sábado, 5 de novembro de 2011

A REPÚBLICA NA TERRA DOS PAPAGAIOS




BREVISSÍMO RETROSPECTO HISTÓRICO


No próximo dia 15 haverá um feriado para comemorar-se o dia da Proclamação da República em nosso país que, a exemplo dos demais feriados, só se prestam a mais um dia de ócio no calendário. Porém, sejamos coerentes, não há mesmo nada para se comemorar neste dia. Em mais de cem anos de existência seus pressupostos ainda são um sonho para a maioria dos brasileiros. Desde seu primeiro suspiro vem sendo maltratada, pilhada, moldada à imagem e semelhança dos interesses pessoais e corporativos das elites que se sucederam no seu comando. O problema não está nesta forma de organização do Estado e sim nos homens encarregados de gerenciá-la.



A Política, de Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), discutia várias formas de governo. Uma delas, a politeia (traduzida por Cícero, 106 a.C.-43 a.C., como “res publica”), uma forma de governo híbrida, foi considerada por Aristóteles como a forma ideal de governo. A palavra república deriva do latim res publica, "coisa pública”. Antônio Houaiss (1915-1999) registra a entrada da palavra na língua portuguesa no século XV, o conceito de república é comumente confundido com democracia e liberalismo. A origem deste sistema político está na Roma antiga, onde primeiro surgiram instituições como o senado. Os escritores romanos ao se referirem ao Estado e ao governo usavam o termo no sentido de administração do bem público e dos interesses públicos. Nicolau Maquiavel (1469-1527) no seu livro O Príncipe (escrito em 1513 e publicado em 1532) já tinha optado por usar a palavra república para se referir tanto a aristocracias como a democracias. A maioria das repúblicas gregas foi anexada ao Império Macedônio de Alexandre, o Grande (356 a.C-323 a.C.). A República romana expandiu-se, anexando sucessivamente outros estados do Mediterrâneo, alguns deles repúblicas, como Cartago. A república romana acabou por se transformar no Império Romano. São diversas as repúblicas ao longo da História: repúblicas mercantis, protestantes, liberais, socialistas e comunistas, islâmicas. No Brasil, entre os “republicanos” só havia um consenso: todos queriam a republica. Porque de resto poucos concordavam entre si.


O OCASO DA MONARQUIA



A Proclamação da República deveu-se mais ao desgaste do Império brasileiro do que a qualquer movimento republicano. A partir da segunda metade do século XIX com a proibição do tráfico de escravos o capital migrou para investimentos em estradas de ferro, telégrafos, bancos, etc. favorecendo o crescimento da população assalariada. Os centros urbanos passaram a abrigar uma classe média (funcionários públicos, profissionais liberais, jornalistas, comerciantes, artistas, estudantes, etc.) que reivindicava mais liberdade e participação na vida política do país identificada com os ideais republicanos. A Questão Religiosa arranhara profundamente as relações entre o Império e a Igreja Católica. O Vaticano havia consagrado a doutrina do ultramantonismo que postulava a infalibilidade do papa e combatia as idéias e instituições que defendiam a secularização e o anticlericalismo, este era o caso da Maçonaria que, no Brasil, possuía inúmeros clérigos. O Conselho de Ministros apresentou denuncia formal contra os bispos Antonio de Macedo (1830-1891) do Pará e Vital Maria (1844-1878), do Piauí que haviam atacado os clérigos maçons chegando mesmo a não reconhecer a autoridade do imperador. Ambos foram condenados a quatro anos de prisão e o impasse só foi resolvido com o acordo entre o imperador D. Pedro II (1825-1891) e o papa Pio IX (1792-1878) no qual o primeiro concedeu anistia aos presos e o segundo suspendeu as punições as irmandades do Pará e Piauí. E, por falar em questão houve também a questão militar provocada pelas declarações do tenente-coronel Sena Madureira (1836-1889) opondo-se a obrigação de contribuição ao montepio dos militares, entre outros episódios. Os militares sobreviviam, depois de 1850, com baixíssima remuneração, de tal modo que era fato comum que muitos deles possuíssem mais dois outros empregos para que pudessem ao menos pagar suas contas (o famoso “bico” tão combatido, porém nada se faz para melhorar a vida dos policiais, quer financeiramente, quer materialmente para um eficáz desempenho de suas funções). As promoções dependiam mais de um bom contato no governo imperial do que do mérito pessoal e profissional do candidato (quer seja, o apadrinhamento, o famoso Q.I., ‘’Quem Indica”). No dia 11 de novembro personalidades como Rui Brabosa (1849-1923), Benjamin Constant (1836-1891), Aristides Lobo (1838-1896) e Quintino Bocaiúva (1836-1912) tentaram convencer o marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), monarquista, a liderar o movimento contra a monarquia. À princípio o velho marechal relutou, mas acabou concordando em, pelo menos, derrubar o gabinete do Visconde de Ouro Preto (1836-1912). Nas primeiras horas do dia 15 de novembro, enfermo, dirigiu-se ao ministério da Guerra depondo todos e proclamando a República.



