domingo, 12 de julho de 2009

SARNEYLÂNDIA


Não era só o saudoso Chacrinha (José Abelardo Barbosa de Medeiros, 1916-1988) que era “um menino levado da breca”, como dizia na canção de abertura de seus programas. Expressão que significava a galhofa, o peralta, o maroto. Chacrinha nos entretinha, divertia e ensinava com sua irreverência. O senador José Sarney (PMDB-AP) também é “um menino levado da breca”, porém, em outro sentido. O presidente do Senado Federal nos afronta, agride e humilha. São os opostos. Chacrinha era doce e Sarney é o fel. O presidente da República, arrendatário do Congresso Nacional, sem a nossa permissão, mas com o nosso dinheiro, já bateu o pé e fez beiçinho para os senadores renitentes: quer por que quer que salvem o cascudo senador-amigo-aliado-cúmplice das trapalhadas de que o acusam. De acordo com o que tenho notícia sobre as (más) atividades do senador se me fosse pedido eu o aconselharia imediatamente trancar-se no presídio mais próximo evitando assim um gasto ao Erário estupendo com toda a parafernália legal. Caso o nosso Judiciário fosse realmente um poder independente e, portanto, emissor de decisões autônomas amparadas pela legislação não seria um desperdício de dinheiro. Essa pendenga vai se arrastar por muito tempo na certeza de que a poeira assente. O passar do tempo é um grande aliado para o “distinto” senador que hoje conta com setenta e nove anos. Este artifício (o de deixar o tempo passar e não o de morrer) é pratica corriqueira entre os politiqueiros brasileiros.


O Presidente Lula, O Ignorante, e o mercenário PMDB estão unidos em interesses diferentes. O primeiro inventou a Dona Dilma Roussef como pré-candidata a candidata à guardiã de sua cadeira no próximo ano e sem o “apoio” desta encantadora agremiação política seu invento está irremediavelmente condenado, apesar de que sua funcionabilidade seja zero desde o início. Outro detalhe é que Sua Excelência sabe que sem aquele amontoado de vendilhões a tal da “governabilidade” estará seriamente prejudicada. Podemos dizer que num embate desses o maior partido do Brasil está com a faca, o queijo e a goiabada cascão nas mãos. Muitos senadores terão que passar pelo crivo das urnas em 2010 e não considero nada salutar indisporem-se com a sociedade empurrando a Sarneylândia com a barriga ou absolvendo seu fundador e comandante. Não estamos mais nas décadas de 30 ou 40 onde os coronéis, e Sarney é o último representante desta arcaica maneira de se fazer política, decidiam as eleições no joelho. O projeto político pessoal do presidente da República assumiu prioridade absoluta sobre todas as outras questões de interesse da nação. Nós devemos e precisamos repudiar este comportamento como sendo uma atitude – ai sim a palavra cai como uma luva, “seu” Inácio – impatriótica, desleal, arrogante e mesquinha.


A Sarneylândia é um fato consumado e é imperativo que se investigue, apurem-se as responsabilidades e puna-se os culpados, qualquer coisa menor do que isto só irá corroborar para reafirmamos a falência das Instituições e a torpeza daqueles que a integram. A impunidade não pode ser a marca registrada desta nação sob pena de que se dilua como tal. É preciso dizer que a Sarneylândia não é o primeiro e único parque de diversões com o dinheiro público, existe outro mais recente e mais ousado em avançar sobre os cofres públicos: é a Lulalândia. Não são concorrentes, fazem parte do mesmo conglomerado de patifarias.


CELSO BOTELHO

12.07.2009