segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O SERTÃO VAI VIRAR MAR E O MAR VIRAR SERTÃO? (III)





No último dia 30 de novembro postei aqui no blog matéria a cerca das obras de transposição do rio São Francisco as quais sumiram dos noticiários da grande mídia. Pois bem, no último dia 4 o jornal o Estado de São Paulo publicou uma excelente reportagem sobre a realidade na qual se encontra o “megaprojeto”. A matéria está assinada por Eduardo Bresciani, Estadão.com.br e Wilson Pedrosa, enviados especiais, Floresta (PE). Fica explícito o mau planejamento, a má gestão, o desvio, o desperdício, a corrupção, a malversação dos recursos públicos e o caráter político-eleitoral da empreitada. As fotos e o vídeo do padre Sebastião Gonçalves e os depoimentos de moradores do local são provas irrefutáveis do câncer maligno que são as sucessivas administrações da República, seja em qualquer de suas esferas. De acordo com o jornal a obra está atualmente orçada em R$ 6,8 bilhões, 36% a mais do que a projeção inicial. Segundo o ministério, foram empenhados R$ 3,8 bilhões para a obra e pagos R$ 2,7 bilhões às construtoras. O inútil ministério da Integração Nacional informa que as empresas serão responsabilizadas e que terão que refazer o que está destruído sem que transportasse um litro de água do Velho Chico. Dos 14 lotes, seis estão paralisados e em um deles a obra sequer foi licitada. Dar uma coça de chicote nestes malfeitores incrustados no governo constituir-se-ia num vantajoso prêmio para eles.



Segundo o incompetente ministério da Integração Nacional a obra chegou a contar com nove mil trabalhadores, e atualmente tem apenas 3,8 mil pessoas atuando nos canteiros. A pasta (rota) informa, porém, não haver mais possibilidade de recuperar todos os postos de trabalho porque o estágio atual do empreendimento necessita de menos mão de obra. A expectativa é que, no final de 2012, quando as ações retomarem o ritmo forte, seis mil operários estejam atuando na transposição, isso se as previsões Maias estiverem erradas e o mundo não se acabar. Existem problemas com as comunidades, casas que foram danificadas pelas explosões (segundo os moradores “lembra um terremoto”), indenizações não pagas e no geral de valores irrisórios, um posto de saúde (são quatrocentas famílias cadastradas neste posto) na rota da transposição para o qual o “megaprojeto” não oferece solução alguma deixando aquela gente, já mal assistida, esquecida e humilhada numa penúria completa. O tal ministério, de acordo com algum de seus “aspone”, assegura que repassará recursos para a prefeitura de Floresta para a construção de um novo posto em terreno que ainda será desapropriado, não temos notícia, entretanto, de quando isto irá acontecer se no dia do Juízo Final ou quando o Sol tornar-se uma estrela-anã (este último deve ocorrer, segundo os cientistas, daqui a uns cinco bilhões de anos). De acordo com a reportagem na Agrovila 6, próxima à cidade de Petrolândia (PE) depararam-se com um povoado tranqüilo e calmo onde não havia nenhum escritório das empresas responsáveis pela maior obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento ou da Corrupção, tanto faz) e os antigos operários retornando às suas roças.



Segundo o Estadão a Gaiola das Loucas (e dos Loucos), isto é, o Palácio do Planalto teme que os projetos de transposição do rio São Francisco e das ferrovias Transnordestina e Leste-Oeste, promessas de campanha em 2010, não sejam concluídos no atual governo. No próximo artigo vou falar sobre esta ferrovia. Então, afirmo, não precisa mais temer, pois não serão mesmo finalizadas neste prazo. O ex-presidente Lula sonhava em inaugurar ainda em seu corruptissímo mandato o Eixo Leste e não deu. Caso tudo corra bem (ou escorra bem em cifrões) no final de 2014 o molambento ministério da Integração Nacional acredita que poderá fazer os primeiros testes no Eixo Leste, bem acreditar cada um acredita no que quiser, até no PT. O cerne da questão está na insaciável ganância de todos os envolvidos no polêmico projeto, especialmente as empreiteiras que reclamam por aditivos (segundo o jornal Valor Econômico a "enxurrada" de pedidos de aditivos dos empresários, apenas nesta obra, chega a R$ 700 milhões), as licenças ambientais que estão custando no mercado negro uma nota preta e os prefeitos e governadores que teimam em se apresentarem como parceiros na distribuição do botim. Todos os empreiteiros desapareceram: a Mendes Junior, a Emsa, a Camter, a Engesa. Os materiais (cimento, vergalhão, etc.) estão abandonados o que faz a alegria dos larápios.



A transposição do rio São Francisco é mais uma das muitas operações lesa-pátria de que se tem notícia neste Brasil varonil. A transposição é um embuste, desnecessária, posto existirem alternativas mais econômicas e com um alcance muito maior. Obras desta magnitude quando bem planejadas, geridas, fiscalizadas ainda assim carregam consigo desdobramentos negativos imprevisíveis quanto mais realizadas “no joelho” como é o caso da transposição do rio São Francisco. No entanto, o leite já foi derramado e de nada adianta ser contra ou favor. Cabe agora fiscalizarmos o seu andamento, a aplicação dos recursos e exigirmos que se façam as obras complementares que possam atender a um número de brasileiros maior, por bem ou por mal. De preferência por mal, posto que o governo jamais se mostre sensível aos reclamos e as necessidades da sociedade. A sensibilidade dos homens públicos está nos extratos bancários de suas polpudas contas robustecidos pela dor, miséria e sofrimento de milhares de brasileiros.



CELSO BOTELHO

05.12.2011