sábado, 1 de março de 2008

CONCHAVOS IMEDIATOS DO TERCEIROS MANDATO

O apego pelo poder nos homens é impressionante. A História nos demonstra claramente que golpes e revoluções foram levados a cabo com discursos semelhantes e práticas completamente diversas. Os motivos para justificá-las eram (e são), invariavelmente, o restabelecimento da democracia, o fim da desobediência civil, a desordem administrativa, a corrupção entranhada por todo tecido social, o fim da opressão, espoliação, tortura e flagelos. A recuperação econômico-financeira do país, o sistema político, a forma de governo, desavenças étnicas, religiosas, culturais, etc.

Joseph Stalin (1878-1953) prometia livrar a sociedade russa da monarquia absolutista e decadente do Czar Nicolau II logo assassinado juntamente com toda sua família. Apoderou-se da máquina burocrática concebendo um aparelho repressor eficiente para todos os seus opositores eliminando até antigo “cumpanheiros” revolucionários do proletariado. Calcula-se mais de cinco milhões de prisões e um número superior a quinhentos mil mortos. Benito Mussolini (1883-1945) era um exímio orador e eficiente na utilização da propaganda política. Adolf Hitler (1889-1945) proclamava a superioridade da raça alemã aproveitando a disposição do povo à adesão de uma política racista e anti-semita. Perseguiu e exterminou diversos grupos como os eslavos, poloneses, ciganos, negros, homossexuais, deficientes físicos e mentais promovendo o holocausto. Estima-se que a Segunda Guerra Mundial tenha ceifado de cinqüenta a sessenta milhões de vidas. O Aiatolá Khomeini (1900-1989) ainda no exílio dirige a revolução islâmica e, em 1979, desembarca no país anulando o regime imperial do corrupto Xá Reza Phalevi que tinha a intenção de transformar o país numa potência econômica e militar e, para levar isto a efeito subordinava-se aos interesses ocidentais e lançava mão do despotismo contra os dissidentes. Saddam Hussein (1937-2006), não possuía qualquer ideologia, sua demagogia para o povo iraquiano baseava-se no enorme nacionalismo árabe, no islã e no sentimento patriótico. Durante sua ditadura foram executados centenas de opositores e mais de cinco mil curdos por intoxicação vitimados por bombas de gás “Tabu” lançadas pela força aérea. Na longa, sangrenta e onerosa guerra contra o Irã, e com o apoio dos EUA, mais de um milhão de pessoas morreram. Porfírio Díaz (1830-1915), no México, governou o país de 1876 a 1911 com a democracia devidamente suprimida e os dissidentes tratados com a brutalidade inerente a tais regimes. E não ficou nisso. O PRI (Partido Revolucionário Institucional) empoleirou-se no poder de 1929 a 2000. Era a ditadura partidária. Em Cuba, Fidel Castro (1926- ) lutava contra um Estado corrupto e subserviente aos EUA na figura de Fulgêncio Batista e implantou uma violenta ditadura por quase meio século suprimindo do povo direitos inalienáveis do ser humano.Este país chegou ao recorde na America Latina em número de prisioneiros políticos (cerca de vinte mil) e de mortos apenas estimado, Renunciou no mês passado devido estar moribundo.Pois é, os canalhas também envelhecem, deterioram-se fisicamente e morrem. No Brasil, os militares sofrendo da paranóia anticomunista estimulados e financiados pelos EUA, assenhoram-se do poder num golpe que produziu nefastos efeitos sentidos até hoje. Promoveram prisões, cassações, exílio, tortura e morte de inúmeros brasileiros tendo como seu algoz-mor o general Médici (1905-1985). No Chile, o general Augusto Pinochet (1915-2006), sofrendo da mesma moléstia dos militares brasileiros, depôs e assassinou o presidente Salvador Allende implantando uma ditadura que durara dezessete anos. Cerca de cinco mil pessoas foram detidas e “desaparecidas” tal como na Argentina e no Brasil. No Panamá surgiu o déspota Manoel Noriega (1938- ), atualmente cumpre pena de trinta anos nos Estados Unidos por tráfico de cocaína e marijuana. Sua captura em 1989 custou à vida de cerca de três mil panamenhos, na maioria civis. Anastácio Somoza (1896-1956) governou efetivamente a Nicarágua de 1936 até seu assassinato em 1956 e, depois disso, seus dois filhos ainda se mantiveram no poder por mais vinte e três anos. Acumulou imensa fortuna de várias formas indo desde o confisco de terras revendidas a membros de sua família a preços módicos até o recebimento de propinas de jogo, prostíbulos e destiladoras ilegais de álcool. Os cargos militares e no governo eram reservados à família e aos aliados. Os partidos existiam somente em pápeis. No continente africano, na década de 70, precisamente em Uganda, apareceu um ditador sanguinário de 1,90 e 110 kg, boxeador, Idi Amin Dada (1920? -2003) “O Talhante de Kampala (açougueiro) ou “Senhor dos Horrores.” A característica principal desta ditadura era a pratica do genocídio com requintes de crueldade. Trezentas mil pessoas foram assassinadas e a economia do país arruinada. No ano passado, na Venezuela, Hugo Chávez tentou uma manobra cretina de emprestar ares democratas, na forma de consulta popular, a canalhice de permitir que disputasse eleições presidenciais indefinidamente.

