segunda-feira, 27 de outubro de 2008

NOSSOS COMERCIAIS, POR FAVOR!


Não sei quem falou, mas estava absolutamente correto ao dizer que “a propaganda é a alma do negócio.” Se o negócio é sujo ou não ai é outro departamento. Em se tratando de governo não deveria ser um negócio. Foi-se o tempo da publicidade ingênua com o único objetivo de divulgar o produto tais como “veja ilustre passageiro/o belo tipo faceiro/que o senhor tem ao seu lado/e, no entanto credite/quase morreu de bronquite/salvou-o o Rhum Creosotado” ou das pilhas “as amarelinhas” da Ray-O-Vac e por ai a fora. A publicidade moderna não se contenta com tão pouco. Tornou-se autora de comportamentos ditando conceitos, muitas vezes equivocados, que a sociedade deveria seguir. Mas isto é outro assunto. O que me leva a escrever é o fato de alguns canalhas descobrirem na publicidade um meio eficaz para as velhacarias de sempre por se tratar de segmento cuja principal característica é a subjetividade quando na elaboração de seus custos e preços finais. Ela pode ser cara ou barata e isto vai depender de uma série de fatores (histórico e solidez da agência, meios utilizados, cachês de celebridades, da verba do cliente, do perfil do cliente, etc.). Não é como comprar um saco de cimento. Essa subjetividade são os ovos de ouro dos “pífiocratas”. Dificulta qualquer auditoria que se queira realizar com um tímido toque de seriedade. Não é de hoje que a publicidade oficial é, nada mais nada menos, que uma ação entre amigos (e isto vale para todas as esferas de poder). A verba destinada para a publicidade no governo federal é cobiçada por políticos e agências e sua disputa envolve ferrenhas batalhas para a divisão do grande botim. E o Luis Gusiken não me deixa mentir.


Houvesse Paulo César Farias (o PC Farias) imaginado o artifício de usar a publicidade para cometer seus “negócios” talvez o rastreamento fosse mais difícil e o espúrio saque seria bem mais robusto. Até mesmo naqueles tempos a briga pela verba publicitária oficial era briga de cachorro grande. O crédito da maquiavélica invenção, porém, cabe a Marcos Valério e correligionários. Mesmo durante o regime militar pude manifestar meu repúdio ao uso do dinheiro público para a autopromoção de pessoas ou feitos e, consequentemente, beneficiando esta ou aquela agência amigas do poder das estrelas gemadas.


No episódio do “Mensalão” prática, aliás, desde sempre corriqueira na incestuosa relação Executivo e Legislativo, mostrou-se ao país as orgias promovidas com recursos públicos e o publicitário Duda Mendonça estava envolvido na depredação. O publicitário e sua sócia Zilmar Fernandes respondem a inquéritos acusados de sonegação fiscal, crime contra o sistema financeiro nacional, a ordem tributária e lavagem de dinheiro. No entanto, estão em plena atividade realizando polpudos negócios com o governo federal. Este ano aportou nos cofres da DM&AP (Duda Mendonça & Associados e Propaganda) a bagatela de pouco mais de R$ 10 milhões oriundos dos cofres públicos. Isto se deve ao simples fato que no Brasil existe a presunção da inocência e, tal qual os ficha-suja, não tendo o processo transitado em julgado o velhaco está livre, leve e solto para gozar todas as prerrogativas e também porque a bondosa legislação entende que a pessoa jurídica é independente da pessoa física. Agora começo a entender algumas coisas. Mário Garneiro (Brasilinvest), Ronald Livinhson (Delfim), Ângelo Calmon de Sá (Econômico), Andrade Vieira (Bamerindus), Os Magalhães Pinto (Nacional), Daniel Dantas (Opportunity), Salvatore Cacciola (Marca Fonte-Cidam) e outros não são, em hipótese alguma, responsáveis por quaisquer sacanagens que as empresas que detinham cometeram. A desenvoltura com que se lesa o povo é chocante. Não estou a defender a extinção da presunção da inocência, no entanto, penso que, nestes casos, deveriam existir normas específicas que impedissem o acesso de acusados ou empresas à participação em licitações públicas. Democracia não é, de forma alguma, complacência e conivência com o ilícito. Nossa Constituição está impregnada de conceitos que são distorcidos e contraditórios já em suas essências. No entanto, não devemos rasgá-la.


CELSO BOTELHO

27.10.2008