Certamente que meu artigo anterior (como muitos outros) desagradou algumas pessoas ou talvez não o tenham compreendido direito. No entanto, isso não me incomoda; ao contrário, fico até feliz. Posto que para provocar o desagrado seja imprescindível que o leia e esta é a uma das finalidades. Não engordarei ou emagrecerei um grama por conta do desagrado de alguns ou a incompreensão de outros. Uma das coisas da qual jamais abrirei mão é da minha independência. Não estou atrelado a partidos, associações, ONGs, movimentos, órgãos públicos, estatais, autarquias e etc. Jamais recebi favor, cargo ou numerário que não fossem legítimos, legais. Portanto, não tenho rabo preso com ninguém.
Para reforçar meu artigo de ontem (18.05.2012) quanto a pantomima que é essa tal de Comissão da Verdade basta ver a blindagem determinada pela CPI do Cachoeira aos governadores Sérgio Cabral (PMDB-RJ) do Rio de Janeiro, Marconi Perillo (PSDB-GO) de Goiás e Agnelo Queiroz (PT-DF) do Distrito Federal e da Construtura Delta em âmbito nacional. Só faltam agora excluir das investigações o senador Demóstenes Torres e o próprio Carlinhos Cachoeira e recomendar a dissolução da Polícia Federal por ser tão abelhuda. O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) foi flagrado pela reportagem do SBT enviando mensagem “tranquilizadora” ao Cabralzinho, bem, isso contradiz o significado do nome deste “nobre” parlamentar. Isto quer dizer que instalaram a CPI justamente para proteger notórios larápios e pilantras. Neste caso os interesses políticos e econômicos não estão entrincheirados, ao contrário. A JBS assumiu o controle da Delta. Mas, pergunta inocente, porque assumiria o controle de uma empresa que está sob investigação? Mistério? Não. Patifaria. Fernando Cavendish está licenciado do Conselho de Administração da Delta como se isso pudesse apagar todas as lambanças que praticou. CPI no Brasil é tão útil quanto um bote furado no centro do oceano. Se CPI é fraudada, manipulada, direcionada, blindam e inocentam canalhas inveterados e o diabo a quatro (e a cinco, seis, sete...) imaginem com essa tal de Comissão da Verdade. Os fatos que envolvem esta CPI aconteceram ontem, estão fartamente documentados e apontam para os responsáveis não dará em nada para não fugir ao hábito, imaginem acontecimentos ocorridos durante a repressão no regime militar? E em dois anos de funcionamento, com poucos assessores, com membros que já se definiram como revanchistas, impregnados de ódio e, portanto, suspeitos.
Caso houvesse um mínimo de disposição de se “conhecer a história em sua plenitude” (no dizer pueril “do presidenta”) há um outro segmento que sempre foi negligenciado pela memória histórica brasileira do período: os militares que foram expurgados, perseguidos, presos e mortos que se colocaram contra o golpe e o regime que se seguiu. Salvo pouquíssimos trabalhos, estes jamais mereceram a atenção da mídia ou dos historiadores. Seus infortúnios não vendiam e não provocavam discussões acadêmicas. Outro segmento que não constam das preocupações da Comissão da Verdade e de seus “notáveis” membros são os professores que, no melhor dos casos, eram intimidados com a presença física de um censor enquanto ministravam suas aulas. Os trabalhadores de um modo geral que eram vítimas de um policiamento constante dentro de seus locais de trabalho, residência e lazer sempre a mercê dos “cachorros” (elementos que delatavam ao regime supostos subversivos infiltrados nas fábricas, escritório, vizinhança ou clube em troca de favores ou numerário). Há muito que se apurar e não será esta Comissão que dará conta disso. Está instalada para atender outros objetivos. Um deles é sacralizar a atuação dos guerrilheiros. Talvez venham a sugerir a canonização de Carlos Lamarca, Maringuela, etc. O sentimento de revanche é tão notório que a “o presidenta” na cerimônia de instalação da Comissão afirmou que para os crimes de tortura, sequestro, assassinato e ocultação de cadáveres não haverá perdão. Ora, isso sinaliza que a Lei da Anistia (Lei 6.683 de 28.08.1979) poderá ser alterada, eis um dos objetivos entrincheirados e, caso não conseguiam este intento, com certeza promoverão e estimularam o esculacho como já vem acontecendo. Mas caso modifiquem a Lei da Anistia não será para punir os militantes da esquerda, mas os militares e agentes do Estado. Certamente que tal assertiva presidencial não foi bem recebida nas Forças Armadas que, aliás, já se encontram em rota de colisão com o governo desde a publicação em fevereiro deste ano do Manifesto dos Clubes Militares. Na fala presidencial também exaltou aqueles que “bravamente enfrentaram a truculência da ditadura”, mas não fez qualquer menção sobre a truculência que também era praticada pelos “guerrilheiros” não só contra militares, mas também contra civis dos quais desconfiassem que pudessem ser delatores, que não lhes davam guarita ou se interpusessem em seus caminhos involuntariamente.
Vamos aguardar para ver se hão de querer apurar denuncia de violação de direitos humanos, assassinato, cárcere privado, sequestro, ocultação de cadáver, etc. de qualquer cidadão, civil ou militar, contra os “guerrilheiros”. Claro que não. Notadamente quando se tratar de um facínora que hoje está em posição de poder e se já estiver morto pior ainda. Mas contra os militares e agentes do Estado, vivos ou mortos, a espinafração será ampla, geral e irrestrita. Serão dois pesos e duas medidas como, aliás, é muito corriqueiro nesta República tupiniqueira. Não é preciso ter bola de cristal para saber que a bodega funcionará desta maneira. Esta Comissão está atrasada há quase trinta anos e o que já foi destruído dos arquivos ou surrupiado é uma grandeza. Não esqueçam que o fim do regime militar foi negociado e, portanto, houve tempo suficiente para isso.
Não bastam as indenizações e aposentadorias milionárias concedidas até mesmo para alguns que jamais sofreram qualquer tipo de tortura (moral, física ou psicológica), perseguição, impedimento ou restrição do exercício profissional como o ex-presidente Lula. Outros como o presidente João Goulart (1919-1976) que foi deposto pelo golpe de 1964 só foi anistiado em 2008 e concedida uma indenização de R$ 100 mil e uma pensão para sua viúva de R$ 5.425. A Comissão também almeja proporcionar a “cumpanheirada” mais oportunidades de ganho farto e fácil à custa do mais que depenado contribuinte. A Comissão Nacional da Verdade é o jabuti que o PT colocou na árvore.
CELSO BOTELHO
20.05.2012