quarta-feira, 23 de junho de 2010


A fim de dar tratamento equânime aos dois principais candidatos à presidência da República (os demais nem contam) e para não pairar nenhuma suspeita sobre mim de que “tucanei” hoje vou baixar o cacete no José Serra do PSDB que diante dos problemas recomenda “finge que funciona”. Ainda defendo o voto nulo e é um absurdo que a urna eletrônica não tenha esta opção, afinal é também é uma expressão do eleitor. De vez em quando me perguntam insistentemente o porquê de tal opção ao que respondo candidamente: “com um ou com outro serei, inevitavelmente, estuprado. Portanto, a violência se dará sem a minha permissão”. Para início de conversa o dito cujo candidato, em entrevista, disse duas coisas que fiquei remoendo. A primeira foi que admitiu ser esta uma eleição difícil, aliás, para ele qualquer eleição presidencial será difícil, até contra um Zé das Couves e conta com sua biografia. A segunda quando afirmou ser o candidato do avanço e estão fazendo terrorismo na Internet contra ele. Vamos, portanto, analisar. As convicções de Serra sofreram bastantes alterações com o passar do tempo. De marxista-leninista à democrata empedernido podemos comparar à transformação de vinho em água. De mais a mais se biografia ganhasse eleição Abraham Lincoln (1809-1865) jamais teria sido presidente dos Estados Unidos, pois jamais ganhara uma. Serra foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) com o apoio da AP (Ação Popular), movimento engajado na tradição marxista-leninista que fora um dos fundadores (esta organização esteve envolvida no atentado ao aeroporto de Guararapes no Recife (PE) em 25.07.1966, o primeiro com vítimas fatais durante a ditadura militar) e do Partido Comunista Brasileiro. De fato é o candidato do avanço. Avançou contra os interesses dos trabalhadores e da nação quando deputado federal constituinte negando seu voto à redução da jornada de trabalho, a estabilidade do emprego, ao abono de férias de 1/3 do salário, para a garantia de 30 dias do aviso prévio, pela garantia do salário mínimo real. Como senador avançou no patrimônio público para dar prosseguimento a ação entre amigos que foram as privatizações do governo FHC (1995-2002) que também já foi marxista, basta lembrar que quando senador foi favorável à privatização (doação) da Cia. Vale do Rio Doce com capital estrangeiro. Posição antagônica que tomara quando teve que se declarar contra as multinacionais (e a favor da Revolução Cubana) para poder disputar sua primeira eleição que, aliás, perdera. Creio ser de bom alvitre Serra não tentar respaldar-se na sua biografia. Quanto ao fazerem terrorismo na Internet é a mais completa bobagem. O que chama de terrorismo são os mesmo artifícios empregados por todos os políticos em todos os lugares deste Brasil por todas as épocas. Isso é choro de perdedor. A diferença está na existência da Internet e o seu acesso livre. Posso até concordar que há excessos, mas eles não são privilégios da Internet. Antes de usar a palavra deveria verificar o que realmente significa e notaria que está fora do contexto (terrorismo: sistema de governar pelo terror ou por meio de medidas violentas).


