Vi um “distinto” senador da República afirmar no parlamento que todos os governos temiam pela instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito ou vulgarmente CPIs. Hei de concordar de fora a fora, mesmo porque nenhum governo jamais foi caracterizado por sua lisura, total observância às leis e comportamento ético (se me apontarem um sou capaz de pagar um doce). Não compreendo muito bem o alvoroço do governo em procurar barrar a CPI da Petrobrás nem que tenha que remover o diabo do inferno. Esse pânico nas hostes governamentais me parece injustificado por vários motivos. A saber: os integrantes da CPI, seja quem for, são senadores suspeitos desde jogar papel de bala no chão, passando pelas nomeações de parentes e aderentes e outros delitos de maior envergadura que são do domínio público. Portanto, são perfeitamente suscetíveis aos afagos do Palácio do Planalto. O presidente do Senado Federal mantém-se no cargo com o aval do presidente da República, e eu que tinha em conta que os poderes eram independentes. Devo considerar o Senado Federal como um anexo do Palácio do Planalto ou, eis o mais lamentável, seu quintal? De mais a mais CPI tem o mau hábito de não apresentar resultado algum. O máximo que pode acontecer é um desconforto e, evidentemente, um desgaste político às vésperas de uma eleição. Veja o caso do Mensalão: foram denunciados quarenta peraltas e, segundo as previsões mais otimistas, qualquer possível punição há de acontecer semanas depois do Juízo Final, nem mais nem menos. Assim sendo, o governo perde valioso tempo em criar obstáculos à implantação deste instrumento completamente destituído de alguma utilidade. Opa! Lembrei-me agora que as CPIs servem de palanque eletrônico gratuito e fora do período de campanha onde se exercita a velha e corriqueira demagogia de nossos politiqueiros.
Que a Petrobrás é e tem uma caixa preta, uma branca, uma azul e todas as combinações de cores que se possa imaginar um é tão sabido quanto à existência de geleiras nos pólos do globo. O que pode se constituir em novidade são as fórmulas, os instrumentos e os mecanismos cada vez mais sofisticados para dilapidá-la. Lesar esta estatal tem sido uma constante ao longo dos anos. O aparelhamento na Petrobrás não foi invenção do governo petista, se bem que usa e abusa desta velhacaria. Assisti o senador Artur Virgílio (PSDB-AM) comunicar que amanhã (dia 09.07.2009) irá protocolar um mandato de segurança com pedido de liminar no Supremo Tribunal Federal para garantir a instalação da tal CPI. O poder Legislativo recorre à Justiça para assegurar uma prerrogativa sua. É caótico. Falta autoridade. Uma Casa constituída para ser o ponto de equilíbrio da federação está desautorizada pelo rolo compressor do Palácio do Planalto que, sempre se aproveitou das fraquezas, fisiologismos, corporativismo e demais bandalhas senatoriais e partidárias ganhando maior robustez e eficácia em remover os renitentes (ou alguns que assim se mostram). É... A República brasileira para ficar pior vai precisar melhorar muito.
A CPI da Petrobrás poderá trazer um benefício ao jurássico presidente do Senado Federal, além da trégua que a pendenga “instala - não - instala” lhe proporciona, inevitavelmente as atenções serão dirigidas para o circo que irão armar onde serão exibidos novos artistas com números inéditos (ou semi-inéditos) de truques de como sumir com o dinheiro público sem fazer força e com a conivência de ilustres figuras do Estado. Então o pai do falecido Cruzado ficará mais feliz do que pinto no lixo. O presidente Lula, O Ignorante, mais sossegado com relação ao apoio (submissão, subserviência ou escambo, tanto faz) do saco de gatos chamado PMDB, tanto para sua “governabilidade” quanto para sua “queridinha” pré-candidata Dona Dilma Roussef, agora também na versão mestre e doutora de araque. Os senadores poderão transitar livremente sem serem atormentados pela imprensa. Os “funcionários” deixarão de ser alvos fáceis e a “paz” voltará a reinar na Ilha da Fantasia. Ah, ia esquecendo: e a sociedade? Bom, a sociedade... A sociedade... Até quando ficará apática? Até quando irá permitir o desmantelamento do Estado? Quando irá conscientizar-se de que sua intervenção será crucial para corrigir os rumos assegurando uma caminhada menos penosa? Não será, certamente, no dia que a galinha criar dentes e sim quando nos reconhecermos plenamente como cidadãos e não meros espectadores de um jogo de marcas marcadas.
CELSO BOTELHO
09.07.2009