Amigo meu de longa data visitou meu Blog. Fiquei feliz pela deferência e nem tanto pelo seu posterior comentário. Contudo, respeito-o e torno-o parte de meu acervo, afinal não se pode desprezar qualquer posição, por mais antagônica que seja. A metáfora da qual irei me valer adiante para sintetizar sua posição pode não ser elegante, no entanto, parece refletir perfeitamente um sentimento cada vez mais enraizado na sociedade brasileira. Notadamente daquela parcela que tem melhores oportunidades sociais e profissionais e que, por certo, deveriam estar empenhadas em consumar uma mudança que viesse a atender a todos de uma maneira geral. Disse-me, textualmente: “...Se tentarmos mudá-lo cansaremos ou ficaremos, como você disse, como a noiva abandonada no altar, ou conseguiremos nosso intento à custa de nossas vidas. Como não quero morrer e já não tenho esta esperança citada por você, basta a mim usar o sistema a meu favor, da maneira que posso.” Ou, trocando em miúdos, “ se a curra é inevitável relaxa e goza” (a ministra Marta Suplicy fez escola). A sociedade brasileira tem sido conduzida para um estado de letargia impressionante. A histórica inversão de valores acabou se metamorfoseando em instituição imoral perfeitamente aceitável para alcançarem-se os fins desejados, sejam eles quais forem. Ainda bem que ainda podemos contar com inúmeras reservas morais, conhecidas e anônimas, que não se comprazem em incentivar, participar, acobertar, ignorar ou praticar atos ilícitos, pois, caso contrário, não haveria qualquer possibilidade de evitar-se uma estupenda derrocada social, política e econômica.
Não se pode atribuir, única e exclusivamente, a este governo este comportamento cada vez mais generalizado da sociedade em distorcer o sistema em proveito próprio, mesmo levando-se em conta sua ativa contribuição. A história está fartamente ilustrada com plenas demonstrações das administrações públicas (municipais, estaduais e federais) de rompimento com padrões morais, éticos, políticos, administrativos e econômicos em detrimento de toda sociedade solapando-a, sistematicamente, em benefício de interesses escusos e inconfessáveis. Entretanto, cabe dizer, para quem sempre se arvorou como defensores dos excluídos e guardião da ética e da moralidade o governo petista não passa de mais um estelionato eleitoral. Um esbulho. Certa feita, meu saudoso pai ensinou-me para desconfiar das boas intenções, visto que o inferno estava cheio delas. Tinha razão. Mas o besta aqui quis crer no presidente Lula e se ferrou. Os governantes serão sempre inveterados infiéis, traiçoeiros, velhacos, incoerentes, arrogantes e presunçosos, porém, este abusou destas prerrogativas descaradamente.
Não posso endossar, compactuar ou simplesmente calar-me diante da prática na qual meu amigo diz lançar-se. Estaria me lançando ao lixo como um rebotalho desprezível. Não comemos o pão que o diabo amassou com o rabo e não quis comer para restabelecermos o Estado Democrático de Direito para o manipularmos ao atendimento, imediato ou futuro, de nossas ambições mesquinhas. Não haveremos nunca de exterminarmos comportamentos maléficos, pois, afinal, e desgraçadamente, estão na natureza humana. Porém, isso jamais poderá nos impedir de combatê-los à exaustão.
CELSO BOTELHO
09.06.2008