"A monarquia não foi derrubada pelos republicanos, que não os havia arregimentado em número suficiente para arrostar um único batalhão fiel às instituições. Caiu por si, porque não tinha assento no meio americano: derruiu-se ao simples embate da crítica, tal como desabam, muitas vezes, ao sopro de brisas ligeiras, pesados troncos cujas raízes, não encontrando mais possibilidades de se estenderem no solo, chegaram ao último período da decomposição que cedo invade as plantas cultivadas em terreno impróprio." (BRASIL, Assis, 1908).



A PRIMEIRA REPÚBLICA




Começa ai a nossa tradição de ignorar, remendar e rasgar a Constituição Federal. Deodoro da Fonseca eleito indiretamente pelo Congresso Nacional (eleição indireta é uma tara dos militares, mas não sua exclusividade) governava mais como se um imperador fosse e a primeira Revolta da Armada (1891) e sua falta de habilidade política e formação democrática para dialogar com o Congresso Nacional fechando-o foi sua ruína com apenas nove meses de “eleito”. Outro alagoano (meio carioca) também presidente, desta feita eleito democraticamente, também se mostrou inábil e avesso ao diálogo com o Congresso Nacional despertando um ódio visceral em aliados e opositores que não pouparam seus esforços para apear-lhe do poder. Dialogar com o Congresso Nacional atualmente só tem um sentido: lotear o governo. Tai a atual presidente sendo sistematicamente pressionada para preencher os cargos no segundo escalão. Seu sucessor, Floriano Peixoto (1839-1895), ignorou o Artigo 42 da Constituição (convocar novas eleições, pois o titular não completara 24 meses no cargo). Nova Revolta da Armada (1893) exigindo o cumprimento da Carta e contestações de toda ordem, porém o marechal não arredou o pé e completou o mandato. Prudente de Moraes (1841-1902) foi o primeiro presidente do Brasil a ser eleito pelo voto direto e civil (é sempre bom lembrar que o voto era direito só de alfabetizados, analfabetos e mulheres não possuíam este direito e as eleições eram fraudadas de todas as maneiras possíveis) sob sua presidência que Canudos (1896-1897) foi massacrado pelo Exército Brasileiro. Já naquele tempo vice-presidente era um calo desgraçado. Tendo que se submeter a uma cirurgia seu vice-presidente, Manoel Vitorino (1853-1902), assumiu e imediatamente demitiu todos os ministros e transferiu a sede do governo do Palácio Itamaraty para o Palácio do Catete. Prudente de Moraes simboliza a ascensão da oligarquia cafeeira à presidência da República. Campos Sales (1841-1913) ou, como ficou conhecido na ocasião, “Campos Selos” por causa do imposto do Selo (o comércio do Rio de Janeiro reage e há idéias de greve entre os cocheiros, mas Michel Temer (1940-), O Cocheiro de Vampiro, royalties para o finado senador ACM, ainda não havia nascido e, portanto, não podemos acusá-lo de nada). Campos Selos, isto é, Sales estabeleceu a Política dos Governadores ou a Política do Café com Leite (São Paulo e Minas) se revezando na presidência até que Washington Luiz (1869-1957) decide roer a corda e indicar outro paulista à sua sucessão. Campos Sales saiu vaiado e apedrejado do Palácio do Catete e isso me faz recordar que o ex-presidente José Sarney (1931-) quase recebeu o mesmo tratamento, sua sorte foi que a capital era em Brasília, longe de tudo e de todos. Para não dizer que não reconheço méritos este presidente restaurou o crédito da República com o Imposto do Consumo de 1898, por que será que o imposto sempre é a salvação da lavoura, da indústria e do comércio e do governo, exceto para a salvação do povo?



