quarta-feira, 20 de julho de 2011

TREM-BALA. O EXPRESSO DA ROUBALHEIRA



Os políticos brasileiros não satisfeitos com os largos canais por onde fluem o dinheiro público para a corrupção, desperdício, desvio e malversação que aqui existem, buscam importar idéias de outros países para alargá-los e aprofundá-los mais. Possuímos inúmeros exemplos de soluções importadas que não deram certo porque, simplesmente, ninguém tenta levar em conta a nossa realidade, mas sim a nossa capacidade de irrigar estes canais com uma carga tributária extorsiva e indecente. Algumas idéias importadas podem até ser aproveitadas por essas terras com algumas adaptações, porém outras nem com adaptações ou reza braba são completamente inexequíveis. O diabo do trem-bala é uma dessas idéias importadas que vão fazer somente a alegria dos banqueiros, empreiteiros, políticos e bandidos de toda espécie. Este projeto não é viável no Brasil. A operação deste tipo de transporte será com certeza altamente deficitária e no final das contas os contribuintes serão chamados a arcar com a irresponsabilidade de um governo inquieto para satisfazer algumas dúzias de malandros. Interessante é que tanto a grande imprensa quanto os alucinados do governo repetem insistentemente que o tal trem-bala irá ligar os aeroportos internacionais de Campinas (Viracopos), São Paulo (Guarulhos) e Rio de Janeiro (Galeão) quando qualquer imbecil sabe que o que liga os aeroportos é o avião.

Perguntado se fazia sentido um país como o Brasil construir um trem de alta velocidade o professor da Universidade de Transportes da China Zhao Jian foi categórico: a concentração e densidade populacional são muito baixas e o custo de construção de um trem de 350 km/h é o dobro de um de 200 km/h. O débito do Ministério das Ferrovias da China está em 2 trilhões de yuans (US$ 309 bilhões) e chegará a 4 trilhões de yuans (US$ 618 bilhões) em quatro anos. Segundo este especialista "não importa quem o construa (no Brasil), o trem rápido será deficitário". Não estamos comparando uma realidade à outra, pois o professor está analisando a implantação de tal projeto em nosso país. Os recursos previstos para o trem de alta velocidade já ultrapassaram a casa dos R$ 30 bilhões e sequer saiu do papel, pois, certamente esta soma será muito maior caso comece a ser construído por conta dos superfaturamentos, adendos e outras artimanhas. Segundo cálculos de especialistas o custo final poder chegar a mais de R$ 70 bilhões. O aporte de recursos necessários para este projeto significa gastar mais do que tudo o que foi investido em ferrovias entre 1999 e 2008. A recuperação de todas as rodovias do país consumiria, aproximadamente, um terço dos R$ 30 bilhões. A recuperação da malha rodoviária e a construção de ferrovias reduziriam o custo Brasil no transporte de cargas e sairia muito mais em conta. A construção de um trem de alta velocidade entre Rio e São Paulo exigirá a construção de várias pontes e túneis para que o traçado seja o mais reto possível, condição imprescindível para se alcançar grandes velocidades (um dos projetos já estudados previa que 26% do trajeto seriam feito em viadutos ou pontes e 33% em túneis). Não precisamos ser “experts” em transportes para sabermos que uma ferrovia de média velocidade que transportassem cargas e passageiros atenderia as demandas entre as duas maiores cidades brasileiras. Em maio deste ano “o presidenta” Dilma DuCheff sancionou a lei nº 12.404/11 autorizando a União a oferecer garantia para financiamento de até R$ 20 bilhões do BNDES ao consórcio que construirá o Trem-Bala e cria a ETAV (Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade), mais uma estatal para abrigar os aloprados, desocupados, velhacos e outros meliantes.

Diante de tantas carências neste país o governo resolve eleger o trem-bala como prioridade. Cerca de 60% dos domicílios existentes no país são atendidos por rede coletora de esgotos ou fossa séptica e 85% dispõem de rede de abastecimento de água. Estudo coordenado pelo economista Marcelo Neri mostra que a disponibilidade de água filtrada e acesso à rede de esgoto diminuem em 24% a probabilidade de uma mulher ter algum filho nascido morto. Mostra também que as crianças pobres, do sexo masculino, entre 1 e 6 anos são as principais vítimas da falta de saneamento. Estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) indica que até 2015, 55% dos municípios brasileiros poderão ter problemas com abastecimento de água. Com R$ 9,6 bilhões seria possível solucionar o problema nas 256 maiores cidades, que concentram quase a metade da população do país. Mas os aloprados e malfeitores não consideram nada que não seja o ganho fácil.  O leilão do trem-bala, obra que está no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento ou da Corrupção, tanto faz) deveria ter ocorrido em dezembro passado. A licitação foi adiada para abril e depois para julho. Após os adiamentos por problemas de projeto e de justiça agora é a falta de interesse dos investidores. O TCU (Tribunal de Contas da União) vendo a possibilidade de problemas em relação ao uso de recursos públicos pediu mudanças no edital. Mesmo assim, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) manteve a entrega dos envelopes, mas não apareceu ninguém. Projeto e custos reais para o governo de salteadores que é o nosso isso não têm a menor importância, pois o dinheiro é publico e, sendo assim, imaginam que seja como o da viúva que pode se esbanjar à vontade sem que o finado venha a reclamar. Estamos aqui atentos a mais este assalto aos cofres públicos. Para dar um exemplo da sacanagem que é este trem-bala em um trecho de 61 km entre Lorena e Jacareí, em São Paulo, não se sabe ainda se será necessário fazer um aterro ou construir um viaduto. Caso seja aterro, a obra custaria R$ 264 milhões, mas se for necessário o viaduto o custo passa para R$ 4,2 bilhões. Cacete, vão planejar bem assim no inferno. Mas de acordo com os parasitas que defendem este maldito canal que drenará os recursos públicos para seus bolsos a utilidade e vantagens do trem-bala só faltam ser comparadas com a invenção da roda. Governar é estabelecer prioridades e governar no Brasil onde o mais elementar à sobrevivência e dignidade humana é inexistente ou insuficiente (saúde, educação, habitação, alimentação, segurança pública, etc.) a construção de um trem-bala acompanhado de mais uma estatal, a Copa do Mundo de 2014, os Jogos Olímpicos de 2016, quase quarenta ministérios, 513 deputados federais, 81 senadores, redividir o território para criar novos Estados entre tantas outras coisas só são prioridades na cabeça daqueles que vivem a se locupletarem com o dinheiro público. Não bastasse os inúmeros trens-da-alegria patrocinados de malgrado pelos depenados e indefesos cidadãos brasileiros eis que agora surge o expresso da roubalheira.

CELSO BOTELHO
20.07.2011