Uma sucessão presidencial num país supostamente democrático deveria ser um momento empolgante, acenar novas perspectivas, suscitar esperanças e entusiasmar os mais pessimistas. Porém, no Brasil, isto não acontece e não alimentem ilusões de que possa acontecer. Pelo menos se continuarmos consentido que esta corja que ai está estuprem o país diuturnamente e com diabólica crueldade. As eleições brasileiras, algumas vezes, alternam-se entre insossas, desinteressantes, desavergonhadas, desqualificadas, demagógicas, demoníacas e demenciais ou, eis o mais correto, tudo isto junto. Incapazes de despertar esperanças e empolgação ao mais simplório dos brasileiros. Mesmo porque não se pode elencar nosso país, e a maioria deles, como sendo uma democracia e sim um arremedo muito ruim de qualquer coisa que com ela possa assemelhar-se. Volto a dizer: com este sistema político, eleitoral, judiciário, previdenciário, econômico e social o voto é tão útil quanto um relógio sem ponteiros. Portanto, como não participo de nenhum concurso de popularidade, chame a sucessão presidencial de latrina ou vaso sanitário o conteúdo sempre será o mesmo.
Cédula eleitoral para presidente da República em 1989
O primeiro governo após o regime militar (1964-1985) foi eleito pelo desprezível mecanismo do Colégio Eleitoral. Tancredo Neves (1910-1985) foi aclamado pelo povo ainda contaminado pela campanha das “Diretas Já”, aceito entre as lideranças políticas e empresariais, abençoado pelas Forças Armadas e ungido pelo Congresso Nacional que já não representava coisa alguma, exceto os interesses de seus membros e associados. Dr. Tancredo obteve 480 votos contra 180 do execrável deputado Paulo Maluf. Uma fatalidade o levou ao hospital às vésperas da posse e em pouco mais de um mês à sepultura. No mesmo dia em que foi hospitalizado levantaram-se políticos, juristas, empresários, generais e desocupados de todas as ordens para discutir quem tomaria posse. Uns asseveravam que cabia ao vice-presidente eleito José Sarney, outros enfileravam-se ao lado do Dr. Ulisses Guimarães (1916-1992) e, certamente, alguns generais, coronéis e tenentes-coronéis nutriam esperanças de reverterem a situação a favor do ilegal e imoral regime militar dando o dito pelo não dito e continuar tudo como antes no quartel de Abrantes. Segundo depoimento do ex-ministro do Exército na época general Leônidas Pires Gonçalves foi ele quem decidiu que o lugar era de Sarney. Como ninguém reclamou a autoria do malfeito fica, pois, creditado ao general a ascensão à presidência da República de José Sarney, ex-presidente da ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e do PDS (Partido Democrático Social), partidos do faz de conta da ditadura. Bem, de qualquer maneira em 1985 a República ainda era provisória tal como o marechal Deodoro da Fonseca proclamara. Só viria a ser permanente com o plebiscito de 1993. O governo Sarney foi pródigo em planos econômicos malfadados (Cruzado I, Cruzado II, Plano Verão, Plano Bresser), arruinando a economia nacional, provocando hiperinflação, desabastecimento, ágio, desemprego, miséria, sofrimento e dor. Sarney inaugurou a era de acabar com a inflação por decreto. Pensem o que possa ser um desgoverno amplo, total e irrestrito e vocês terão o retrato instantâneo do governo Sarney. Mas, teimoso como a maioria dos brasileiros, sobrevivi.
