ARQUIVO DO JACARÉ
Foi preciso galgar a presidência da República para que Lula pudesse ser visto tal e qual ele é: antanho e tacanho, isso sem contar outros péssimos atributos e hábitos. Mas nem tanto e muito menos
A “coisa” está na pauta desde agosto de 2006 quando o presidente, candidato à reeleição, reuniu-se com ex-presidentes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e alguns juristas para avaliarem a possibilidade da convocação de uma assembléia constituinte exclusiva para tratar da reforma política ou daquela que lhe interessaria. A OAB seria encarregada de promover o circo diante da sociedade de modo a convencê-la da necessidade de sua convocação. O Senado Federal, sempre tangível às negociatas (como disse o senador Cristovam Buarque, PDT-DF, “Casa auxiliar do poder Executivo”) convocaria um plebiscito e a população, com as devidas benções da Nossa Senhora da Bolsa-Família, diria sim institucionalizando o golpe. O presidente Lula candidamente diria que se é para o bem do povo e felicidade geral da nação diga ao povo que fico e em nosso calendário constariam dois dias do “Fico” (segundo o senador Mário Couto, PMDB-PA) e os créditos seriam para D. Pedro I e o presidente Lula. Mas a “coisa” foi evoluindo. O deputado federal petista Devanir Ribeiro “cumpanheiro” de quase quatro décadas do presidente ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-deputado federal, ex-dirigente partidário e pretenso candidato a ditador que está propondo, oficialmente, o golpe com direito a prorrogação de mandato, fim da reeleição (que foi, à época, uma ruptura, pois beneficiava imediatamente o ocupante do cargo) e o mais importante: habilita todos os detentores de cargos no Executivo a disputarem um mandato novinho em folha em 2010 e maior. Caso nosso presidente realmente desaprovasse a idéia chamaria o “cumpanheiro” às falas e exigiria que se recolhesse com essa idéia destrambelhada, sempre inoportuna e definitivamente imoral pronunciando-se publicamente, contundentemente que se a manobra fosse levada adiante além de não contarem com seu apoio jamais teria sua participação. Os aloprados do PT sabem, de antemão, que não elegem ninguém e, portanto, o mais cômodo será o golpe. Tanto é que no último dia 02 de outubro do corrente ano o Partido dos Trabalhadores emitiu uma nota técnica assinada pelo senhor Alberto Moreira Rodrigues como assessor jurídico da bancada do PT e, após muita lengalenga contida no documento que defende existir amparo legal para a convocação de uma assembléia constituinte exclusiva, conclui textualmente: “Ao tempo em que se assevera existirem as condições objetivas e subjetivas para uma assembléia exclusiva, não se pode deixar de reiterar que a questão referente à reforma política deve ser analisada sem o foco dos interesses partidários, merecendo uma análise unipessoal e desapaixonada de seus autores e atores, substancialmente, conduzida por um grupo suprapartidário e representativo da sociedade cujo horizonte esteja fundamentalmente voltado para o atendimento e a construção de uma nova ordem político democrática.” Examinemos mais amiúde: “condições subjetivas” e, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, é algo “ referente ao sujeito (Lula); que está somente no sujeito (Lula); que se passa exclusivamente no interior do espírito de uma pessoa (Lula); relativo ao sujeito (Lula); que exerce as funções do sujeito (Lula); aquilo que é subjetivo (Lula).” “Análise unipessoal” consultando o mesmo dicionário “ que se refere a uma só pessoa (Lula); diz-se do verbo que só se emprega na terceira pessoa (Ele, Lula).” “Grupo suprapartidário e representativo da sociedade” a miscelânea de partidos que formam a base do governo pode ser classificado como grupo suprapartidário e os banqueiros, empreiteiros, latifundiários, conglomerados e complexos empresariais encaixam-se na definição de entes representativos da sociedade tal o envolvimento com este governo. “Nova ordem política democrática” e aí é que a cobra fuma para esmiuçar o que vem a ser isto. Na minha avaliação isso quer dizer romper com o sistema vigente, quando o natural seria aprimorá-lo, e implantar qualquer modelo que convenha ao bando, a palavra democrática só entrou para fazer número na frase amenizando o que de fato pode significar a tal nova ordem política. Ora, porque não vão plantar batatas? Creio que ficaria muito mais em conta copiar os argentinos e lançarem a candidatura de Dona Marisa que de tanto acompanhar o presidente em suas andanças provavelmente já absorveu algum conhecimento sobre os trâmites do poder.
Lembro-me, por ocasião do megacomício na Candelária, no Rio de Janeiro pelas Diretas-Já os jornais davam conta da presença de um milhão de pessoas (inclusive eu). E ocorreu que o então deputado e hoje senador Gerson Camata (PMDB-ES) arvorou-se de colocar para a imprensa que o presidente Figueiredo (1979-1985) lhe dissera que se lá estivesse seria o milhonéssimo-primeiro. O intempestivo presidente ordenou-lhe um desmentido de imediato e ponto final. Mas o Lula não toma nenhuma atitude veementemente contrária. Penso que acalanta a idéia e encoraja seus defensores ao omitir-se num comportamento que nota-se, a primeira, segunda e milésima vista que anseia por um terceiro mandato. Posso entender que a turma do ex-partido da ética não queira largar o poder, pois, os lucros por ele auferidos foram e continuam sendo sobejamente deleitosos. Mas a nação brasileira não é o PT, não é o Lula e nem eu próprio. Isso aqui não é feudo de nenhum partido, nenhum homem.
Josef Stalin promoveu um massacre na Rússia de seus compatriotas para libertá-los da tirania do Czar Nicolau e quando a União Soviética ruiu o mundo pode ter acesso as mazelas que aquele regime de terror impôs às suas repúblicas e suas filiais no Leste Europeu. Adolf Hitler transformou a Alemanha numa máquina mortífera com a conversa de desenvolvê-la, industrializá-la e impor a supremacia ariana e militar no planeta patrocinando o genocídio dos judeus. O Aiatolá Komein escudado por um rígido islamismo e bradando contra a ocidentalização do Irã conseguiu desalojar do poder o xá Reza Pahlevi, outro ditador. Saddam Hussein, que era vice-presidente, assumiu em 1979 e no ano seguinte declara guerra ao Irã acreditando na debilidade bélica daquela nação e justificando que procurava recuperar o estuário de Chat-Al-Arab dos rios Eufrates e Tigre que controlavam em parte por acordo celebrado em
Já pixei muro mandando outros presidentes darem o fora, mas não o fizeram a não ser na data estipulada, porém, eles tinham a baioneta apontada para a nação. Hoje não existe a ameaça da baioneta e mesmo com a prática asquerosa do “toma lá da cá” não vamos permitir que levem a cabo esta idéia de rato de transformarem o país numa imensa folia petista. Se for necessário voltarei aos muros e desta vez não escreverei somente o clássico “fora Fulano”, podem ter certeza. Ocuparei todos os espaços que me forem concedidos na imprensa, qualquer que seja sua especialidade, para demonstrar minha indignação, repulsa e ódio por mais este golpe que articulam. Parece sina. A cada vinte anos, aproximadamente, tenta-se e atenta-se contra a democracia no Brasil. Ou o Lula estanca a movimentação pondo ordem na casa ou estará chancelando uma convulsão social com desdobramentos previsíveis e imprevisíveis e, para empregar outro bordão tão ao gosto do presidente, “estou convencido” de que tal coisa não deseja. Portanto, livre-se dos golpistas o mais rápido possível e tranqüilize a nação.
Celso Botelho
01.11.2007