domingo, 20 de maio de 2012

TEM JABUTI EM CIMA DA ÁRVORE



Certamente que meu artigo anterior (como muitos outros) desagradou algumas pessoas ou talvez não o tenham compreendido direito. No entanto, isso não me incomoda; ao contrário, fico até feliz. Posto que para provocar o desagrado seja imprescindível que o leia e esta é a uma das finalidades. Não engordarei ou emagrecerei um grama por conta do desagrado de alguns ou a incompreensão de outros. Uma das coisas da qual jamais abrirei mão é da minha independência. Não estou atrelado a partidos, associações, ONGs, movimentos, órgãos públicos, estatais, autarquias e etc. Jamais recebi favor, cargo ou numerário que não fossem legítimos, legais. Portanto, não tenho rabo preso com ninguém.




Para reforçar meu artigo de ontem (18.05.2012) quanto a pantomima que é essa tal de Comissão da Verdade basta ver a blindagem determinada pela CPI do Cachoeira aos governadores Sérgio Cabral (PMDB-RJ) do Rio de Janeiro, Marconi Perillo (PSDB-GO) de Goiás e Agnelo Queiroz (PT-DF) do Distrito Federal e da Construtura Delta em âmbito nacional. Só faltam agora excluir das investigações o senador Demóstenes Torres e o próprio Carlinhos Cachoeira e recomendar a dissolução da Polícia Federal por ser tão abelhuda. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi flagrado pela reportagem do SBT enviando mensagem “tranquilizadora” ao Cabralzinho, bem, isso contradiz o significado do nome deste “nobre” parlamentar. Isto quer dizer que instalaram a CPI justamente para proteger notórios larápios e pilantras. Neste caso os interesses políticos e econômicos não estão entrincheirados, ao contrário. A JBS assumiu o controle da Delta. Mas, pergunta inocente, porque assumiria o controle de uma empresa que está sob investigação? Mistério? Não. Patifaria. Fernando Cavendish está licenciado do Conselho de Administração da Delta como se isso pudesse apagar todas as lambanças que praticou. CPI no Brasil é tão útil quanto um bote furado no centro do oceano. Se CPI é fraudada, manipulada, direcionada, blindam e inocentam canalhas inveterados e o diabo a quatro (e a cinco, seis, sete...) imaginem com essa tal de Comissão da Verdade. Os fatos que envolvem esta CPI aconteceram ontem, estão fartamente documentados e apontam para os responsáveis não dará em nada para não fugir ao hábito, imaginem acontecimentos ocorridos durante a repressão no regime militar? E em dois anos de funcionamento, com poucos assessores, com membros que já se definiram como revanchistas, impregnados de ódio e, portanto, suspeitos.




Caso houvesse um mínimo de disposição de se “conhecer a história em sua plenitude” (no dizer pueril “do presidenta”) há um outro segmento que sempre foi negligenciado pela memória histórica brasileira do período: os militares que foram expurgados, perseguidos, presos e mortos que se colocaram contra o golpe e o regime que se seguiu. Salvo pouquíssimos trabalhos, estes jamais mereceram a atenção da mídia ou dos historiadores. Seus infortúnios não vendiam e não provocavam discussões acadêmicas. Outro segmento que não constam das preocupações da Comissão da Verdade e de seus “notáveis” membros são os professores que, no melhor dos casos, eram intimidados com a presença física de um censor enquanto ministravam suas aulas. Os trabalhadores de um modo geral que eram vítimas de um policiamento constante dentro de seus locais de trabalho, residência e lazer sempre a mercê dos “cachorros” (elementos que delatavam ao regime supostos subversivos infiltrados nas fábricas, escritório, vizinhança ou clube em troca de favores ou numerário). Há muito que se apurar e não será esta Comissão que dará conta disso. Está instalada para atender outros objetivos. Um deles é sacralizar a atuação dos guerrilheiros. Talvez venham a sugerir a canonização de Carlos Lamarca, Maringuela, etc. O sentimento de revanche é tão notório que a “o presidenta” na cerimônia de instalação da Comissão afirmou que para os crimes de tortura, sequestro, assassinato e ocultação de cadáveres não haverá perdão. Ora, isso sinaliza que a Lei da Anistia (Lei 6.683 de 28.08.1979) poderá ser alterada, eis um dos objetivos entrincheirados e, caso não conseguiam este intento, com certeza promoverão e estimularam o esculacho como já vem acontecendo. Mas caso modifiquem a Lei da Anistia não será para punir os militantes da esquerda, mas os militares e agentes do Estado. Certamente que tal assertiva presidencial não foi bem recebida nas Forças Armadas que, aliás, já se encontram em rota de colisão com o governo desde a publicação em fevereiro deste ano do Manifesto dos Clubes Militares. Na fala presidencial também exaltou aqueles que “bravamente enfrentaram a truculência da ditadura”, mas não fez qualquer menção sobre a truculência que também era praticada pelos “guerrilheiros” não só contra militares, mas também contra civis dos quais desconfiassem que pudessem ser delatores, que não lhes davam guarita ou se interpusessem em seus caminhos involuntariamente.



