lei da oferta e procura. Desnecessário dizer que tais tentativas sempre se frustraram.


 

A diversividade étnica no Brasil não é a mãe (ou o pai) das profundas desigualdades sociais, posto sermos um povo, na maioria esmagadora, miscigenado. Em 4 de abril de 1755, D. José, rei de Portugal, assina decreto que autoriza a miscigenação de portugueses com índios. Décadas depois, com a chegada de escravos negros, formou-se uma população trí-híbrida. Os portugueses já trouxeram para o Brasil séculos de integração genética e cultural de povos europeus, como os celtas e os lusitanos. Embora os portugueses sejam basicamente uma população européia, sete séculos de convivência com mouros do norte da África e com judeus deixaram um importante legado a este povo. 86% dos brasileiros têm mais de 10% de genes africanos. Ou seja, apenas 14% dos brasileiros são geneticamente brancos. A brutal desigualdade entre os brasileiros é obra da concentração de renda e do abandono educacional. Não vou elaborar aqui um tratado sobre políticas públicas do Estado brasileiro, suas possíveis causas e consequências, apenas estamos examinando o exagero, a paranoia de ver em todos os cantos um racista em potencial. Reconhecemos todo o mal físico e moral praticado contra os negros africanos, afro-brasileiros e seus descendentes ao longo de nossa História (como também aos índios) sendo imprescindível que o Estado brasileiro não apenas reconheça, mas também institua instrumentos e mecanismos que verdadeiramente venha atendê-los plenamente. Discordamos de fora a fora é com a demagogia que reveste as políticas públicas e os excessos cometidos pelos movimentos sociais e entidades como esse Instituto de Advocacia Racial e Ambiental. É inaceitável que sob o pretexto de racismo comecemos a proibir, cercear, censura e tolher manifestações artísticas inspiradas na cultura brasileira. Agora é Monteiro Lobato e em seguida poderá ser Jorge Amado, Ariano Suassuna, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Luiz Gonzaga, Gabriel O Pensador e por ai vai. Essas políticas raciais somente fomentam o preconceito e a discriminação ao tratar os negros como pobres diabos. O desrespeito não está na obra literária ou qualquer outro gênero artístico, mas sim na conduta dos sucessivos governos brasileiros, imperiais e republicanos, conservadores e liberais, peessedebistas e petistas.


"Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena e/ou do negro." (GilbertoFreyre, 1900-1987).



CELSO BOTELHO

10.09.2012

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

TÔ... FFOLI




Imperador Calígula e o senador Incitatus

Não se trata de intransigência, intolerância ou má vontade, mas quando afirmo que ministros do STF são analfabetos funcionais estou sendo até muito cortês com Suas Excelências, posto que conheça muitos analfabetos funcionais extremamente mais qualificados para ocupar o cargo. Caso chamasse alguns ministros de jumentos, asnos, mulas ou burros estaria cometendo uma grave injustiça com estes quadrúpedes. O imperador romano Calígula (12 d.C.-41 d.C) nomeou seu cavalo favorito, Incitatus, para o Senado ou porque quisesse demonstrar seu desprezo pelos senadores ou porque estava doido ou ambas as coisas. Incitatus, o cavalo, tinha 18 assessores, dispunha de fortuna pessoal (colares de pedras preciosas), usava mantas nas cores reservadas ao imperador e não fazia besteira, portanto um ótimo parlamentar.



Toffoli sendo advertido pelo presidente do STF Ayres Brito


O ministro José Antonio Dias Toffoli conseguiu se superar ao declarar e reafirmar que cabe à acusação apresentar as provas. Ora, tanto a defesa quanto a acusação têm que apresentar as provas, para saber disso não é necessário sequer ser estudante de Direito. Ou o ministro revelou sua total ignorância e incapacidade para qualquer cargo na magistratura ou demonstrou cabalmente seu comprometimento com o Partido dos Trabalhadores. Pessoalmente estou convencido que são ambas as coisas. Não convidaria Toffoli nem para ser membro de um júri de concurso do tipo o cachorro mais bonito, o papagaio mais falante ou a pulga que dá o maior salto. Mas o ex-presidente Lula, O Ignorante Desbocado, o indicou e apadrinhou para o STF pelos bons serviços prestados a ele, ao PT, ao ex-ministro José Dirceu e outros desqualificados. Aliás, Lula nomearia até o diabo caso fosse de seu interesse, apenas tenho dúvidas se tal criatura aceitaria a ele aliar-se por questões de ética e zelo por sua péssima reputação.


