A organização da sociedade é ininterrupta e está sempre
Para mim é um tanto difícil imaginar um ministro do Supremo Tribunal Federal proferindo sentença sem a toga, um sacerdote sem os paramentos, um general sem o uniforme que o distingue ou um senador da República usando a tribuna em mangas de camisa. Como considero completamente inaceitável um presidente da República utilizando-se com a maior largueza de linguagem chula, grosseira ou até que insinue palavras de baixo calão. Um comportamento educado não requer formação acadêmica. Uma linguagem coloquial não significa que tenhamos que recorrer a metáforas descabidas, esdrúxulas, pueris ou idiotas. Pode-se ser popular sem abraçar o populismo. Popularidade não é demonstrar ostensivamente ignorância gramatical. O cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, antes de 2003 e depois de 2010, comportou-se e irá comportar-se da maneira que mais lhe aprouver. Porém, durante este espaço de tempo, não pode ser desta forma. É o chefe do governo e do Estado brasileiro e, além das obrigações pertinentes ao cargo, sua postura é de fundamental importância e, certamente, refletora. Portanto, deveria ter se esmerado em lapidar-se, notadamente quando fala. Levanto duas hipóteses: ou o pessoal do cerimonial nunca esteve atento para as repercussões que os deslizes presidenciais poderiam ter ou decidiram cultivar o modo rude do presidente como instrumento eficaz de marketing. Não importa. O caso é que o estrago foi feito.
A imprensa, toda ela, adotou um comportamento preconceituoso em relação ao presidente Lula. Entretanto, isso não é o mais grave. Elegeram o presidente Lula como válvula de escape para ódios, rancores, mágoas, derrotas, ressentimentos de outras épocas e pelos mais diversos motivos e mesmo sem que tenha contribuído para isso . Promoveram a maior campanha de depreciação pessoal de um presidente eleito pelo povo. Podemos ser irônicos, sarcásticos, irreverentes, porém, não desrespeitosos. O maltrato imposto ao presidente denigre a imagem da nossa imprensa e nosso país. Divergir é natural, salutar, um direito. Agredir é outra. Aqui mesmo neste blog refiro-me ao presidente como O Ignorante e, com certeza, muitos interpretam como um ataque, não é assim. Segundo o dicionário Aurélio ignorar significa não ter conhecimento de, não saber. Como disse reiteradas vezes por ocasião do escândalo do mensalão que de nada sabia outorguei-lhe o título. Não estou me justificando porque não preciso apenas informo. Portanto, não tem nada haver com o fato de que lhe falte formação acadêmica. Os meios de comunicação extrapolam na sátira transformando-a numa chacota maldosa. Formulam piadas que constrangem, insultam e diminuem o ser humano que incorpora legitimamente a Instituição Presidência da República. Democracia não pode ser entendida como esculhambação, escárnio e menosprezo. A galhofa é permissível, desde que não seja infame, corrosiva e mal intencionada.
Mesmo não atendendo aos rituais exigidos pelo cargo e demonstrando nenhum desejo de enquadrar-se neles Lula é o presidente de todos os brasileiros e é inadmissível que a imprensa o trate da maneira cruel que visa atingi-lo como ser humano. Cobrar do presidente obediência aos rituais não é afrontá-lo. Exigir que realize uma boa administração é um direito da sociedade e um dever do presidente. Fica, portanto, registrado que tanto na convergência como na divergência são as atitudes e palavras do presidente que determinam os adjetivos que empregarei em meus textos e não as peculiaridades do ser humano ou de sua vida pessoal e familiar. Estarei sempre atento a Instituição Presidência da República e sua atuação seja o presidente letrado ou não.
CELSO BOTELHO
29.12.2008