quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O ‘TANTO’ QUE O GOVERNO PETISTA FEZ



Houve quem discordasse de mim em diferentes graus quando descrevi o mecanismo das manifestações que eclodiram por todo o país a partir de junho do ano passado. Fui chamado de teórico da conspiração, saudosista da Guerra Fria, membro da extrema direita, no Brasil não existe sequer uma direita formalizada como poderia então eu estar na extrema direita? Os petistas histéricos questionavam alegando que não fazia sentido o PT atirar no próprio pé. Não atentaram para o fato de que em qualquer associação humana sempre haverá inúmeras correntes destoando entre si no varejo, porém unidas no atacado. O movimento esquerdista revolucionário não seria diferente. Ao contrário, são exatamente as contradições e embates internos que os fortalecem. E, decerto, seria muita maldade minha exigir que os militantes esquerdistas compreendam a engrenagem que move o movimento da esquerda revolucionária. Dizer para eles que a esquerda sempre trabalha com os mais variados discursos soa como estupidez. A contradição e a ambiguidade são elementos fundamentais do movimento esquerdista revolucionário. Esta estratégia sempre os favorece seja qual for o rumo dos acontecimentos. Manifestações como aquelas não se realizam espontaneamente. Existe um comando que planeja, articula, coordena e executa todas as ações e isso exige recursos materiais e humanos. As redes sociais são um eficiente instrumento assédio, convencimento e recrutamento. Através delas a esquerda faz circular apenas o discurso nominal (aumento nas tarifas dos transportes coletivos, saúde, educação, segurança, etc. e podem ser substituídos por qualquer outro a qualquer momento caso se faça necessário) e ocultam o objetivo final (avaliar sua militância, criar o clima para justificar o fortalecimento do aparelho repressor do Estado, produzir legislação para impor mais controle social, testar a competência da atual presidenta para gerenciar a situação e avaliar sua capacidade e se aquele momento reúne as condições necessárias para patrocinarem uma ruptura institucional, etc.). A ausência de bandeiras de partidos políticos naquelas manifestações para os incautos reforça a ideia de que eram espontâneas. Numa ou outra manifestação tentou-se desfraldar a bandeira de alguns partidos políticos de esquerda e foram prontamente rechaçados pelos “manifestantes” que, na verdade eram militantes da esquerda e estavam instruídos para assim proceder. A presença de qualquer sinal de partidos políticos de esquerda implicaria em esvaziamento do movimento com a fuga de cidadãos honestos e bem intencionados que ingenuamente se integraram às manifestações seduzido pelo discurso nominal. A sociedade questionaria a legitimidade do movimento. Porque os partidos de esquerda que estão no governo atiram no próprio pé?  Seria a primeira e a mais óbvia das perguntas. Os objetivos finais e subterrâneos poderiam ser comprometidos, mas isto não tem lá muita importância tendo em vista que os estrategistas da esquerda revolucionária estão sempre atentos aos rumos que o movimento possa tomar e imediatamente reduzir, ampliar, manter ou adotar outras estratégias. É impossível controlar todo o processo e exatamente por possuírem esta certeza que seu discurso é camaleônico, contraditório e ambíguo proporcionando-lhe um trânsito abrangente capaz de contemplar os interesses mais díspares. Tudo que ocorreu naquela ocasião foi orquestrado. Até mesmo os atos de vandalismo e saque fizeram parte da estratégia. É fato que muitos se aproveitaram da situação para praticarem tais atos. Estes vândalos e saqueadores avulsos colaboraram para o endurecimento das ações policiais de repressão não só em relação a eles, mas a toda sociedade e serviram de justificativa para a adoção de uma legislação mais restritiva.