As eleições presidenciais voltaram a ser diretas com a promulgação da “Constituição Cidadã”, alcunha conferida pelo então presidente da Constituinte, da Câmara Federal, do PMDB e eventual presidente da República na ausência do presidente que era o vice do titular que não tomara posse. Nenhum político em toda a História da República brasileira acumulou tanto poder simultaneamente como o Dr. Ulisses Guimarães. A Carta de 1988 é hibrida, longa, repleta de utopias, contraditória. Poderia ser mais enxuta, mas isso é outra questão. Os políticos, expressivos, inexpressivos, desconhecidos, descarados e desonestos estavam em polvorosa. Todos eram presidenciáveis. Havia vinte e dois candidatos, desde o apresentador de televisão Silvio Santos que entrou no lugar de Armando Correa (PMB) sendo considerado inelegível até um Zé arruela chamado Manuel Horta (PDC do B) que amargou um último lugar histórico. E mais os tradicionais Paulo Maluf, Ulisses Guimarães, Leonel Brizola (1922-2004), Lula, Aureliano Chaves (1929-2003), etc. Mas o furacão fabricado pela elite (banqueiros, empresários, grande mídia e outros entes asquerosos) foi o governador do pequeno estado de Alagoas com um marketing impecável que apelava para a figura de um jovem político destemido que se punha a enfrentar as oligarquias, os cartéis, os monopólios, a corrupção e a bruxa malvada. Incorporou o papel de caçador de marajás no serviço público, propôs-se a reduzir os gastos governamentais, matar a inflação com um único e certeiro tiro e dar cabo de nossa secular companheira: a dona corrupção. Isso era música aos ouvidos de um povo brutalizado, espezinhado, humilhado por vinte e um anos de ditadura e mais cinco de total caos administrativo e assombrosa corrupção, desvio, desperdício e malversação dos dinheiros públicos, fatos que não se constituem em exceções desde os tempos dos governadores-gerais. A bravata deu resultado e Fernando Collor de Mello foi eleito o primeiro presidente pelo voto direto após vinte e nove anos de abstinência do eleitorado. Tão logo assumiu junto com algumas dezenas de notáveis estúpidos ou ilustrados vigaristas meteu a mão pelos pés e desarranjou ainda mais o país com planos econômicos também mirabolantes, corrupção, desvio, etc. Aderiu as premissas do Consenso de Washington e começou a desmantelar o Estado sendo copiado por seus sucessores, especialmente pelo sociólogo. Pode-se elencar uma infinidade de motivos que puseram fim ao governo Collor: golpe parlamentar, ganância, conspiração de banqueiros, empresários, grande mídia, classe média, estratégia petista que se arvorava como partido da ética e da moralidade, etc. No entanto, é difícil aceitar que tenha sido derrubado por causa da corrupção, desvio, desperdício e malversação dos recursos públicos, posto que todos os governos brasileiros, desde o período colonial, primaram por cometerem tais crimes e até aquele momento nenhum fora derrubado.
Collor sofreu um impeachment eivado de irregularidades. Não se garantiu o direito constitucional de ampla defesa e muito menos se respeitou ritos e prazos processuais. Não o estou defendendo (não tenho procuração para isso e caso me fosse oferecida recusaria prontamente), apenas aponto falhas gritantes na condução do processo. Seu vice-presidente Itamar Franco montou o time reserva e foi para campo com o objetivo de reverter o placar ou, pelo menos, cavar um empate. Uma das primeiras declarações do presidente Itamar Franco caiu como uma bomba atômica entre os larápios e, certamente, não agradou a gregos, troianos, romanos ou egípcios: “neste governo não haverá corrupção”. Governo sem corrupção é a mesma coisa que automóvel sem rodas: não anda. Nomeou alguns ministros digamos, por cortesia, emblemáticos como Celso Amorim, O Lambão, para a pasta das Relações Exteriores; Eliseu Resende (1929-2011) que havia sido ministro dos Transportes no governo Figueiredo (1918-1999); Hugo Napoleão que havia sido eleito governador do Piauí em 1982 pelo PDS (partido que a ditadura dava sustentação, hoje é o inverso); José Eduardo de Andrade Vieira feliz proprietário do Banco Bamerindus que conseguiu encontrar um otário para comprar um terreno, pago em dólar, dentro de uma reserva indígena; Rubens Ricupero que renunciou ao ministério da Fazenda depois que sua conversa com um jornalista da Rede Globo ter sido captada por antenas parabólicas por milhares de pessoas sintonizadas no canal 23 que estava aberto apontando falhas no Plano Real. Ricupero disse, textualmente: "Eu não tenho escrúpulos. Eu acho que é isso mesmo: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde". Foi substituído pelo bocó do Ciro Gomes.