Vamos aguardar para ver se hão de querer apurar denuncia de violação de direitos humanos, assassinato, cárcere privado, sequestro, ocultação de cadáver, etc. de qualquer cidadão, civil ou militar, contra os “guerrilheiros”. Claro que não. Notadamente quando se tratar de um facínora que hoje está em posição de poder e se já estiver morto pior ainda. Mas contra os militares e agentes do Estado, vivos ou mortos, a espinafração será ampla, geral e irrestrita. Serão dois pesos e duas medidas como, aliás, é muito corriqueiro nesta República tupiniqueira. Não é preciso ter bola de cristal para saber que a bodega funcionará desta maneira. Esta Comissão está atrasada há quase trinta anos e o que já foi destruído dos arquivos ou surrupiado é uma grandeza. Não esqueçam que o fim do regime militar foi negociado e, portanto, houve tempo suficiente para isso.



Não bastam as indenizações e aposentadorias milionárias concedidas até mesmo para alguns que jamais sofreram qualquer tipo de tortura (moral, física ou psicológica), perseguição, impedimento ou restrição do exercício profissional como o ex-presidente Lula. Outros como o presidente João Goulart (1919-1976) que foi deposto pelo golpe de 1964 só foi anistiado em 2008 e concedida uma indenização de R$ 100 mil e uma pensão para sua viúva de R$ 5.425. A Comissão também almeja proporcionar a “cumpanheirada” mais oportunidades de ganho farto e fácil à custa do mais que depenado contribuinte. A Comissão Nacional da Verdade é o jabuti que o PT colocou na árvore.





CELSO BOTELHO



20.05.2012



















quinta-feira, 17 de maio de 2012

COMISSÃO DA VERDADE. MAS, AFINAL, QUAL SERÁ A VERDADE?




Para quem acompanha este blog sabe perfeitamente da minha repulsa por qualquer regime autoritário, portanto jamais poderei ser acusado de ter pertencido, ser simpático ou omisso com a ditadura militar que se seguiu ao golpe de 1964. Pelo contrário, sempre o combati. Quando se trata de apurar crimes praticados durante aquele período não há como se deixar de fora um dos lados. O governo brasileiro praticava o terrorismo de Estado e seus opositores engajados em movimentos armados praticavam o terrorismo clandestino (porque só havia um Estado) e, no final, os crimes eram os mesmos: assalto, tortura, execução, desaparecimento, atentados, etc. A Comissão da Verdade foi instituída para apurar apenas os crimes praticados por agentes do Estado então vai a pergunta do título: mas, afinal, qual será a verdade? Uma verdade parcial, tendenciosa e revanchista. A coisa começou mal com a aprovação da Lei da Anistia (Lei 6.683 de 28.08.1979) quando foi proposto um acordo no qual ambas as partes se comprometeram a passar uma borracha no passado e cuidarem de suas vidas dali para frente. Os signatários desse acordo tácito que faria os militares retornarem para os quartéis (de onde jamais deveriam ter saído) foram as lideranças civis da época e os militares que temiam uma caça às bruxas tão logo os civis se apoderassem do Estado. O regime militar, portanto, não foi derrubado, seu fim foi uma concessão fundamentada na Lei de Anistia. Os civis, loucos pelo poder e em jejum há duas décadas, submeteram-se. Hoje o Estado está tomado pelo que sobrou daquela gente que diz que combateu o regime militar e desejam obter dividendos políticos e econômicos com esta farsa que é a Comissão da Verdade. Essa gente que se arvora de ter combatido à ditadura (Dilma Rousseff, José Serra, Tarso Genro, Franklin Martins, Fernando Gabeira e outras tralhas) naquela época pertenciam a organizações stanilistas e maoistas e jamais defederam o Estado Democrático de Direito ou qualquer valor que se aproxime. Pelo contrário, desejavam substituir uma ditadura por outra. Ora vejam, quanta cara de pau!