Também no ano passado, desta feita em nosso país, foi lançado o balão de ensaio para avaliar as reações da sociedade. Houve muita gritaria de todos os lados e Lula correu para negar que aventasse tal possibilidade. Mentira. Em agosto de 2006, portanto, antes da reeleição, aconteceu uma reunião entre o presidente, juristas e outros bajuladores onde se discutiu as chances de convocar-se uma Assembléia Constituinte exclusiva para tratar da reforma política e, naturalmente, do terceiro mandato. O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) estava com uma proposta para alterar o parágrafo 14 do 5º Artigo da Constituição Federal proporcionando ao chefe um terceiro mandato novinho em folha.A coisa não andou. Agora o mesmo parlamentar a ressuscita. Até o momento o presidente mostra-se, convenientemente, e como sempre, ignorante sobre tal artimanha.

Poderia entender até outros políticos brasileiros se prestarem a dar esse golpe sem, no entanto, aceitar o ato espúrio de nenhum deles sob hipótese alguma. Porém, se tratando do presidente Lula a minha indignação é infinitamente maior e, com certeza, minha fúria mais exacerbada. E isto por diversos motivos sendo o principal sua própria biografia que, diga-se de passagem, ele próprio está desfigurando e permitindo que o façam também. O presidente Figueiredo saiu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto pedindo que o povo o esquecesse. O presidente Itamar Franco foi esquecido sem mesmo ter que pedir. O presidente Fernando Henrique Cardoso pediu que esquecêssemos o que ele havia escrito e o presidente Lula esforçar-se para esquecer suas origens, as agruras por que passou e os discursos que repetiu inúmeras vezes como líder sindical e candidato à presidência da República em cinco ocasiões. A arrogância e a prepotência combatida por ele durante e depois do regime militar foi assimilada por sua personalidade de forma evidente e inconteste. Desconfio que presuma a inexistência do país antes dele e sua extinção caso não seja reconduzido ao cargo. Para esta empreitada conta com incontáveis asseclas, simpatizantes, mercenários de todas as classes e ordens, bajuladores de todos os tons e, o mais importante, o aval de considerável parcela da população entorpecida por sua figura carismática, sua simplicidade no falar, suas metáforas de péssima construção, porém, eficazes. Sua opção pela política paternalista num desejo íntimo de solapar o título de "pai dos pobres" auferido à Vargas em sua nefasta ditadura. Dito isto, o que podemos imaginar que se encontra em pleno funcionamento uma conspiração contra o Estado Democrático de Direito. Não se iludam com as regras legais para alterar a Constituição Federal. No Congresso Nacional, movimentado balcão de negócios, elas podem ser transpostas facilmente tendo-se em conta a ganância incontrolável de seus ardilosos e pífios mercadores.

A lição de 1964 deve ser relembrada pelos mais velhos e repassadas aos mais jovens: a omissão da sociedade, a apatia da qual se favoreceram os interesses políticos e empresariais para manipularem-na, articularem-na e estimularem-na a aderir a uma ruptura institucional para mais tarde dilapidá-la, espinafrá-la e mantê-la algemada e ainda assim impingindo-lhe os piores castigos precisam estar presentes para que qualquer outra tentativa seja de pronto identificada e rechaçada, seja ela ou não investida de suposto manto legal. Se a afeição pelo poder do presidente é tão ferrenha deveria abraçado a carreira eclesiástica, pois, o papado é o único cargo de poder vitalício existente no planeta.

Celso Botelho

29.02.2008