Não sendo este escrevente um engenheiro hidráulico (é isso mesmo?) fica, pois, combinado que não está qualificado tecnicamente para apontar correções ou incorreções no projeto de transposição do Rio São Francisco, o Velho Chico. Porém, como cidadão-contribuinte, sinto-me à vontade para dar meus pitacos da maneira como vejo a faraônica obra. Posicionar-se contra ou a favor deste projeto seria reduzir o gravíssimo e secular problema da seca no Nordeste do Brasil. Para começar devo esclarecer ao presidente Lula, O Ignorante, que ao referir-se ao primeiro político a pensar na possibilidade, o deputado provincial do Crato (Ceará) Marco Antonio de Macedo, em 1847 passaram-se exatos 162 anos e não “quase
Presidente, chamar os governos passados de “duas caras” é muito descaramento junto para os ouvidos deste cidadão. Ora, ora, ora, que autoridade tem Sua Excelência para dizer tal coisa? Afinal, todos os brasileiros sabem que não fugiu à regra: também é um “duas caras”. Eu mesmo enviei-lhe um e-mail em 21.08.2007 falando sobre os dois Lulas numa única pessoa (o sindicalista e o presidente) que me foi retornado acusando o recebimento por algum funcionário, posto que não aprecie a leitura. Este artigo seria longo por demais caso fosse discorrer sobre suas “duas caras”. Decerto levo em conta seus discursos. Seria inimaginável que pudessem permanecer idênticos tanto na militância sindical como na presidência da República. A repercussão é muito mais abrangente e provoca interpretações diversas, aquém e além das desejadas. No entanto, as “duas caras” que me refiro estampam-se com o oportunismo, o casuísmo, o aparelhamento, corporativismo, ao fisiologismo e tantas outras coisas que condenava veementemente. Somente me recordo de dois presidentes da República que não tiveram a oportunidade de mostrar se possuíam “duas caras” ou não: o primeiro foi Júlio Prestes de Albuquerque (1882-1946) impedido de assumir em decorrência da “Revolução” de 1930 e Tancredo de Almeida Neves (1910-1985) internado às vésperas da posse por motivo de saúde vindo a falecer. Mas, deixemos a História de lado e vamos à transposição.
Segundo o governo é um megaprojeto e coisa e tal e de acordo com os opositores existem alternativas, vai impactar o meio ambiente e tal e coisa. A atitude agora, na minha parca avaliação, não deve estar focada na manutenção da polêmica, pois as obras estão sendo tocadas e, sabemos de antemão, que haverá ganhos e perdas. Então, defensores e opositores, deveriam se anular na busca de maximizar os primeiros e minimizar os segundos. Não posso ver de outra forma. Se por um lado temos a necessidade de levarmos água ao semi-árido resgatando esta dívida com nossos irmãos nordestinos por outro temos a responsabilidade de preservarmos o eco-sistema. Sempre se poderá chegar a soluções, mesmo que não consensuais ao menos satisfatórias que atendam a maioria dos reclamos de parte a parte. O sertão vai virar mar, dizem os defensores. O mar vai virar sertão, dizem os opositores. Nem tanto ao céu nem tanto ao inferno, digo eu.
Quanto ao presidente garantir a conclusão da obra ai é que a porca torce o rabo. Estou escolado nesses tipos de garantias presidenciais: jamais são cumpridas. O próximo(s) governo(s) já tem o bordão na ponta da língua: “a culpa é do governo anterior e blá-blá-blá”. Foi assim com inúmeras obras e essas afirmações me soam como pura bravata em ano pré-eleitoral onde o presidente “está convencido” que fará seu sucessor ou sucessora, não sei. Flerta com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) com D. Dilma Roussef (ministra da Casa Civil, ex-guerrilheira e pseudo-doutora) ao seu pé, a tira-colo ou na sua aba. Será que tem caroço embaixo desse angu ou vice-versa? Vamos aguardar.
Emocionante quando afirma saber o que é carregar água na cabeça por quinze quilômetros (poderiam incluir esta modalidade nas Olimpíadas de 2016) o que o presidente não soube, de fato, ao cabo do seu segundo mandato, foi fazer valer o poder de sua caneta, de seu prestígio, de sua popularidade, de sua figura carismática na realização de um governo que nos prometera por quase três décadas.
CELSO BOTELHO
14.10.2009