O Brasil, de uma maneira geral, está para a América Latina tal qual mulher de malandro: quanto mais porrada leva mais amorosa e submissa fica. Desta feita, num arroubo de indignação por tantas sovas recebidas, chamou o embaixador em Quito para “consultas” o que vale dizer na linguagem diplomática que ficou pau da vida com o anunciado calote ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Nada contra uma política de boa vizinhança. Porém, permitir aos vizinhos certas liberdades não me parece muito adequado. É pura demonstração de fraqueza. Isto não quer dizer que estimule qualquer ação que possa se parecer com operações bélicas. Não possuímos esta tradição, espírito, vontade e, principalmente, Forças Armadas equipadas (profissionalmente ou materialmente) para sequer sonhar com tais ações. E, afinal, contendas desse calibre, devem ser resolvidas com diálogo, racionalidade e pré-disposição favorável para se consumar um entendimento que atenda as partes envolvidas evitando-se a todo custo se chegar às vias de fato. E a História nos mostra o alto custo de decisões assim.
A Bolívia nacionalizou as reservas de petróleo e gás invadindo as instalações da Petrobrás com seu exército hasteando acintosamente sua bandeira, prova inequívoca que índio já não quer mais apito. O Paraguai quer por quer a revisão do contrato da Itaipu Binacional. O arremedo de ditador, bobalhão empedernido e megalomaníaco do Chávez goza de prestígio absoluto no Palácio do Planalto. Nossa fronteira com a Colômbia é mais furada que peneira e os traficantes passeiam livremente com suas degradantes mercadorias sem ser molestados tornando nosso país um importante entreposto de seu maldito comércio diante da flagrante omissão de nosso governo. Tudo isso leva a crer que nossos vizinhos tudo podem em relação ao “gigante pela própria natureza.” O ministro Celso Amorim é um diplomata competente e consciente de sua responsabilidade em conduzir este incidente com a habilidade que se faz necessária e, para tanto, não deverá permitir que agentes estranhos possam interferir neste processo sob pena de nos desmoralizarmos perante nossos vizinhos e com toda comunidade internacional. A preservação do apoio ou simpatia ideológica (o que, por sinal, é uma das bobagens cultivadas pelo presidente Lula, O Ignorante) não deverá suplantar os interesses dos brasileiros a despeito de toda essa conversa nacionalista que é o canto do rouxinol para alguns socialistas de meia pataca.
O presidente Rafael Correa extrapolou e desprezou os canais diplomáticos naturais para se resolver a pendenga com ameaças do tipo “custe o que custar.” Deveria saber o presidente do Equador que só se faz alguma ameaça se de fato se pretenda cumpri-la. Caso contrário é bravata, fanfarronice ou imbecilidade, pois, o alvo da ameaça pode não se sentir muito confortável e pagar para ver. E ai a porca torce o rabo, meu caro. Se os interesses do Equador foram prejudicados podemos e devemos concordar que tenha que haver reparação ao menos para minimizá-los, senão para revertê-lo. Porém, não da forma afrontosa como querem. Em toda e qualquer relação humana o respeito é peça fundamental para que os sucessos sejam alcançados beneficiando todos os envolvidos. Penso que não devemos adotar uma posição de arrogância ou prepotência, no entanto, também não podemos nos submeter a toda sorte de desaforos de nossos vizinhos. Principalmente de um país que recebe volumosos investimentos brasileiros. De qualquer maneira fico a imaginar a hipótese do calote se concretizar e qual será a postura do governo petista diante da monumental esculhambação do “devo. Não pago. Negarei enquanto puder.”
CELSO BOTELHO
23.11.2008