Não posso e não devo devotar respeito algum pela maioria dos integrantes do governo brasileiro, seja em que esfera for e nas três instâncias de poder que constituem o Estado. Chamar nosso sistema de governo de república é, na verdade, ridicularizar com a palavra. Há algumas décadas atrás nosso país e outros mais da América Latina receberam o pejorativo apelido de “república de bananas” (país politicamente instável, submisso a um país rico e frequentemente com um governo corrompido e opressor, o termo foi cunhado por O. Henry, humorista e cronista estadunidense), mas até isso, nos dias atuais, só vem a denegrir a fruta se a compararmos com a nossa República. Afinal, quem quer respeito deve, em primeiro lugar, fazer-se respeitar. Quem pode ter respeito pelas sucessivas quadrilhas que tomam de assalto o poder e locupletam-se formidavelmente à custa da miséria, pobreza e sofrimento da população? O ministério dos Transportes sempre foi um reduto da corrupção, desperdício, malversação e desvio de dinheiro público, mas façamos justiça, todos os recantos do governo são covis de ladrões, pilantras e malfeitores de todas as categorias. E o cara de pau do Luis Antonio Pagot declara que não há corrupção no ministério dos Transportes?
Além de Waldemar da Costa Neto (PR) ocupar um gabinete no ministério sem, contudo, ter sido nomeado a coisa alguma agora surge um “assessor da diretoria-geral” fantasma que também não foi nomeado por ninguém nem concursado, porém possuía sala no edifício-antro dos Transportes e com direito a e-mail oficial do ministério que atende pelo nome de Frederico Augusto de Oliveira Dias, vulgo Fred Dias, que representou o ministério em diversas ocasiões e em várias cidades. Fácil assim. O sujeito é apadrinhado de alguém e, mesmo sendo um desocupado, vira assessor de ministério e responde pelo governo. Ops! Que governo? Era “assessor” do contraditório Luis Antonio Pagot ou, como o classificou, um “boy”, um mensageiro, que não tem poder de decisão. Pode não ter poder de decisão, porém só o fato de intermediar pode render bons dividendos. Macacos que mordam todo este ministério, mas eu nunca vi um mensageiro ter tamanhas atribuições e envergadura como este “assessor fantasma”. Pergunta: se não era nomeado nem concursado quem pagava seu salário? Fred Dias representou o governo na celebração de um convênio no valor de R$ 24,8 milhões com o município de Mogi das Cruzes, reduto eleitoral de Valdemar da Costa Neto. Hoje o novo ministro dos Transportes Paulo Sergio Passos assinou portaria afastando temporariamente o diretor executivo Henrique Sadok de Sá e abrindo um processo administrativo que, salvo intervenções diversas e conversas ao pé do ouvido, poderá resultar na sua demissão do serviço público. Mesmo que isto aconteça não há garantia alguma de que seja punido. Somente agora “descobriram” (denuncia feita pelo Jornal O Estado de São Paulo) que sua companheira é a proprietária da Construtora Araújo que tem contratos assinados desde 2006 que montam cerca de R$ 20 milhões para a realização de obras nas rodovias BR-174, BR-432 e BR-433 no Estado de Roraima. A BR-174 com seus 992 km de extensão (atravessa oito municípios brasileiros, diversas vilas, a área indígena Waimiri-Atroari e a Venezuela) é apontada pelo TCU (Tribunal de Contas da União) como foco de irregularidades. Desde 2006, a União liberou cerca de R$ 200 milhões para melhorias nessa rodovia, segundo dados do Portal da Transparência, do governo. Este tal de Sadok de Sá teve a desfaçatez de dizer que era tudo coincidência, negando o crime de “tráfico de influência” (disse, textualmente: "Eu não tenho nada com a empresa dela. Não me meto em nada. Se a empresa for bem, que vá bem, se for mal, que vá mal. Não tenho nada com isso."). Será que este “senhor” nos tem em conta de perfeitos idiotas ou, eis o mais provável, é um tremendo cara de pau. A instrução normativa que suspendia por 30 dias licitações, aditivos, projetos, obras e serviços em rodovias e ferrovias foi “flexibilizada” para evitar transtornos à população e prejuízos com paralisações desnecessárias de obras, segundo o ministro dos Transportes. Trocando em miúdos: a torneira foi reaberta sob o pretexto de não prejudicar a população a qual, por sinal, estão pouco se lixando para o que se lhes aconteça.
