domingo, 29 de novembro de 2009

PANDORA, PANETONE, PANELINHA


Hoje, aniversário de nascimento de meu inesquecível pai Antonio Botelho Soares (1913-1997) e tomando conhecimento de mais um escândalo envolvendo autoridades públicas, desta vez do Distrito Federal, recordei-me de uma frase que estava sempre a repetir diante do inesgotável estoque de recursos públicos desperdiçados, desviados e embolsados: “O Brasil é um país muito rico e a valência é que os políticos dormem a noite, assim só podem roubar durante o dia. E durante a noite o país cresce.” Não existe um único rincão desta nação que não possamos detectar a prática do ilícito na administração pública e em graus que variam entre dos mais grosseiros até os mais sofisticados. O presidente Lula, O Ignorante, volta e meia, apregoa que nunca se denunciou e investigou tanto na história deste país, porém, omite dizer que tais denuncias e investigações nunca dão em nada. Temos no noticiário uma nova versão do Mensalão agora “federalizado” sob a batuta do governador José Roberto Arruda (DEM-DF) que detém uma folha corrida nada lisonjeira. Como secretário de obras no governo Joaquim Roriz (PMDB-DF, que também renunciou ao Senado para não ser cassado) viu-se denunciado por irregularidades praticadas na polêmica construção do metrô de Brasília que teve a obra embargada. Em 2001 renunciou ao mandato de senador por ocasião da violação do painel eletrônico jurando, porém, de pés juntos e cruzando os dedos às costas, pelos seus filhos que era inocente, neste episódio o falecido senador Antonio Carlos Magalhães (PFL/DEM) igualmente renunciou para fugir à cassação. Como a nossa legislação é muito da ordinária e boa parte dos eleitores tem memória curta ou nenhuma memória este cidadão foi alçado ao governo do Distrito Federal em 2006 para a felicidade de seus asseclas, parias e fornecedores.


Mesmo com um sobrenome tão sugestivo como Arruda, o Zé Roberto não conseguiu proteção suficiente para não cair em desgraça. A planta arruda (Ruta Gravenolens) tem uma história interessante. Na Grécia Antiga era utilizada para o tratamento de várias enfermidades, porém, seu ponto forte era mesmo contra as forças do mal. No Império Romano as mulheres carregavam um ramo pelas ruas acreditando que isso as defendesse das doenças contagiosas e, é claro, para afastar os males (feitiçarias, mau-olhado, sortilégios). Durante a Idade Média a delicada plantinha era usada contra as feiticeiras e aspergidas com água benta em missas solenes. No Brasil Colonial manteve-se a crença na planta e logo foi associada aos rituais africanos e cria-se que sua infusão surtiria efeitos anticoncepcionais e abortivos. Pois muito bem, Krocodilus também é cultura. Para se safar desta Sua Excelência, na verdade, não deverá precisar nem de um galhinho murcho da planta que lhe empresta o nome, pois, como sabemos, o sórdido (e sólido) Instituto da Impunidade do Brasil garantirá que suas travessuras não sejam punidas.


Chamou-me, deveras atenção, um fato neste reco-reco todo: o bando de malfeitores é composto, além do governador e do vice Paulo Otávio, do secretário das Relações lnstituicionais Durval Barbosa, o participante-delator; do Assessor de Imprensa Omézio Pontes; do secretário de Educação José Luiz Valente; do chefe de Gabinete Fábio Simão; do chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel e do ex-secretário e atual membro do Tribunal de Contas do Distrito Federal Domingos Lamoglia, portanto a cúpula da administração distrital. É comum quando se toma conhecimento de um escândalo o Congresso Nacional correr desesperado para instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que, via de regra, não apura coisa alguma e o pouco que apura ninguém leva em conta. Instalada, os acusados se vêem às voltas com dois tipos de pessoas que são os calcanhares de Aquiles de qualquer corrupto: a secretária e o cônjuge. Ô raça para cuspir no prato que comeu! Uma vez diante dos integrantes da CPI revelam os mais íntimos e inconfessáveis segredos dos quais foram um dia depositários. E isso por diversos motivos. As secretárias foram demitidas, ameaçadas, pressionadas, etc. podendo ser porque não tenham recebido o quinhão adequado ou mesmo quinhão algum e, em última instância, teem o único objetivo de salvarem suas peles. No caso de esposas o desastre é maior, posto que – geralmente – a dona encrenca é substituída por uma amante mais jovem e esbelta e não há local mais apropriado para uma vingança contra um homem público com transmissão garantida em rede nacional do que o circo das CPI’s. Agora devemos incluir mais um tipo de delator: os ocupantes do cargo (perfeitamente inútil) de Relações Institucionais? Não é bom os corruptos em qualquer esfera arriscarem. Pelo sim ou pelo não é de bom alvitre extinguir tal cargo para evitar estas falsetas. O Durval “vendeu” os colegas da quadrilha para a “poliçada” em troca de uma redução de pena no caso de condenação, se chegar a ser condenado. Fique atento presidente, afinal, nunca se sabe...


Mas os meliantes correram para explicar a destinação do dinheiro que recebiam através de propinas e outras safadezas. Além de adquirirem, a preços módicos, os votos na Assembléia Distrital, aumentavam seu “pé-de-meia” e, como papai sempre dizia, “um homem precavido não terá surpresas no futuro”. Também iriam doar panetones durante os festejos natalinos, segundo o advogado do bando que não informou durante quantos natais tal doação seria feita, posto que a soma de dinheiro (cerca de R$ 600.000,00, conforme consta no inquérito do Superior Tribunal de Justiça datado de 26.11.2009 e assinado pelo ministro Fernando Gonçalves) seria suficiente para comprar cerca de 250.000 panetones da marca mais modesta encontrada em qualquer supermercado. A Operação Caixa de Pandora (o mais apropriado seria Caixa de Panetones, mas enfim) possui todos os ingredientes necessários para apresentar a sociedade mais uma grandiosa pizza, notadamente quando forem introduzidos nos fornos do Judiciário que serão mantidos apagados até que criem bolor.


CELSO BOTELHO

29.11.2009