Não é implicância nem má-vontade minha com o presidente Lula, O Ignorante, meus comentários sobre sua postura apenas buscam retratar aquilo que realmente é, ou seja, arrogante, prepotente, presunçoso, permissivo e membro praticante da mesma laia que sempre criticou. Desta feita, em entrevista à Folha de São Paulo, ficaram explicitas as qualificações que lhe atribui acima o que, aliás, não é novidade alguma. Logo de início, perguntado sobre a crise financeira internacional, afirmou que “fizemos o Banco do Brasil comprar carteiras de bancos menores, fizemos O Banco do Brasil comprar a Nossa Caixa e comprar 50% do Banco Votorantin.” Fizemos? Quem? Segundo consta Lula e a “cumpanheirada” não são os donos do Banco do Brasil e não mencionou, obviamente, os interesses ali embutidos por trás do “fizemos”. O Banco do Brasil, de acordo com que sei, não é um banco privado e sim de economia mista, sendo o capital majoritário público. Este governo não é o primeiro nem será o último a transformá-lo em mais um de seus tentáculos para socorrê-los em suas agruras. No Brasil já se destinou muito mais recursos para salvar bancos públicos do que os privados. Com a Caixa Econômica Federal não é diferente, os governos dela se servem como bem lhes aprouverem e a revelia da sociedade. Na ocasião o presidente “fez” o Banco Central, O Carimbador Maluco, liberar R$ 100 bilhões dos depósitos compulsórios para “irrigar o sistema” que, certamente, não eram o educacional, o de saúde, transporte, etc. e tal.
A certa altura repudiou a palavra “burguesia”, justamente a que mais agrada os marxistas, pseudo-marxistas e suas incontáveis variantes por este globo afora. Pronunciou-a infindáveis vezes por décadas, mesmo em ocasiões que não fazia o menor sentido. Caramba, se a tal “burguesia” (na concepção limitada do presidente) está ganhando dinheiro como nunca no seu governo devo dizer que, concomitantemente, também está sendo extorquida, espoliada e maltratada como “nunca antes na história deste país”. Ainda ontem falei sobre o presidente apequenar seus antecessores e suas administrações e estendeu a atitude ao pré-candidato à presidência da República José Serra (PSDB-SP) que fizera uma critica indicando que o Banco Central poderia ter baixado os juros durante a crise financeira internacional atribuindo-lhe pouca importância para ele, para o jornalista que o entrevistava e para o povo brasileiro. Ai, uma vez mais, a porca torce o rabo: o seu governo (legitimamente eleito) representa o Estado brasileiro, porém, não me lembro de haver outorgado procuração ao presidente para dizer a quem devo ou não dar importância, pois, sua função é representar a sociedade e não emitir juízo de valor em seu nome. Que o presidente não é leitor de livro algum todos sabem, no entanto, mesmo no finalzinho do mandato, recomendo-lhe uma leitura da Constituição Federal e constatará facilmente que o presidente não tem o direito de fazer o que bem entender como afirmou a menos, é claro, que tenham suprimido boa parte dela no seu exemplar. Parece-me que a turma da ANABOL (Associação Nacional dos Baba-Ovo do Lula) faz chegar às mãos do presidente dados e indicadores de um Brasil que tentamos localizar no mapa mundi e não conseguimos pelo corriqueiro fato de não existir. E o presidente se sacode de satisfação com eles e sai por ai repetindo-os como se fossem reais, porque eu teria que ser um inveterado idiota para crer, entre outras coisas, que “as contas do governo nunca estiveram tão boas na história deste país”, basta passar os olhos nas despesas correntes para se ter uma idéia da generosidade perdulária.