Agosto de 2010

“O presidenta”, por exemplo, teve sua participação na luta armada super dimensionada provavelmente por bajuladores, marqueiteiros e outros parasitas. Não há nenhum relato de contemporâneos seus ou documento que dê alguma pista de que fosse uma peça chave no COLINA (Comando de Libertação Nacional) ou na VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares) Caso fosse não estaria aqui para contar a história e muito menos na presidência da República. Até a redução de sua pena pelos militares deve ser vista com desconfiança, pois, afinal, se era tão importante assim para o movimento armado porque cargas d’água os militares foram tão benevolentes? Segundo o general Leônidas Pires Gonçalves teve um desses “guerrilheiros” que recebeu Cr$ 150 mil para delatar. Joaquim Silvério dos Reis e Judas Iscariotes fizeram escola e tudo pelo pelo vil metal, afinal ambos receberam 30 moedas de ouro. Mas Joaquim Silvério dos Reis soube valorizar bem sua delação, pois além das moedas obteve o cancelamento de seu débito, um cargo público de tesoureiro da bula de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro, uma mansão para morar, pensão vitalícia, título de fidalgo da Casa Real, fardão de gala e hábito da Ordem de Cristo, sendo até recebido em Lisboa pelo princípe regente D. João. Enquanto Judas... bem, segundo consta, enforcou-se. Caso pense em ser um desgraçado de um dedo-duro que, pelo menos, faça como o Joaquim: tire bastante proveito da delação. Bem, a Dilma só se tornou presidente devido a dois fatores fundamentais: primeiro, a imensa popularidade do ex-presidente Lula, O Ignorante Desbocado, porque ele quem ganhou a eleição. Segundo, pela ausência absoluta de concorrência que, aliás, permanece. De qualquer maneira...



A Comissão da Verdade tem sua atuação focada entre os anos de 1946 e 1988 para esclarecer crimes e violações dos direitos humanos num prazo de dois anos. Apurar quarenta e dois anos em dois é, deveras, uma tarefa épica para um país que sequer consegue solucionar um homicídio como o de PC Farias em 1996, do prefeito Celso Daniel em 2002 ou julgar os réus do escândalo do Mensalão (uma das maiores patifarias da Republica) onde, certamente, estão entrincheirados interesses políticos e econômicos. Essa Comissão da Verdade não passa de um circo armado para atender os mesmos interesses e outros mais inconfessáveis. O Partido dos Trabalhadores defender lisura e transparência é a mesma coisa que traficante defender a pena de morte e a prisão perpétua para seus crimes. Na instalação da Comissão “a presidento” até chorou, mas isso não é novidade porque, sabemos, os crocodilos também choram ao exercer uma forte pressão de suas mandíbulas na presa. Comissão Parlamentar de Inquérito, as famigeradas CPI, que são relativamente mais fáceis para investigar e apurar os desvios tradicionalmente não dão em nada imaginem uma Comissão da Verdade aparelhada pelo PT no que irá dar.



Vamos ver seus membros. José Carlos Dias, ex-ministro do governo FHC entre 1999 e 2000 concedeu uma entrevista a revista Isto É (nº 1582 de 25.01.2000), ainda como ministro, onde declarava ser favorável as mulheres exibirem seus seios na praia. Até ai nada contra. Também sou a favor, porém, ele era o ministro da justiça e não eu. Mas o pior é quando o repórter pergunta se é a favor de acabar com o porte de arma e responde: “claro. Com isso vamos é tirar arma do bandido (não sabia que bandido possuía porte de arma). O cidadão de bem não tem que andar armado. Na realidade, a arma é para profissional. E quem são os profissionais: bandido e polícia. Esses sim sabem usar arma.” Bem, para quem defendeu o mega especulador Naji Nahas... cidadão de bem tem mais é que...


