Seja qual for o sistema político e seu regime existe um fator que se coloca acima de qualquer filosofia moral, ética ou divina que o distorce, manipula e subverte: o ser humano, o mais perverso predador. Atribui-se a Mark Twain (Samuel Langhorne Clemens, 1835-1910), escritor norte-americano (“As Aventuras de Tom Sawyer”, “As Aventuras de Huckleberry Finn”) que ao se apresentar a qualquer pessoa não interessava o fato de que fosse negra, branca, amarela, rica, pobre, feia, bonita, capitalista, comunista, etc. o importante é que estava diante de um ser humano e pior não poderia ser. É mais do que conhecida a minha ojeriza a qualquer tipo de ditadura, autoritarismo e sucedâneos, como também jamais poderei aceitar, compactuar ou contribuir com as atrocidades que se comete sob a bandeira da democracia, e não são poucas. Não tive conhecimento até hoje da concepção de um sistema político que beneficiasse uma maioria. Todos eles têm como pilar a exclusão, o que se pode distinguir são seus níveis, maiores ou menores. Porém, de qualquer forma, seus objetivos são limitar, inibir e impedir incursões ao vasto terreno de interesses bem definidos de uma minoria. O enriquecimento ilícito, seja numa democracia ou ditadura, é prática corriqueira. A corrupção é atributo exclusivo dos seres humanos e, sendo assim, só poderá ter fim juntamente com a humanidade. Poderia desenvolver essa singular degenerescência humana por inúmeras páginas com raciocínios mais elaborados, porém, haverei de ficar neste parágrafo que servirá com introdução ao assunto que, deveras, propus-me a abordar e, afinal, cá não estou realizando nenhum trabalho acadêmico.
Não fosse o diabo da ambição, exibicionismo, vaidade e por ai a fora do ditador Teodoro Obiang a maciça maioria os brasileiros sequer teriam ouvido falar num pequeno país da África ocidental chamado Guiné Equatorial. Com território descontínuo (um no continente e dois insulares) perfazendo uma área de 28.051 km2 (equivalente ao Estado de Alagoas) com uma população pouca acima de 500.000 habitantes divididas em sete províncias administrativas. No final do século XX o petróleo tornou-se a principal fonte de renda para aquela pequena nação, no entanto, todo o “ouro negro” extraído não se constitui numa benção para a população visto que as companhias ou são internacionais ou são controladas pelo clã do ditador. A Guiné Equatorial obteve sua independência em 1968 assumindo o poder Francisco Macías nele mantendo-se durante dez anos num regime de terror sendo derrubado por um golpe de estado por Teodoro Obiang, seu sobrinho, em 3 de agosto de 1979 e lá se vão trinta anos de ditadura. A longevidade deste mandato deve empolgar nosso presidente, associados, parasitas, aloprados e toda a sorte de tralhas empoleiradas no poder, aliás, nosso presidente é notório admirador de ditadores e pseudo-socialistas e comunistas, mesmo sem saber a diferença entre eles. Outro fato que o faz babar de inveja é a Constituição daquele país que concede ao ditador amplos poderes e governar por decreto. É certo que a nossa Carta Magna permite a edição de Medidas Provisórias, mas não é a mesma coisa, dá muita mão-de-obra, é um exercício de interminável de barganha. Obiang possui um Boeing BBJ como camas de água e luzes de cabaré o que faz o Aerolula parecer um teco-teco (o Xá Reza Pahlevi,1919-1980, do Irã, possuía um com pias e maçanetas feitos de ouro puro, quadros de Degas e Picasso, tapetes persas feitos à mão). Mas tal excentricidade é possível graças à fortuna que acumulara massacrando seu povo. De acordo com a revista Forbes o dito cujo rebotalho humano é o oitavo governante mais rico do planeta (cerca de US$ 600 milhões) e único representante do continente africano. Devo dizer que a mesma publicação aferiu o sétimo lugar para o jurássico Fidel Castro (quase US$ 1 trilhão) o que não chega a surpreender, pois apossou-se da ilha há mais de cinqüenta anos e