José Serra, a exemplo de Dilma Roussef, não apresentou um programa, uma proposta, algumas linhas gerais que sejam que tenham direção e consistência para quem pretende ocupar o cargo mais importante do país. O que encontramos, vez por outra e sob os holofotes, são menções avulsas aos inúmeros problemas que afligem a sociedade brasileira recebendo um tratamento superficial, oco, demagógico, completamente desarticulado e eleitoreiro. Que propostas o candidato tem para combater um dos maiores flagelos que assola a humanidade atualmente que é o narcotráfico? Como tratará a questão da violência, urbana e rural, que atinge todos indiscriminadamente? A tributação no Brasil não passa de uma hedionda extorsão, apropriação indébita ou, num sentido mais amplo, roubo oficial. A indecência tributária não precisa de uma reforma, pois você pode reformar alguma coisa que ainda venha a servir e – neste caso – não há nada que se aproveite, portanto urge pensar uma política tributária. E a tal da reforma política cantada em verso e prosa por todos os candidatos? A fábula de que a previdência social irá quebrar continuará a servir de muleta para o governo espoliar seus segurados? Quando ocupou o ministério da Saúde Serra zerou os investimentos em saneamento, demitiu mais de seis mil “mata-mosquitos” para a felicidade do Aedes Aegypti. Dos R$ 81 milhões gastos em publicidade apenas R$ 3 milhões foram destinados a campanhas educativas de combate a dengue. O resultado disso foi, só no Rio de Janeiro entre janeiro e maio de 2002, mais de 207.521 casos de dengue com 63 óbitos. E o déficit habitacional crônico? A geração de energia? A malha rodoviária brasileira está em pandarecos e a ferroviária é praticamente inexistente. E a reforma agrária? Como pretende lidar com essa questão? Até hoje somente os latifundiários, empresários e banqueiros foram beneficiados por todas as tentativas que se fez. Tem o caso do banqueiro Andrade Vieira do falecido Bamerindus, um dos financiadores e ex-ministro da Agricultura de Fernando Henrique Cardoso, vender terras localizadas dentro de reservas indígenas. E por falar nisso é outro calcanhar de Aquiles que não vejo nenhum candidato sequer mencionar. Será que as contendas entre fazendeiros, posseiros, grileiros e índios não merecem a atenção? Quantos episódios similares ao ocorrido na Serra Raposa do Sol ou para a construção da estrovenga de uma hidroelétrica inútil em Belo Monte teremos que assistir? Outra questão que já abordei aqui diversas vezes e tem sido uma constante nos últimos vinte e cinco anos: o sucateamento das Forças Armadas. Não que defenda uma posição belicista do Estado brasileiro, porém é vital para um país mantê-las em condições mínimas para o cumprimento de seu objetivo constitucional de garantir a segurança e integridade do território nacional. O Exército mais parece um museu de armas e equipamentos de tão obsoletos. A Marinha não possui navios e sim banheiras flutuantes para patrulhar uma imensa costa e a maioria dos aviões da aeronáutica são verdadeiras arapucas voadoras. Outra reforma que ninguém é besta de falar é a administrativa que precisa e deve ser feita nos três poderes. Enxugar o Estado é uma prioridade nacional. Somente o presidente Lula, O Ignorante Desbocado, criou centenas de empregos desnecessários para atender a demanda da pelegada, associados e cúmplices. Esta semana mesmo um conhecido meu declarou-me seu voto para Dilma Roussef por interesse pessoal, quer seja, continuar se locupletando com o Partido dos Trabalhadores no governo. Falam isso e aquilo para a Educação, porém ela continua sendo negligenciada governo após governo e a pesquisa científica no Brasil é um vexame. São estas e outras questões que o Serra e demais postulantes deveriam responder, mas preferem ficar se alfinetando, partir para ataques pessoais e inventarem dossiês. Em vez de campanha eleitoral temos uma lavagem de roupa suja e a tradicional batalha para saber quem é mais bravateiro, demagogo, mentiroso e, portanto, apto ao cargo.



O PMDB é um partido para profissionais, desde 1985 é o dono do poder de fato. O PSDB sequer é aprendiz porque lhe faltam quadros e discurso. Não souberam ser situação e, na oposição, foram incompetentes e oportunistas. O PT mostrou-se competente na oposição e um desastre para o país na situação. O governo Lula aplicou, com sucesso, a diabólica fórmula paternalista: para a maioria tostões e para uma minoria bilhões. Para dizer a verdade desde o tempo do Império todas as agremiações partidárias só serviram para atender os interesses da elite e de seus donos. Atualmente contamos com quase trinta partidos políticos que, reunidos e com muita boa vontade, não vale coisa alguma. Disse e repito: estamos entre o desastre e a catástrofe. A campanha eleitoral à presidência mais parece uma disputa entre duas quadrilhas rivais pela posse da chave do cofre, no caso público. Serra é um homem indeciso, fraco e desinteressante. Dilma é arrogante, prepotente, egocêntrica e presunçosa. Seja quem for o eleito não podemos sequer sonhar de haver a mais tênue perspectiva de que ocorrerão as mais simplórias transformações neste país, pois ambos são órgãos do mesmo degenerado corpo.


CELSO BOTELHO
23.06.2010