sexta-feira, 3 de agosto de 2012

UMA NOVA ARENA





Que tem maluco para tudo não é novidade alguma. Mas a estudante de Direito de Caxias do Sul (RS) Cibele Bumbel Baginski extrapolou toda e qualquer expectativa. Das duas uma: ou está atrás de seus quinze minutos de fama ou é doida varrida mesmo. Não é que a menina está articulando uma rede para coletar 500 mil assinaturas para refundar o partido que dava sustentação (sic) ao regime militar (1964-1985), a ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Segundo esta biruta, 12 Estados apoiam sua iniciativa. Na página no Facebook (onde esconde seu rosto, mas natural ou não é loira), a ideia conta com 400 apoiadores e 70 pessoas desejam constar como fundadores da sigla. Quando perguntada sobre a participação daquele partido em crimes simplesmente disse que também aconteceram coisas boas. Mas não elenca nenhuma dessas “coisas boas” e nem pode. Por ai já podemos ter uma ideia do grau de maluquice que a estudante se encontra. Quando esta moça nasceu (1990) a ditadura militar já havia acabado e, portanto, se conhece alguma coisa é porque lhe contaram ou leu somente os livros escritos por militares e simpatizantes do regime. Antes que dê prosseguimento a esta aberração sugiro que acesse o acervo sobre o período da ditadura completamente disponibilizado no Arquivo Nacional, no Itamaraty, nos Arquivos Estaduais.





Segundo consta esta estudante é fã do “heavy metal” que, aliás, surgiu em fins da década de 1960 e inicio da década de 1970 como um gênero do rock caracterizado por altas distorções amplificadas, prolongados solos de guitarra e batidas enfáticas. Não há nada errado em apreciar tal gênero, porém, no caso, fornece uma pista irrefutável do perfil do apreciador. A mocinha também expressou ser fã de “cultura gótica”. Vamos informá-la. Não é “cultura gótica” e sim subcultura gótica que surgiu no Reino Unido no final da década de 1970 e inicio da década de 1980. A subcultura gótica compreende um “estilo de vida” que não discutiremos por dois motivos: primeiro é um assunto muito abrangente e reclamaria um tratamento acadêmico extenso e, segundo, fundiria a cuca de Cibele de modo irreversível. Para simplificar, esta tal subcultura gótica encampa formas não convencionais de visual, moda e vestuário com maquiagem e penteados alternativos como cabelos desfiados, dessarumados e desgrenhados. Portanto, suas preferências por “heavy metal” e subcultura gótica justificam plenamente sua pretensão para ressuscitar a famigerada ARENA.






Caso a mocinha queria apenas seus quinze minutos de fama já os obteve e, sendo assim, deve parar com a sandice e voltar-se para seus estudos, que não é pouca coisa. A pessoa que não assina o que escreve ou esconde seu rosto não me merece qualquer respeito, pois não se assume. Certos ou errados devemos defender nossas convicções, nossas posturas, nossas atitudes. O anônimo é, sem dúvida, um covarde, um fraudador, um pulha. Jamais procurei o anonimato ou os pseudônimos para externar meu pensamento ou minhas convicções.



Querem outra prova de que tem débil mental de todas as ordens no Brasil? Os movimentos neonazistas. Como é que estes palhaços podem defender a Eugênia, a raça ariana, a perseguição aos negros, homossexuais e o diabo a quatro num país cabloco, miscigenado e repleto de culturas distintas uma das outras que, guardando-se as devidas e necessárias proporções, se respeitam ou se toleram? Os adeptos de tal movimento deviam estar quebrando pedras... com os dentes. Minha geração teve como causa o retorno do país ao Estado Democrático de Direito e esta e as futuras gerações devem abraçar causas que o fortaleçam e aprimorem e que exijam do Estado o atendimento as necessidades tão básicas da sociedade que são ignoradas ou negligenciadas como a educação, a saúde, os transportes, a habitação, a segurança pública, a criação de empregos e os salários dignos. Enfim, a causa pela melhor distribuição de renda e o extermínio das gritantes desigualdades sociais. Mocinha, reviver um partido político do qual esta nação deve sempre se envergonhar é um insulto a todos aqueles que, verdadeiramente, lutaram pelo restabelecimento do Estado Democrático de Direito e, entre estes, não se encontram os ex-guerrilheiros de meia-pataca (como José Dirceu, José Genoíno, Dilma Rousseff, Fernando Gabeira, etc.) ou os opositores faz de conta (do tipo Tancredo Neves que não fazia, não deixava fazer e tinha raiva de quem fizesse) que assumiram o poder e vêm dilapidando e desintegrando este país.






É lamentável assistirmos uma jovem com uma pretensão tão descabida como esta quando poderia empregar todo seu vigor, sua inteligência e conhecimentos em causas mais nobres e úteis.




CELSO BOTELHO


03.08.2012