sexta-feira, 5 de agosto de 2011

MINISTÉRIO DA DEFESA: ETERNA TROCA DE LAMBÕES



A nomeação de Celso Amorim para o ministério da Defesa pode sugerir duas coisas: ou não há pessoa habilitada para exercer a função ou a atração por nomear este tipo de gente é marca registrada de nossos governantes. Ao separar o joio do trigo posso afirmar que o objetivo principal em se criar este ministério foi afastar os ministros militares da participação direta no governo. O desmonte dos aparelhos militares e o desmantelamento das Forças Armadas vêm acontecendo ininterruptamente desde 1985 por vingança ou prevenção e, em ambas alternativas, quem perde é o país neste vazadouro de rancores pessoais, políticos e corporativos. Criado na gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) pela Lei Complementar nº 97 de 10/06/1999 substituindo os ministérios do Exército, Marinha e Aeronáutica que foram transformados em Comandos seus ocupantes mostraram-se inaptos, incompetentes ou apagados. Mas a idéia de um ministério único vem de longe. A Constituição Federal de 1946 previa sua criação que resultou no Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), à época Estado-Maior Geral. Em 1967 o presidente Castelo Branco (1964-1967) com o Decreto nº 200 previa estudos para elaborar projeto de lei para a criação do ministério das Forças Armadas, mas não foi adiante. Em 1988 na Assembleia Nacional Constituinte discutiu-se a fusão dos ministérios militares, porém não foi à frente.

O ministério da Defesa encampa temas sensíveis e complexos: operações militares, orçamento da defesa, política e estratégia militar, serviço militar, aviação civil, etc. Portanto, exige de seu ocupante, além do conhecimento técnico, extrema habilidade política. O primeiro a ocupar a pasta foi Élcio Álvares, advogado, 1999-2000, acusado de ter traficantes entre os clientes de seu escritório de advocacia em Vitória. FHC exigiu que ele reagisse, o que não aconteceu A demissão foi acertada com os comandantes das Forças Armadas, entre eles o general Gleuber Vieira e o almirante Sérgio Chagas Telles, que trataram de acalmar os quartéis para assegurar uma troca ministerial tranquila, sem colocar em risco a prevalência democrática do poder civil. O ministro não conseguiu responder às acusações divulgadas na imprensa de que tinha ligações com o crime organizado no Espírito Santo, foi substituído por Geraldo Magela da Cruz Quintão, advogado, 2000-2003, assumiu o ministério já integrando uma lista de autoridades a serem processadas pelo Ministério Público Federal pelo uso indevido de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) quando à frente da AGU (Advocacia Geral da União). Segundo consta levantou vôo 219 vezes em aviões “chapa-branca”. Na época os comandantes militares expressavam preferência por algum militar da reserva. Geraldo Magela foi o autor do parecer favorável à venda de ações da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) para um consórcio francês. No governo Lula passou pelo ministério quatro titulares. José Viegas Filho, diplomata, 2003-2004, desgastado com o presidente Lula, O Ignorante Desbocado, e com as Forças Armadas, o ministro da Defesa pediu demissão do cargo. O episódio que provocou sua saída demonstra, apesar de diplomata de carreira, ausência de liderança e habilidade no trato de assuntos complexos. O Exército divulgara uma nota sobre fotos que supostamente eram do jornalista Vladimir Herzog (morto em 1975 nas dependências do DOI-Codi em São Paulo) e posteriormente identificadas como de um padre canadense. No texto era utilizado um estilo elogioso às práticas adotadas durante o regime militar (1964-1985) contra militantes de esquerda. No pedido de demissão Viegas reconhece que a nota divulgada pelo Exército não fora objeto de consulta ao ministério. Ora, estando o Exército subordinado ao ministro esta atitude nos autoriza a pensar que sua autoridade fora desprezada. Ninguém pode comandar quem por ele não quer ser comandado. Seu substituto foi o vice-presidente José Alencar, empresário, 2004-2006, segundo os especialistas em segurança sua escolha foi um “agrado” do presidente aos militares diante da latente resistência em serem comandados por um civil na tentativa de fazê-los se sentirem acima dos outros setores governamentais. Havia ainda a esperança de que José Alencar trouxesse investimentos para reequipar as Forças Armadas o que não aconteceu. Este, pelo menos, não foi lambão. Foi “apagado”. Por força das eleições de 2006 na qual era novamente candidato à vice-presidente foi chamado Waldir Pires, advogado, 2006-2007. Sua demissão está relacionada com o acidente do avião da TAM em São Paulo onde morreram 199 pessoas, o colapso aéreo, resultado da incompetência administrativa da ANAC (Agência Nacional de Aviação) provocou danos a milhares de brasileiros. Em sua defesa Waldir Pires alegou que o ministério da Defesa não tem responsabilidade formal e legal sobre a gestão técnica do setor aéreo. O ministro não tem poderes de gestão, de mando ou de determinação sobre o setor aéreo e a razão de sua saída era para abrir espaço para Nelson Jobim, advogado, 2007-2011. Antes de falar qualquer coisa sobre este cidadão cabe lembrar que quando foi deputado federal Constituinte, eleito sub-relator, declarou haver deixado “passar” sem votação nas subcomissões alguns incisos dos Artigos 165 e 166 (Dos Orçamentos) e ninguém até hoje não o interpelou para saber quais a fim de expurgá-los da Carta Magna. A presidente Dilma o engoliu por imposição de Lula. As últimas declarações de Jobim demonstram que se não desejava ser demitido é um completo idiota e não aqueles que “escrevem para o esquecimento” como disse por ocasião do aniversário de 80 anos de FHC. Depois declarou que votou em José Serra (PSDB) ocupando um cargo de confiança no governo do PT e, por fim, em entrevista a revista Piauí classificou a ministra das Relações Institucionais Ideli Salvati (PT-SC) como “fraquinha” e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, que “sequer conhece Brasília”. Ora, a primeira será fraquinha em qualquer cargo e a segunda pelo menos sabe onde fica seu gabinete. Estes foram os ocupantes do ministério da Defesa. Um elenco desse responsável pela defesa do país é para nos tirar o sono.

