domingo, 28 de agosto de 2011

DIA DO SOLDADO






Comemoramos no dia 25 de agosto o Dia do Soldado e acreditamos que seja oportuno para falarmos um pouco sobre estes anônimos brasileiros que foram chamados a participar da Segunda Guerra Mundial. São muitas as perspectivas históricas sobre o conflito existentes e ainda haverá outras tantas ou mais no futuro, mesmo porque a História não é estática e cada geração dará uma nova interpretação para os fatos, novas descobertas a cerca deles serão feitas e os conceitos hão de receber novas roupagens. Nossa intenção não é endossar nem refutar as explicações propostas pelos mais diversos historiadores. Pensamos que seja mais oportuno resgatar o sentimento de pertença de uma geração e do qual tanto necessitamos nos tempos atuais. Certamente a ausência deste sentimento fomenta a indiferença, a omissão e o descaso que atinge a maioria dos brasileiros de um modo geral e nossos políticos de maneira muito particular. Nossos jovens estão cada vez mais desiludidos com os rumos que nosso país vem tomando, mas só eles podem (e devem) apontar para as mudanças e realmente efetivá-las. Porém, caso não se cultive verdadeiramente o amor à pátria qualquer transformação alcançada tenderá a repetir os vícios que elas repudiaram. O amor à pátria não se traduz somente nos embates internacionais de futebol ou qualquer outro esporte como notoriamente constatamos. O amor à pátria estende-se muito além, indo dos gestos e atitudes mais comuns até o sacrifício pessoal de abrir mão da vida em nome da liberdade. É pela liberdade que a humanidade travou e trava as suas guerras e revoluções. Em nome da liberdade vivemos e morremos. Este conceito abstrato, porém de imensa significância é que nos move através dos tempos. O amor à pátria que determina que nação desejamos ser: soberana e justa ou subserviente e injusta. No Dia do Soldado devemos parar e refletir sobre esses homens que no vigor de sua juventude embarcaram para terras estranhas dispostos a morrer pela pátria, contribuindo para a vitória da liberdade, alicerçando sua conquista em seu próprio país que, naquela ocasião, vivia sob a ditadura do Estado Novo (1937-1945). Devemos aqueles jovens muito mais do a conquista de  Massarosa, Camaiore, Monte Prano, Monte Acuto, San Quirico d'Orcia, Gallicano, Barga, Monte Castello, La Serra, Castelnuovo, Soprassasso, Montese, Paravento, Zocca, Marano sul Panaro, Collecchio e Fornovo di Taro. Devemos aos 25.334 homens que integravam a FEB (Força Expedicionária Brasileira) que adotou o lema “A cobra está fumando” por que, antes da força ser constituída, corria país a fora que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil tomar parte no conflito.

Até 1942 o Brasil manteve-se neutro até que a ilha de Fernando de Noronha e a costa nordestina foi franqueada para receber instalações militares norte-americanas. Em janeiro deste mesmo ano navios brasileiros da marinha mercante são torpedeados por submarinhos ítalo-alemães em nosso litoral. Podemos dizer que esta ofensiva visava dois propósitos: isolar o Reino Unido impedindo o recebimento de suprimentos vindos das Américas e intimidar o governo de Getúlio Vargas (1882-1954) a manter-se neutro espalhando o boato que tais afundamentos eram de autoria anglo-americana através de seus simpatizantes no Brasil. A população brasileira pedia entrada do país no confronto e em 22 de agosto o Brasil declarou guerra a Alemanha nazista e a Itália fascista. A 2 de julho de 1944 teve início o transporte do primeiro escalão da Força Expedicionária Brasileira, sob o comando do general João Batista Mascarenhas de Morais, com destino a Nápoles.

O número de morto diretamente em combate foi de cerca de quatrocentos e cinquenta praças e treze oficiais, além de oito oficiais-pilotos da Força Aérea Brasileira. A divisão brasileira ainda teve cerca de duas mil mortes devido a ferimentos de combate e mais de doze mil baixas em campanha por mutilação ou outras diversas causas que os incapacitaram para a continuidade no combate. Tendo assim, somadas as substituições, turnos e rodízios, dos cerca de vinte e cinco mil homens enviados, mais de vinte e dois mil participaram das ações. O que, incluso mortos e incapacitados, deu uma média de 1,7 homens usados para cada posto de combate, um grau de aproveitamento apreciável se comparado à outras divisões que estiveram o mesmo tempo em campanha em condições semelhantes. Ao final da campanha, a FEB havia aprisionado mais de vinte mil soldados inimigos, quatorze mil, setecentos e setenta e nove só em Fornovo di Taro, oitenta canhões, mil e quinhentas viaturas e quatro mil cavalos. Em 1960, as cinzas dos brasileiros mortos na campanha da Itália foram transladadas de Pistoia para o Brasil, e hoje jazem no monumento aos mortos que foi erguido no Aterro do Flamengo, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, em homenagem e lembrança aos sacrifícios dos mesmos.

A FAB, com o 1º grupo de caça, teve abatidos dezesseis aviões, com perda de oito aviadores. Apesar de ter voado apenas 5% do total das missões efetuadas por todos os esquadrões sob o XXII comando aéreo tático aliado, entre novembro de 1944 e abril de 1945, neste período dentro desse total, foi responsável pela destruição de 85% dos depósitos de munição, 36% dos depósitos de combustível, 15% dos veículos motorizados (caminhões, tanques e locomotivas) inimigos, entre outras tarefas. Assim, por seu desempenho teve honrosa citação do Congresso dos Estados Unidos.

Todos aqueles que estiveram envolvidos no esforço de guerra merecem nosso respeito, admiração e carinho. Alguns deles são conhecidos de toda a população brasileira como Celso Furtado (1920-2004), economista e ministro do Planejamento; Clarisse Lispector (1920-1977) que atuou como voluntária junto ao corpo de enfermeiras da FEB; Osvaldo Cordeiro de Farias (1901-1981), governador de Pernambuco entre 1955 e 1959; Jacob Gorender (1923-) escritor, militante político e um dos fundadores do PCBR; Antônio Matogrosso Pereira, militar de carreira do exército e pai do cantor e showman Ney Matogrosso; José Perácio (1917-1977), jogador de futebol carioca, nacionalmente famoso nos anos de 1940; Salomão Malina (1922-2002), presidente nacional do PCB entre 1987 e 2001 e muitos outros.

A despeito de todos os entraves com os quais nos deparamos precisamos cultivar o amor à pátria, desenvolvermos cada vez mais o sentimento de pertencimento. Este é uma condição imprescindível para concretizarmos as mudanças de que tanto carecemos. Este sentimento nos dará a força necessária para reduzirmos e até eliminarmos a profunda desigualdade social existente em nosso país, porque ao passo que nos tornamos mais patriotas o egoísmo e a mesquinharia vão se dissipando. Não podemos legar as gerações futuras uma nação carcomida pela ambição pessoal. Um país derrotado e aniquilado por uma ganância sem limites. É momento para refletirmos sobre nosso amor à pátria e avaliar o quanto estamos permitindo que seja destruída.

CELSO BOTELHOO
 25.07.2011