Atentado no aeroporto de Guararapes, 1966

Cláudio Fonteles foi procurador-geral da República no governo Lula de 2003 a 2005 e pertenceu a organização de esquerda Ação Popular (AP) de tendência maoista-cristão (não sei como conseguiram unir uma coisa à outra, mas vá lá que seja). Em 1966 a AP praticou um atentado no aeroporto dos Guararapes, Pernambuco, visando o general-eleito presidente da República Costa e Silva que, devido a uma pane no avião, seguiu por via terrestre. O atentado, segundo Jacob Gorender (Combate nas Trevas, página 122 e seguintes), teve como mentor o ex-padre católico Alípio de Freitas, militante da AP matando o jornalista e secretário do governo de Pernambuco Edson Régis de Carvalho e o vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes além de ferir e mutilar outras pessoas. Diz com quem andas e eu te direi quem és.



Gilson Dipp é ministro do STJ escolhido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, integrou o TRF da 4ª Região via quinto constitucional e novamente escolhido para a tal Comissão tornando-se seu coordenador. É um sujeito que caiu nas boas graças dos poderosos e sempre é escolhido.




Outro membro notável da Comissão é José Paulo Cavalcanti Filho atuou como ministro da justiça no governo Sarney, de triste memória, aliás. Este, pelo menos, considera que a lei não especifica se a investigação recairá sobre os crimes da esquerda ou os crimes estatais. Menos mal.



Para reforçar o Clube da Luluzinha “do presidenta” temos sua ex-advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha que, segunda consta, chegou a ficar completamente nua antes da visita a alguns clientes (quer seja, “líderes” de esquerda) diante dos militares o que, deveras, deve ter sido constrangedor... para ambos. Esse membro já assumiu sua posição publicamente: “ Não tem essa história de dois lados, porque o outro lado (os stalinistas, maoistas, castristas e outros diabos) já foi condenado, assassinado, desaparecido.” Esta afirmação soa muito mal, pois, afinal não é “o outro lado” que está no poder? Ou Tarso Genro, Fernando Gabeira, Dilma Rousseff, Franklin Martins, Wladimir Palmeiras, José Dirceu, José Genuíno e outros trastes eram militares? Então nem todos foram condenados, assassinados e desaparecidos. Quem dera.




Outra representante do Clube da Luluzinha é a psicanalista Maria Rita Kehl que foi editora do jornal Movimento, de oposição ao regime militar. É bom que se diga quem participava deste jornal. Fernando Henrique Cardoso, até então marxista; Perseu Abramo que exerceu função jornalística no Jornal dos Trabalhadores, do Partido dos Trabalhadores (A Fundação Perseu Abramo é vinculada ao partido “da presidento”); Chico Buarque de Holanda, também petista; Fernado Peixoto, foi membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro, entre outros. Pode-se concluir a imparcialidade desta notável membro de tão supimpa Comissão. Para esta senhora os crimes cometidos pelo regime militar e recalcados socialmente influem na prática da corrupção. Ora vejam, antes do regime militar não havia crimes e corrupção. E eu não sabia disto. Quer dizer que os políticos são corruptos só de raiva dos militares? Que coisa!




Em matéria de violação dos direitos humanos Paulo Sérgio Pinheiro tem experiência: atuou como relator especial dos direitos humanos em Mianmar nomeado pela desacreditada ONU. Ano passado liderou as investigações internacionais na Síria, só não sabemos o resultado dessas atuações. Celso Amorim também é diplomata e só fez lambanças no ministério das Relações Exteriores e só não faz na Defesa porque é elemento decorativo, pois o Clube Militar – voz do pessoal da ativa – não reconhece sua legitimidade e autoridade. Mas isso não importa. Naquela área do planeta o conflito foi estabelecido logo após o Big Bang. O que conta que ao criticar a decisão do STF pela manutenção da Lei da Anistia expressou publicamente seu desejo de vê-la modificada de forma que pudesse punir os criminosos, só não sabemos de qual lado, posto que existissem em ambos.



