sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O DELE É ROXO. E O NOSSO?


O nosso certamente já arroxeou tudo que poderia e enegreceu. O ex-caçador de marajás, ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor (PTB-AL) venceu uma eleição que é o sonho de todo político: como único candidato. A Academia Alagoana de Letras elegeu o ex-Indiana Jones tupiniquim como imortal, mas, afinal, quem é que liga para isso? Eu e milhares de outros. Não podemos dizer que foi uma afronta às letras nacionais. Foi mais do que isso: foi um profundo desprezo, um achincalhe, um chiste. Demonstração cabal de poder político e econômico por parte do eleito e subserviência total dos eleitores. A produção literária do senador apresentada à Instituição resumia-se em artigos e coletâneas de discursos os quais, por sinal, não oferecerem garantia alguma sobre a anunciada autoria. Segundo D. Fernando Iório, presidente da AAL, o ex-presidente tem o “enorme dom da síntese” (ué, o troço mudou de nome!). Deixa ver se entendi direitinho: de acordo com o Dicionário Aurélio a palavra significa “operação mental que procede do simples para o complexo”. Não me parece ser uma característica facilmente encontrada no político Fernando Collor de Mello (pelo menos o “Esquema PC Farias” não obedecia este conceito) e, sendo assim, é a justificativa mais estapafúrdia que poderia dar. Porém, venhamos e convenhamos, não é só no belo Estado de Alagoas que ocorrem estas distorções cavalares. Na Academia Brasileira de Letras a coisa não é diferente: elegem “imortais” utilizando-se de muitos critérios, exceto o do mérito literário. Bem, uma vez que se pode ser jornalista sem formação acadêmica também acreditam que possam imortalizar quem jamais escreveu coisa alguma ou, quando muito, de suspeito valor. Dito isso, podemos praticamente assegurar que o espírito do velho, bom e inimitável Machado de Assis (1839-1908) está a revolver-se em seu túmulo furioso.


Caso seja para anarquizar às letras podemos sugerir que se inscreva o presidente Lula, O Ignorante, para disputar uma cadeira, com exceção daquela que já ocupa, é óbvio. Poderia até escolher o Estado: em Pernambuco, onde nasceu; em São Paulo, onde prosperou; em Brasília, de onde governa ou Rio de Janeiro onde se encontra a ABL. Provavelmente também deva ter alguns artigos publicados de autoria a ele atribuída. Em relação a discursos podemos supor que seu acervo seja mais numeroso que do senador Collor tendo em vista que está prestes a concluir o segundo mandato. E, juntando a isso, podemos anexar as falas de improviso que se constituem em verdadeiras pérolas da ignorância, infantilidade, arrogância, prepotência, demonstrações inequívocas de preconceitos e por ai a fora. Então podemos afirmar que a “produção literária” do nosso presidente é muito mais profícua. E, de mais a mais, um abelhudo a mais ou um a menos não irá impedir ou arrefecer os ânimos daqueles que, de fato, contribuem significativamente com suas obras para o refinamento da cultura.


Tem tanta gente neste país investida em funções e cargos para os quais jamais se prepararam ou sequer possuem a mínima aptidão para exercê-los e são da maior relevância para a vida dos cidadãos que, sinceramente, acaba por reduzir a importância de uma eleição dessas. Nosso país está submetido, desde seus primórdios, aos mandos e desmandos dos poderosos e, desgraçadamente, a subserviência aos seus interesses e caprichos, mas isto é uma história bem mais longa e complexa. De qualquer maneira fica registrado nosso protesto a essa “eleição” infame.


CELSO BOTELHO

04.09.2009