segunda-feira, 27 de julho de 2009

EU VOU, EU VOU, MINERAR AGORA EU VOU!


Provavelmente o sei-lá-o-quê Daniel Dantas ficou muito chateado com tantas aporrinhações decorrentes de sua atuação no mercado financeiro e num arroubo de impaciência com a Justiça em inocentá-lo de uma vez por todas resolveu migrar para outro setor econômico: a mineração. Pode até ser que esta atividade venha render-lhe aporrinhações, mas até que isso aconteça já teve tempo suficiente para praticar todo o tipo de ilícito e somar mais alguns bilhões à sua fortuna.


O nascedouro da mais nova operação lesa pátria se da com a criação na Junta Comercial do Estado de São Paulo, da empresa EDSP90 em 15 de março de 2007 com um capital social inicial de, pasmem, R$ 1.000,00 em nome do “distinto” cidadão Eduardo Duarte, citado em inquérito da Polícia Federal como sendo o feliz sócio de mais de 700 empresas. Fato que, aliás, o classifica como um super laranja. Em junho do mesmo ano da Graça do Senhor uma assembléia alterou a razão social para Global Mines Exploration conhecida também pelo vulgo de GME4 que passou a receber aportes de capital que variavam entre a bagatela de R$ 500.000,00 e a merreca de R$ 8.000.000,00. Mas esse Eduardo Duarte é uma criatura muito preocupada com o desenvolvimento, a geração de emprego e renda e, sendo assim, a mais de dez anos vem se ocupando em criar empresas e vendê-las “desburocratizando” e “agilizando” o processo para empresários afoitos em contribuir para tal objetivo, empresários do calibre de Daniel Dantas. O “negócio” (abrir empresas e vendê-las) do senhor Eduardo Duarte é tão descarado que sua sócia, Simone Bürck Silva, declarou textualmente “nós não perguntamos, quando vendemos uma empresa, se quem está comprando tem a intenção de dar golpes” e, durante todos os anos que atuam, só fora chamada apenas duas vezes na Polícia Federal como se isso fosse a mesma coisa que exibir um atestado de idoneidade. Pela direção da GME4 passaram cidadãos indiciados por gestão fraudulenta no Grupo Opportunity, falamos dos senhores Arthur Joaquim de Carvalho, Eduardo Penido Monteiro e Norberto Aguiar Tomaz.


Daniel Dantas, intrépido trapaceiro, & Seus Quadrilheiros Amestrados não estão interessados em patrocinar a extração de qualquer riqueza que possa existir no subsolo. Seus planos são mais complexos e lucrativos. As “beldades” desejam criar um “banco de ativos minerais” ou mais no popular: “bando de atravessadores.” O sistema é o seguinte: a GME4 (ou suas subsidiárias como a PI4) prospectam reservas para alienar ou efetuar “joint ventures” no Brasil e no exterior. Para este esquema funcionar apresenta-se as autorizações do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) que, aliás, tem sido célere em concedê-las, válidas por três anos (são mais de setecentas já deferidas e outro tanto “em análise”). A mineradora identifica as jazidas, realiza estudos geológicos e de viabilidade econômica e oferece o projeto para empresas nacionais e estrangeiras. Essas autorizações (ou concessões) foram outorgadas na gestão do ex-ministro das Minas e Energias Silas Rondeau, devidamente indiciado por corrupção e como prêmio de consolação faz parte do Conselho de Administração da Petrobras e o atual Edison Lobão, o que arranjou uma “boquinha” na Secretaria de Geologia para o namorado da neta do senador José Sarney (PMDB-AP) cujo poder conduziu ambos ao ministério já que integram a mesma quadrilha.


A GME4 cobre uma área de, aproximadamente, de quatro milhões de hectares (a área de pesquisa da GME4 é maior do que o Estado de Sergipe) e tal extensão, casualmente, contém uma riqueza incalculável em manganês, ouro, alumínio, fosfato, ferro, níquel, bauxita, nióbio (usado em ligas de aço para a produção de condutores de fluídos) e diamante. O paradoxo é que o esquema para dilapidar nossas riquezas conta com a adesão dos mesmos homens que são eleitos para protegê-las. Foi divulgado pela empresa que uma de suas subsidiárias (PI4) havia “descoberto” depósitos de ferro nas divisas de dos Estados do Piauí, Bahia e Pernambuco que podem conter um bilhão de toneladas e, segundo o site Mining, está sendo oferecida nas praças de Londres, Nova Iorque e Xangai avaliadas em US$ 2,4 bilhões. Foram dimensionadas também reservas de mármore, amianto, crisotila (conhecido como amianto branco, menos perigoso), opala, diamante, argila, calcário, ardósia, níquel, talco (utilizado em obras de arte – pedra de sabão – isolamento térmico e elétrico, etc.) e vermiculita (utilizado como isolante térmico, acústico e na confecção de tijolos leves). Minerais que podem melhorar substancialmente a qualidade de vida de inúmeros brasileiros promovendo desenvolvimento de região tão abandonada pelo Poder Público e está entregue a quadrilhas de malfeitores. A sociedade precisa estar atenta e participar ativamente na defesa dos interesses da nação para impedir este entreguismo, este roubo, essa safadeza.


CELSO BOTELHO

27.07.2009