sexta-feira, 9 de abril de 2010

ENTRE O DESASTRE E A CATÁSTROFE


As opções apresentadas em todas as eleições das quais já participei (sejam municipais, estaduais e federais) são lamentáveis, para se dizer o mínimo. Porém, com o sistema eleitoral que dispomos isto não é surpreendente. Durante o regime militar (1964-1985) havia uma estrovenga (entre tantas outras) que chamavam de legislação eleitoral e abrigava dois cândidos partidos políticos, a saber: o do “sim” e o do “sim, senhor” (Arena e MDB). Um quarto de século depois do retorno dos milicos às casernas a legislação eleitoral continua sendo uma estrovenga muito mais inútil e agora com uma multiplicidade de partidos políticos que, para sintetizar, classificam-se em três categorias: “os que já roubaram”, “os que estão roubando” e “os que anseiam por roubar”. Caso a profissão do brasileiro seja de fato a esperança posso recomendar que a abandonem e descubram outra ocupação, tendo em vista que esta não lhe proporcionou os rendimentos desejados e necessários. Sugiro que se adote a profissão “participação intensiva e ostensiva”. Seguramente os resultados serão muito mais profícuos. O tempo passa; as ciências e a tecnologia avançam numa velocidade sem precedentes; os conceitos são reexaminados sob novas perspectivas; as formas e os conteúdos culturais, sociais, econômicos, políticos e religiosos são debatidos, expandidos, reformulados; descobre-se outras direções, outros sentidos, novas orientações para a raça humana e a maioria da sociedade brasileira permanece empacada, alienada, divagando, embrutecida por falsas e meias verdades permitindo sua difusão e, eis o pior, prontamente assimilando-as. Isso não pode ser esperança, mas sim estupidez. Deixar-se manipular com os recursos que dispomos para nos informar não pode merecer outro adjetivo. Décadas após décadas venho assistindo a procissão diabólica de patifes de toda natureza com seus incontáveis truques ludibriando multidões com suas ladainhas sobre resgatar-se valores (não se pode resgatar o que nunca se teve), apontarem horizontes mais promissores (como apontar horizontes sem sequer poder vê-los?) e outras baboseiras. Encontro por ai um apreciável número de compatriotas que se utilizam do ineficiente, prosaico e detestável critério de votar no “menos ruim” como se isso fosse possível. Tal critério é tão fajuto que poderia enumerar aqui centenas de políticos eleitos e reeleitos para diversos cargos anos a fio portadores de ficha criminal; e um número maior daqueles apontados, suspeitos e acusados de envolvimento nos mais escabrosos ilícitos. A esperança, sendo ou não uma profissão, reforça a fé e transcende o sofrimento. E é exatamente isso que atende os interesses políticos desta corja que ai está.


Nesta eleição dá-se uma situação ímpar: a sociedade não está à procura de um “salvador da pátria” como já se deu no passado. Desta vez foi e será orientada, manipulada, induzida no sentido de que deve eleger o reflexo (distorcido, é bem verdade) do já eleito e reeleito salvador da pátria. Não que tais instrumentos não tenham sido usados por reiteradas vezes. Este mito, ou melhor, peixe (podre) que querem nos vender e se comermos provocará uma intoxicação mais dolorosa do que as anteriores com seqüelas que irão bem além de quatros. Caso a sociedade prossiga nesta teimosia idiota de perseguir heróis, salvadores da pátria, pais, mães e sucedâneos ai não há doutor que vá dar um jeito nesta joça. Homens íntegros, comprometidos com os interesses do país, sensatos e abnegados certamente não serão encontrados em eleições brasileiras ou no exercício do poder. Certamente haverá exceções, afinal não podemos e não devemos generalizar mesmo que, como eu, raramente os encontre. As opções eleitorais situam-se entre o desastre e a catástrofe, o horror e o terror, o patife e o cafajeste. Ao “escolhermos” nossos candidatos não estamos fazendo mais que fomentar a mediocridade moral e intelectual que conduz a República para a derrocada, visto que o Estado já se encontra em processo falimentar há muitos anos.


A eleição presidencial deste ano reúne todos os motivos para vir a ser mais um engodo onde o grande lesado é a sociedade brasileira como, aliás, sempre foi. O mais lamentável é a constatação de que se deixa ludibriar com extrema facilidade ano após ano pelos calhordas de ontem e de hoje. Não desejo e nem quero defender nenhuma destas candidaturas que estão colocadas por não merecerem um pingo de respeito de minha parte. Infelizmente um deles sairá vitorioso e, como sempre, o Brasil derrotado e entregue para um dos principais bandos que estão competindo, sendo que um deles está na posse da máquina pública federal, quer seja, a chave do cofre, há oito anos. Caso isso não seja fato determinante para fazer-se o sucessor (a) devemos admitir que se constitua numa vantagem apreciável, notadamente vinda de um presidente que chega ao final do segundo mandato com o índice de popularidade que ostenta. Mas isso não quer dizer a “queridinha” (do presidente) já ganhou, porque bolsa de mulher e urna só abrindo para ver o que tem dentro. Sendo esta última em muitos casos ser desnecessário abrir para saber o conteúdo.


Os que quer que digam os candidatos à presidência da República a despeito de qualquer coisa podem tomar como mero discurso recheado de inverdades, ufanismo, demagogia e tapeação. Todos são potenciais representantes dos interesses internacionais em detrimento do Brasil e de seu povo, pelo menos daquela grande parcela que é decente. Pode ser um termo antigo, porém, expressa adequadamente o que toda essa gente tem feito ao longo da nossa História: entreguismo. Portanto, é uma tolice imaginar que sairemos das garras destes abutres através do voto. Caso não promovamos uma drástica ruptura com toda essa esculhambação só nos restará (e as futuras gerações) lamentar o quanto nos acovardamos diante do inimigo (assim podemos tomar o governo brasileiro) que possui os mecanismos de coerção (física e psicológica), porém, nenhum deles é suficientemente eficaz contra uma população enfurecida pelos anos de desmandos, exploração e desprezo.


CELSO BOTELHO

09.04.2010