Luiz Felipe Denucci, ex-presidente da Casa da Moeda, vistoriando o "material" de trabalho
Quando afirmo que no Brasil não existe sequer um ministério, estatal ou sociedade de capital misto, autarquia, departamento, seção ou banheiro que não prime pela corrupção, fraude, formação de quadrilha, falsidade ideológica, estelionato, apropriação indébita, peculato, prevaricação e tudo o mais que seja ilícito não estou exagerando ou pintado o diabo mais feio do que se imagina, é a mais cristalina das realidades. O recente escândalo na Casa da Moeda somente corrobora com isto. Quando o delito não é praticado pelas autoridades diretamente sempre têm sua anuência, conivência, complacência ou omissão. Desta feita o presidente da entidade Luiz Felipe Denucci dispôs de tempo suficiente para delinquir sem que fosse molestado por qualquer órgão fiscalizador. Danucci confirma a existência das empresas, mas nega ter feito movimentações financeiras com essas contas. Foram mais de US$ 25 milhões em nome de membros de sua família em contas bancárias no exterior. Como se sabe Lula nega até hoje que sabia do Mensalão, portanto negar o crime além de não ser novidade é pratica corriqueira nas relações humanas, mas entre os malfeitores é imprescindível.
Guido Mantega explicando o Escândalo na Casa da Moeda
Subordinada ao ministério da Fazenda e, portanto ao seu titular Guido Mantega, manteiga ou margarina, tanto faz. Segundo ofício protocolado pelo PTB, que indicou o acusado para o cargo (e hoje nega), dirigido ao ministro em fevereiro de 2010 dava conta de que as denúncias contra seu apadrinhado eram “gravíssimas” e o “pronto afastamento indispensável”. Fazendo as contas lá se vão um ano. A demissão do dito cujo se deu porque vazou que o jornal A Folha de São Paulo iria publicar reportagem sobre o esquema de corrupção na Casa da Moeda. Há pelo menos cinco meses Guido Mantega sabia das irregularidades e ficou cozinhando a galinha em fogo brando. Por quê? Ah, isso o ocupante do principal ministério da República não explica e sabem por quê? Porque não tem como explicar, é como mancha de batom na cueca. Na imprensa credita-se a ordem de demissão do malfeitor “a presidento-faz-de-conta” Dilma Rousseff tão logo tomou conhecimento da patifaria. Estranhei a ligeireza, posto que no caso dos sete ministros, já defenestrados, acusados de toda sorte de ilicitudes e com alguns mais que permanecem no governo não demonstrou ou demonstra qualquer pressa em afastá-los. Será por quê? Bem, Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior é seu amigo de longa data, dos tempos que eram “guerrilheiros”. Fato, aliás, que não deveria servir para “o presidenta-faz-de-conta” fazer vista grossa, mas isso depende muito dos valores éticos e morais que cada um abrace. Pimentel ainda não explicou como conseguiu ganhar tanto dinheiro com “consultorias” em tão pouco tempo. Quanto a Fernando Bezerra Coelho, ministro da Integração Nacional, que desviou verbas, nomeou parentes e aderentes, fraudou e o diabo a quatro. Se junta a estes dois agora o ministro da Fazenda Guido Mantega (omissão é crime). Pelo andar da carruagem Dilma irá para o Guiness Book como “a presidento” que teve o maior número de ministros demitidos por corrupção (sete). Nelson Jobim, O Contrabandista, não foi pego na roubalheira, saiu porque falou besteira. Mas como a emenda sempre sai pior que o soneto quem irá para o lugar o acusadissímo Mario Negromonte, ministério das Cidades, é o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) que é sócio de quatro empresas, porém não declarou esta participação à Justiça Eleitoral ao candidatar-se a deputado federal em 2010. E, para não perde a viagem, este parlamentar apresentou um projeto de lei, no mínimo, inusitado e, no máximo, imbecil. “Sua Excelência” apresentou projeto no qual o trabalhador, com idade igual ou superior a 40 anos, seja submetido ao exame da próstata pago pelo empregador. Prevendo ainda que no caso de constatar-se câncer o empregado terá o direito de tratamento psicológico. Aprovado uma coisa dessas fica institucionalizada a introdução do dedo médio no rabo alheio. Outro lambão que esteve no ministério das Cidades Geddel Vieira Lima desviou verbas para beneficiar seu Estado-Carnaval, a Bahia (R$ 133,2 milhões), ocupa hoje a vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal. Posso avaliar que “o presidenta-faz-de-conta” não deseja ficar comprando briga com a base aliada e isolar-se no poder. Isso já aconteceu antes. Vai esperar que aconteça com eles exatamente o que aconteceu com os outros: caíram de podres. O ministro correu nesta última quinta feira (02.02.0212) para instaurar sindicância interna para apurar o bafafá, é o clássico exemplo de substituir as tramelas por fechadura depois da casa arrombada e, de mais a mais, estas sindicâncias internas merecem tanta credibilidade quanto às previsões Maias que de que o mundo irá acabar no dia 21 de dezembro deste ano. Mantega admitiu que soubesse do problema e isso o torna insustentável no cargo. Agente ou funcionário público que toma conhecimento do ilícito e não adota qualquer procedimento configura-se em crime de responsabilidade, com ou sem instauração de sindicância e ainda por cima tardia.