A vedete de um elenco tão eclético, promíscuo e depravado foi o sociólogo Fernando Henrique Cardoso (um produto com a inconfundível marca da USP “Latricínideos” & Derivados, penicos, comadres, papagaios, bolsas coletoras para pacientes ostomizados, etc.) que reuniu a “nata”, os papas (defuntos) da economia (Pérsio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho, Winston Fritsch e outros) e decidiram acabar com a inflação, com as empresas estatais, com as reservas de riquezas naturais, com as telecomunicações e tudo que se opusesse ao neoliberalismo. FHC foi o maior entreguista de todos os tempos. A estabilidade econômica nos custou os olhos que essa terra há de comer e mais os ouvidos, o nariz e todo o resto. O Plano Real, entre outras coisas, foi concebido dentro de uma estratégia que privilegiasse sua flexibilidade mantendo abertos espaços para ajustes e correções que se fizessem necessários ou contemplassem interesses. Um plano mais palatável por assim dizer. Tanto foi assim que na Crise de 1994 (México) quando houve uma reversão dos fluxos de capitais do Brasil o Banco Central, O Carimbador Maluco, promoveu uma alteração na política cambial definindo, com intervalos, uma banda larga para a taxa de câmbio e dentro desta banda seriam efetuadas intervenções diárias caracterizando uma mini-banda com pequenas e sucessivas desvalorizações em dias e percentuais previamente conhecidos. Desta maneira o Banco Central proporcionava uma desvalorização gradual do Real frente ao Dólar. Pensaram os luminares da economia que a valorização do câmbio conteria a inflação, mas deram com os burros n’água porque isto fez deslanchar um déficit nas contas de transações correntes tornando a balança comercial deficitária. Fernando Henrique Cardoso, já presidente, na Crise de 1997 (Crise Monetária do Sudeste Asiático, Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas e Coréia do Sul) elevou as taxas de juros e adotou um pacote com medidas fiscais. Na Crise de 1998 (Rússia) o Banco Central elevou as taxas de juros de 19% para 29,75% e o governo negociou um empréstimo de US$ 18 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e mais US$ 41,5 bilhões com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), BIRD (Banco Mundial) e BIS Banco de Compensações Internacionais. Em 1999 aconteceu a Crise de Desvalorização do Real quando o BC abandona o câmbio fixo e adota o câmbio flutuante. A sobrevalorização do Real ao longo dos anos teve como consequência um aumento nos déficits comerciais e enfraquecimento na indústria brasileira. A estabilização do câmbio foi creditada ao presidente do BC Armínio Fraga (durante seis anos foi diretor-gerente da Soros Fund Management LLC em Nova Iorque, do megaespeculador George Soros, especialista em taxas de câmbio que cultiva o hábito de ganhar bilhões de dólares e é membro da elite globalista), mas quem pagou caro foi o país.
Uma das primeiras providências de FHC foi extinguir por decreto em 1995, a Comissão Especial de Investigação criada por Itamar Franco para combater a corrupção. Entrave removido, o governo tucano ficou mais confortável. Ainda no ano de 1995 Fernando Henrique Cardoso criava o PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) para salvar bancos falidos e banqueiros amigos injetando 1% do PIB no sistema financeiro. De acordo com economistas da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) a caridade aos banqueiros consumiu 12,3% do PIB ou cerca de R$ 111,3 bilhões, incluindo a recapitalização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e o socorro aos bancos estaduais. A privatização do sistema Telebrás, Vale do Rio Doce, CSN, Embraer, etc. foram operações lesa pátria patrocinada pelo governo. A raça que compôs a Comissão de Desestatização só não ficou mais milionária por falta de tempo. A aprovação do instituto da reeleição em 1997, rejeitado durante toda a República (talvez com exceção de Getúlio Vargas que assumiu em 1930 mesmo perdendo a eleição e durante quinze anos não a permitiu, mas neste caso tratava-se de uma ditadura). Juscelino Kubitscheck (1902-1976) rejeitou proposta desta natureza e até mesmo o presidente-general-de-plantão João Figueiredo recusou a ideia de ficar mais dois anos no poder. Os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre (hoje DEM e amanhã só Deus sabe), ganharam R$ 200 mil para votar a favor do projeto, foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos, mas a grana... A construção da sede do TRT paulista representou um desvio de R$ 169 milhões aos cofres públicos. Neste caso o juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, foi preso e o senador Luiz Estevão foi cassado, o único senador da República cassado até os dias atuais, mas a grana... Em 1999, durante a desvalorização do Real o Banco Marka/FonteCidam foram socorridos pelo generoso Banco Central com R$ 1,6 bilhão com o pretexto de que caso quebrasse seria um “risco sistêmico” para a economia. Salvatore Cacciola, dono do Banco, chegou a ser preso, porém o ministro Marco Aurélio Mello do STF concedeu-lhe habeas-corpus e o gatuno evadiu-se para a Itália, mas a grana... Há muito mais canalhices e roubalheiras, porém as mencionadas por ora bastam para avivar a memória e reforçar o título deste artigo.
