
Não posso, não devo e não quero nem imaginar-me a defender, acumpliciar-me ou omitir-me diante do ilícito. O ex-ministro, deputado e senador Roberto Campos (1917-2001) certa vez escreveu: “a sonegação fiscal deixou de ser uma indecência para ser uma questão de sobrevivência.” E a afirmativa, apesar dos anos, ainda se encontra em pleno uso prático. Que nossa carga tributária é extorsiva é ponto pacífico, porém não serve de justificativa para a prática da sonegação fiscal. É aquela história: se a lei não atende a sociedade ela deve ser alterada ou suprimida e jamais burlada. Por mais equânime que possa vir a ser a política tributária, em qualquer parte do mundo, sempre existirão os sonegadores. Parece-me um dos procedimentos padrões da espécie humana se opor a ordem estabelecida, qualquer ordem. A Receita Federal está na captura de um montante substancial que deixou de aportar em seus cofres: R$ 34 bilhões dos quais apenas míseros R$ 90 milhões encontraram o caminho do fisco. E temos que levar em conta que o aparato arrecadador no Brasil é complexo e eficiente, pois o apetite estatal é insaciável. Não seria o momento para que o governo refletisse e concluísse que vampirizar o contribuinte não é lá muito inteligente? Todos os meses somos informados de recordes de arrecadação, no entanto, há muito mais razões para contestarmos que comemorarmos visto que escoa permanentemente pelos ralos da malversação, corrupção, desvio e desperdício. A máquina arrecadadora brasileira prima pela eficiência em dilapidar o fruto do trabalho como se renda ou lucros, lícitos, estivessem inclusos nos sete pecados capitais. Porém a máquina predadora é muito mais lubrificada e conta com astutos operadores.
Essa conversa de fechar o cerco aos sonegadores vez por outra é requentada e servida a sociedade como se fosse botar ordem na zona. Tanto o fisco quanto eu sabemos que sempre haverão brechas por onde possam se escafeder. A estratégia desta batalha pode até ser boa, no entanto, as da guerra são equivocadas, insuficientes e nebulosas. Não havendo uma reforma tributária séria, amplamente discutida, modernizante e menos foraz estes esforços, e os gastos neles envolvidos, não trarão resultados satisfatórios. Afinal, são tantas as reformas que precisam ser feitas que desconfio que seria mais simples formatar um novo Estado brasileiro. Isso. Reinventa-se o Brasil posto que o presidente Lula, O Ignorante, está “convencido” de que o inventou em primeiro de janeiro de
CELSO BOTELHO
10.08.2008