terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

50 ANOS DE DITADURAS


Rasgar Constituições parece ser o esporte favorito na América Latina para a instauração de ditaduras civis ou militares, de esquerda ou de direita, com golpes ou revoluções, com intervenção externa ou sem. Todas, no entanto, possuem o mesmo objetivo e são nefastas a qualquer nação. O exemplo mais visível está na Venezuela com Hugo Chávez que, por incrível que pareça, encontra lá e cá respaldo. A situação daquele país é alarmante, deplorável e nos preocupa quando em nosso próprio país o presidente demonstra sua simpatia à figura tão nociva a seu povo. Todo ditador acredita-se o ungido pelo Criador para salvar sua pátria. A democracia que Chávez sustenta existir na Venezuela está baseada no terror, na tortura, no assassinato, na censura, na corrupção, na ameaça, no cerceamento, especialidades de todo aparelho repressor. Há quem defenda sua legitimidade por ter sido constitucionalmente eleito, mas isso não o autoriza (ou a qualquer um) a conspirar contra a democracia. Por outro lado ninguém, sob qualquer pretexto, está autorizado a depor um governo usando da força (como com João Goulart em 1964) ou ao arrepio da lei (como com Collor em 1992). Recentemente o presidente Zelaya de Honduras foi deposto por um golpe militar porque tentou subverter a Constituição em benefício próprio (FHC, 1995-2002, também o fez em 1997 fazendo aprovar o instituto da reeleição) e Chávez subverteu-a com a aquiescência dos militares.



Vamos rememorar, em ordem cronológica, a instabilidade política na América Latina nos últimos 50 anos.



1959 - Fidel Castro derruba Fulgêncio Batista renunciando em 2008 por estar caindo aos pedaços.



1960 - El Salvador um golpe militar e uma junta assume o poder.



1962 - Juan Bosch é destituído do poder na República Dominicana por um golpe e uma junta militar o substitui.



1963 - No Equador (hoje nas garras do aprendiz de ditador Rafael Correia) um golpe militar depôs o presidente Carlos Julio Arosemena Monroy.



1963 - Honduras, Oswaldo López Arellano assume o poder após liderar um golpe permanecendo até 1974.



1968 - O ministro da defesa general Enrique Peralta Azurdia assume o poder na Guatemala após liderar um golpe



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1964 - O marechal Humberto de Alencar Castelo Branco assume o governo brasileiro após um golpe militar que derrubou o presidente João Goulart.



1964 - Na Bolívia o vice-presidente René Barrientos e Alfredo Ovando Candía, general do Exército, derrubam o governo com um golpe militar.



1966 - Na Argentina o presidente eleito Arturo Illia é impedido de assumir por conta de um golpe militar.



1969 - No Panamá, Omar Torrijos lidera um golpe e o presidente Arnulfo Arias é obrigado a fugir para Miami (EUA).



1971 - O governo socialista da Bolívia de Juan José Torres Gonzáles derrubado por um violento golpe militar chefiado por Hugo Banzer na Bolívia e se manteve no poder como ditador de 1971-1978, quando foi derrubado por outro golpe de Estado voltando à presidência em 1997 pelo voto direto (assim como Vargas em 1950 no Brasil) renunciando em 2001. Atualmente temos naquele país o índio-ditador e ex-plantador de coca Evo Morales.



1972 - No Equador, o general Guilhermo Rodriguez Lara assume o poder após um golpe.



1972 - Em Honduras é eleito Ramón Ernesto Cruz vence as eleições de 1971 e dezoito meses depois de assumir acontece outro golpe militar liderado por Arellano.



1973 - Augusto Pinochet no Chile lidera um golpe militar depondo o presidente Salvador Allende permanecendo no poder até 1990.



1973 - Juan Maria Bodaberry, eleito em 1971, assumiu em meio a uma crise institucional e em 1973 foi “convidado” pelo Exército a participar de um golpe para não ser retirado do poder. Bodaberry aceitou e passou três anos governando por decreto após a suspensão da Constituição dando início a uma ditadura civil-militar que se estendeu até 1985.



1975 - Oswaldo López Arellano, em Honduras, é derrubado por Alberto Melgar Castro.



1976 - Jorge Rafael Videla, Roberto Eduardo Viola, Leopoldo Fortunato Galtieri e Cristino Nicolaides na Argentina revezaram-se liderando quatro “juntas militares” (1976-1983) após derrubarem a presidente Isabel Perón.