Chegara a vez do ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-deputado e excomungado Luis Inácio Lula da Silva, O Exu de Garanhuns. Urubus, abutres e todo o tipo de ave de rapina estavam em festa. Tudo que as Forças Armadas temiam, repudiavam e rejeitavam em 1964 e foram extremamente incompetentes em dar combate concretizou-se: a esquerda no poder. Prender, torturar, desaparecer e matar terroristas pés de chinelo e permitir que seus verdadeiros líderes, teóricos, articuladores e estrategistas ocupassem todos os espaços acadêmicos, editoriais, sindicais, mediáticos, etc. demonstra inequivocamente que os militares não tinham a menor ideia do que diziam combater e muito menos qualquer noção sobre os meios efetivos para combater. Ganharam da guerrilha e perderam feio para a ideologia da esquerda revolucionária que, aliás, em várias ocasiões contou até com a colaboração do próprio governo militar, por omissão e na maioria das vezes por sua profunda ignorância. Quando a esquerda assume o poder, em qualquer lugar do planeta, não sai mais. De uma maneira ou de outra continuam. Ainda encontramos imbecis que asseguram que o comunismo acabou com o esfacelamento da União Soviética, a queda do Muro de Berlim e o colapso dos países da Cortina de Ferro. Ao contrário, está mais fortalecido e mais atuante do que jamais esteve. A KGB (hoje FSB) é muito mais poderosa e operante do que nos tempos da URSS e notem que naqueles idos estavam infiltrados até nos sanitários da Casa Branca e inúmeras decisões ali tomadas tinham as digitais da KGB. Mas isso é outra história.
O governo Lula esteve envolvido em mais de cem escândalos de todos os tipos, modelos e designer. Desde assassinatos como o de Celso Daniel em 2002 até doação de terninhos da primeira dama e, entre eles, a Máfia dos Sanguessugas, dólares na cueca, quebra de sigilo bancário de caseiro, favorecimento ao BMG com o crédito consignado, etc. Porém, o carro chefe é, sem dúvida alguma, o escândalo do Mensalão. A compra de parlamentares, seja pelo poder Executivo, empresas, bancos, latifundiários, multinacionais, bordéis, etc. jamais se constituíram em novidade no Brasil, porém planejada, ordenada e executada obedecendo a uma estratégia traçada ao longo dos anos para consolidar a ocupação hegemônica da esquerda no Estado é algo inusitado. Ao abandonar a conquista do poder através das armas provocando uma cisão no Partido Comunista Brasileiro nos anos 1960 Luis Carlos Prestes entendeu com toda clareza que jamais a esquerda teria alguma chance pegando em armas. Estava correto. Os que dele discordaram quebraram a cara. A estratégia acertada estava em aderir ao sistema e miná-lo desde dentro. A esquerda apropria-se dos direitos, dos discursos e dos argumentos burgueses e os utiliza contra eles e, uma vez no poder, os destroem implacavelmente. Foi exatamente assim que o Partido dos Trabalhadores chegaram ao governo. Apresentaram-se com um partido da ética e moralidade, denunciaram escândalos, exigiam CPIs, cobravam probidade dos administradores da coisa pública, denunciavam irregularidades, etc. Nesta fase o embrião que iria parir o Mensalão estava se desenvolvendo. Alçados ao poder não esqueceram o passado, apenas abandonaram aquela estratégia para, de fato, mostrar a que vieram: dilapidar o país; destruir toda e qualquer possibilidade de oposição verdadeira e legitima; consolidar sua hegemonia política com um partido único e onipresente, mesmo existindo três dezenas de partidos políticos o PT tem amplo domínio sobre eles; provocar, estimular e reforçar uma confusão generalizada fazendo com que as pessoas baixem seus padrões de julgamento, estabelecer o caos para “restaurar a ordem” segundo suas conveniências e necessidades. Quem não percebeu isso antes ou agora das duas uma: ou é petista e, portanto, parte interessada ou é um perfeito idiota.
