quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A INTEGRAÇÃO DA COELHADA

Família que se locupleta unida...

Tio Osvaldo... Coelho.

Como o coelho é um animal muito fértil nada mais natural de que surgir mais um nomeado pelo ministro lambão Fernando Bezerra Coelho. Agora foi tio Coelho, o Osvaldo, que já foi deputado federal e, segundo ele próprio, é perito em agricultura irrigada. Bem. Qualquer um pode dizer que é especialista em qualquer coisa, afinal todos mentem mesmo. O tio foi nomeado há quatro meses, pelo sobrinho, membro do comitê técnico-consultivo para o desenvolvimento da agricultura irrigada, criado dias antes por portaria do ministério. A patifaria é tão escancarada que chegam a criar comitês, conselhos, departamentos e mictórios para abrigar parentes e aderentes. De acordo com o noticiado na grande imprensa o tio Osvaldo, também Coelho, queixou-se de não estar trabalhando. Mas que criatura rara, que alma imaculada. Queixar-se por não trabalhar. O tal comitê, conselho ou cabide só se reuniu uma única para ser instalado e o tio Osvaldo desabafou: "Estou fazendo de conta de que sou conselheiro, mas não estou dando conselho nenhum. Não sei se o conselho é que está estático ou se é o ministro". É melhor que alguém o esclareça que sua função é exatamente essa: fazer de conta que é conselheiro, não dar conselho algum, até porque calado provará ser um inigualável poeta. Quanto sua dúvida sobre quem está estático não resta a menor dúvida que é o tal comitê, conselho ou brinquedinho de marmanjo desocupado criado pelo querido sobrinho-ministro, posto que este esteja dinâmico como nunca, como podemos verificar na matéria anterior deste blog (DESASTRES NATURAIS SÃO, DEVERAS MUITO NATURAIS PARA O GOVERNO, 07.01.2012) e, de mais a mais, tal bodega foi criada para permanecer estática. Mas o “distinto” ministro jura de pés juntos pela saúde de algum coelho já falecido que isto não é um caso de nepotismo com a seguinte justificativa: que o comitê, conselho ou toca não tem "personalidade jurídica". "Trata-se de um órgão colegiado, paritário, consultivo e opinativo. A função de conselheiro não é cargo em comissão ou função de confiança" e sem direito a remuneração. Mas que tio abnegado. Que cidadão exemplar. Que demonstração de patriotismo. Trabalhar sem receber. Nega veementemente também que seja um caso de nepotismo, será que o crime passou a ser chamar “tiosismo” ou “coelhismo” ou mesmo “bezerrismo”? Segundo o ministro- 90%-Pernambuco no máximo pode ser solicitada quando necessárias (e certamente tal necessidade é frequente) passagens aéreas e diárias. Mas não disse quantas passagens e para onde ou qual seria o valor das tais diárias. E, digamos que, por acaso ou má informação, chegue aos ouvidos do tio Osvaldo, sendo um perito em irrigação, que no deserto do Saara estejam desenvolvendo um formidável projeto de irrigação? Ele, naturalmente, solicitaria passagens e diárias compatíveis para o Egito.




O código de conduta da Comissão de Ética Pública, subordinado à Presidência da República (pode ser capenga, mas existe) afirma que "nomear, indicar ou influenciar, direta ou indiretamente, a contratação, por autoridade competente, de parente consanguíneo ou por afinidade para o exercício de cargo, emprego ou função pública" ofende o princípio da moralidade administrativa e compromete a gestão ética. Mas isto só no papel que, como estou farto de dizer, aceita qualquer coisa, desde obras de arte até os mais fedorentos excrementos. Ética no Brasil, pública ou privada, é tão comum quanto uma manada de elefantes voando graciosamente pelos céus.


Não é uma visão linda?


O Palácio do Planalto (leia-se Dilma Rousseff, afinal ela está presidente) tem uma encantadora justificativa para não mandar o coelho procurar outras folhagens para alimenta-se e aos seus: em ano eleitoral, não é de bom alvitre comprar briga com um aliado do porte do PSB. Mais uma prova irrefutável de que, pelo menos com essa Constituição híbrida (parlamentarista e presidencialista) o presidente é eterno refém dos partidos cada vez mais ávidos por ministérios, estatais, autarquias, departamentos, conselhos, comitês, lavabos, banheiros, etc. Nenhum presidente brasileiro conseguiu obter a maioria no Congresso Nacional e sempre foi preciso compor o que não significa abrir os cofres públicos para seus salteadores. Dilma não quer comprar briga com o PSB porque precisa do apoio do partido para as votações no Congresso Nacional e costurar acordos, conchavos e tramóias visando as eleições deste ano. Os interesses político-eleitorais e econômicos se sobrepõem a ética, a decência, a moralidade, a probidade e a vergonha na cara. O ministro afirmou estar tranqüilo, posto que “o presidenta” o apóia e nele deposita confiança e isto está explícito ao declarar que as acusações levantadas são inconsistentes. Ora, d. Dilma inconsistente é o seu preparo para ocupar este cargo. É por essas e outras que venho dizendo desde que Lula a impôs e ungiu candidata que entre nós existe um abismo moral intransponível. Segundo o noticiado na Folha de São Paulo o ministro comprou por duas vezes o mesmo terreno quando era prefeito de Petrolina utilizando-se, é claro, de verba pública. Isso é inconsistente? Intriga da oposição e da imprensa? Os desmandos no ministério também, na abalizada visão distorcida “do presidenta”, são inconsistências? Então me resta recomendar cuidar da vista e do vocabulário que utiliza.




Vejam só a desfaçatez. Clementino Coelho, irmão do ministro, perdeu a presidência da Condevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba), uma boca e tanto. Mas, como prêmio de consolação continua como diretor de Desenvolvimento Integrado e Infraestrutura, cargo que ocupa desde 2003. O maninho do ministro permaneceu quase um ano como presidente interino gozando de todas as regalias políticas do cargo contrariando um decreto presidencial que proíbe a nomeação de familiar de ministro. Na trilha da blindagem ao ministro a Casa Civil declarou que já havia recebido um pedido para substituí-lo. A Controladoria-Geral da União (CGU) correu para dar uma “mãozinha” utilizando-se do mesmo critério que foi posto em prática para absolver a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) flagrada em vídeo recebendo propina e do também blindado ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel, companheiro de armas “da presidento”, que ganhou milhões em “consultorias”: foi antes. Clementino ocupou a interinidade antes de o irmãozinho ser nomeado ministro então a CGU entende que o decreto não foi atacado. Fernando, O Pimentel, ganhou milhões também antes de ser nomeado. Jaqueline Roriz antes de ser eleita e lúcifer era um anjo de luz antes de se tonar diabo. E Clementino diz candidamente que sua passagem pela presidência da Condevasf foi “ética e legítima” sem saber, naturalmente, o que é uma coisa ou outra.


Jaqueline Roriz (PMN-DF) recebendo propinha e, segundo os patifes da Câmara, foi antes de ser eleita e, portanto, inocente.



Caso utilizasse a expressão que todos são “farinha do mesmo saco” estaria depreciando e denegrindo a farinha, é claro.



 


CELSO BOTELHO

11.01.2012