1978 - Policarpo Paz Garcia, em Honduras, derruba o também militar Juan Alberto Melgar Castro instaurando uma rígida ditadura até 1981.



1979 - Em Granada o marxista Maurice Rupert Bishop se aproveita de que o presidente Eric Gairy está fora do país e se declara primeiro-ministro implantando uma ditadura.



1979 – El Salvador o governo do general Carlos Humberto Romero é derrubado por um golpe militar e uma junta assume tendo inicio doze anos de guerra civil.



1979 - Na Nicarágua os sandinistas, amplamente apoiados pelos Estados Unidos, assumem o poder derrubando o não menos nocivo Anastácio Somoza Debayle.



1980 - No Suriname o governo Henck Arron é derrubado após proibir a instalação de sindicatos nas Forças Armadas e o líder militar Desi Bouterse torna-se o comandante do país.



1980 - Na Bolívia o general Luiz Garcia Meza Tejada derruba o governo de Lydia Gueiler e instaura uma ditadura com o apoio da ditadura argentina, a ação de um comando terrorista (Novios de la Muerte) e organizados pelo criminoso nazista Klaus Barbie (1913-1991, condenado por 177 crimes contra a humanidade à prisão perpétua).



1982 - Desi Bouterse, no Suriname, líder da Frente Popular Revolucionária dá outro golpe e se torna presidente.



1982 - Guatemala, após a vitória de Angel Aníbal Guevara nas eleições neste ano o general de Exército José Efraín Rios Montt lidera um golpe e assume o controle da junta militar que chega ao poder. Montt foi responsável pelo genocídio de diversos grupos étnicos e pela repressão que ceifou 70 mil vidas, porém em 2003 foi aceita sua inscrição para candidatar-se à presidência da República pela FRG (Frente Republicana Guatmalteca) ferindo o artigo 186 da Constituição daquele país que proibia a participação de pessoas envolvidas em golpes de estado. Não obteve sucesso, porém fez muito barulho.



1983 - Hudson Austin lidera um golpe em Granada depondo Maurice Bishop, mas uma invasão americana acaba com a revolução em apenas seis dias e Nicholas Brathwaite assume como primeiro-ministro.



1986 - O ditador Jean-Claude Duvalier, o Baby - Doc (filho e sucessor de François Duvalier, o Papa - Doc, que implantou um regime de terror na ilha de 1957-1971), no Haiti, é derrubado ficando em seu lugar o líder militar Henri Namphi.



1988 - Prosper Avril lidera um grupo de jovens militares haitianos e tira do poder Henri Namphi.



1989 - Alfredo Strossner, em 1954 no Paraguai, como general-de-divisão tirou Federico Chávez da presidência com um golpe de estado. Desconfio seriamente da inveja que o presidente Lula, O Ignorante Desbocado, deva ter do ditador paraguaio pelo fato de ter ocupado a presidência da República por sete mandatos consecutivos (fraudulentamente, mas isso para ele não importa o que conta são os sete mandatos, 1958-1989). Strossner foi derrubado e expulso para o Brasil por um golpe de estado liderado pelo general Andrés Rodríguez seu “co-sogro”, mas, afinal, que diabos vem a ser um “co-sogro”?



1990 - Alberto Fujimori no Peru, com um “Autogolpe” em 1992, suspende a Constituição, fecha o Congresso e expurga membros do Judiciário governando até 2000.



1991 - O primeiro presidente eleito do Haiti Jean-Bertrand Aristide é tirado do poder após perder um voto de confiança no Parlamento.



1991 - Foi eleito na Guatemala Jorge Antonio Serrano Elias que tenta dar um autogolpe em 1993 suspendendo a Constituição e fechando o Congresso e a Suprema Corte e é forçado pelo Exército a deixar o governo, bem feito!



1994 - Jean-Brtrand Aristide é reconduzido ao cargo após uma invasão norte-americana no Haiti.



2002 - Na Venezuela Hugo Chávez é destituído do poder por um golpe militar. O empresário Pedro Carmona assume o poder, mas alegria de pobre dura pouco e três dias depois é derrubado por um contragolpe de militares fies a Chávez.



2004 - O presidente Jean-Bertrand Aristide, do Haiti, deixa o poder em meio a uma rebelião popular não contando mais com o apoio dos EUA e da França se exila na África do Sul.