Contudo, o ser humano tem uma vocação nata para bocó e parece apreciar quando é feito de tolo, é fenômeno mundial. Descoberta a aquisição de “Suas Excelências”, os crimes perpetrados pela organização criminosa que atende pelo vulgo de Partido dos Trabalhadores e penduricalhos armou-se aquele circo da CPI no Congresso Nacional, convidou-se e intimaram-se inúmeras pessoas (envolvidos, não envolvidos, secretárias e ex-secretárias, esposas e ex-esposas, contínuos, motoristas, gatos, cachorros e papagaios), foram gastos milhões de reais, deputados e senadores ganharam um palanque eletrônico fora de época e de graça e no final da bodega o então procurador-geral da Republica Antonio Fernando de Souza em 2007 apresentou denuncia no STF contra quarenta mensaleiros para o alivio de mais de uma centena de beneficiários do esquema, principalmente de seu principal responsável o presidente Lula, o Ali Babá da história. Finalmente no ano passado teve inicio o julgamento que acabou por condenar 25 mensaleiros e ainda não terminou, posto que sequer foi publicado o acórdão. A sociedade levantou-se extasiada e exultante acreditando que o Brasil estava mudando porque finalmente condenou duas dúzias de corruptos. Como diz Roberto Carlos numa de suas canções “quanta insensatez, quanta estupidez”! A memória histórica do brasileiro é impressionante: rotineiramente não vai além dos últimos quinze dias. Volta e meia a promessa do fim da corrupção empolga a sociedade transformando-a em marco histórico. A campanha contra a corrupção no governo do presidente Getúlio Vargas (1882-1954) terminou no suicídio do presidente, numa crise institucional e não acabou com o mar de lama. Depuseram o presidente João Goulart (1919-1976) por um golpe civil-militar alegando, entre outras coisas, a corrupção no governo. E durante a ditadura não havia corrupção? Foi banida por algum dos indecentes decretos-lei ou decreto-secreto? É óbvio que não. Tai o escândalo da Proconsult que por pouco não impede Brizola de ser eleito governador e o da Mandioca patrocinado pelo Banco do Brasil na cidade de Floresta (PE) para ilustrar. O impeachment de Collor (1990-1992) também serviria de exemplo para os renitentes corruptos. Logo no ano seguinte veio à tona o escândalo dos Sete Anões do Orçamento. Com o governo de FHC e Lula a corrupção ficou mais robusta do que nunca. A sociedade, devidamente enquadrada dentro da estratégia da esquerda para a hegemonia no poder como descrevi acima, esteve e está atenta apenas para o aspecto jurídico-criminal do escândalo sem atentar e muito menos examinar sua causa primeira. Nenhum dos condenados cometeu os crimes pelos quais foram julgados por iniciativa própria, a seu bel-prazer, por que não tinham nada para fazer. Certamente que embolsaram resultados financeiros e políticos, pois, afinal ninguém “trabalha” de graça. Cumpriam rigorosamente o plano traçado pela organização criminosa a qual eram filiados (formal ou informalmente) e o objetivo central foi o de beneficiá-la. Em outras palavras, estavam a serviço do Partido dos Trabalhadores e, como consequência, do governo Lula. Em 2005, quando veio à tona o escândalo, o então ministro da Casa Civil José Dirceu, afirmou que nada fazia sem o conhecimento do presidente da República, o que derruba a alegação de ignorância do ex-presidente sobre a patifaria. José Dirceu foi apontado como chefe da quadrilha quando, na verdade, está mais para mentor, autor intelectual e capataz, posto que o chefe de fato e de direito sempre foi o ex-presidente Lula que sempre controlou e controla o Partido dos Trabalhadores com mão de ferro e absolutamente nenhuma decisão pode ser tomada sem a sua aprovação e benção. Dilma que se cuide e fique atenta porque corre o sério risco de ser feita de trouxa na sua ambição de se reeleger. Lula não é uma pessoa em que se possa sonhar em confiar. Para fins didáticos basta examinar o que fez com Aloísio Mercadante durante seus dois mandatos: o alijou do condomínio petista, o humilhou publicamente, o enganou politicamente e obrigou Dilma a consolá-lo com o ministério da Ciência e Tecnologia, com o detalhe que é um profundo ignorante sobre uma coisa e outra, mas, de qualquer maneira, ministro de Estado não precisa saber de coisa alguma. Mais tarde foi remanejado para a Educação que, de igual modo e como seu antecessor Fernando Haddad, revela-se uma vistosa toupeira. Outro exemplo de como o ex-presidente atua deu-se