se acompanhasse a progressão de Obiang certamente uma importância bem maior lhe seria atribuída. Mas ditadores e seus clãs acumularem somas astronômicas é tão comum como andar para frente, para se dizer o mínmo. Augusto Pinochet (Chile, 1973-1990), Manoel Noriega (Panamá, 1983-1989), Ferdinando Marcos (Filipinas, 1965-1986), Papa Doc e Baby Doc (Haiti, 1957-1985), Idi Amin (Uganda, 1971-1979, suspeita-se que este praticava o canibalismo e alimentava seus crocodilos com humanos, certamente com os opositores), Sadan Hussein (Iraque, 1979-2003), o clã dos Vargas (Brasil, 1930-1945/1950-1954), cito apenas os que me ocorreram no momento, mas a lista é bem maior. Minha curiosidade seria saber quanto o Hugo Chávez já conseguiu amealhar para garantir uma boa vida as futuras gerações - da sua família - é claro. Afinal a Venezuela produz muito mais petróleo que a pequenina Guiné Equatorial. E, para não me chamarem de preconceituoso, governantes eleitos democraticamente não estão exclusos desta lista, Daniel Ortega (Nicarágua, 1985-1990/2006-), Alberto Fujimori (Peru, 1990-2000) e Hugo Chávez (Venezuela, 1998-). Os mecanismos e instrumentos disponíveis numa sociedade democrática consegue, de alguma forma e em algum momento, arrefecer a ganância por maiores que sejam suas deformações. Mas isso não os impedem de roubar descaradamente. No nosso país são desviados milhões de dólares para contas no exterior devidamente escamoteadas pela complacência, inoperância, incompetência e conivência dos órgão de controle, fiscalização e repressão e, além do mais, são diluídos de tal maneira que a mais minuciosa investigação certamente jamais chegaria ao verdadeiro dono da mufunfa. Caso queiram conferir basta acessar a declaração de Imposto de Renda de nossos políticos, são verdadeiras obras de ficção. Tem declaração de bens de candidato a presidência da República que nos fazem chorar de raiva ou rir da piada.
Mas o clã do ditador da Guiné Equatorial cismou por que cismou de adquirir um humilde apartamento na Avenida Vieira Souto em Ipanema onde o metro quadrado está, por certo, pela da morte, da vida e quiçá ressurreição. Mas isso não é problema algum para quem dispõe da bagatela de US$ 600 milhões um apartamento triplex de US$ 10 milhões é uma verdadeira pechincha e, afinal, desde 2003 os negócios entre o Brasil e aquele país só fizeram prosperar vertiginosamente (coincidentemente com o início da Era Lula ou, de acordo com a sua concepção, ano da fundação do Brasil. Será por quê?) e nada mais justo que providenciar uma morada digna na cidade maravilhosa para tão mimosa figura e sua encantadora família. Será que Obiang pretende se aposentar e tornar-se freqüentador assíduo da praia? Não. Ditadores não se aposentam. Algumas vezes morrem de morte morrida e outras de morte matada, são derrubados e vão para o exílio torrar os milhões que surrupiaram ou se tornam hóspedes de penitenciárias que em nada lembram seus dias de glória. Caso o imóvel estivesse localizado
Para finalizar, em minhas leituras para conhecer um pouco mais sobre este país deparei-me com um guia gastronômico muito diversificado. Fiquei sabendo que o pangolim (mamífero da família manidae, tem o corpo coberto com escamas duras que lembram um telhado, também conhecido como peixe da floresta), o veado, o porco-espinho e o tucano são pratos consumidos com certa regularidade. Quanto aos três primeiros animais não posso afiançar que venham atender o paladar do presidente Lula, O Ignorante Desbocado, porém quanto abocanhar tantos tucanos quantos estiverem disponíveis não tenho a menor dúvida do colossal apetite presidencial. Obiang, como os demais ditadores passados, presentes e futuros (extensivo aos seus colaboradores e simpatizantes) são como o câncer: Consomem lentamente o organismo, são fáceis de detectar, dolorosos para tratar e quando extirpados o paciente ou morre ou fica com seqüelas.
CELSO BOTELHO
10.03.2010