Desta feita nomeiam o ex-ministro lambão das Relações Exteriores Celso Amorim que apoiou a ditadura do Sudão e Cuba, entregou a Hidroelétrica de Itaipu para o Paraguai, deu de mão beijada nossas refinarias na Bolívia, não prestou homenagem a Theodor Herzl (1860-1904), jornalista judeu austro-húngaro que se tornou fundador do moderno Sionismo político, em Israel, mas depositou flores no túmulo de Yasser Arafat (1929-2004) e apoiou o débil mental do Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã. Não parou ai. Na UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) apoiou o egípcio anti-semita Farouk Hosni que declarou não hesitar em queimar pessoalmente livros israelenses que encontrasse em qualquer biblioteca do Egito, desprezando o brasileiro Márcio Barbosa por motivos políticos e ideológicos, que contaria com o apoio dos Estados Unidos e dos países europeus. Em 2005 tentou eleger para a OMC (Organização Mundial do Comércio) Luis Felipe de Seixas Corrêa e o único país que votou no Brasil foi o Panamá. No mesmo ano tentou eleger nosso velho conhecido João Sayad para a presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e dos nove membros só quatro votaram no Brasil sendo que do Mercosul apenas a Argentina. A política externa brasileira na gestão de Celso Amorim está recheada de fracassos, concessões, conivências, conveniências, contradições e estupidez. Em 2006 o Brasil votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), porém em 2005 negou-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida que praticara um massacre em Darfur (Até meados de 2006, entre 150 e 200 mil pessoas haviam sido mortas e pelo menos dois milhões haviam fugido). Em 2009 o Brasil cede sua embaixada em Honduras para abrigar sorrateiramente Manuel Zelaya ficando por lá quatro meses. O Itamaraty declarou que não toleraria governo golpista em Honduras e, logo a seguir, reuniu-se, reconheceu e confraternizou-se com os mais perversos ditadores africanos – responsáveis por inúmeros massacres étnicos. Baniu a língua inglesa como  necessária para o cargo de embaixador e como eliminatória no exame de carreira. Não esqueçamos os fracassos inexplicáveis em relação às negociações de Doha. Dos 35 países que participaram o Brasil, certamente, foi o mais prejudicado. Nos últimos anos abandonou-se a formulação de acordos bilaterais apostando na multilateralidade da OMC. Em 2001 a estratégia brasileira era de que os países emergentes se unissem para pressionar os desenvolvidos. Em 2003 patrocinou a criação do G-20 que deveria agir unido para uma queda de braço com os países desenvolvidos. Em 2004 caiu a ficha que seus interesses aproximavam-se muito mais dos países desenvolvidos do que com os seus parceiros tradicionais então virou a cassaca e, com o fracasso da Rodada de Doha, ficou mal com todo mundo. Com um histórico desses não é preciso ser muito esperto para saber que devemos aguardar mais lambanças no ministério. Os militares já classificaram a escolha do novo ministro “como a pior possível” que a presidente poderia ter feito e isso se deve as posições ideológicas do novo titular. Segundo eles, Celso Amorim, quando nas Relações Exteriores, contrariou “princípios e valores” dos militares e isso não é bom, pois, afinal o leão pode estar moribundo, mas não morreu.

Como a nossa diplomacia decaiu ao lembrar o Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Jr., 1845-1912). Foi chanceler nos governos Rodrigues Alves (1902-1906), Afonso Pena (1906-1909), Nilo Peçanha (1909-1910) e Hermes da Fonseca (1910-1914) e citamos aqui seus três grandes desafios: a rivalidade com os argentinos que ainda permanece, multiplicaram-se tensões comerciais, de imigração e até militares, como se viu no episódio do reaparelhamento naval do Brasil; a defesa contra o imperialismo europeu que não desapareceu, mas foi diminuído sensivelmente, o Brasil passa a ser respeitado na Europa e não se repetem episódios como o da ocupação da Ilha de Trindade pelos ingleses (1895) ou intervenção naval como a que ocorreu durante a revolta da Armada (1893) ou anos depois, na Venezuela (1902). No episódio conhecido como "O Caso Panther", a maior potência militar do mundo, a Alemanha, pediu desculpas ao Brasil por ter desembarcado marinheiros em território nacional sem autorização. E a resolução dos problemas de limites brasileiros. Devemos ao Barão do Rio Branco o fato do nosso país ser o único do mundo que, tendo dimensões continentais, não tem problemas de fronteiras com seus vizinhos. Em menos de 10 anos todas foram negociadas de modo pacífico, sem recurso às armas. Este é o patrono de nossa diplomacia hoje azeitada de interesses inconfessáveis, aparelhada politicamente e imprestável na defesa dos interesses dos brasileiros que agora cede mais este lambão para o ministério da Defesa.

CELSO BOTELHO
05.08.2011