O avanço sobre o dinheiro público não tem limites e superaram nossa imaginação os meios que encontram para dele apoderarem-se. Não é necessária uma investigação rigorosa para vir a tona novos casos de assalto aos cofres públicos envolvendo estes e novos personagens. O governo federal está completamente carcomido abrigando os bandidos da pior espécie: aqueles que roubam dinheiro público. A cada centavo roubado, desviado, desperdiçado e malversado podemos tipificar como crimes hediondos porque estão subtraindo da educação, da saúde, da segurança pública, dos aposentados e pensionistas, dos trabalhadores, etc. e isso é crime contra a população brasileira que carece dos mais elementares serviços que possam lhes proporcionar uma existência digna. No artigo anterior (FARINHA DO MESMO SACO) joguei na vala comum da corrupção, do descaso, da omissão, parcialidade, cumplicidade, conivência, complacência, permissividade com os atos mais sórdidos cometidos contra a sociedade brasileira a maioria dos integrantes dos três poderes que, aliás, nem esta denominação merece, porque está mais para as três corriolas. Volto a dizer: existem raríssimas exceções. Estou indignado com este bando de aves de rapina que estão destruindo o meu país sistematicamente. São quadrilhas que surgem, se fundem, se associam para dilapidar a nação e posso descrevê-las com a maior precisão, mesmo porque são do domínio público, portanto, não estaria contando novidade alguma, porém por questão de higiene não o farei, pelo menos neste momento.
Onde está a presidente da República exigente, durona, inflexível? Consultando seu mestre? Avaliando o que poderá fazer sem desagradar a base? Com o PR demonstra fraqueza com o PMDB então nem se fala. Ou será que está aguardando um novo escândalo para “esquecermos” este? Das 190 promessas que fez durante a campanha que, por sinal, não passam de demagógicas promessas, a de número 117 diz “combater a corrupção”, mas desta maneira? Demite e daí? Caso se confirme a culpa dos acusados eles serão punidos? Pagot, por exemplo, é concursado e estava lotado na CGU (Controladoria Geral da União) recusou-se a ser demitido pela presidente da República e entrou de férias. Caso tivéssemos uma oposição poderia apelar para ela, no entanto, o ex-presidente Lula, O Ignorante Desbocado, conseguiu a proeza de neutralizá-la com seus métodos pouco ortodoxos, governou oito anos sem ser molestado. A sociedade brasileira encontra-se desamparada desde o período colonial e não podemos vislumbrar nenhuma mudança de rumo nesta trajetória infame que sucessivos governos conduziram o Brasil, trajetória que está nos empurrando para a total falência do Estado. Não será através do voto que ocorrerá as mudanças de que tanto carecemos, a nossa legislação eleitoral é pura patifaria, uma descarada manipulação e apropriação do voto pelas elites. Enquanto não instituirmos leis rígidas e penas severas para os infratores a roubalheira prosseguirá até que se esgotem todas as condições do Estado se manter e se isto acontecer não será necessário irmos para o inferno para sofrermos todos os tipos de humilhação, tortura e todas as mazelas imagináveis. Mas quem, afinal, poderá patrocinar uma guinada que coloque este país nos trilhos? A sociedade brasileira, a parte constituída de pessoas de bem. Não haverá milagres, salvadores da pátria, líderes carismáticos ou outra joça qualquer que terá o poder de transformar que não a sociedade brasileira repudiando a permanência destes malfeitores e vendilhões da pátria no comando da nação. A sociedade é a responsável por sua existência e deve ser a responsável pela sua completa extinção. Como disse o Padre Antonio Vieira, 1608-1697, “a República é o espelho dos que a governam”.
Olhando para o passado e rememorando o esforço de minha geração para transformar este país e ter seus sonhos e ideais violentados, mortos e amputados pela ditadura que se implantou no Brasil fico a duvidar se valeu à pena. Ponho-me a lamentar por todos aqueles que sofreram, desapareceram e morreram lutando de uma maneira ou de outra contra o arbítrio, a intolerância, a desigualdade e as injustiças. Os governantes que hoje nos solapam a dignidade, nos extorquem e roubam são, desgraçadamente, os jovens idealistas que a minha geração produziu, com raríssimas exceções.
PS.: O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Cezar Peluso, negou nesta sexta-feira recurso impetrado pelos advogados de Jader Barbalho (PMDB-PA) para que ele possa tomar posse no Senado Federal. Resta saber se é para valer ou só pantomima.
CELSO BOTELHO
16.07.2011