Sempre indiquei que a única saída para a sociedade brasileira dar um basta na espoliação, no descaso, na omissão e, notadamente, na corrupção e na impunidade que reina praticada por sucessivos governos era mobilizar-se e abrir caminho com os cotovelos para ocupar todos os espaços para que as transformações pudessem acontecer no país. O governo só está colhendo o que vem plantando há décadas: total abandono da saúde, educação, transportes, habitação, segurança pública, infraestrutura, etc. O aumento na tarifa dos transportes apenas serviu de estopim para a explosão que acontece em todo território nacional. Os protestos vão muito além. Os bilhões gastos e por gastar para a realização da Copa das Confederações neste ano, Copa do Mundo em 2014 e Olimpíadas em 2016 são uma afronta à população, um ato de violência e desprezo e justificam plenamente a indignação da população. Certamente que haverá vítimas de lado a lado, porém não se faz omelete sem que se quebrem os ovos. Governos corruptos, irresponsáveis, demagogos e coniventes com todo tipo de ilicitudes e patifarias só podem resultar em conflitos, enfrentamentos e convulsões sociais. A minha geração saiu às ruas contra um regime arbitrário, autoritário, repressivo. Enfrentamos um Estado policial sempre atento contra a mais tímida suspeita de insurgência e com as baionetas sempre apontadas. Não nos intimidamos. Infelizmente, por ignorância e ingenuidade dos militares, a esquerda foi ocupando espaços vitais consolidando suas posições de maneira que quando o regime se desfez havia somente eles para ocupar o poder. Hoje o Brasil caminha para um regime de partido único, tai a PEC 33 e a PEC 37 que retiram o poder de investigação do Ministério Público e que reduzem o STF à condição de um departamento de um Congresso Nacional corrupto e corruptor. Apesar de que, na prática, o regime de partido único já funcione em virtude da inexistência de qualquer oposição parlamentar; da explícita subserviência dos meios de comunicação; da omissão de entidades que, no passado, estiveram engajadas em grandes movimentos como a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), hoje um feudo do Sr. Mauricio Azedo; a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) cujo presidente da secção Rio de Janeiro Wadih Damous no ano passado participou da campanha política de um candidato a vereador do Partido dos Trabalhadores (Siron, nº 13.555) e a UNE (União Nacional dos Estudantes) que se encontra mais preocupada com os recursos oriundos do governo. Os governos Lula e Dilma aportaram na instituição mais de R$ 60 milhões. Todos se acomodaram de uma maneira ou de outra para garantir privilégios pessoais ou corporativos em detrimento de toda a sociedade. Esta acomodação foi o sinal verde para que os políticos depredassem e saqueassem o país sem a menor contestação. No entanto, não há mal que sempre dure ou bem que nunca se acabe. Quero crer que o mal que fizeram ao país de um modo geral e a população em particular esteja com seus dias contados. Os veículos de comunicação perfeitamente alinhados e submissos aos poderosos insistem que se trata de manifestações espontâneas combinadas nas redes sociais. Quanta desfaçatez! É óbvio que manifestações desta grandeza utilizaram as redes sociais, porém qualquer levante da população exige um mínimo de pessoas que planejem, articulem e forneçam recursos materiais e humanos indispensáveis à sua execução. Os atos de vandalismo não acontecem por acaso ou no calor das manifestações. Eles também são planejados e se realizam por elementos ali infiltrados justamente para isso. Estes atos de vandalismo e depredações atuam, segundo seus planejadores, como elementos de pressão visando intimidar as autoridades e ganhar uma visibilidade maior. Não estou defendendo a depredação, apenas descrevendo como elemento psicológico que afere maior dimensão a ação. Há aqueles que sugerem a hipótese de tentativa de desestabilizar o governo. Mas a primeira pergunta que me vem à cabeça é a quem interessaria? A esquerda está no poder, a direita é inexistente e inexpressiva no Brasil. Aliás, constitui-se numa heresia o sujeito declarar-se de direita neste país. A suposta oposição no Congresso Nacional encontra-se muito bem atendida pelo governo que diz opor-se. Então, quem seria o grande beneficiário destas manifestações? E, de mais a mais, para que se tente desestabilizar um governo é necessário e indispensável que ele esteja estabilizado o que, deveras, não é o caso. O governo Dilma é muito mais fraco do que aparenta. Bem, não é improvável que possa haver a mão de lulistas para sabotar o deprimente governo de D. Dilma fornecendo mais motivos para uma candidatura do ex-presidente no próximo ano e assim serem novamente condôminos no grande condomínio que foi seu governo. Lula há muito se movimenta nos bastidores para uma eventual candidatura e os índices econômicos tem desgastado sobremaneira o governo de sua ex-pupila. Dentro do próprio governo existem inúmeros descontentes com a arrogância e prepotência de D. Dilma conspirando abertamente para expurgá-la do processo sucessório e para tal não há necessidade de muito se empenharem. Do jeito que o país vem sendo conduzido desestabilizar e derrubar este governo seria como tirar pirulito de criança. Um pouco mais de pressão nestas manifestações pode descambar para uma ruptura institucional e uma anarquia generalizada. Caso a desobediência civil seja incorporada às manifestações a ruptura e anarquia serão inevitáveis. O governo tem a força, mas é o povo que tem o poder.
