terça-feira, 9 de setembro de 2008

O QUARTETO FANTÁSTICO


Na comemoração dos 200 anos do Ministério da Fazenda o tema do seminário foi a lengalenga de sempre: “Crescimento Econômico: crescimento com distribuição de renda”, porém, o insólito foi as encantadoras presenças da ex-ministra da pasta no governo Collor (1990-1992), o gênio que descobriu a fórmula para conter a hiperinflação: sem dinheiro, sem inflação, a ex-senhora Chico Anísio Zélia Cardoso de Melo (O povo é só um detalhe). Para aqueles mais jovens devo dizer que a economista Zélia Cardoso de Melo, quando de passagem pelo ministério, promoveu uma inédita apreensão de ativos e, de roldão, outras atrocidades. No evento registrou-se a esférica presença do ex-ministro do “Milagre Brasileiro” inventado durante o nada simpático regime militar (1964-1985) Antonio Delfim Neto ministro da fazenda de 1967 a 1974 nos governos Costa e Silva (1967-1969), este marechal brindou-nos com o Ato Institucional nº. 5 que consolidou a ditadura e Médici (1970-1974), já sob a égide deste general vivemos os Anos de Chumbo e no governo Figueiredo (1979-1985), mais light, prometeu-nos enquanto general-candidato-eleito-empossado que faria deste país uma democracia e aquele que se opusesse prenderia e arrebentaria. Durante longos anos reinou o todo-poderoso Delfim Neto sobre a economia brasileira como ente supremo, detentor de todas as verdades, mentiras e boatos. Presente também o ex-ministro Bresser Pereira, representando o governo Sarney (1985-1990) que, da noite para o dia, por decreto, bania a inflação numa tentativa impar de revogar as leis naturais de mercado levando o país à bancarrota. O referido ex-ministro provou, em definitivo, com seu plano que a emenda sai pior do que o soneto coisa, aliás, que o escritor-presidente deveria saber de antemão. Para fechar o quarteto fantástico o atual ministro da Fazenda Guido Mantega (não seria manteiga ou margarina?) intrépido guardião do cofre não faz mais do que pautar-se na política herdada do governo anterior sendo, no entanto, muito mais ortodoxo, exatamente como foi seu antecessor neste governo. Por que, resumindo, a palavra de ordem é “arrecadar é o que interessa o resto não tem pressa.”

Mas as pérolas não se limitam à presença física de representantes de momentos tão distintos da vida nacional. Elas ficam por conta do ministro Guido Mantega tais como: “a ex-colônia portuguesa pobre agora é uma potência emergente”, ao longo dos anos tenho escutado muita bobagem e esta, com certeza, irá para minha coleção particular porque, para começar, há duzentos anos, motivo do seminário, o Brasil ainda era colônia de Portugal (reprovado em História, ministro). Alardeou os feitos do governo do qual participa enaltecendo uma porcaria de reforma previdenciária em 2003? O que ocorreu na previdência social naquele ano sequer pode ser chamado de arremedo de reforma. Afiançou estar em curso um novo modelo econômico o ministro certamente não o expôs a ninguém, é secreto. Quanto a política social “revolucionária” no meu entender conceder Bolsa-Família e outros penduricalhos está mais para assistencialismo barato e eleitoreiro do que qualquer outra coisa. Para finalizar o ministro permitiu-se babar o ovo do presidente Lula, O Ignorante, reafirmando os “cumprumissos” deste para com o povo pobre ou vice-versa de que ao final do seu governo estariam realizando três refeições diárias. Talvez o notável ex-sindicalista Luiz Inácio imagine que o povo seja como os porcos, isto é, só precisam de comida. Na questão de geração de empregos tenho que concordar que o presidente vem se esforçando muito dado as incontáveis nomeações, criação de cargos, funções e órgãos. Conta bancária é de vital importância para que possamos contribuir, mediante pura, simples e legal extorsão com os repetidos recordes apurados nos balanços das empresas que compõem o sistema financeiro nacional. A concessão de crédito a torto e a direito, a exemplo do nocivo empréstimo consignado ou tal qual aconteceu no ínicio do século XX com o Encilhamento, leva aposentados e pensionistas ao desespero, fomenta a inadimplência e desarticula a economia. Preocupado com o lazer de uma vasta maioria de trabalhadores que ganham o supersálario de R$ 415,00 o simpático supremo mandatário da nação quer que viajemos, nem que seja do nada para lugar nenhum. Mas eu entendo o ministro. São tempos bicudos. Emprego está difícil e a prudência recomenda subserviência total. Manda (ou promete) quem pode, obedece quem tem juízo.

Como disse ontem, a camada pré-sal está incumbida de salvar o país de tudo. Desde coco de cachorro na praia até os maléficos efeitos decorrentes do aquecimento global. Segundo o ministro Mantega o governo petista, para a honra e glória de sua figura número um, colocou o Brasil na rota do crescimento sustentável. O diabo será descobrirmos que a bússola estava com o pólo invertido ou, sendo um GPS, poderia ser paraguaio. Num rompante de ufanismo o ministro sentenciou: “o Brasil deixou de ser um país do presente e do passado para ser um país do futuro.” Essa ladainha há pelo menos trinta e lá vai caroço de anos que ouço. Já que falei da ditadura e ufanismo sugiro desenterrar o slogan safado do regime militar de uma vez: “Brasil. Ame-o ou deixe-o”.

CELSO BOTELHO

09.09.2008