Em dois anos de mandato “o presidenta” ainda não governou nada, apesar de haver sido eleita para tal. Talvez não saiba que sua função seja esta ou talvez esteja procurando algum manual que descreva como governar, nunca se sabe. Aliás, os dois governos petistas nem precisaram esforçar-se para demonstrar cada vez mais sua incompetência; inércia; omissão; descaso; conivência e permissividade com o ilícito; prática e cumplicidade exuberante com a corrupção, o desvio, o desperdício e a malversação dos dinheiros públicos. “Nossa mandatário maior” hoje está mais feliz que pinto no lixo por conta de seu maior obstáculo, criador e guru o ex-presidente Lula, declarar apoio à sua reeleição no festim promovido pelo Partido dos Trabalhadores para comemorar seus dez anos no poder. Dez anos de falcatruas, fraudes e crimes diversos. No entanto, a prudência recomenda que “o presidenta” não fique muito confiante com o declarado apoio do ex-presidente, posto que não seja um homem de honrar sua palavra como consta na sua biografia. Na hora “H” o Exu de Garanhuns pode decidir que o terreiro lhe pertence e resolve que deve “baixar” de novo. Até o presente momento d. Dilma vem “administrando” queixas, reclamações, reivindicações, pressões, “sugestões” dos correligionários, associados, cúmplices, simpatizantes e toda a sorte de parasitas. Suas mãos estão atadas pelos compromissos políticos e partidários, normalmente ilícitos ou imorais, que foram costurados para aplainar ao máximo seu caminho. Nada mais natural que os faturistas reclamem o pagamento das duplicatas. Não tendo governado até agora é certo que com o processo sucessório deflagrado suas energias (leia-se manobras, conchavos, acordos, conspirações, cambalachos) estarão direcionadas para sua reeleição que, por sinal, salvo algum imprevisto, são favas contadas. Menos por méritos de sua administração e mais pela ausência crônica de adversários com um mínimo de chance de derrotar a criatura. Além dos pré-candidatos à presidência da República (Aécio Neves, PSDB; Eduardo Campos, PSB e Marina Silva, Rede) Ciro Gomes (PSB) também já se apresenta e em rota de colisão com o PSB. Como política é igual às nuvens que a todo instante mudam não é impossível acontecer o inusitado, porém é pouco provável. De minha parte ainda não descartei a possibilidade de Lula desejar voltar e, preferencialmente, nos “braços do povo” ovacionado em prosa e verso.
Mas não é sobre sucessão presidencial que falarei desta feita e sim do “baú de bondades” do governo petista para com os pobres, miseráveis, descamisados, pés descalço que, aliás, é infinitamente menor aquele destinado aos banqueiros, empresários, latifundiários e outras tralhas. O Partido dos Trabalhadores não acabou com a pobreza, porém monopolizou a caridade em benefício próprio. A pobreza no planeta somente poderá acabar mediante a intervenção divina. Qualquer um que conheça um mínimo do pensamento marxista sabe que a caridade é repudiada com veemência porque tende a aplacar a consciência política dos trabalhadores, inibe e destrói qualquer tentativa de mobilizá-los contra os interesses da classe dominante. A caridade estatal privilegia acima de tudo aqueles que estão no controle da política e da economia. Getúlio Vargas (1882-1954) soube como poucos manipular a população com políticas paternalistas, fazer concessões de direitos já implantados em inúmeros países e exercer patrulhamento político-ideológico e mantendo controle absoluto sobre os trabalhadores. O governo do PSDB, também ciente de que a caridade estatal render-lhe-ia bons frutos, inventou a Bolsa-Escola, Vale Gás, etc. O Partido dos Trabalhadores, ao assumir o governo em 2003, também sabia que a caridade estatal era a galinha dos ovos de ouro. Reuniram todos os programas tucanos e transformaram-nos no famigerado Bolsa Família que recebeu reforço com o tal do Brasil Carinhoso e agora do Brasil Sem Miséria. Quando a esquerda tupiniquim optou por institucionalizar a caridade estatal estava pensando no atendimento de seus próprios interesses. A premissa marxista de que o proletariado somente será atendido com a socialização dos meios de produção ainda está valendo, naturalmente que não explicam que deverão socializá-los entre os membros do partido único e onipresente. Os áulicos do PT juram de pés juntos pela saúde de um parente já falecido que estão distribuindo renda, estão retirando milhões de pessoas da pobreza quando, na verdade, criaram, via Bolsa-Família, um eleitorado cativo com milhões de eleitores exclusivos e, mesmo que involuntariamente, cúmplices. Nem mesmo o escândalo do Mensalão (Ação Penal 470) foi capaz de impedir um crescimento de 12% nas últimas eleições do Partido dos Trabalhadores que, por sinal, ostenta em seus quadros diretivos inúmeros bandidos de todos os matizes.