com Ciro Gomes, O Bocó, que transferiu seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo por recomendação de Lula com a promessa de que seria candidato a governador e na hora “H” seu tapete foi puxado ficando a ver navios. Mas deixemos o Mercadante e seu ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio) onde um candidato foi aprovado inserindo na redação uma receita de como preparar Miojo e outro completou as linhas faltantes com o hino do Palmeiras e Ciro Gomes de lado e voltemos ao Mensalão. Tão logo o julgamento começou e o relator do processo ministro Joaquim Barbosa foi aos píncaros da glória. Virou super-herói e até presidenciável. O jornalista Claudio Humberto (ex-porta-voz do presidente Collor e adido cultural na embaixada do Brasil em Lisboa, uma das sinecuras desta maltrapilha República) divulgou que o ex-presidente Lula queria um “negrão” no STF e que frei Betto o havia localizado, mas esta não é a questão, considerando que para obter uma indicação do presidente da República para tribunal existe uma negociação intensa, repleta de acordos, conchavos e cambalachos. Com todo respeito, o ministro só fez aquilo que sua função exige: diante de provas irrefutáveis da prática dos mais diversos delitos não poderia, de jeito algum, absolvê-los. A atuação do ministro, por mais superdimensionada que seja, não significa que está apto a exercer a presidência da República. Mas, como no Brasil qualquer arataca se julga qualificado ao cargo e até o conquista ou toma de assalto não se constitui em surpresa que elevem o ministro à categoria dos presidenciáveis e que até a ela venha a se incorporar. Basta dar uma olhada na galeria dos presidentes da República e apontem quantos estavam aptos para o exercício do cargo. Ao cabo e ao fim a instituição criminosa Partido dos Trabalhadores e seu capo foram preservados e, portanto, em condições de praticarem crimes idênticos e até piores daqueles que seus membros foram condenados. A condenação dos mensaleiros é semelhante aquela do camarada que chega a casa e vê sua esposa com o amante no sofá da sala e no dia seguinte vende o sofá. E, a julgar pelo histórico de gente graúda envolvida com os mais diversos crimes, não se pode afirmar que os mensaleiros serão recolhidos às penitenciárias ou que lá permaneçam por muito tempo.
Para finalizar, em 2010 o conteúdo da latrina não se alterou. Enterrada a possibilidade de um terceiro mandato (o deputado Devanir Ribeiro, PT-SP, bem que tentou emplacá-lo) e com o “candidato natural” à sua sucessão José Dirceu afastado o ex-presidente Lula não se apoquentou: inventou Dilma Rousseff, um poste sem luz e a elegeu sem maiores dissabores. Passou a presidir o país uma senhora que, segundo consta, assaltou a casa da amante do ex-governador Adhemar de Barros (1900-1969) juntamente com Carlos Lamarca (1937-1971) levando um cofre contendo US$ 2,5 milhões, o equivalente hoje a mais de US$ 20 milhões, sequestrou, assaltou banco, casa de armas e sabe-se mais o que, mas como a direita apagou os crimes dos terroristas e dos militares com a Lei da Anistia (Lei 6.683/1979) “a presidento” exibia uma ficha limpa e imaculada. A organização clandestina da qual era militante, a VAR-Palmares, possuía uma orientação leninista (Joseph Lênin, 1870-1924), mas Dilma Rousseff afirma e reafirma que lutava pela democracia. É muita desfaçatez. A intenção daquela gente era substituir a ditadura militar pela ditadura soviética, maoista ou cubana. O atual governo é tão fétido, corrupto, perdulário e pervertido como os anteriores. Os objetivos atendem os interesses e necessidades de tudo que foi planejado, quer seja, a hegemonia e supremacia da esquerda. A Petrobrás enfrenta sua pior crise desde a fundação e os “privateiros” se movimentam para aprofundar e difundir que sua quebra será inevitável criando um clima propício entre a população sobre a urgência em privatizá-la. As verbas para a realização da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016 são astronômicas e estão fazendo a alegria de políticos, empreiteiros, cartolas e outros parasitas. Mas a educação, a saúde, as rodovias, os portos, os aeroportos, a segurança pública, etc. têm seus orçamentos cada vez mais minguados e contingenciados. As obras de transposição do rio São Francisco estão abandonadas e deteriorando-se e já consumiram bilhões de reais sem que por ela passe um litro sequer de água e o próprio rio está seriamente