O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) com toda certeza extrapolou todos os limites da ética, do bom senso e do juízo ao questionar a opção sexual da presidente Dilma Rousseff. Gostando ou não, querendo ou não, sendo seu eleitor ou não, é a autoridade máxima do país e representa a instituição Presidência da República, eleita pelo voto direto e em dois turnos, portanto devemos respeitá-la como pessoa e como Chefe da Nação. Não se constitui em novidade alguma que não sou eleitor do PT ou de qualquer outro partido sendo um crítico ácido das lambanças do Executivo, Legislativo e Judiciário. Reconheço que em muitas ocasiões cheguei à aspereza diante de comportamentos e atitudes ilícitas, inadequadas, descabidas e lesivas aos interesses do país e não me arrependo de uma única frase que tenha escrito. Por outro lado, sinto-me perfeitamente à vontade e satisfeito em escrever sobre os comportamentos e atitudes dos membros dos três poderes que preservem, ampliem, consolidem e defendam os interesses da sociedade. Podemos e devemos, quando necessário, tanto divergir quanto convergir e, no regime democrático, isto não é uma concessão e sim um de seus pilares. Nossa indignação, irritação e inconformismo com os acontecimentos não podem resultar em deselegância, grosseria, destempero. Lamentável o episódio. O deputado foi além da falta de decoro parlamentar agredindo a presidente, insultando os homossexuais e demonstrando seu imenso e intenso preconceito em todas as suas variantes. Tenho a impressão que na mente do parlamentar somente ele é etéreo, porque nem mesmo o ex-presidente Lula escapou de ser chamado por ele de homossexual. Em artigo recente aqui neste blog (O Egrégio Supremo Tribunal Federal, 13.11.2011) quando escrevi o seguinte: “A única dúvida que atormenta as pessoas contrárias (ser contrário não significa que se possa insultar, discriminar, excluir ou praticar qualquer violência física, psicológica ou moral) é que se acham impedidas de exercerem o direito constitucional de livre manifestação do pensamento (Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais; Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos; Artigo 5º, Parágrafo IV) sem serem apontados como homofóbicos que, aliás, é um termo errado para designar aqueles que se expressam contrariamente (ao homossexualismo). Homofobia é um neologismo criado pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, etimologicamente, o termo mais aceitável para a idéia expressa seria "Homofilofóbico", que é medo de quem gosta do igual.” Talvez o deputado Bolsonaro, de orientação assumidamente de extrema-direita, não conseguia compreender muito bem o que seja um regime democrático, considerando sua formação militar e, nas Forças Armadas, o conceito de democracia jamais transitou livremente por seus espaços (vide a História).
O deputado Jair Bolsonaro é reconhecidamente um elemento da extrema-direita radical e defensor da tortura e do nefasto regime militar instalado em 1964, quer seja, uma viúva inconsolável dos tempos da truculência física, moral e psicológica, mas não é a única. Em 2000, defendeu, numa entrevista à revista Isto É, a utilização da tortura: "O objetivo é fazer o cara abrir a boca. O cara tem que ser arrebentado para abrir o bico." Chegando mesmo a afixar na porta de seu escritório um cartaz com os dizeres “quem procura osso é cachorro” referindo-se aos desaparecidos políticos à suas famílias. Segundo consta, existe um vídeo deste deputado saindo do Clube Militar do Rio de Janeiro onde diz textualmente: "Nós não devíamos só torturar. Devíamos torturar e matar.” O prosaico deputado disse ainda: “A Dilma Rousseff falou que tinha vivido 23 dias sob tortura e não falou nada. Eu não tenho o curso que eles tiveram em Cuba, na China e na Coréia do Norte sobre guerrilha tortura e terrorismo, mas se eu tivesse disposição para isso, em dez minutos a Dilma contaria até como ela nasceu.” Em entrevista ao Jornal Estado de São Paulo declarou: [foram] "20 anos de ordem e progresso". Então porque este desgraçado não vai morar em algum país que tenha ditadura? Porque não suportaria viver sem o regime democrático o qual repudia somente da boca para fora. Recentemente, na edição de julho de 2011 à Revista Época o desarranjado mental afirmou que “o regime militar não foi uma ditadura.” Foi o que então? Os encantos do Jardim do Éden? Ou “Os Brasileiros no País das Maravilhas”? O “nobre” parlamentar registra em sua carreira política alguns fatos pitorescos, outros onde demonstra absoluta falta de lucidez, aptidão, competência e outras condições imprescindíveis para o exercício da função a qual está alçado pela sexta vez (tem ou não tem um contingente apreciável de viúvas do Estado de exceção?) e todos reproduzindo seu caráter, sua intolerância, preconceito, truculência e desorientação intelectual. Mas, o regime democrático, que pode não ser a oitava maravilha do planeta, porém até que se invente coisa melhor sou um de seus fervorosos adeptos, tem essa peculariedade que falta aos demais: a convivência e a tolerância com os contrários oportunizando a estes canais de comunicação onde possam se expressar sem serem molestados. No entanto, mesmo na democracia há um limite que não pode ser transposto e o sendo o transgressor deve ser punido para a preservação da ordem constitucional. Mas o deputado não reconhece o mérito do regime que possibilitou sua ascensão e muito menos a tolerância da qual é beneficiário coisa, que, aliás, no funesto regime que defende é algo simplesmente inimaginável.
