segunda-feira, 7 de julho de 2008

OU O BRASIL ACABA COM A VIOLÊNCIA OU...


Talvez não seja nem correto dizer que o Estado brasileiro está em acelerado processo de degradação mesmo porque estes alicerces foram construídos a partir da degradação de todos os valores, morais e materiais, conhecidos e aceitos pela civilização. E, cabe lembrar, que o Estado reflete tão somente a sociedade que o compõe. Portanto, uma sociedade violentada. Boa parte das causas de todas as distorções está em cada um de nós, de alguma forma e em algum momento tendo-se em conta o espírito humano. A violência está presente de todas as formas, em todos os lugares, dia após dia. Estamos condicionados a associarmos violência ao ataque físico, porém, sabemos que ela manifesta-se de inúmeras maneiras. O ataque físico direto certamente é o mais visível, cruel, chocante, mas não menos devastador e irreversível daqueles indiretos. Podemos apontar uma vasta relação das causas da violência física que tomou conta de todo o país mergulhando-o num colossal caos urbano e rural e isto, de certo, seria proveitoso e não suficiente para encontrarem-se as soluções das quais precisamos urgentemente porque os brasileiros, sem distinções, estão expostos a violência todos os dias. Ações sociais (não estas que estão em prática, pois, não passam de políticas populistas e eleitoreiras) são de grande valia, porém, não surtem os efeitos imediatos imprescindíveis à manutenção da ordem. Portanto, uma vez mais, conclui-se que o Estado brasileiro deixou-se envolver de tal forma com a pratica, complacência e conivência sistemática com o ilícito ficando refém de grupos delinqüentes cada vez mais poderosos. Sua autoridade simplesmente é ignorada e sua mais tímida manifestação é rechaçada de pronto, com sutileza ou truculência. Resumindo: a autoridade do Estado não está comprometida, ela deixou de existir a partir do momento que ele passou a compactuar com o crime através de seus membros sedentos de poder e insaciáveis na egocentricidade, no narcisismo e ganância.

Crimes devastadores e irreversíveis indiretos aos quais me referi são aqueles praticados ostensivamente quando tomamos conhecimento de casos de corrupção, desvio e desperdício de dinheiro público, descaso, omissão, permissividade, leniência e conivência. Estes delitos subtraem recursos da saúde, educação, segurança pública, infra-estrutura, agricultura, etc. Recursos que nos cofres públicos aportam mediante uma perversa política tributária a qual não passa de pura e simples extorsão. Portanto, são mais pessoas morrendo sem sequer obterem tratamento nos hospitais, mais crianças sem escola ou as freqüentando de modo precário, mais pessoas vitimadas pela violência urbana e rural e por ai a fora. Resta-nos, pois, nos movimentarmos – e depressa – a fim de mudarmos esta situação insustentável de fraqueza do Estado no trato da coisa pública de uma maneira geral e em particular da violência física que ceifa vidas e sonhos. O voto é, de fato, um dos instrumentos democráticos mais eficazes que possuímos, no entanto, da maneira como é tratado, manipulado e subvertido no Brasil e amparado por uma legislação ora obscura, ora escusa e sempre irracional tem se mostrado de pouca ou nenhuma serventia. Movimentarmos-nos não quer dizer, em hipótese alguma, nos amotinarmos inconseqüentemente e sim mostrarmos nossa indignação exigindo do Estado o cumprimento irrestrito da lei, e se ela não atende a sociedade modificá-la ou suprimi-la, de maneira firme e inequívoca dentro do próprio sistema vigente e esta é uma das formas de mudá-lo ou lapidá-lo. Não podemos e não devemos consentir que sobreponham aos interesses da população outros que já conhecemos por demais e sofremos suas nefastas conseqüências.

Acredito no meu país e, principalmente, nos brasileiros. Os de corpo e alma e não a horda que há mais de cinco séculos toma de assalto o controle do Estado para fazê-lo de seu servo incondicional. A violência urbana e rural tem como sua causa irrefutável as ações (e a ausência delas) do Estado que sempre primou por não primar por absolutamente coisa alguma. Verificamos que, lamentavelmente, a cada dia, o controle sobre o país está cada vez mais fragilizado e isto é o combustível dos aventureiros, dos ditadores escamoteados em todos os escalões do governo ávidos por uma ruptura institucional e ansiosos pela implantação do Estado marginal. Para finalizar repito que não será com esta classe política que ai está que sequer se começará a pensar em solucionar quaisquer problemas mesmo porque são promotores e beneficiários da balbúrdia instalada. Então, como já disse, o movimento terá que partir das pessoas de bem (felizmente a maioria) que integram a sociedade. A sociedade brasileira está cada vez mais violenta porque o Estado nunca deixou de sê-lo. Ou o Brasil acaba com a violência ou a violência acabará com o Brasil.

CELSO BOTELHO

07.07.2008