2005 - No Equador Lucio Gutiérrez perde o apoio dos militares sendo obrigado a deixar o poder assumindo Alfredo Palácio.



2009 - Jose Manuel Zelaya tenta em Honduras realizar um referendo sem o apoio do Judiciário e do Exército é destituído e obrigado a exilar-se na Costa Rica, porém, logo retorna à capital hondurenha como convidado especial do presidente Lula, O ignorante Desbocado, sem conseguir reaver o emprego de presidente. Temos então meio século de rupturas com ditadores para todos os gostos e desgostos.



As causas e as conseqüências de todas essas rupturas são sobejamente conhecidas, analisadas, discutidas pelas mais variadas correntes, mas – em todos os casos – verificamos um elemento essencial: a ambição pelo poder, independente de qualquer justificativa que os homens envolvidos possam apresentar. Prova disso é examinar os indicadores políticos, sociais e econômicos que apresentam estes países e será fácil constatar que a única e verdadeira motivação latente em todos os episódios fora a ambição, nas mais variadas formas com a qual se mostra. Ao longo desses 50 anos (período muito pequeno) centenas de milhares de vidas foram perdidas e mutiladas, física e psicologicamente. Profissionais impedidos de exercerem seus ofícios. Os direitos civis sistematicamente negados e tantas outras mazelas que todos nós sabemos. Depois de tantos golpes, contragolpes, revoluções, guerrilhas, eleições fraudulentas ou impostas pergunto: a América Latina melhorou em quê? O contingente de miseráveis, desabrigados, desasistidos, enfim excluídos de uma maneira geral só faz prosperar a cada ano. Nos últimos anos, políticos de orientação esquerdista têm assumido o poder na região imprimindo em seus governos um matiz inequivocamente populista, paternalista, demagógica em detrimento de todo o tecido social. Não devemos nos iludir quando nos apresentam indicadores favoráveis nestas administrações, pois, diante de um exame mais apurado não resistiriam. Seriam desmontados, desmascarados, pulverizados. Todas as estruturas governamentais (e isto se aplicada em todos os regimes até hoje concebidos) são viciadas e concorrem para o atendimento dos interesses do poder, seja político ou econômico. Portanto, para chegarmos a qualquer resultado próximo a realidade ao examinarmos as ações do governo devemos ter em mente que, inexoravelmente, estaremos nos lançando à uma empreitada colossal sem qualquer garantia de sermos bem sucedido tal a omissão, manipulação e distorção das informações que são colocadas à nossa disposição. Sendo assim posso recomendar como premissa num trabalho investigativo deste nível o cruzamento das informações disponíveis (preferencialmente as não-governamentais e assim mesmo com muita cautela) e um trabalho de campo minucioso.



Durante muitos anos havia no imaginário que a esquerda e a direita eram as representações do diabo e de Deus num duelo titânico para conquistar os homens, suas mentes e corações. A coisa toda jamais passou de ideologias diferentes e, tanto numa quanto na outra, existem virtudes e vícios e, neste caso, não podemos aplicar a concepção ternária de Aristóteles (Virtude, Meio-Termo e Vício). Na condução de uma nação só poderá ser objetivo a virtude, pois os vícios devem e precisam ser expurgados com o máximo empenho possível. Não vejo, portanto, necessidade de esquerda ou direita e sim comportamentos éticos e morais impecáveis ou uma sincera busca por eles. Elementos raros nos genes humanos, porém não impossíveis.



Não será com um passado envolvido em guerrilhas e atos de terrorismo que fornecerá as respostas adequadas aos problemas brasileiros, alguns recentes outros seculares. Temos sido enfeitiçados durante anos a fio pelo canto de sereias diabólicas que nos seduzem induzindo-nos a acompanhá-las até o fundo do oceano e, como não somos animas aquáticos, inevitavelmente nos afogamos.


Este texto revela minha preocupação (e em se tratando de quem é podemos dizer que é mínima, porém não desprezível) quanto a realização de uma campanha bilionária e usando de todos os mecanismos e instrumentos disponíveis e teoricamente indisponíveis para alcançar o poder em nosso país. Notadamente um postulante completamente desconectado da sociedade e, portanto, insensível às suas aspirações.


CELSO BOTELHO

09.02.2010