sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

SE PESQUISA GANHASSE ELEIÇÃO...


Em ano de eleições os institutos de pesquisa ficam alvoroçados, irrequietos e muito felizes com o volume de dinheiro que aportam em seus cofres (ou contas). Eu, por meu turno, quando delas tomo conhecimento, tenho duas reações: uma é ficar irritado e a outra é ficar furioso. Irritado diante de tanto descaramento, manipulação, distorção e falsidade e furioso porque não se faz rigorosamente nada para conter essa gente. As pesquisas de opinião no Brasil oscilam entre ridículas e cômicas, porém, sempre subservientes aos interesses de quem as encomenda e patrocina. A última pesquisa para a corrida (de pangarés) à presidência da República do Instituto Sensus é prova cabal de indiscutível manipulação pelos resultados ali aferidos. Não é necessário ser um especialista para se constatar a má-fé presente nestas pesquisas. Nesta última versão o referido Instituto declara que José Serra (PSDB-SP) tem 33,2% das intenções de voto, Dilma Roussef (PT-SP) 27,8% e Ciro Gomes (PSB, SP ou CE?) 11,9%, números paridos de 25 a 29 de janeiro deste ano em 5 regiões do país, 24 Estados, 136 municípios e 2000 entrevistados com uma margem de erro de + ou – 3 pontos. Não vou aqui fazer uma explanação técnica sobre a pesquisa, mesmo porque não estou habilitado para tal, no entanto, encontro-me devidamente credenciado a tecer alguns comentários.



A pesquisa divulgada, como é comum, trata-se de amostragem por cotas (região, município, urbano/rural, sexo, idade, escolaridade, renda) que é mais barata e rápida e, portanto, uma caixinha de surpresas, pois, nunca se sabe o que dela irá sair uma vez que os estimadores são arbitrários e injustificados o que nos leva a concluir que as margens de erro declaradas não tem fundamento. Os outros tipos de pesquisa, que também possui suas distorções, manipulações e vícios e merece tanta credibilidade quanto e não é de uso comum por ser mais cara e demorada são a Amostragem Aleatória Simples (aquela que qualquer elemento da população tem a mesma probabilidade de ser escolhido) ou a Amostragem Aleatória Sistemática (os itens ou indivíduos da população são ordenados de alguma forma e um ponto de partida aleatório é sorteado e a cada k-ésimo da população é selecionado para a amostra). Para começar eu teria que ter concluído com louvor o curso de asnotologia para aceitar tal imbróglio: 136 municípios contra mais de 5.500 e 2000 pessoas contra um universo de quase 200 milhões delas. Só este fato é o bastante para desqualificar a pesquisa, porém, ela vai além. No município de Saubara (BA) o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contabiliza 8.776 eleitores dos quais o tal Instituto entrevistou 15 deles. Em Porto Alegre (RS) temos 1.043.389 eleitores e entrevistaram o mesmo número de 15 eleitores. Em Florianópolis (SC) o TSE diz haver 306.040 eleitores e o Sensus encontrou 4 deles para engrossar a pesquisa. Porém, o inusitado deu-se no município de Afogados da Ingazeira (PE) com apenas 26.195 eleitores foram consultados 16. Com esses dados tal pesquisa demonstra sua inutilidade. No entanto, seu papel é fornecer subsídios aos interessados (governos, partidos, políticos, banqueiros, empresários, latifundiárias, parias e toda súcia de malfeitores) para fortalecerem suas posições, suas aspirações, suas ambições, seus conchavos espúrios e toda sorte de velhacarias que estão habituados a praticar.