Rodrigues Alves (1848-1919) promoveu uma reforma urbana no Rio de Janeiro e enfrentou a Revolta da Vacina (1904). O centro da cidade estava repleto de cortiços e era conhecida como o túmulo dos estrangeiros, pois estava infestada de doenças. Hoje, a despeito de todo progresso, o raio do mosquito Aedes Egypt atormenta os cariocas e os turistas. O descaso das autoridades sanitárias é flagrante que doenças como a tuberculose ainda ceifam milhares de vidas no Brasil. O sucesso de seu governo (do Rodrigues Alves, é claro) está ligado ao auge do ciclo da borracha. Após Rodrigues Alves apenas três paulistas ocuparam a presidência da República: por alguns dias apenas Ranieri Mazzilli (1910-1975), O Quebra-Galho; Ulisses Guimarães (1916-1992), O Senhor Diretas-Já e Michel Temer, O Cocheiro de Vampiro.



Afonso Pena (1847-1909) foi eleito com quase a maioria dos votos. Rui Barbosa (1849-1923), neste pleito, obteve apenas 207 votos, pior para o Brasil. Os ministérios foram ocupados por políticos jovens o que valeu o apelido de Jardim de Infância, pois, segundo o presidente, “... Os ministros executarão meu pensamento. Quem faz a política sou eu.” Vejam que o autoritarismo e a personificação não são elementos novos na política brasileira é herança do Brasil colônia. A mentalidade oligárquica saia por todos os poros. Afonso Pena incentivou à construção de ferrovias. Pela primeira vez o sul do país estava ligado à região sudeste o que, mais tarde, transportaria Getúlio Vargas (1882-1954) até o Rio de Janeiro para apoderar-se da presidência. Este governo (o do Pena e não o da Dilma) incentivou muito a imigração, pois, seu slogan era “governar é povoar”, diferentemente de certo presidente que entendia que governar é conceder bolsa-familia, lotear o governo, ser permissivo com os corruptos e agradar banqueiros e empresários. Mas esta é outra história que falaremos adiante.



Outro vice é alçado ao poder com a morte de Afonso Pena: Nilo Peçanha (1867-1924). No seu governo foi criado o ministério da Agricultura, Comércio e Indústria; o Serviço de Proteção ao Índio e introduzidas as escolas técnicas no país, as quais ainda há um número insuficiente e que são tão necessárias quanto o ensino universitário. As oligarquias estavam em conflito. Minas Gerais apoiou Hermes da Fonseca (1855-1923) e São Paulo Rui Barbosa que, mesmo com a Campanha Civilista não conseguiu eleger-se, pior mais uma vez para o Brasil. Preterir um Rui Barbosa favorecendo um marechal? Isso é coisa de louco. Hermes da Fonseca que, por sinal, é sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, logo de cara enfrentou a Revolta da Chibata em novembro de 1910, depois um motim no batalhão dos fuzileiros navais ordenando um bombardeio aos portos e decretando o estado de sítio. Mais de 1200 marinheiros foram expulsos e centenas mortos. A seguir veio a Guerra do Contestado (1912-1916) que enolvia a disputa de terras entre Paraná e Santa Catarina e que não seria debelada até o fim de seu governo. Foi no seu governo que se criou a faixa presidencial (Decreto 2.299/1910). O ex-presidente Lula (1945-) mandou confeccionar uma faixa presidencial onde o brasão que simboliza as Armas Nacionais foi bordado, a mão, com fios de ouro de 18k mesmo antes de ser reeleito que custou a bagatela de R$ 38 mil. Hermes da Fonseca e o marechal Gaspar Dutra (1883-1974) são os únicos militares eleitos pelo voto numa eleição direta.



