Há muito que a Praça dos Três Poderes tornou-se o quartel general de toda a sorte de malfeitores de que se possa ter notícia. Alternam-se, se alinham e se fundem as mais diversas quadrilhas, porém todas com o único objetivo de dilapidar o patrimônio público; extorquir o cidadão; entregar o país ao capital internacional; exercer plenamente a corrupção, o desperdício e a malversação dos dinheiros públicos e todas as patifarias imagináveis e inimagináveis. São três edifícios que abrigam uma intrincada rede de malandros federais. É óbvio que existem raríssimas exceções, no entanto, estas são vozes solitárias que clamam no deserto ou, eis o pior, pecam pela omissão. Algumas vezes vemos alguns parlamentares lamentarem-se do descrédito da sociedade com relação às Instituições, especialmente o Congresso Nacional. Ora, não há como devotar o mínimo respeito para uma Instituição infestada de mercenários praticantes dos mais repudiados vícios. Sempre defendi os valores democráticos e continuarei a defendê-los, porém, dentro deles não cabe o comportamento de sucessivos parlamentares comprometidos apenas com seus interesses pessoais, corporativos, partidários ou daqueles que representam, porque – definitivamente – não representam a sociedade. Não posso, não devo e não pretendo uma democracia sem imperfeições, distorções e manipulações, isso seria uma utopia. Mas não posso admitir comportamentos e atitudes que lhe sejam lesivas. Exigir um comportamento angelical daqueles que ocupam cargos públicos seria de uma tolice abissal, no entanto calar e assim consentir que permaneçam praticando ações diabólicas estaria eu sendo conivente, complacente e profundamente indecente. Estaria negando todos os princípios elementares de boa conduta conhecidos e reconhecidos, abrindo mão da minha personalidade, compactuando e estimulando os crimes de lesa-pátria e lesa-cidadão que esta gente pratica sem quaisquer constrangimentos.
Os políticos brasileiros não se sentem mais acima da lei, têm convicção de que além de situarem-se acima são a encarnação da própria lei e, por isso, ela não pode alcançá-los, pelo menos desfavoravelmente. Os espaços cobertos na Praça dos Três Poderes (sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário) estão franqueados a todas as ilicitudes e mazelas. Caso apareça alguém em condições de refutar tal afirmação (sempre existirão os advogados do diabo) posso preparar uma extensa lista de exemplos a começar do dia 21 de abril de 1961 quando foi inaugurada a Capital ou até antes. Trabalho com fatos e jamais com suposições ou “achismos”. Quando valores morais são substituídos por qualquer outro que atendam especificamente alguns interesses escusos, inconfessáveis e repugnantes e na maior parte das vezes são escandalosamente imorais a degradação assume o controle e provoca o desgaste do tecido social levando à nação à derrocada, inclusive inviabilizando-a definitivamente dentro deste conceito. E de pouca valia serão todo e qualquer movimento no sentido de erguê-la outra vez a este conceito tal a devastação em seu sistema organizacional. Não se trata aqui de incorporar o papel de cavaleiro do Apocalipse, isso seria ridículo. Trata-se de constatar uma situação que vem se desenrolando e se agravando através dos tempos sem que se abra espaço suficiente para combatê-la, revertê-la ou – na pior das hipóteses – minimizá-la. A ganância, a mesquinharia, o egoísmo associados a tantos outros desvios de conduta nos levará, inexoravelmente, para o esgotamento total e, neste estágio, não haverá lei disponível ou aparelho preventivo ou repressivo que possa restabelecer a ordem que ora vai se esvaindo patrocinada pelos poderes públicos, absorvida pela sociedade como – digamos – “modos operandi” para sobreviver, isto é, dentro de suas possibilidades e necessidades cometendo os mesmos deslizes e muitas vezes até mais graves. É muito comum encontrarmos um brasileiro, seja doutor ou analfabeto, que esteja convencido de que podem burlar a lei, pois aqueles e legislam, executam e a fiscalizam o fazem despudoradamente. Mesmo considerando este sistema representativo que não representa ninguém devemos admitir que os três poderes da República são o reflexo da sociedade, nem mais e nem menos. E isto só vem a corroborar com o que afirmei: o grau de deteriorização da sociedade atingiu proporções catastróficas de modo que por mais seletivo que o processo de escolha de nossos representantes seja ainda assim conduziremos gente da pior espécie para todos os cargos públicos eletivos e, consequentemente, os não eletivos.
O deputado Federal João Paulo Cunha (PT-SP) um dos réus no processo do Mensalão (diversos parlamentares recebiam propinas para votar matérias do interesse do governo Lula e outros crimes) que tramita no Supremo Tribunal Federal acusado de lavagem de dinheiro, peculato e corrupção. Segundo denúncia da Procuradoria Geral da República o “nobre” parlamentar teria enviado sua esposa a uma agência do Banco Rural e sacado R$ 50 mil. Presidente da Câmara dos Deputados foi acusado de participar do esquema, porém seus “colegas” o absolveram e rejeitaram o pedido de cassação. Reeleito em 2006 e 2010 como o deputado mais votado do Partido dos Trabalhadores, “sucursal” São Paulo. Agora é conduzido por seus pares a Comissão de Constituição e Justiça. Que respeito podemos ter por esta Casa?
Outro agraciado foi o deputado distrital Agaciel Maia (PTC-DF) ex-Diretor Geral do Senado Federal (era conhecido como o 82º senador tamanho seu poder, tido e havido como braço direito do senador José Sarney, PMDB-AP) acusado de ocultar da Justiça um imóvel no valor de R$ 4 milhões e de editar os “atos secretos” que nomeavam aliados políticos de senadores, aumentavam rendimentos de servidores e criavam cargos. Denunciado respondeu processo administrativo sendo “condenado” ao afastamento por 90 dias. Foi eleito presidente da Comissão de Orçamento da Assembléia Legislativa do Distrito Federal. Respeitar isso?
Por ora estes dois exemplos bastam para ilustrarem o quanto de respeito a classe política merece. Quem deseja respeito deve, antes de tudo, fazer-se respeitar e os três poderes sequer se esforçam para isso. Não será uma reforma política que irá solucionar esta crise de moralidade, mas a reinvenção de todo o sistema político-partidário-eleitoral acompanhado de uma imprescindível reestruturação de todo sistema educacional brasileiro para que, talvez, daqui a três ou quatro gerações possamos ter eliminado a maioria das práticas que hoje condenamos. Respeito não se exige, conquista-se.
CELSO BOTELHO
18.02.2011