A vaia dirigida “a presidento” no Estádio Mané Garrincha reflete exemplarmente sua popularidade e a afeição da população para com a chefe da nação. Um presidente não precisa ser popular ou receber afeto do povo que governa. Deve ser competente, honesto e zelar pelo bem-estar da população, virtudes que historicamente não encontramos em nossos governantes. O rastilho de pólvora foi aceso e seus desdobramentos são imprevisíveis. Independentemente dos objetivos adjacentes e camuflados destas manifestações e opondo-me as ações de depredações e saques as vejo com muita simpatia e entusiasmo. Sinalizam que a apatia nacional esvai-se diante de tantos mandos e desmandos, roubalheiras, incompetências, conivências com diversas modalidades de crime, impunidades, etc. Não será a polícia truculenta e covarde comandada por políticos não menos truculentos, covardes, corruptos e velhacos que conterá a população. Contra o povo não existe nenhum canhão eficiente. As cenas de abuso de poder e covardia estão registradas fartamente contra manifestantes e jornalistas numa demonstração cabal de seu despreparo tratando a população como inimigos viscerais. As forças policiais brasileiras não estão preparadas para combater nem o crime comum quanto mais para lidar com manifestações sociais. Este movimento nacional não pode diminuir ou encerrar mesmo que tenhamos que ocupar as ruas, praças e avenidas durante todos os dias do ano, pois, caso contrário, o governo sairá fortalecido, impune e ansioso por nos depenar com mais sofreguidão. D. Dilma Rousseff encolheu-se dentro do Palácio da Alvorada quando deveria, como chefe da nação, convocar uma cadeia nacional de rádio e televisão e fazer um pronunciamento. Não é tida e havida como durona? Então cadê sua dureza? “O presidenta”, como qualquer comunista, é covarde e traiçoeira. O ex-presidente Collor, no auge das manifestações pelo seu impeachment, teve a coragem de ocupar, mais de uma vez, as redes de rádio e televisão para pronunciar-se, mesmo sabendo que a presidência da República já estava perdida. Ao contrário de D. Dilma que pretende disputar a reeleição.
O governo Collor (1990-1992) implantou a agenda neoliberal no Brasil e seus sucessores, com algumas modificações e ajustes, a mantém. O patrimônio público vem sendo sistematicamente rifado, doado e depredado; os precários serviços públicos se deteriorando; as condições de vida piorando; a corrupção reina em todas as esferas de poder com a impunidade garantida a corruptos e corruptores; o desvio, desperdício e malversação dos recursos públicos tem sido uma constante, etc. E o governo espera que a população se mantenha ordeira e feliz da vida? Sempre ouvi dizer que nós, brasileiros, somos cordeirinhos e não reagimos. Que os políticos, banqueiros, empresários, latifundiários, especuladores e sucedâneos vêm estuprando o país ano após ano, século após século e não nos damos conta disso. Pois agora estamos reagindo e mostrando que não somos tão cordeirinhos assim e que o estupro está sendo repudiado e deve ser punido. Temos sim que expulsar os pilantras que estão no governo a socos, pontapés, pescoções e rabo de arraia. É a única maneira de nos livrarmos deles. Tenho dito que o voto no Brasil não serve nem para papel higiênico, uma vez que as fraudulentas urnas eletrônicas suprimiram a cédula de papel. Quem acredita que o voto é uma “poderosa arma” da sociedade por certo também crê em papai Noel, mula sem cabeça e saci pererê. O Estado brasileiro está falido e nenhuma reforma, por mais bem elaborada que seja, haverá de dar conta de reestruturá-lo. Ele deve ser repensado e refundado sobre outras bases sob pena de, em poucos anos, se liquefazer por completo.