Toffoli tirando uma soneca durante o julgamento do Mensalão, afinal ninguém é de ferro


Toffoli formou-se em Direito na USP, uma fábrica de esquerdistas, alucinados, picaretas, arrivistas, “intelectóides” e outras porcarias (FHC, José Serra, Antonio Palocci, Delfim Neto, Henrique Meireles, Paulo Maluf, etc.). Foi reprovado por duas vezes em concurso para juiz substituto em São Paulo. De 1995 até 2000 foi assessor parlamentar da Liderança do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara dos Deputados. Foi advogado do PT nas campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula Satanás da Silva em 1998, 2002 e 2006. Exerceu o cargo de subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil de 2003 a 2005 durante a gestão (com o devido perdão da palavra) de José Dirceu. Em 2000, o Procurador-Geral do estado do Amapá, João Batista Plácido, junto com Toffoli e seu então escritório de advocacia, Toffoli & Telesca Advogados SC, foram condenados pela Justiça do Amapá a devolver R$19.720 aos cofres públicos por conta de uma suposta licitação ilegal de prestação de serviços de advocacia ao governo vencida pelo escritório de Toffoli. A ação foi julgada improcedente em segundo grau, tendo a sentença anulada em 2008, quando era da Advocacia Geral da União,digamos por mera coincidência. Em 2006, foi processado novamente por outro crime de mesma natureza ocorrido em 2001, desta vez pela 2ª Vara Cível do Amapá, a devolver R$ 420 mil. Que ministro!


Crhistiane jogou no ventilador


Em fevereiro de 2012, em depoimento à Polícia Federal, a advogada Christiane Araújo de Oliveira declarou que, no período que antecedeu o escândalo do Mensalão no Distrito Federal, manteve relações íntimas em troca de favores com várias figuras envolvidas no caso, inclusive Dias Toffoli. Segundo ela, na época em que Dias Toffoli era Advogado-Geral da União, os dois se encontravam em um apartamento de Durval Barbosa (este cidadão confessou para a polícia que participava da distribuição de dinheiro do esquema desde a época do governo do corruptíssimo Joaquim Roriz), onde mantinham relações, e em uma ocasião Dias Toffoli teria solicitado um jato oficial do governo para transportá-la. Ela teria entregado a Dias Toffoli, num desses encontros, gravações comprometendo Durval Barbosa. Toffoli evidentemente nega, mas até Pedro negou Jesus, e por três vezes. Na festa de sua posse em 2009 a Caixa Econômica Federal desembolsou R$ 40.000,00, mas Toffoli jura de pés juntos que de nada sabia bem ao estilo de Lula. Como ministro votou a favor da não aplicação da Lei Ficha Limpa ao ex-senador Joaquim Roriz, notório larápio de renome nacional que renunciou ao Senado Federal para fugir da cassação. O mesmo entendimento foi mantido com relação a Jader Barbalho, outro larápio inveterado. Conclusão: antes mesmo de se avaliar se devia ou não considerar-se impedido de votar no Mensalão, vulgo Ação Penal 470, Toffoli sequer deveria estar ocupando o cargo.


Lula, O Ignorante Desbocado, estendendo tapete vermelho para Toffoli, O Ignorante  Tou na Boquinha


Toffoli absolveu os quatro réus (deputado João Paulo Cunha, PT-SP; Marcos Valério e seus sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz das supostas irregularidades em contratos entre a Câmara dos Deputados e agência de publicidade SMP&B) da ação penal do Mensalão das acusações de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa e peculato, segundo o “notável” magistrado, por falta de provas. Fez o dever de casa, isto é, quitou a dívida de gratidão que contraíra com o ex-presidente Lula por contra de sua indicação e apadrinhamento para ocupar uma cadeira no STF.


João Paulo Cunha, O Homem dos R$ 50.000,00


Foi concluída a análise do item três da denúncia que tratava de desvio de recursos públicos da Câmara dos Deputados e do Banco do Brasil em favor das empresas de Marcos Valério e seus sócios. Os ministros condenaram por crimes de corrupção o deputado federal e candidato à prefeitura de Osasco, João Paulo Cunha, os publicitários (sic) Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, sócios nas empresas SMP&B e DNA Propaganda, e o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. O único réu absolvido foi Luiz Gushiken, ex-ministro da Secretaria de Comunicação do governo Lula, por unanimidade. Mas, como dizia Nelson Rodrigues (1912-1980) toda unanimidade é burra. Mas não se animem, pois o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos calcula que o julgamento do Mensalão só será concluído em 2013. Antes disso, nenhum dos réus, mesmo se condenado agora, será preso. De acordo com Bastos o julgamento poderá se estender até outubro e será improvável que o acórdão esteja pronto antes do final do ano, considerando que o STF entra em recesso em dezembro estendendo-se em função das comemorações de fim de ano e Ano Novo. O acórdão é longo e deverá passar pela revisão do relator e de todos os ministros. Publicado o acórdão o STF deverá receber os embargos de declaração que podem ser apresentados pelos advogados e pelo Ministério Público contestando incongruências na redação do documento que, avalia o ex-ministro, deverá conter mais de 1.000 páginas. Somente após a publicação do acórdão definitivo é que o processo do Mensalão estará na condição de “transitado em julgado” e só neste momento os mandatos de prisão poderão ser expedidos. Resumindo: os condenados terão tempo suficiente para evadir-se do país, mas sempre haverá um meio de aqui permanecerem sem serem molestados pela Justiça.





CELSO BOTELHO

31.08.2012