Dilma no STM


Ficha da "guerrilheira" Dilma

A tal Comissão da Verdade está ou não está devidamente aparelhada? Na cerimônia de instalação desta bodega “o presidenta” disse, textualmente: “Ao instalar a Comissão da Verdade não nos move o revanchismo, o ódio ou o desejo de reescrever a história de uma forma diferente do que aconteceu, mas nos move a necessidade imperiosa de conhecê-la em sua plenitude, sem ocultamentos, sem camuflagens, sem vetos e sem proibições”. Para inicio de conversa a História não tem uma verdade, muito menos em sua “plenitude”. Somente reconstituimos parcialmente fragmentos daquilo que aconteceu, isso considerando que o historiador se esforçe muito nas pesquisas e na interpretação e ainda assim cometerá excessos e omissões. Então essa conversa de verdade só pode ser entendida como aquela que os donos do poder querem que seja, isto é, os petistas & associados (o PT tem a capacidade de associar porcarias, mas isso não quer dizer que os demais partidos também não tenham a mesma capacidade). Se isso não é revanchismo e ódio preciso reelaborar estes conceitos segundo os critérios presidenciais. Já que é para não ocultar, camuflar, vetar ou proibir sugiro que os militantes das inúmeras organizações clandestinas sejam trazidos às barras deste Tribunal Inquisitor para explicarem os sequestros, assassinatos, torturas, assaltos, arrobamentos, atentados, etc. à luz da verdade como quer a suprema mandatária da nação tupiniqueira. Ora, quer saber de uma coisa? Vão lamber sabão...



...sem fazer bolhas


CELSO BOTELHO

17.05.2012

quinta-feira, 10 de maio de 2012

QUEM DISSE QUE A ESCRAVIDÃO ACABOU?





O trabalho escravo no Brasil é histórico. Mesmo antes dos primeiros navios negreiros aportarem nestas terras a exploração do homem pelo homem já era praticada na colônia. A abolição da escravatura não o extinguiu, pelo contrário, democratizou a prática. Sim. Democratizou. Antes da Lei Áurea era legal manterem-se somente os negros em cativeiro obrigados a trabalhar e, simultaneamente, o Estado imperial tolerava que também os não africanos e afrodescendentes fossem escravizados pelas oligarquias, pela burguesia urbana ou por “homens de posses”, visto que se omitia e, sabemos, omissão é demonstração de conivência e estímulo para a prática de algo tão abominável. Após a lei de 1888 e até nossos dias não mais importava a cor da pele. Bastava ser pobre que estaria enquadrado em regime de trabalho em condições análogas à escravidão. Devemos concordar que foram efetivadas muitas conquistas para os trabalhadores durante o século XX. Como também reconhecemos que outras tantas foram descaradamente reduzidas, eliminadas e distorcidas por governos de vários matizes (ditatorial, social democrata, esquerda deslumbrada e outras baboseiras).





Em 30 de outubro de 2011 escrevi neste blog artigo sob o título de “Trabalho Escravo no Brasil” e vale a pena transcrever algumas de suas partes. Para começar o artigo recorro a uma frase de Abraham Lincoln (1809-1865) “SE A ESCRAVIDÃO NÃO É CRIME, NÃO HÁ CRIMES.” Não pense que sou adepto de teorias apocalípticas, mas naquela oportunidade disse: “O Estado brasileiro vai além da sua função constitucional coercitiva mantendo e ampliando o contingente de excluídos ao não reconhecer-lhe plenamente as demandas e não constituir instrumentos que as atendam. O Estado brasileiro é preconceituoso, presunçoso e discriminatório, entre tantas outras más coisas. Está tão contaminado que deve ser repensado sob pena de, inevitavelmente, dentro de pouco tempo, tenha que enfrentar conflitos sociais de proporções inimagináveis.” E mais “Segundo relatório da ONU já existe cerca de 2,4 bilhões de seres humanos abaixo da linha de pobreza (equivalente a população da China e da Índia) e, a menos que se repense o sistema globalizado, a ruína será inevitável num efeito dominó trágico. 2,4 bilhões de pessoas escravas da miséria, da dor e do sofrimento sem qualquer perspectiva de sobreviverem dignamente, posto que lhes neguem todo o resto, não serão detidas por nenhum meio conhecido, seja ele violento ou doutrinador.” Não temos ilusão alguma de que enquanto o Estado brasileiro não for repensado nada verdadeiramente de concreto poderá ser feito para reduzir a concentração de renda e as gritantes desigualdades sociais. E somente a sociedade poderá promover as transformações que se fazem necessárias e urgentes. Os poderes constituídos da República encontram-se apodrecidos, inúteis e só se prestam ao atendimento das exigências de uma minoria, quer para a manutenção de seus privilégios ou a expansão destes. Não sonhamos com criaturas celestiais no governo, porém é inaceitável que todos os demônios lá se instalem. Neste artigo apontei diversos parlamentares acusados e flagrados praticando trabalho em situação semelhante à escravidão tais como o deputado federal João Lyra (PTB-AL), deputado federal Camilo Cola (PMDB-ES), José Rolim Filho (PV-MA) prefeito da Cidade de Codó a 292 km. de São Luiz, o ex-deputado estadual Jorge Picciani (PMDB-RJ) e o ex-senador Carlos Patrocínio (PMDB-TO). No mesmo artigo nomeei políticos que receberam doações de empresas envolvidas na prática de trabalho escravo. As “beldades” são: Marcelo Deda (PT-SE), Ana Julia Carapeba (PT-PA), Eunício de Oliveira (PMDB-CE), Olavo Calheiros (PMDB-AL), Aberlado Lupion (DEM-PR), Giovanni Queiroz (PDT-PA), Dagoberto Nogueira Filho (PDT-MS), José Maranhão (PMDB-PB), José Sarney (PMDB-AP), Luiz Escórcio (PMDB-MA), Garibaldi Alves (PMDB-RN). Porém, há muito mais do que isso.