Venceslau Brás (1868-1966) foi eleito presidente em 1 de março de 1914, obtendo 532.107 votos contra 47.782 votos dados a Rui Barbosa, pela terceira vez: pior para o Brasil. Herdou do governo anterior a Guerra do Contestado que conseguiu debelar definindo os atuais limites entre Paraná e Santa Catarina. Enfrentou também diversas manifestações militares, entre elas a Revolta dos Sargentos (1915), que envolvia suboficiais e sargentos. O torpedeamento de navios brasileiros, em 1917, por submarinos alemães levou o Brasil a entrar na Primeira Guerra Mundial. O seu sucessor seria Rodrigues Alves para um segundo mandato, porém faleceu e mais uma vez o vice é chamado para assumir (a sina dos vice-presidentes brasileiros é essa, peço ao Criador que não se repita, pelo menos enquanto o Michel Temer estiver em Brasília assombrando-nos). Delfim Moreira (1868-1920), o esquizofrênico, teve um curto mandato (15 de novembro de 1918 a 28 de julho de 1919) ficou conhecido como regência republicana, pois na prática quem tomava as decisões era o ministro Afrânio de Melo Franco (1870-1943) enquanto ele assinava alegremente. Numa nova eleição chega ao poder Epitácio Pessoa (1865-1942), representante dos cafeicultores. O governo de Epitácio Pessoa foi marcado por inúmeras agitações sociais, principalmente na área trabalhista (o operariado brasileiro constituia-se em sua maior parte de imigrantes, responsáveis pela introdução no país de novas ideologias políticas, como o anarquismo e o socialismo), por rebeliões militares e pelo aprofundamento das divisões políticas entre as oligarquias dominantes. Essas crises de origem política e social prenunciaram a desintegração da República oligárquica. O governo primava por atender aos interesses das oligarquias agrárias, especialmente os cafeicultores, não concedendo aumentos salariais e não atirando-se ao controle do custo de vida e da inflação, extamente como nos dias atuais: o governo responde mais do que afirmativamente para os banqueiros, empresários e empreiteiros enquanto que o trabalhador vai ao supermercado e cada dia que passa precisa de mais reais para comprar a mesma coisa.



A crise mais grave do governo de Epitácio Pessoa emergiu com a revolta tenentista do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, em julho de 1922. Ela começou quando um grupo de tenentes e capitães do Exército se insurgiram contra o governo de Epitácio Pessoa e à candidatura do mineiro Artur Bernardes (1875-1955). O estopim da crise militar foi causado pela atitude do governo de fechar o Clube Militar e prender o seu dirigente, o ex-presidente marechal Hermes da Fonseca, acusado de tentar tumultuar o processo eleitoral em curso. Em 5 de julho, os revoltosos, sob o comando do capitão Euclides da Fonseca, filho de Hermes da Fonseca, tomaram o Forte de Copacabana e se rebelaram em outras unidades do Exército. muitos rebeldes capitularam abandonando o movimento. No Forte de Copacabana, restaram dezessete tenentes e um civil, que ficou conhecido como “Os 18 do Forte”, que decidiram levar adiante o movimento.



Quando a rebelião estourou, o Congresso Nacional apoiou imediatamente a solicitação do presidente Epitácio Pessoa aprovando o estado de sítio. O presidente organizou tropas para reprimir os revoltosos. Diante das expressivas forças governamentais, muitos rebeldes capitularam abandonando o movimento. Mesmo com a crise militar aberta com a revolta tenentista, o presidente Epitácio Pessoa conseguiu que o candidato escolhido pelos estados de Minas Gerais e São Paulo para sucedê-lo, o mineiro Artur Bernardes, ganhasse as eleições presidenciais.