Num texto que escrevi em 14.08.2013 (A CAMINHO DO ESTADO ONIPOTENTE ONIPRESENTE) ofereço uma prova irrefutável da participação do PT e dos partidos políticos de esquerda naquelas manifestações. Digo, textualmente: “cinco funcionários públicos federais detidos durante a manifestação que ocorreu em Brasília no dia 14 de junho deste ano quando uma avenida foi interditada com a queima de pneus (o motorista em depoimento afirmou haver recebido R$ 250,00 para transportá-los). São eles: Mayra Cotta Cardozo de Souza, assessora especial da Secretaria Executiva da presidência da República; Daniel Gobbi Fraga da Silva, especialista na Assessoria Internacional do Gabinete da Secretaria-geral da presidência da República; João Vitor Rodrigues Loureiro, assessor da Subchefia para Assuntos Jurídicos da presidência da República; Gustavo Moreira Capela, assessor do Gabinete da Subprocuradoria-geral da República e Gabriel Santos Elias que até maio deste ano desempenhou a função de assessor técnico da Subchefia de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Relações Institucionais da presidência da República. Dia 27 de junho em Fortaleza os vereadores Ronivaldo Maia (PT) e João Alfredo (PSOL) estiveram presentes no 16º Distrito Policial ao término da partida entre Espanha e Itália pela Copa das Confederações e pagaram R$ 2 mil para que os presos em flagrante durante o protesto em Fortaleza fossem liberados pela Polícia. Dia 28 de junho a Polícia Militar deteve um grupo de manifestantes e com eles três coquetéis Molotov sendo um dos detidos filho do vereador Marcos do Psol. São inúmeros os integrantes do governo e parlamentares envolvidos com as manifestações em todas as esferas e por todo o país. De acordo com o serviço secreto da Polícia Militar de São Paulo o PSOL recrutava punks para atuarem nos protestos.” Estes fatos demonstram cabalmente que não sou um teórico da conspiração. Procuro descrever, dentro de minhas limitações, o processo histórico em curso amparado em fatos consumados e fontes confiáveis procurando fugir das armadilhas que se interpõe durante seu estudo e análise. Por certo que vez por outra sou enganado ou não removo todas as camadas que se sobrepõe aos fatos e acontecimentos cometendo equívocos ao interpretá-los, porém isto não se constitui em nenhum crime e sim um lapso, uma negligência ou distração que o historiador não pode e nem deve cometer. Afinal, o historiador é parte integrante do objeto de seu estudo e, por isso mesmo, está impregnado de valores e ideias cristalizadas que circulam em seu tempo e espaço histórico.