O ministro do Esporte Aldo Rebelo (PC do B), exemplo clássico do comunista tupiniquim: não é contra a propriedade privada, a exploração do trabalho alheio e o lucro. Já não se fazem comunistas como antigamente, hoje são até piores. Declarou o autor do projeto que instituía o Dia do Saci Pererê para anular o Halloween (é muita falta do que fazer) que o governo atuará com rigor nas manifestações. Rebelo não se referiu à polícia e sim ao governo e isso implica em mobilizar as Forças Armadas. Mas do jeito que vêm sendo desprezadas, sucateadas e ignoradas a mobilização pode sair pela culatra. Nunca se sabe. As Forças Armadas já divulgaram nota dizendo que não reconhecem a autoridade e legitimidade do ministro da Defesa Celso Amorim, O Lambão. E podem estender este não reconhecimento para quem esteja acima ou abaixo do ministro. Se bem que os militares hoje no Brasil só estão preocupados com três coisas: a carreira, os aumentos salariais e a aposentadoria. Viraram simples barnabés. Este comunistazinho de meia pacata furada que lutou para a derrubada do regime militar e a implantação do regime comunista ainda disse que o povo herdará a infraestrutura que está sendo construída para os eventos e a alegria de ter sediado competições internacionais. É ser muito bacamarte! Os jogos pan-americanos realizados no Rio de Janeiro mostraram o mesmo discurso e o carioca não herdou porcaria nenhuma, pagou cinco vezes mais do que o orçamento inicial e não me recordo de nenhum conterrâneo alegre e pimpão por isso. Estão erguendo monumentais elefantes brancos que não servirão para coisa alguma e, de mais a mais, as obras de infraestrutura para serem realizadas não necessitam que eventos deste porte sejam sediados no país. É uma obrigação do Estado, pois pagamos extorsivos impostos e nem mesmo os preços dos ingressos serão acessíveis a maioria dos torcedores brasileiros, o que desmonta a “profecia” do ministro-adorno-imprestável de que haverá manifestação de alegria da população por sediar o evento. Só se for a “população” de petistas aloprados e alienados, a “população” de empreiteiros, a “população” de banqueiros e a “população” de políticos safados. Basta acessar a Internet para se comprovar que as obras realizadas na África do Sul para sediar a Copa do Mundo de 2010 estão abandonadas e aquelas construídas em Pequim para as Olimpíadas tiveram destino semelhante. Os sul-africanos não foram beneficiados em nada com a gastança promovida pelo governo e o mesmo há de suceder em terras tupiniquins. Porém, ouvir um comunista falar em repressão não soa como novidade, pois historicamente é o que sabem fazer melhor, seja ela física ou psicológica. Por fim o ministro disse que era apenas um burocrata. Ora, é muita presunção intitular-se burocrata, é desprestigiar os funcionários públicos empenhados em cumprir as rotinas e as formalidades em suas repartições. Aldo Rebelo não serve nem para ser amanuense.
“A presidento” incumbe um pau mandado de informar aos jornalistas que considera as manifestações legítimas. E porque diabos seriam ilegítimas? Ora, vá catar coquinhos no meio do oceano D. Dilma! Caso dissesse que os manifestantes não possuem legitimidade como poderia atribuir a si e a organização subversiva a qual pertencia (VAR-Palmares) de haverem lutado legitimamente contra o regime militar? Seria uma estupidez, uma contradição colossal. Registre-se que D. Estela, Vânia, Vilma ou Dilma jamais lutou a favor da democracia e sim pela implantação de um regime comunista. D. Dilma adora um holofote, câmeras de televisão e todo o circo mediático, mas desta vez não se apresentou para fazer qualquer pronunciamento à nação. Está escondida, acuada, desmontada. Não tem o que dizer. A menos que admita publicamente o fracasso de seu governo. Viajou para São Paulo para se reunir com o poste do prefeito Fernando Haddad e o ex-presidente Lula. Com o prefeito nada de mais, porém consultar o ex-presidente revela uma vasta insegurança, completa inabilidade política e total incapacidade para lidar com a situação. O ex-presidente já havia respaldado as manifestações declarando que “ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil”. Isto indica que o governo não deve reprimi-las de nenhuma forma. O ex-presidente com esta declaração está se capitalizando politicamente para um possível retorno ao Palácio do Planalto. Como se diz por ai, a batata de D. Dilma está assando rapidamente. Os aumentos nas tarifas acenderam o pavio do barril de pólvora. Os gastos exorbitantes de recursos públicos para eventos internacionais; a inflação aumentando; os juros subindo; o dólar fora de controle; a Bolsa de Valores despencando; o PIB (Produto Interno Bruto) apresentando resultados pífios; a especulação financeira escancarada, a corrupção se ampliando, a impunidade campeando livre, leve e solta; a balança comercial com déficit; a saúde abaixo de precária; a educação condenada; a falta de políticas públicas ou sua péssima condução; a insegurança pública; a ausência de obras de infraestrutura; os transportes caros e ineficientes; etc. Somando-se tudo isto o resultado só poderia ser a indignação, a revolta, o conflito e o enfrentamento. É imprescindível que a população não ceda sequer um milímetro mantendo-se unida, atenta e desafie estes crápulas empoleirados no governo demonstrando seu poder, sua força e sua capacidade de articulação na defesa de seus interesses. Basta de sermos humilhados e roubados por esta corja de políticos miseráveis. Se for para concretizar as transformações de que tanto esta nação carece é lícito, moral e inadiável subverter a ordem estabelecida. Afinal, os governos utilizam de todos os artifícios e instrumentos para subvertê-la também, só que contra a sociedade e a favor deles.
CELSO BOTELHO
18.06.2013