Do alto de sua sapiência (sua, do pessoal da ANABOL e outros de sua laia) Lula determinou que existem duas concepções de ver o Brasil (eu e muitos que conheço não diriam tal bobagem, mas enfim). A primeira seria aquela composta de pessoas que governam para uma pequena casta (laia) e a segunda por pessoas que governam para 190 milhões. Cabe indagar ao tomar conhecimento, por exemplo, dos fantásticos lucros que os banqueiros vêm obtendo desde 2003 se isto não é governar para uma pequena casta (laia)? Por outro lado devo dizer que, definitivamente, conceder esta esmola sem-vergonha, eleitoreira, populista do Bolsa-Família não é governar para 190 milhões de brasileiros. Então ficamos aonde? Simples, mesmo que negue, entre as grandes concessões e o popularíssimo “cala a boca”. Quanto ao preconceito (não é a palavra que deveria ter empregado) de enxugar a máquina, fazer o país crescer e depois dividir (referência ao ex-ministro Delfim Neto que, quando ministro da Fazenda, deu a dica culinária para a economia: “primeiro o bolo tem que crescer para depois dividi-lo”, mas perdeu a mão e o bolo solou). De fato, quebrou o “preconceito” de enxugar a máquina encharcando-a exemplarmente, é só verificar a quantidade de nomeações, autarquias, empresas, departamentos, seções, cantinhos que foram criados ao longo deste governo. O bolo pode até ter crescido, porém, os brasileiros não foram convidados para a festa, quando muito lhes atiçaram migalhas. Porém, algumas fatias sabemos para onde foi: para perdoar dívidas de países africanos, empréstimo ao FMI (Fundo Monetário Internacional), composição do superávit primário, cofrinho na Suíça, viagens nababescas e outros deslumbramentos e ostentações. Enquanto isso, neste momento, 20% das crianças e adolescentes deste país vive em situação de miséria alimentar, educacional, sanitária, habitacional, etc. O tráfico assumindo e controlando espaços do Estado como a maior desenvoltura possível. Os desempregados em número cada vez mais expressivo e os subempregados idem. Os jovens não conseguem entrar para o mercado de trabalho atrelado a uma legislação obsoleta e submetido a uma política econômica que o emperra. Isso é governar para 190 milhões de compatriotas, presidente? Ainda nesse bloco volto a querer entender qual o conceito de consumidor que o presidente tem ao dizer “criamos uma nova casta (laia) de consumidores”. Ele diz ter comprado uma geladeira nova, será isso? Consumir é o que? Comprar geladeira, televisão de plasma, computador, carne bovina, feijão e arroz, usufruir de luz elétrica, água corrente tratada, esgotos, ir ao cinema, teatro, viajar à Disneylândia e tantas outras coisas? No governo do general Geisel (1974-1979) o austero luterano recomendou-nos comprar o essencial e não o supérfluo e pechinchar para contribuir com o governo e “baixar” a inflação. O diabo é que ficamos, até hoje, sem saber exatamente o que é supérfluo e o que é essencial, arrisco dizer que talvez isso tenha selado o fracasso do apelo do presidente-general ou general-presidente. Quanto a pechinchar a maioria dos brasileiros sempre souberam fazer, mesmo porque sempre foi uma questão de sobrevivência.
O presidente se contradiz com uma facilidade impressionante. Num momento diz que o Estado brasileiro não existia até o advento de sua eleição, a seguir afirma que a participação do Estado na economia é mais presente, adiante assevera que a ele se opunha (mesmo não existindo) e agora jura de pés juntos que D. Dilma é a mais competente gerente que o Estado brasileiro já teve. Ou eu sou um jumento ou o presidente tem dificuldade de organizar seu pensamento de uma maneira mais ou menos lógica em certos assuntos. Ficaria eu muito mais informado caso me fosse fornecido detalhes sobre o passado político da pré-candidata “queridinha” D. Dilma Roussef, pois as informações que possuo não são lá muito alvissareiras como aquele assalto, em 1969, à casa da amante do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros
Ainda bem que no exemplar compactado da Constituição Federal do presidente não suprimiram o Artigo 5º e ele concorda que todo brasileiro tem o direito de falar o que bem entender, dentro de certos limites, é claro. Ao ser perguntado sobre o fato da imprensa fiscalizar o governo o presidente, que deve ter ojeriza a esta palavra, remeteu esta obrigação ao TCU (Tribunal de Contas da União), a Corregedoria Geral da União e “um monte de coisas” que nem mesmo ele sabe o que é. Acontece que a maioria das lambanças nas quais o poder público se mete somente são conhecidos quando denunciados pela imprensa que faz chegar aos órgãos de investigação. O presidente, durante a entrevista àquele jornal, faz uma incursão à seleção brasileira e sobre este assunto me manterei distante porque, em matéria de futebol, sou uma perfeita mula, só sei que são onze jogadores de cada lado, uma bola e quem fizer mais gols ganha e também sempre se pode xingar o juiz no caso de seu time perder.
Mas o ponto “alto” (ou baixo) da entrevista que o presidente concedeu ficou por conta da analogia que fez sobre as composições político-partidárias que qualquer presidente no Brasil é obrigado a fazer, exceto no caso dos regimes de exceção, para governarem: “Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer a coalizão.” Mesmo colocando-me como um homem não religioso, segundo entendo, as únicas alianças feitas por Jesus Cristo foram com Deus e os Homens (a raça humana) em dar-se em holocausto para proporcionar a salvação de suas almas. O condicional “se” já é safado por natureza porque é pura especulação, mas especular com a figura de Jesus Cristo e, mais ainda, fazendo de um momento crucial do cristianismo uma chacota, uma anedota, uma possibilidade plausível em se tratando de nosso país é deplorável. Que o presidente tenha feito acordo com inúmeros “judas” (no sentido de traidores da pátria, canalhas mercenários e outros delinquentes) para se eleger, reeleger e governar não é aceitável, porém é humano, material, politiqueiro. Devo aconselhá-lo a restringir suas analogias, metáforas, trocadilhos ao mundo futebolístico como é de seu costume. Para encerrar o supremo mandatário saiu-se com uma de suas maiores lorotas: “nunca fiz concessão política, faço acordo.” Faz ambas as coisas. E as faz tão amiúde que já não consegue diferenciá-las.
PS: Falta um na foto.
CELSO BOTELHO
22.10.2009