Hoje acordei mais cedo do que o costume. Tivera uma ótima noite de sono, estava bem disposto. Espreguiçei-me, levantei-me e abri as cortinas: que dia bonito, brilhante, perfeito. O café me pareceu mais delicioso que nunca. Abri o jornal. Foi o bastante. O tempo fechara. Nuvens escuras, trovadas e chuvas torrenciais. Uma nova traquinagem foi atribuída ao “digníssimo” presidente do Senado Federal & Associados. Desta feita envolvendo a Petrobras, alvo de mais uma CPI, e a Fundação José Sarney. O noticiário referia-se com minúcias as bandalheiras praticadas de um lado e de outro. Não foi coisa de pouca monta não. Tratam-se de R$ 1,3 mil liberados e gastos à moda cacete, isto é, de qualquer maneira, ou melhor, favorecendo integrantes e simpatizantes do feudo sarnezista. Para inicio de conversa porque uma fundação que se propõem a “preservar” a memória de um ex-presidente deva receber recursos de empresa estatal? E, afinal, sua passagem pela presidência não foi tão memorável assim, deixou “marcas indeléveis” na nação brasileira (como gosta de fazer constar em suas petições um advogado amigo meu). Existem oitocentos trilhões de projetos muito mais importantes, sérios e concebidos por pessoas comprometidas de fato com a cultura que pleiteiam patrocínios de acordo com a Lei Rouanet e nem fazendo despacho no cemitério à meia-noite são atendidos. Porém, em se tratando de Sarney a estatal não só “convidou” a tal Fundação como também se apressou em prover seus cofres numa solenidade que, segunda consta, o próprio senador estava presente. E, segundo este senhor feudal, não foi ele que inventou a instituição ou sequer a administra, a exemplo do Senado Federal, não tem responsabilidade alguma sobre as safadezas hoje publicadas na imprensa. Ora vejam, que criatura mais cândida esse Jose Sarney!
Será que o presidente Lula, O Ignorante, agora elevado à categoria de padrinho de raposa velha, sairá prontamente em defesa deste cidadão que, segundo ele, “não é uma pessoa comum”? Ou irá sugerir que o afilhado “peça desculpas” e o caso está encerrado? Dirá que estas denuncias fazem parte de uma ação subversiva como rotulou os senadores que propuseram e defendem uma CPI da Petrobras? Das duas marque uma alternativa: 1) O presidente da República não conhece o significado da palavra subversão e 2) Lula está com problemas em relembrar alguns fatos. Caso tenha assinalado as duas alternativas podemos considerar a resposta correta. De acordo com o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa O Globo, subversão é ato ou efeito de subverter, insurreição, rebeldia, revolta, ruína, destruição. Então fica descartada a possibilidade de classificar as denúncias ou a própria CPI da Petrobrás de subversivas, mesmo levando-se em conta todas as sacanagens que esta, sem dúvida, produzirá por atacado. Talvez não se recorde nosso presidente que aos olhos da ditadura militar (1964-1985) Sua Excelência era tido e havido como um subversivo e, sendo assim, o enquadraram e encarceraram para esfriar os miolos. Ai sim os milicos podiam usar a palavra subversão, pois o sindicalista Lula subvertia a ordem por eles estabelecida com a baioneta sempre apontada para os nossos peitos. Na matéria de ontem cheguei a dizer que a CPI da Petrobrás beneficiaria o senador José Sarney (PMDB-AP) porque a tendência é sobrepor-se à crise do Senado Federal e, desta maneira, poderia ser bem menos aporrinhado. Ledo engano. Parece que o único que está serelepe e pimpão da vida é o presidente da República que absolutamente nada o atinge, mesmo que se sente num formigueiro. Exceto, é claro, a impossibilidade atual de exercer um terceiro mandato.
Que moral este Senado Federal pode pretender ter para investigar o que quer que seja? A credibilidade da Instituição está mais por baixo que barriga de cobra. Por mais discursos inflamados que brotem na tribuna em favor da moralização, da necessidade de uma reestruturação plena da Casa, por mais objetivas, coerentes e eficazes que sejam as propostas, etc. a sociedade brasileira está tão humilhada que, justificadamente, não apostaria um tostão furado na sinceridade, honestidade e aplicabilidade por parte dos senhores senadores. CPI existe para não produzir resultado algum (exceto o de colocar na mídia os demagogos e outros caronas). Como a Instituição pode arvorar-se no direito de apurar irregularidades seja na carrocinha de pipoca do parque de diversões ou na Petrobras se seus membros encontram-se sob suspeição? Interessante que recentemente falou-se ali em formar uma “comissão de notáveis”, mas, pergunto: notáveis em que? A julgar pelos atos e fatos sabemos responder com exemplar exatidão.
CELSO BOTELHO
10.07.2009