Caso o parlamento brasileiro fosse uma instituição que se respeitasse este deputado já teria sido expurgado há muito tempo de seu convívio, porém trata-se de um balcão de negócios sujos, uma ação entre amigos em detrimento de toda nação e um covil de malfeitores de todas as cores. E Bolsonaro tem plena consciência disso, pois, segundo ele, "Com que moral vão me cassar aqui neste Congresso?”. Em novembro de 2003 o deputado bateu boca com a então deputada Maria do Rosário (PT-RS), hoje secretária nacional dos Direitos Humanos, durante uma entrevista que esta concedia à uma rede de televisão, sobre os desdobramentos das investigações da CPI da Exploração Sexual Infantil da qual era relatora e, no mesmo espaço, o deputado defendia, em outra entrevista, a redução da maioridade penal. A deputada o acusou de ser responsável pelas mortes e os estupros chamando-o de estuprador ao que ele respondeu “jamais iria estuprar você, porque você não merece.” E, para arrematar, a qualificou como uma “vagabunda”. Isso seria motivo mais que suficiente para alijá-lo da Câmara dos Deputados, porém a representação que o PT apresentou contra o destemperado foi devidamente arquivada. Por ocasião das audiências sobre a Reserva Raposa Serra do Sol, em 2010, chamou o ex-ministro da Justiça Tarso Genro de terrorista, mas, façamos justiça, para Tarso, O Genro, isso não se constitui numa ofensa, pelo contrário. Diante disso um cacique indígena (pois temos que distinguir os “caciques” desta Terra dos Papagaios) jogou um copo d’água no deputado pesaroso de não dispor de um arco e algumas flechas (preferencialmente envenenadas). Bolsonaro imediatamente acusou o índio de não possuir legitimidade para defender a demarcação (alegação no mínimo inusitada, para não dizer estúpida, pois os índios são os principais interessados nas demarcações, são os detentores da terra de fato e quase nunca de direito): "É um índio que está a soldo aqui em Brasília, veio de avião, vai agora comer uma costelinha de porco, tomar um chope, provavelmente um uísque, e quem sabe telefonar para alguém para a noite sua ser mais agradável. Esse é o índio que vem falar aqui de reserva indígena. Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens”. Nesta última oração o deputado certamente estava recomendando ao silvícola o seu prato favorito. O desrespeito à Constituição Federal do deputado Jair Bolsonaro é flagrante, odioso e notório, especialmente do Artigo 3º “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”
Em matéria de discriminação, preconceito, intolerância, leviandades, grosserias, truculências, etc. o deputado Jair Bolsonaro é imbatível. Mentes como a dele produziram o que há de mais repulsivo nos seres humanos como, por exemplo, Adolf Hitler, isso para citar apenas um por absoluta questão de higiene. Não tenho muitas esperanças de que este sujeito vá receber qualquer punição (já se safou inúmeras vezes) e, se assim for, meu desapreço pela Câmara dos Deputados será ainda maior e minhas críticas muito mais ácidas e demolidoras. O lamentável é que existem fanáticos defensores deste camarada e até pregam sua candidatura a presidência da República. Bom, candidato até pode ser, pois já tivemos outras tralhas, trastes e sucedâneos nesta posição, porém sair vitorioso nem que o próprio satanás saia de seus domínios para coordenar sua campanha.
CELSO BOTELHO
28.11.2011