Há muitos anos a seção dos jornais que mais tem me agradado é aquela que trata de culinária. Não que seja um mestre-cuca, longe disso, porém, não me estresso. Política e economia, entre outras, são matérias que, a cada dia, a compreensão fica mais turva. É como desejar calcular o perímetro do Universo, mesmo dispondo de um telescópio cheio de sacanagens tecnológicas. O governo anuncia um “reforço” de R$ 142,1 bilhões até 2010 no famigerado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que pulará para a bagatela de R$ 646 bilhões sendo que nos últimos dois anos só foram aplicados R$ 48 bilhões. Mais isso não é tudo. Juntou uma merreca de R$ 502 bilhões para depois de 2010 o que perfaz um montante de R$ 1, 148 trilhão. Ufa! Ufa! Ou a Casa da Moeda terá sua capacidade ampliada para emitir tantos reais ou estes números são simples fanfarrocine. Fico com a segunda opção. Faz-me lembrar um debate na televisão entre os candidatos à presidência da República em 1989. O candidato Collor pegou seu script e começou a distribuir milhões de Cruzados Novos para a educação, saúde, transportes, habitação, etc., caso fosse eleito (e foi). O candidato Lula que, naquela época, sabia de tudo ouvia mantendo um sorriso irônico no canto da boca e no seu momento de falar indagou de onde viram tantos e tantos milhões. O país estava mergulhado numa hiperinflação. Agora ocorre o mesmo. Com a diferença que Lula não é candidato a coisa alguma (exceto a um terceiro mandato) e Collor é um senador de sua base aliada. Existe a figura folclórica do Zé Milhão que, contam, sem nada possuir só falava
Segundo o presidente o Brasil se preparou para a crise. Pôxa! Foi maldade ele não ter alertado os Estados Unidos e os demais países sobre a eminência deste tsunami econômico. Quanta coisa poderia ter sido evitada. Disso, pelo menos, soube antecipadamente talvez num lampejo de clarividência, mas não quis admitir. Puro egoísmo. Ainda segundo Sua Excelência se o PAC não tivesse sido feito há dois anos certamente agora teria de fazê-lo ou qualquer outra baboseira que o valha. A ministra da Casa Civil Dilma Roussef, a síndica do PAC e candidata do presidente à sua sucessão, se isto vir a acontecer. Sim. Dele e de mais alguns pulhas, pois, esta senhora não empolga nem entusiasma sequer no seu próprio partido. Pois bem. A “Mãe do PAC” declarou que somente 2% das obras são preocupantes e 4% estão em estado de alerta. Se a informação procedesse certamente poderia dormir mais tranqüilamente, mas não procede, e ela sabe disso. Somente os questionamentos jurídicos no PAC já ultrapassaram os 900. E a ministra não precisa ir muito longe para saber do PAC Orçamentário. Ele está disponível no SIAFI. De qualquer maneira o programa tem feito a felicidade de empresas como a Delta Construções, a CR Almeida S.A., a SPA Engenharia Indústria e Comércio, a OAS, Arg Ltda., Queiroz Galvão, Engesa Engenharia e por ai a fora. Êta ralo grande!
A recessão está ai. A produção industrial teve uma queda de mais de 12%. As demissões a quilo provam isso. É notória a queda no consumo. Está explícito o endividamento cada vez maior da sociedade e, eis o pior, aquém de sua capacidade de pagamento presente e futura. O governo está trapaceando. A realidade não pode ser mascarada. Por o dedo no buraco do dique não impedirá seu rompimento. E é exatamente isso que o governo petista está fazendo. O PAC, pelo menos da forma que está não irá solucionar coisa alguma em qualquer lugar. É mais propaganda que qualquer outra coisa, aliás, propaganda enganosa é uma das especialidades deste governo e de outros passados também. E o chato é que não temos um Procom para reclamar.
CELSO BOTELHO
04.02.2009