O voto, secreto ou aberto, sempre será de fundamental importância no regime democrático. O discutível é o seu emprego. Para nós, pobres mortais eleitores, precisam ser secretos por incontáveis motivos. Para os eleitos, casta de felizardos e intocáveis, precisam e devem ser abertos. Não há coerência alguma em delegar-se poder representativo sem que se tenham instrumentos de fiscalização quanto ao seu exercício. No Brasil ocorre um fenômeno que, decerto, merece uma pesquisa mais amiúde. Seguinte: antes das eleições alguém pergunta em quem você irá votar. Caso sua resposta coincida com a do inquiridor tudo estará bem. Caso contrário irá travar-se uma discusão na qual cada um tentará convencer o outro de que sua opção é a mais adequada. Já depois das eleições ai te perguntam em que votara. Sendo sua resposta coincidente ou satisfatória não haverá nenhuma celeuma, porém, caso contrário,ocorrera uma arengação interminável. Mas ainda tem o pior: se você se negar a abrir seu voto ai o tempo irá fechar. Em todas essas três oportunidades o voto secreto perde a razão de assim o ser. O voto secreto para decisões no Congresso Nacional só pode ter por objetivo impossibilitar a sociedade de identificar os velhacos. Tal mecanismo é arbitrário e só fortalece o corporativismo que ali impera. Os eleitores possuem uma parcela de culpa ao reconduzirem ao parlamento figuras sabidamente nefastas a vida pública.
A história do voto no Brasil é, deveras, um tanto singular. A Constituição de 1824
A pratica de manipulação de voto é parte viva da cultura política brasileira. Exemplo notório disso é o famoso “voto de cabresto” onde a eleição era, via de regra, decidida no colo do coronel. A urna era posta à vista do chefe político da região e o “eleitor”, antes de depositar o voto, lhe entregava para que fosse devidamente vistoriado. Isso quando somente os homens maiores de idade e alfabetizados, que sabiam assinar o nome, podiam votar. Com a urna eletrônica várias modalidades de ilícitos eleitorais deixaram de ser praticados dando lugar aos meios mais sofisticados. A partir do momento no qual se negocia o voto o candidato eleito está desobrigado de todo e qualquer compromisso assumido posto que pagou por ele. Quando não se filtram os candidatos corretamente todas as impurezas estarão presentes na administração pública fomentando a próspera indústria da miséria que alimenta e engorda as elites brasileiras esparramadas em suas pocilgas de luxo.
Celso Botelho
30.05.2008