sexta-feira, 3 de outubro de 2008

CANTO DAS SEREIAS


Num aspecto posso identificar semelhança entre o Congresso norte-americano e o nosso: ambos contam com os oportunistas. Aprovaram o socorro de US$ 700 bilhões com um penduricalho de US$ 150 bilhões para empresas que não integram o sistema financeiro. O socorro irá ajudar. No entanto, a solução para minimizar o estrago já contabilizado planeta a fora irá depender de outros ajustes de monta. Os bancos centrais sejam de países ricos, emergentes ou submersos terão que encontrar soluções nacionais e regionais adequadas a nova realidade global: a escassez de crédito. O sistema financeiro brasileiro não se acha blindado, apesar de ter sido saneado e sujeito a normas mais rígidas depende de linhas de crédito internacionais para oxigená-lo e o ar por lá está ficando cada vez mais rarefeito. Nossas perdas somente durante a pendenga envolvendo a aprovação ou rejeição do socorro aos bancos americanos já acumulam número expressivos. Os investidores estão sumindo junto com os dólares e com eles os empregos e tudo o mais.


No Brasil o presidente Lula, O Ignorante, acabou por admitir que a crise seja grave e que poderia afetar o seu “espetáculo do crescimento” (sic). Diriam: bom, antes tarde do que nunca. Isso pode ser verdade, porém, em se tratando do que é não pode ser lá muito inteligente. Nosso presidente imediatamente correu para garantir ao Papai Noel, o bom velhinho, um natal gordo com muito consumo posto haver advertido a equipe econômica que garanta o crédito. Lamento dizer que, uma vez mais, o ex-sindicalista está na contramão e, desta forma, irá perder pontos preciosos em sua carteira de habilitação para dirigir o país. A farra do consumo é que deve sofrer uma desaceleração por que o custo do dinheiro está cada vez mais proibitivo. Nosso país possui hoje, indubitavelmente, melhor suporte para estas agruras internacionais. No entanto, devemos considerar esta crise americana catastrófica. No meu modesto entender depois de 1929 não ocorreu nada parecido e com desdobramentos que ainda serão conhecidos. Não estou comparando 1929 com 2008 por vários motivos e o mais contundente é, sem dúvida, a lógica: o tempo não é linear.


Podemos perceber a movimentação dos pacoteiros de plantão para articular alguma benesse para os interesses que integram ou representam com o dinheiro do contribuinte. O presidente jura de pés juntos que não terá pacotes. Porém, são juramentos ateus. Não me surpreenderia um “pacote social” ou um “bolsa-banqueiro” onde estaríamos irremediavelmente ferrados. As sereias palacianas estão cantando nos ouvidos presidenciais suas canções prediletas deixando-o entorpecido em devaneios de toda ordem. Coisa, aliás, que não requer prática ou habilidade.


CELSO BOTELHO

03.10.2008