domingo, 9 de outubro de 2011

ACAUTELEM-SE COM OS MITOS E LENDAS








É impressionante como as pessoas são facilmente manipuladas para acreditarem naquilo que se constrói para que elas acreditem, venerem, se sacrifiquem ou até morram. Assim tem sido ao longo da História e, eis o mais lamentável, tudo indica que continuará sendo. A força da propaganda sobre a mente humana é algo fantástico, avassalador. Não seria infundado dizer que nos parece uma exigência do inconsciente por um mito, um líder carismático ou o estereótipo capaz de reunir nossos desejos, realizar nossos sonhos e aplacar nossas frustrações, sejam existenciais ou materiais. Induzir para conduzir por um determinado caminho está patente nas ações humanas e, considerando seus milênios de prática, já deveríamos estar mais atentos e rechaçá-las de imediato. Porém, se dá o contrário. Quanto mais tecnologias e expansão dos canais de comunicação o embrutecimento parece mais se consolidar. Faço esta reflexão após ler um texto onde o autor, pessoa possuidora de boa reputação pessoal e profissional, se propôs a fazer uma defesa apaixonada sobre a administração do ex-presidente Lula eivada de inverdades, omissões, descalabros, incorreções, etc. Não é novidade alguma de que fui e sou um dos mais ácidos críticos do ex-presidente e do partido ao qual pertence, no entanto, jamais me permitirei em negar os aspectos positivos de sua administração como também é pública minha oposição a atual presidente, mas sou oposição ao que entendo ser pernicioso ao país. Oponho-me ao governo e jamais ao Brasil. Ai está a diferença. Quem sempre fez oposição a qualquer governo e a qualquer coisa sempre foi o Lula e o Partido dos Trabalhadores, poderia citar inúmeros exemplos disso.  Os formadores de opinião como este cidadão ao qual me refiro não é ético distorcer os fatos inventando números, florindo acontecimentos e construindo realidades que sabemos não existirem. Não devemos emitir juízo de valor, mas nos reservamos o direito de investigarmos quais as intenções para matéria tão fantasiosa. Nestes casos a gratuidade não pode ser a moeda corrente.


A democracia é formidável. Todos podem (e devem) expressarem-se segundo suas orientações, formações e convicções. As divergências e os debates só fazem robustecê-la. No entanto, há que se ter um mínimo de embasamento, coerência e conhecimento sobre o que se está convergindo ou divergindo. O aceite incondicional de doutrinas só se justifica mediante o conhecimento revelado e, mesmo assim, sem radicalizações, pois sabemos perfeitamente as conseqüências de quaisquer radicalizações. A propaganda, comercial ou política, jamais deve interferir em nossas escolhas porque corremos o sério risco de adquirirmos um produto de má qualidade ou aderirmos a ideologias ou bem menos que isso como, por exemplo, realidades inexistentes apresentadas como fatos concretos e um comportamento desses descaracterizam a espécie humana como animais racionais.


Olhando para a História do Brasil no último quarto de século é preocupante como um número tão elevado de pessoas ainda se deixam levar pelo canto da sereia que pode ser sedutor, porém os levarão para as profundezas do oceano. Os “Salvadores da Pátria” aqui ou alhures já deveriam receber um tratamento inicial de desconfiança, mas é o contrário, arrebanham adeptos fervorosos. Não há solução mágica embutida no personalismo, no carisma ou numa postura “identificante” com as massas, mas sim o apego pelo poder, a vaidade que escraviza e a sensibilidade que se perde. Portanto, sem negar ou diminuir méritos a quem quer que seja ou, da mesma forma, criticar, questionar e duvidar; devemos conhecer bem a causa defendida para que possamos entendê-la e fundamentá-la e não sair por ai defendendo e apregoando “verdades” e “ídolos” fabricados, rotulados e “vendidos” nas indústrias dos interesses inconfessáveis. A sociedade brasileira, após tantos trancos, já deveria ter atingindo um grau de maturaridade política razoavelmente aceitável. Ao depararmos com defesas entusiásticas de personagens carismáticos, populistas, “Salvadores da Pátria” devemos nos lembrar de Abraão Lincoln (1809-1865): “Podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente.” Por que, afinal, cautela e caldo de galinha na fazem mal a ninguém.

CELSO BOTELHO
10.10.2011