Com a eleição de Artur Bernardes, é possível imaginar que estava mais uma vez garantida a supremacia da política do "café-com-leite". Porém, a conjuntura que se abria com os sucessivos conflitos políticos e sociais e as revoltas contra o governo, tornava incerta a continuidade da dominação política pelas oligarquias tradicionais. Artur Bernardes durante os quatro anos de seu mandato (sob estado de sítio), foi frequente a censura à imprensa, ao mesmo tempo que vários oposicionistas (civis e militares) foram presos e desterrados para os campos de internamento que existiam na Região Norte do país. Quer dizer, bem antes de Hitler (1889-1945) “inventar” os campos de concentração o Estado do Acre já se prestava a este papel como também era o similar tupiniquim da Sibéria onde os opositores ao regime eram “premiados” com trabalhos forçados. Na Revolta da Vacina (1904) centenas de rebeldes e, de roldão, opositores também, foram condenados a trabalhos forçados no Estado do Acre. Artur Bernardes promoveu a única reforma da Constituição de 1891, reforma que foi promulgada em setembro de 1926 e que alterava principalmente as condições para se estabelecer o estado de sítio no Brasil.



E, para fechar a Primeira República, foi eleito Washington Luiz, O Estradeiro (“Governar é abrir estradas”), ou “Doutor Barbado” apelido que ganhou durante a “revolução de 1930” pelos seus opositores. Recentemente tivemos também um presidente barbado, porém não era doutor, a menos que a meia dúzia de títulos de “doutor honoris causa” que lhes foi arranjado por bajuladores e outras tralhas supram a ausência de formação acadêmica formal. Este presidente também era conhecido como o “paulista de Macaé”, nascido nesta cidade e com toda sua vida em São Paulo. Mas isso não é um fenômeno raro. Fernando Collor nasceu no Rio de Janeiro, porém sua vida está em Alagoas; Itamar Franco, nascido na Bahia e com sua vida em Minas Gerais; FHC também carioca e com sua vida “sociologicamente mansa” em São Paulo; Lula nascido em Pernambuco e “fez a vida” também em São Paulo e, por último, Dilma Rousseff nascida em Minas Gerais e assentou-se no Rio Grande do Sul. Donde se conclui que todos os estados brasileiros são capazes de produzirem os mais diversos lambões. Em 1929, Washington Luís apoiou Júlio Prestes (1882-1946), presidente do estado de São Paulo à sua sucessão, rompendo a Política dos Governadores (café com leite). Os presidentes (governadores) de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba negaram apoio ao candidato oficial formando Aliança Liberal e lançam Getúlio Vargas candidato a presidente da República, e o presidente da Paraíba, João Pessoa como candidato a vice-presidente. Júlio Prestes venceu a eleição contra os protestos da oposição que denunciava fraude. Mas, com seiscentos diabos, como pode não haver fraude em eleições com voto aberto? Com o voto secreto Leonel Brizola (1922-2004), quase foi “garfado” no que ficou conhecido como o Escândalo da Proconsult. João Pessoa (1878-1930), sobrinho de Epitácio Pessoa, presidente do Estado da Paraíba, é assassinado por motivos passionais, mas recebe conotação política, acrescido da grande depressão de 1929 (a quebra da Bolsa de Nova Iorque arrastou consigo todo o mundo. A crise subprime em 2008 reviveu a artificialidade da economia americana que, sem controle, arruinou diversos países) servem de pretexto para reunir as forças aliancistas, que conspiram e iniciam uma “revolução” em 3 de outubro de 1930, está explicado por que as eleições são neste dia. No dia 24 de outubro de 1930, os ministros militares depõem Washington Luís e o prendem no Forte de Copacabana e uma junta militar assume a presidência entregando-a a Getúlio Vargas em 03 de novembbro de 1930. Para alguns historiadores o século XX, no Brasil, começa ai.



DE LÁ PARA CÁ...