comprometido. Existem trechos que nem mesmo uma canoa pode navegar. A transnordestina é uma piada (de mau gosto). Um trem descarrilou por falta de dormentes. O programa Minha Casa, Minha Vida está eivado de irregularidades e, o mais grave, inúmeras dessas construções estão comprometidas devido ao material de baixa qualidade utilizado, contratação de pessoas não qualificadas, solo inadequado, infraestrutura capenga ou inexistente, soluções urbanísticas simplesmente ignoradas, etc. D. Dilma teve a cara de pau de ir inaugurar a suposta milionésima casa do programa e basta consultarmos os números oficiais para concluirmos que para chegar neste número de unidades somente seu governo deveria ter construído nada mais, nada menos, do que 1.395 casas por dia o que, deveras, só seria possível com magia negra ou bruxaria. E, por falar em magia negra e bruxaria, segundo d. Dilma e a ministra do Desenvolvimento Social e Combate a Fome Tereza Campello, juram de pés juntos que ao assumirem o governo, 36 milhões de pessoas beneficiárias do programa Bolsa-Família deixaram a situação de extrema pobreza, o Brasil Sem Miséria outros 22 milhões de aquinhoados, o Brasil Carinhoso cerca de 9,1 milhões de abençoados e agora estão à procura de 700 mil famílias em situação de extrema pobreza que teimam em esconder-se do governo. Trata-se de gente renitente, pobres soberbos talvez e, como diz a canção de Ataulfo Alves (1909-1969) e Mário Lago (1911-2002) “Ai Que Saudades da Amélia” (1941) por certo acham bonito não ter o que comer. Por falar em Bolsa-Família observem que o pensamento marxista ensina que a caridade estatal é extremamente nociva, pois tende a aplacar a consciência política do proletariado. No Brasil a esquerda percebeu que caso não praticassem a caridade estariam queimados diante da população, ficariam como malvados, insensíveis, comunistas comedores de crianças e o diabo a quatro. Então decidiram entrar na jogada apelidando-a de “transferência de renda”. A caridade estatal é um instrumento poderoso e mesmo imprescindível para a manutenção do status quo e engana-se que só em terras tupiniqueiras e latinas a estratégia é aplicada. Nos EUA Barack Obama a utiliza também em larga escala, pois, afinal também se empenha com vigor na fabricação de mais pobres. E, para não sairmos do campo do ocultismo, magia negra e bruxaria ”o presidenta” deveria recorrer a estes expedientes para conter a inflação, uma vez que não dispõe de profissionais qualificados para elaborar e executar uma política econômica minimamente razoável. Tanto na questão da redução das tarifas de energia elétrica quanto na redução dos impostos federais sobre itens que compõem a cesta básica ficou demonstrado cabalmente um governo sem autoridade, sem prestígio e sem-vergonha. Mas recuar, retrair-se, desdizer-se e não fazer coisa alguma é atitude corriqueira dos governantes brasileiros em todas as esferas e em todos os períodos da História. O presidente-índio-cocaleiro Evo Morales ocupou a refinaria da Petrobrás na Bolívia e o ex-presidente Lula e o ministro Celso Amorim, O Lambão, o que fizeram? Saíram cantando alegremente a marchinha carnavalesca “Bota a Camisinha” (João Roberto Kelly/Chacrinha/Leleco) do inesquecível Chacrinha (José Abelardo Barbosa de Medeiros, 1917-1988). Mas, apesar do governo medíocre e infestado das práticas seculares de corrupção, desvio, desperdício e malversação dos recursos públicos d. Dilma, segundo os “institutos” de pesquisa nos quais devemos crer como o fazemos em relação ao Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Mula Sem Cabeça e Saci Pererê, é mais popular do que seu o próprio criador, só restando então a criatura contra ele se rebelar, tal como Lúcifer o fez de acordo com os relatos bíblicos.
Mesmo tendo sido um texto extenso apenas pude pincelar toscamente os governos instalados no país após 1985 para embasar e reforçar seu título. Debalde foi minha tentativa de encontrar um motivo mais elegante para comparar as sucessões presidenciais, se é que tenha mesmo tentado. No entanto, essa gente não merece e não entende sutilezas, considerações ou qualquer tratamento civilizado. Precisamos e devemos ser o mais rude e desagradável que pudermos. O mal que esta gente vem fazendo à população e ao país é tão extenso, intenso e cruel que não podemos mensurar. É a linguagem que seus cérebros diminutos, atrofiados, catinguentos e satânicos compreendem.
CELSO BOTELHO
25.03.2013