Deputado Ronaldo Caiado
Nestas horas surgem na mídia alguns “paladinos” da moralidade pública que são verdadeiras piadas de mau gosto. Primeiro devemos ter em mente que no Brasil não existem partidos de oposição. Como já disse o ex-presidente Lula, O Ignorante Desbocado, conseguiu a proeza de, sem lançar mão de uma ditadura (no sentido clássico) ou da violência (no sentido físico), destruir qualquer resquício oposicionista e ainda roubar-lhe o discurso. O que sobrou foi um bando de tucanos sem rumo, árvore solitária que ninguém sabe a espécie e aquela erva daninha que mudou de nome, mas não mudou seus objetivos maléficos. Um desses “paladinos” é o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) defendendo à convocação do ministro da Fazenda à Câmara para dar explicações resistindo aos argumentos da possibilidade de que a crise política possa respingar na vida econômica do país, diz o “nobre” parlamentar: "Isso não pode ser fator impeditivo de uma convocação. Pelo contrário. Essas coisas exigem cada vez mais transparência". Concordo, mas não sendo dito por este parlamentar. Guido Mantega, ou qualquer outro, ao contrário de Jesus Cristo, não é insubstituível e o Brasil não acabará caso seja demitido, pode até melhorar dependendo de quem for substituí-lo, essa é uma tese improvável, mas não impossível. Ronaldo Caiado presidiu a UDR (União Democrática Ruralista) de 1895 a 1989. Composta de proprietários rurais de direita que visava, a princípio, arrecadar fundos para eleger parlamentares para defender seus interesses. Na mesma época promovia leilões cujo dinheiro arrecadado era utilizado na compra de armas para capatazes e peões para defender suas terras de invasores. Então não se pode dizer que esta é uma instituição voltada para os mesmos interesses da sociedade brasileira. Extremamente conservadora, defende os interesses dos grandes produtores rurais e os latifundiários acirradamente colocando-se da mesma forma contra qualquer reforma agrária e as medidas que visam a proteção do meio-ambiente. A entidade mostrou até seu poder bélico (como o dos coronéis) entre os anos de 1985 e 1989 quando as mortes no campo chegaram a 640 e não me recordo de, entre elas, constarem grandes produtores e latifundiários. Dito isto, este deputado é tão habilitado para exigir explicações e transparência quanto Hitler sobre os direitos humanos em seus campos de concentração. Quanto ao alarde encabeçado pelo deputado ACM Neto posso dizer, seguramente, que não passa disso (herdou esta faceta do avô). Deveriam dizer para este “menino” (terceira geração de filhotes da ditadura) que bafo de boca não ferve leite. Este parlamentar é bem ativo no que se refere a proposições para aprovar concessões de radiodifusão no seu Estado-Carnaval que, neste momento, sem polícia, podemos chamar de Estado Sem Lei ou Ordem ou, como diz Jorge Aragão, “o Iraque é aqui”.
Denucci e Mantega e a atração fatal
A canalhice é tão grande que ninguém quer assumir que indicou a raposa para tomar conta do galinheiro. Mantega diz que não o conhecia pessoalmente e fez a nomeação baseado no currículo de Denucci. Um cargo desta magnitude entregue ao portador de currículo onde se pode mentir à vontade. A própria Dilma Rousseff, quando na Casa Civil, pôs no seu currículo que era doutora em economia quando, na verdade, apenas fez a matrícula sem nunca ter apresentado uma tese. Roberto Jeferson, presidente do PTB e réu no processo do Mensalão, diz apenas ter “chancelado” a indicação como um “favor” a Mantega. Jefferson afirmou que Mantega "...deveria vir a público e explicar a conduta de seu afilhado, porque ele é o pai da criatura". A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, soube pelo líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), de possíveis irregularidades no órgão e teria avisado o ministério da Fazenda que respondeu que a substituição de Denucci “estava em curso”, o que aconteceu cinco meses depois quando a bomba estourou. Levar cinco meses para retirar o queijo do alcance do rato é muita condescendência. Todos estão mentindo descaradamente. Em 2010, o economista foi multado em R$ 3,5 milhões pela Receita Federal por ter internalizado R$ 1,8 milhão de uma conta em Miami e por suspeita de fraude no pagamento do Imposto de Renda (IR). A multa referia-se a uma movimentação de 2005, três anos antes de sua indicação a Casa da Moeda, fato que já o desqualificava para o cargo. Mas no meio desta raça encontrar um ficha-limpa é mais difícil que encontrar ouro na Lua. A Procuradoria da República no Rio de Janeiro apurou que um empréstimo de U$ 1 milhão de um banco europeu, informado à Receita Federal por Denucci, foi realizado apenas para dar aparência legal à internação desses recursos. A procuradoria também cita procedimentos supostamente ilícitos usados para ocultar a variação do seu patrimônio (R$ 60 mil a R$ 699 mil em dois anos, outro milagre da multiplicação. Palocci fez escola). Todas essas informações já estavam sendo analisadas pela Justiça quando Denucci foi nomeado para o cargo, em 2008. Mas “nosso presidenta-faz-de-conta ” incumbiu seu vice Michel Temer, O Cocheiro de Vampiro, de promover todas as articulações para que Guido Mantega não seja convocado pelo Congresso Nacional para dar explicações sobre a roubalheira. Ora, no seu juramento de posse afirmou que defenderia à Constituição e as leis do país e não me parece que entre elas há concessões à conivência, complacência, omissão e cumplicidade com o ilícito. A economia brasileira já sobreviveu à queda de muitos outros nomes nefastos à sua condução e Guido Mantega seria apenas mais um.
CELSO BOTELHO
05.02.2012