Desde a primeira pesquisa de opinião realizada em maio de 1945 pelo IBOPE em São Paulo com 1000 eleitores sobre a disputa presidencial entre o brigadeiro Eduardo Gomes (1896-1981) e o marechal Eurico Gaspar Dutra (1883-1974) e a partir do governo Juscelino Kubitschek (1902-1976) a indústria da pesquisa eleitoral - notadamente as disputas presidenciais - decolou alcançando todas as esferas de governo, exceção para o período militar (1964-1985) onde foi obrigada a hibernar por absoluta falta de eleições presidenciais. A pesquisa de opinião, mesmo que realizada dentro de uma metodologia impecável em todos os sentidos, não é fator de suma importância para o eleitor decidir seu voto. Na verdade outros itens estão à sua frente tais como as conversas com amigos, colegas e familiares, as notícias e os debates na televisão, as notícias vinculadas nos jornais, a propaganda eleitoral gratuita nas rádios e televisões, informações de líderes sindicais, comunitários e religiosos sendo que estes últimos tem crescido em influência nos últimos anos substancialmente. A manipulação do eleitorado pelos meios de comunicação não possui a eficácia que a maioria deseja atribuir ou que outrora pudesse ter tido (e, em alguns casos, teve). O poder de persuasão que a mídia detém não pode e não deve ser subestimado ou sobreestimado, é preciso cautela e exame especifico de cada contexto no qual está inserida uma candidatura presidencial. Citaremos dois exemplos recentes de tentativa de manipulação da vontade do eleitor que foram frustrados. De acordo com a nossa fonte no que dependesse da Rede Globo o presidente Lula, O Ignorante Desbocado, não teria sido eleito em 2002 ou reeleito em 2006. A professora e pesquisadora Flora Neves da Universidade Estadual de Londrina publicou em 2008 um livro-documento cujo título é “Telejornalismo e Poder nas Eleições Presidenciais” (Summus Editorial, São Paulo, 2008) onde analisou 199 edições do Jornal Nacional transmitido por aquela emissora chegando aos seguintes resultados: em 2002 o tempo favorável concedido a Jose Serra (PSDB), no segundo turno, foi de 66,66% e apenas 20% a Lula (PT). Em 2006 foi distribuído da seguinte maneira: Alckmin (PSDB) com 68,57%; Cristóvão Buarque (PDT) com 52,94% e Lula (PT) com 16,43%. Porém, mesmo diante do fracasso, não só a Rede Globo como inúmeros outros segmentos persistem em querer fabricar presidentes da República e D. Dilma Roussef parece encaixar-se perfeitamente nos propósitos das elites que sempre comandaram o Brasil, ou seja, manter-se no poder para conservar seus privilégios.



Para finalizar devo dizer que para se pensar em levar em conta qualquer coisa que diga qualquer pesquisa deve-se ter as seguintes informações, de acordo com a Resolução do TSE nº. 21.576 a partir de janeiro de 2004 decorrente do Artigo 33 da Lei nº. 9.504/97, que deverão ser registradas em até 5 dias antes de sua divulgação: 1) quem contratou a pesquisa; 2) o valor e a origem dos recursos despendidos no trabalho; 3) a metodologia e o período de realização do trabalho; 4) o plano amostral e a ponderação quanto ao sexo, idade, grau de instrução, nível econômico e área física de realização do trabalho, intervalo de confiança e margem de erro; 5) o sistema interno de controle e verificação, conferência e fiscalização da coleta de dados e do campo de trabalho; 6) o questionário completo aplicado ou a ser aplicado e 7) o nome de quem pagou pela realização do trabalho. O não cumprimento destas normas implica em detenção de seis meses a um ano e multa que variam de R$ 53.205,00 a R$ 106.410,00. A partir dessas informações poderemos elaborar uma análise mais consistente sobre a pesquisa e seus verdadeiros objetivos. As pesquisas de opinião, em especial para as dirigidas à sucessão presidencial, são similares a máxima de Neném Prancha (Antonio Franco de Oliveira, 1906-1976, suas mãos mediam 23 cm. e calçava sapatos número 44) “se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminava empatado.” Se pesquisa ganhasse eleição que maravilha é viver! Não é D. Dilma?



CELSO BOTELHO

05.02.2010