terça-feira, 16 de junho de 2009

SANTUÁRIO DA HIPOCRISIA


Além de covil da patifaria o Senado Federal também é o santuário dos hipócritas, isso para parecer generoso na adjetivação. O pronunciamento de Sua Excelência o nobre senador pelo Estado do Amapá na tribuna causou-me arrepios quase me levando às lágrimas de ver um homem público tão injustiçado quanto José Sarney, tadinho! Tantos e quantos préstimos este servidor público tem listado em sua longa carreira! E põem longa nisso! Sinceramente, não me imagino sem ter conhecido sua brilhante passagem pela presidência da República! Como não hei de sentir saudades do arrojado Plano Cruzado e suas malfadadas emendas? Afinal, não é comum um governante pegar todos com as calças na mão e esculhambar toda a economia nacional. Qual o safado que não gostaria de ter uma máquina do tempo e voltar aqueles índices inflacionários que lhe permitia ganhar muito dinheiro sem fazer absolutamente nada? O atual presidente do distinto Senado Federal foi o pioneiro na idéia de rato de esticar mandato. Foi eleito para seis anos, o Dr. Tancredo Neves (1910-1985) prometera reduzir para quatro e, negócio vai negócio vem, acabou com cinco. Como éramos felizes em encontrar as prateleiras dos supermercados vazias e todo mundo cobrando ágio a torto e a direito! Os repetidos saques faziam parte da paisagem brasileira naquela época de ouro da hiperinflação. A fome e a miséria tinham lugar cativo na vida da maioria dos cidadãos desta pátria mãe gentil! Negar fatos como estes é revelar-se um profundo ignorante quanto à importância deste imaculado servidor. Nestas breves linhas não há sequer como proporcionar-lhes uma noção das (más) contribuições do governo Sarney (1985-1990).


Seus parceiros acharam seu discurso tímido, mas – caramba – o que o homem poderia dizer além de repetir, feito papagaio, que “não sabia”. Ô gente perversa! O prezado senador deixou explícito que iria em frente doa a quem doer. Muito bem. Resta saber em quem? Ah, sempre se arranja um bode expiatório, alguém perfeitamente qualificado para pagar o pato. Pela experiência que possui deveria ter compreendido que não se trata de um erro a ser corrigido, são inúmeros delitos praticados de caso pensado e, portanto, só a punição justifica, seja senador ou não. Quanto a mim o nobre senador não precisa se apoquentar, pois respeito e muito a instituição Senado Federal, mas não posso dizer o mesmo com relação aos seus atuais ocupantes, seu sono está garantido no que concerne a este comentarista. Tem um detalhe, aliás, muitos e sobre muitas coisas, que minha limitada inteligência não consegue alcançar: sendo senador desde período jurássico e pela terceira vez ocupando a presidência da Casa como pode ser tão ignorante a cerca de seu funcionamento, das manhas e artimanhas de seus cândidos pares sempre ciosos da máxima de São Francisco, cujo propósito não é nada parecido com o desta raça ruim? Mas, segundo ele, a crise é do Senado Federal. Não entendi. Será que devo atribuir todas as patifarias ali praticadas à Instituição e não ao homens que ali estão? Se for assim posso estender o conceito para o Executivo e Judiciário responsabilizando o Palácio do Planalto pelos estragos do governo e o Supremo Tribunal Federal pelas decisões equivocadas (assim dito para ser elegante) que toma excluindo os homens. O discurso do senador evidenciou a necessidade de submetê-lo ao pronto atendimento por parte dos médicos da Casa, pois são fortes sintomas de amnésia que o octogenário senador deixou transparecer.


O ilustre filho do belo Estado do Maranhão que representa o não menos belo Estado do Amapá conseguiu dizer tudo sem dizer absolutamente nada de nada vezes nada elevada a quinta potência, ou seja, nada. E o Senado Federal, que não sabe nadar, vai afundando num mar de imundícies.


CELSO BOTELHO

16.06.2009