Na semana passada “a presidento” lançou a ampliação do programa Brasil Sem Miséria. Com o Brasil Carinhoso asseverou-nos que retirou 9,1 milhões de pessoas da extrema pobreza com a dinheirama de R$ 70,00. Fato digno de figurar no Guiness Book. Segundo as contas do ministério do Desenvolvimento Social em 2011 havia 22 milhões de brasileiros na condição de extrema pobreza, mesmo considerando os que recebiam o Bolsa Família e, no ano passado, este número caiu para surpreendentes 2,5 milhões de pessoas, uma redução fantástica, colossal e indescritível! Ao contrário do ex-ministro Antonio Palocci que multiplicou seu patrimônio por vinte em apenas quatro anos d. Dilma reduziu o número de pessoas em extrema pobreza a pouco mais que 10%. Isto é um milagre para ninguém botar defeito. Nesta progressão aritmética as gerações futuras somente poderão saber o que é miséria se forem às bibliotecas pesquisar. O Brasil Sem Miséria, de acordo com o governo, quer por quer encontrar pelo menos umas 700 mil famílias que vivem em situação de extrema pobreza e que ainda não foram cadastradas, mesmo porque miserável no Brasil só com cadastro, caso contrário não existe. Mais eleitores cativos para o Partido dos Trabalhadores em vias de recrutamento. “O presidenta” declarou convicta que tal modelo possui originalidade. Não sei de onde tirou essa ideia de originalidade porque no Império Romano já existia a política de proporcionar ao povo o pão e o circo. Segundo d. Dilma o governo petista já acabou com a miséria visível (cadastrada) e agora está indo atrás da miséria invisível (não cadastrada). A originalidade fica por conta da expressão utilizada “pelo presidenta” ao referir-se a essas esmolas estatais político-eleitoreiras de “avançada tecnologia social”. Quanta cara de pau! A miséria só é invisível àqueles que têm uma trave no olho e insistem em não removê-las por conveniência. Não é necessário ir aos rincões mais longínquos deste país para constatá-la. Ela está presente na periferia das grandes e médias cidades brasileiras a olhos nus e também nas pequenas cidades. Como comentei no artigo anterior d.Dilma usou uma expressão eufemística ao referir-se às esmolas estatais, provavelmente é uma expressão “politicamente correta”. Mas nem ela, nem seu partido ou qualquer outro estão interessados em remover a pobreza, posto ser ela que alimenta o modelo econômico vigente garantindo lucros formidáveis e cada vez mais concentrados nas mãos de uns poucos. O Banco Itaú, por exemplo, apresentou um lucro líquido da ordem de R$ 6,8 bilhões em 2012, nada mal. A nomenclatura pode ser bonita (tecnologia social), mas não resolverá o problema da miséria nem daqui a um milhão de anos, pelo menos com o modelo econômico excludente que ai está.
O sistema capitalista se sustenta com a pobreza e enquanto vigorar produzirá pobres e miseráveis em larga escala e não será com estas “tecnologias sociais” que “o fim da miséria é só um começo” como diz o slogan dos marqueteiros oficiais do Palácio do Planalto visando garantir mais quatro anos ao Partido dos Trabalhadores na chefia do governo. No dia que estes engodos forem distribuição de renda como alardeiam os governos petistas e associados certamente que encontraremos pedras falando, saci pererê com ambas as pernas e jacarés voando graciosamente. Sabem disso tanto quanto eu. Originalidade e surpresa seria o governo do PT dispor de um projeto político para o país que primasse pelo atendimento ao bem-estar comum combatendo com meios eficientes as abissais desigualdades sociais. Apresentasse um programa de governo sério, honesto e perfeitamente exequível. Mas é um sonho extravagante pensar numa administração petista que não seja parasitária, discricionária e ladra. Pensar em um governo (seja de esquerda, direita, centro, mais para o lado, mais para cima, etc.) que enxugasse esta República encharcada de vícios, promiscuidade e leviandade é utopia. Em dez anos de poder não conseguiram conceber e executar os projetos mais comezinhos dos quais a sociedade se ressente e que impedem o desenvolvimento econômico e social. Toda a movimentação deste governo abaixo de medíocre está concentrada em permanecer no poder custe o que custar, até mesmo a ruína do país.
País rico, d. Dilma, não é país sem pobreza, visto que nunca houve em qualquer tempo e espaço algum que tenha obtido tamanha façanha. País rico é aquele que oferece uma boa educação aos seus filhos, atendimento médico hospitalar com qualidade, acesso e distribuição de justiça sem privilégios, meios efetivos para o desenvolvimento econômico com a geração de empregos e salários que possam proporcionar uma vida digna. País rico é aquele onde seus governantes empenham-se em administrá-lo amparado nos valores éticos e morais. País rico é aquele que concebe, desenvolve e executa políticas públicas capazes de minimizar ao extremo as desigualdades sociais, posto que eliminá-las mostra-se, por enquanto, tarefa impossível. País rico é aquele que não opte por um modelo econômico perverso e excludente e nem possua uma classe política tão pífia quanto a nossa. País rico é país sem o Partido dos Trabalhadores, Similares & Associados.
CELSO BOTELHO
27.02.2013