Foram nestas bases que se ergueu o edifício republicano. A partir de 1930 a história pela disputa do poder prossegue encarniçadamente: o Estado Novo de Vargas (“cacetete não é santo, mas faz milagres”, general Góes Monteiro, 1889-1956) sua queda, volta ao poder pelo voto direto, suicídio e a tumultuada sucessão que prometia mais uma ruptura institucional não fosse o “golpe preventivo” do marechal Henrique Teixeira Lott (1894-1984) garantindo a posse de Juscelino kubitschek (1902-1976), o construtor da “Ilha da Fantasia” (tudo é faz-de-conta: saúde, educação, habitação, transportes, segurança pública, etc. e bota etc. nisso) ou, mais apropriadamente, a “Terra do Nunca” (nunca se importam como o povo). A seguir o fenômeno eleitoral (em apenas quinze anos foi de vereador à presidente da República) Jânio Quadros (1917-1992) que tentou dar um golpe a fim de obter plenos poderes e transformar-se num novo ditador. O tiro saiu pela culatra sendo sua renúncia imediatamente aceita e o cargo declarado vago. Seu sucessor, João Goulart (1919-1976), em missão oficial à China (esta viagem fazia parte dos planos ditatorais de Jânio) encontrou forte resistência nas Forças Armadas para assumir o poder sendo proposto e aceito um sistema parlamentarista capengo que retirava-lhe parte dos poderes os quais são restituídos em 1963 através de um plesbiscito. Porém, a conspiração nos meios militares e civis caminhava célere e em 31 de março de 1964 (esta é a data oficial, os militares não queriam comemorar sua “revolução” no dia seguinte consagrado à mentira, a troça, ao embuste). Foram vinte e um anos nos quais cinco generais de plantão se revezaram com um intervalo em 1969 para a ocupação da presidência da República por uma Junta Militar, também conhecidos como os três patetas, que negaram a posse ao vice-presidente eleito (indiretamente) Pedro Aleixo (1901-1975) por ocasião do afastamento do titular por motivos de saúde (mais uma Constituição rasgada, a de 1946 e promulgada a de 1967, com a Emenda nº 1 de 1969). Quem pensa que os militares só realizaram obras farônicas (Ponte RioNiterói, Itaipu, Metro, o fiasco da Transamazônica, etc) estão enganados. Foram capazes até de, não sendo santos, realizarem o “Miligare Brasileiro” que concentrou a renda ainda mais e impediiram qualquer distribuição de renda. Também violaram sistematicamente os direitos humanos (prisões arbitrárias, tortura, desaparecimento, sequestro, deportação e morte) suspenderam os direitos constitucionais, instituiram a pena de morte, censuram a imprensa, os intelectuais, os artistas, aleijaram a disciplina História, interviram na produção acadêmica, fecharam sindicatos e organizações da sociedade civil. Caso for enumerar os crimes cometidos pela ditadura militar (1964-1985) serão necessárias incontáveis páginas. Nós não derrotamos a ditadura, ela estava desgastada e o que aconteceu foi um acordo tácito entre militares e civis para a transferência do poder. Prova disto é a Lei de Anistia (Lei 6.683 de agosto de 1979) que consolidou o “esquecimento” em nome da reconcialiação nacional. Não haveria retaliações. Tanto os militares quantos os opositores (armados e não-armados) que chorassem suas mágoas na cama que é lugar quente. Agora vêm com essa conversa de Comissão da Verdade. Esta medida teria de ser implantada no primeiro dia do governo Sarney (1985-1990) para apurar todos os crimes em ambos os lados punindo seus praticantes. A Anistia só serviu para deixar criminosos impunes e fomentou uma indústria de aposentadorias, pensões e indenizações para um pequeno número de pessoas sendo que muitas das quais sequer tinham idade para terem sido perseguidas pelo regime militar. É o caso do sócio do Lula na LILS Palestras e Eventos Ltda Paulo Okamoto (1956-) que em 1964 tinha 8 anos de idade e, segundo me lembro, o regime militar não primava por perseguir crianças e do próprio Lula (1945-) que recebe aposentadoria como anistiado político sem nunca haver se engajado em qualquer movimento de esquerda, ficou preso em maio de 1981 por causa da greve, mas não tocaram em nenhum fio de sua mal cuidada barba, enquanto a viúva do ex-presidente João Goulart só obteve o benefício em 2010).