Agora os jornais dão conta que o Ministério Público do Trabalho de Campinas, São Paulo, libertou cerca de 90 operários foram encontrados em situação análoga à escravidão na obra do “Minha Casa, Minha Vida”. O MP instaurou inquérito e a obra está embargada. Segundo os trabalhadores eram obrigados a cumprir 15 horas de trabalho diário sem pagamento salarial. Os alojamentos possuíam condições de higiene lamentáveis. Todos os operários são oriundos do Piauí e Maranhão aliciados para esta obra pela empresa encarregada da construção de forma ilegal. Este projeto é abastecido com verbas do ministério das Cidades, criado pelo ex-presidente de direito e atual presidente de fato Luiz Inácio Lula da Silva, O Ignorante Desbocado, e Caixa Econômica Federal ou Caixa de Pandora, ninguém sabe o que pode sair dela. No fim, os devaneios, as demagogias e alucinações petistas são sustentadas pelo indefeso e espoliado cidadão-contribuinte.





Nos últimos dez anos foram libertados cerca de 38.000 brasileiros que trabalhavam em áreas rurais em regime idênticos aos de escravidão. Mas na área urbana o problema também acontece. O governo mantém um cadastro público com o nome de 291 empregadores que mantinham trabalhadores nesta situação. Segundo o ministério do Trabalho e Emprego entre 1995 e março deste ano foram resgatados pouco mais de 42.000 trabalhadores. Estamos longe de termos abolido o sistema escravocrata. Aliás, para ser mais preciso, a humanidade não o aboliu em nenhum momento de sua História nos cinco continentes que ocupa, apenas deu-lhe outras roupagens. Não é só o sistema capitalista que prima pela exploração do trabalho alheio. A maioria dos seres humanos não é agraciada nem com as migalhas que caem das mesas fartas de uma minoria escandalosamente rica, mesquinha, preconceituosa e discrimintória. Mas isto é outra discussão.





Há dez anos está tramitando a PEC 438/01 e determina o confisco de terras onde for constatada exploração de trabalhadores em condições análogas à de escravidão. Aprovada pelo Senado e pela Câmara, em primeiro turno, mas aguarda a segunda votação em segundo turno na Câmara desde agosto de 2004. Esta segunda votação aconteceria na terça-feira passada (dia 8), foi adiada para ontem (dia 09) e agora só o Criador sabe quando será. A bancada ruralista não está disposta a aceitar qualquer confisco de terras, seja a que título for (reforma agrária, débitos fiscais ou tributários, trabalho escravo ou para a construção do Jardim do Éden). Portanto, se alguém tem alguma esperança que PEC do trabalho escravo pare de criar mofo nas gavetas de nosso “honorável” parlamento recomendo tirar o cavalo, o jumento e o jegue da chuva. Contudo, torço para estar enganado.




Este fato, principalmente envolvendo o demagógico projeto do governo petista, revela que os pseudo-comunistas, socialistas, stalinistas, maoístas, castristas e outras aberrações de ontem são os mais velhacos e ordinários capitalistas de hoje. Caso houvesse um acompanhamento minimamente sério do ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal, Ministério Público, ministério do Trabalho e demais entidades teoricamente responsáveis com certeza que a prática de trabalho escravo não estaria acontecendo país a fora. Mas o governo petista vive de marketing. Pagam somas astronômicas para saírem bem no filme ludibriando, manipulando e afirmando inverdades. No governo petista, de Lula e Dilma, falta desde competência até e, principalmente, honestidade. É mentira?



CELSO BOTELHO

10.05.2012