Para demonstrar uma vez mais que minha discrição não é surreal o Secretário Geral da Presidência da República Gilberto Carvalho, O Espião Que Veio da Nada, me fornece um reforço substancial por se tratar de membro deste governo de patifes. Falando em nome do governo petista no Fórum Social Temático Crise Capitalista, Democracia, Justiça Social e Ambiental, em Porto Alegre, durante a conferência "Contra o Capital, Democracia Real" em 24 de janeiro próximo passado disse que o governo considerou uma ingratidão as manifestações de junho. De acordo com ele o sentimento era de que “fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós”. Quando se referiu a “essa gente” não se tratava dos militantes da esquerda e sim a sociedade que ingenuamente aderiu, solidarizou-se e apoiou as reivindicações nominais expostas. Deveria ter explicitado o tanto que o governo petista fez. Entre tantos “feitos” podemos citar o Mensalão; os dossiês fajutos; o assassinato do prefeito Celso Daniel (os irmãos de Celso Daniel acusaram Gilberto Carvalho de participar do esquema de arrecadação de propina no ABC Paulista. Segundo eles Gilberto Carvalho confessara que transportara em seu automóvel Chevrolet Corsa R$ 1,2 milhão para o presidente do PT José Dirceu); o inchaço na máquina pública com a “cumpanheirada”; a descapitalização da Petrobrás, com direito a doação do pré-sal; a proteção ao larápio Daniel Dantas; a violação de sigilo bancário do caseiro Francenildo; o enriquecimento ilícito de ministros e funcionários públicos; o aparelhamento e esvaziamento das instituições; as privatizações (eufemisticamente denominadas de “concessões”) lesivas aos interesses brasileiros; o aumento da violência urbana e rural; o péssimo desempenho de nossos estudantes com uma educação que será contemplada este ano com pouco mais de 3% do Orçamento Geral da União; o Programa Mais Médicos para abastecer o cofre dos irmãos Castro, os genocidas caribenhos, afrontando a classe médica brasileira e desrespeitando a legislação trabalhista; o perdão da dívida de países africanos governados por ditadores sanguinários e perdulários para beneficiar empreiteiras “amigas” do poder; o fiasco da transposição do Rio São Francisco, a venda de pareceres técnicos pela quadrilha de Rosemary Noronha, amiga “íntima” do ex-presidente Lula; a roubalheira desenfreada com a Copa do Mundo; a inacabável Transnodestina, o castelo de cartas de Eike Batista encorajado e endossado pelo ex-presidente Lula e financiado pelo BNDES, a tomada da refinaria da Petrobrás pelo governo do cacaleiro Evo Morales da Bolívia; a subscrição da Declaração dos Direitos das Nações Indígenas na ONU que possibilitará o desmembramento do território nacional (somente de terras já demarcadas os índios brasileiros já detém o equivalente a quatro estados de São Paulo); o moderno porto de Mariel em Cuba financiado pelo BNDES em mais de US$ 900 milhões e construído pela Odebrecht, sempre “amiga” do governo; o ridículo desempenho da economia; o sucateamento das Forças Armadas; etc. etc. Foram estas coisas que fizeram por “essa gente”, ou seja, nós simples mortais diuturnamente espoliados.   Foi além em seu cinismo afirmando que o governo e os movimentos sociais ficaram perplexos com os protestos. A perplexidade do governo aconteceu porque constatou que não possuía uma militância forte o suficiente para respaldar uma ruptura institucional. Os movimentos sociais no Brasil há muito foram estimulados, financiados, e encampados pela esquerda. Suas lideranças algumas vezes (e não é raro) conhecem a parte subterrânea das estratégias e outras vezes apenas são informadas da parte nominal ou das duas simultaneamente cientes de que sempre prevalecerá aquela sobre esta.  Por fim, para que não restassem dúvidas sobre o pulha sem vergonha que é declarou: "O problema, para infelicidade da direita, é que esse gosto do mais e do mais não cabe na cartilha do sistema; a explosão dessa demanda de direitos não cabe no sistema capitalista e nos marcos daquilo que é hoje o mundo globalizado em seus sistemas de produção, distribuição e consumo". De que direita este animal está falando? Caso esteja tentando referir-se ao PSDB ou ao DEM sabe perfeitamente que estes partidos jamais foram de direita. Pode até haver neles alguns direitistas, da mesma forma que pode haver vida fora da Terra, mas em ambos os casos são apenas especulações. Estes partidos são a direita da esquerda. A oposição que a esquerda ama, venera e aquece. A sociedade brasileira, sua besta quadrada, não reivindica o mais e mais e mais, simplesmente está pleiteando o cumprimento das obrigações do Estado brasileiro que são inexistentes ou precárias ou ambas as coisas. A cartilha do sistema não mudou nem uma vírgula, continua beneficiando a concentração de renda e, consequentemente, aprofundando as desigualdades sociais. Ao dizer que os direitos não cabem também nos marcos do sistema capitalista poderia este douto jumento classificar qual o sistema econômico atual praticado no Brasil? Não consta que o PT tenha se desvencilhado do sistema capitalista. De mais a mais o socialismo só sobrevive dentro de um sistema capitalista, posto ser ineficiente, incompetente e incapaz de produzir riqueza. Mandar este Espião do Lula catar coquinhos seria muita condescendência de minha parte. “Essa gente”, seu picareta arrogante, é o escambau.


CELSO BOTELHO

10.02.2014