O Governo Sarney está elencado como um dos governos mais corruptos que o Brasil já teve (Fernando Henrique Cardoso, 1931-, e Lula estão disputando este título também). O maranhanse não foi pior porque seu mandato herdado (Tancredo Neves, 1910-1985, faleceu antes da posse) só durou cinco anos (outra Constituição rasgada, a de 1967, com a Emenda nº 1 de 1969). Trocou várias vezes de moeda, declarou moratória na dívida externa, bagunçou a economia, provocou a maior crise de abastecimento já vista, empobreceu ainda mais o povo. Burlou a lei elegendo-se em 1990 a senador pelo Estado do Amapá e continua “representando” este estado até os dias atuais envolvido em todo tipo de falcatrua (nomeações, decretos secretos, desvio de verbas, e a lista de “deslizes” é imensa0. Seu sucessor, Fernando Collor de Mello (1949-), foi mal informado desde o início: imaginava estar concorrendo a vaga de imperador e não de presidente da República. E, sendo assim, a primeira medida foi apreender os ativos (nem Hitler ousara tamanha violência quando assumiu uma Alemanha arruinada em 1933) e, a exemplo de Sarney, trocou a moeda e engendrou planos econômicos que só fizeram afundar mais a nação. Collor foi afastado por suspeita de corrupção, porém o Judiciário brasileiro decidiu o contrário absolvendo-o em todos os processos, mas ai os congressistas já haviam dado o golpe político e empossado Itamar Franco (1930-2011) que, diga-se, tal como Eurico Gaspar Dutra, não foi e não deixou que ninguém fosse. Contudo, foi durante sua gestão que elaborou-se o Plano Real que, a despeito do custo/benefício é bem melhor do que uma inflação de 84% ao mês na gestão Sarney. A seguir vem o governo do sociólogo FHC que não rasgou a Constituição apenas a estuprou comprando dos deputados e senadores o instituto da reeleição. Doou as empresas brasileiras numa ação entre amigos deplorável, achatou os salários, endureceu a política previdenciária, surrupiou direitos garantidos desde a Era Vargas. Seu governo foi extramente benéfico para banqueiros, empresários, empreiteiros e outros vigaristas que sugam os recursos da nação. Lula, que gaba-se por não ter instrução. Não tem porque nunca foi homem afeito às letras, pois não trabalha desde 1975 e teve muito tempo para estudar ou, pelo menos, para aprender a falar a língua pátria. Lula declarou em entrevista à revista “Playboy”, em julho de 1979 "Há algumas figuras que eu admiro muito, sem contar o nosso Tiradentes e outros que fizeram muito pela independência do Brasil e pela melhoria das condições do povo. Por exemplo, o Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer. O (Aiatolá) Khomeini (1902-1989), não conheço muito a coisa sobre o Irã, mas a força que o Khomeini mostrou, a determinação de acabar com aquele regime do Xá (Reza Pahlavi, 1941-1979) foi um negócio sério". Ora, um sujeito com mais de trinta anos (na época) nas costelas dizer uma bobagem dessas é de matar de raiva qualquer cristão, ateu e, principalmente, judeu. Entre as bobagens que diz e as besteiras que faz pouco se aproveita. Seu governo é forte candidato a eleger-se o mais corrupto até então (até nisso fez questão de competir com o sociologo). Os banqueiros se soubessem que Lula lhes traria tantos lucros já o teriam feito presidente em 1989. A corrupção, a fraude, a mentira, a permissividade, os acordos espúrios, os conchavos e todo tipo de mazela correu livre, leve e solta na administração do filho pródigo de Garanhuns (PE). Duas coisas devo reconhecer no ex-presidente Lula: sem apelar para uma ditadura ou violência física conseguiu roubar o discurso da oposição e liquidá-la. E, por esse motivo, conseguiu eleger Dilma Roussef (1947-), fabricada à imagem e semelhança de seu Criador, Chefe, Patrono, Patrão, Mentor e Eminência Parda... ou seria cabloca?



É para esta República que devo bater palmas no dia 15 de novembro? Ora, poupe-me desse vexame.





CELSO BOTELHO

05.11.2011



NOTA DO AUTOR:



Na época do descobrimento, ou do achamento (como diziam os portugueses), o Brasil era o paraíso das aves para os navegadores que aportavam por aqui. Tanto que entre as primeiras exportações da Colônia estavam as aves. Os papagaios chegaram a servir de alimento durante as longas viagens pelo mar. Na Europa, a Corte Portuguesa ficou encantada com a beleza destas aves e, por esse motivo, durante algum tempo, referiam-se ao Brasil como “Terra dos Papagaios”.