sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A CAMINHO DO ESTADO ONIPOTENTE E ONIPRESENTE

Nas revoluções políticas os povos ordinariamente mudam de senhores sem mudarem de condição. (Marquês de Maricá, Mariano José Pereira da Fonseca, 1773-1848)



Há alguns dias recebi um e-mail de um dos muitos idiotas que perambulam por ai dando pitacos sobre todas as coisas sem um mínimo de conhecimento sobre coisa alguma. O sujeito é daqueles que compraram a ideia de que o comunismo ruiu junto com a União Soviética. Ou o sujeito é um tremendo de um bocó ou engrossa as fileiras de militantes histéricos da esquerda. Na primeira hipótese está prestando um serviço inestimável aos comunistas em propagar sua extinção. Não há fato mais alentador para o inimigo do que negar-lhe a existência. No segundo caso encontra-se mentalmente domesticado pelos psicopatas esquerdistas. De qualquer maneira este elemento e milhões como ele são induzidos a crer nesta grande mentira. O movimento comunista já dura mais de cento e cinquenta anos sendo o único com uma capilaridade internacional e uma estratégia dialética capaz de integrar-se em qualquer situação, em qualquer tempo e espaço. A esquerda revolucionária sempre trabalha com duas ou mais vertentes e, dependendo de como se desenvolvam e comporte-se nelas se farão presentes com maior ou menor intensidade ou visibilidade. Exatamente por isso seu discurso é ambíguo, camaleônico, contraditório. Estas condições não o compromete, não o envolve numa camisa de força. Os países, ao contrário do que se possa pensar, são apenas instrumentos para o movimento comunista internacional. Sua queda ou ruína jamais o derrotou. O discurso ambíguo lhes proporciona obter vantagens tanto da miséria como da prosperidade. Os revesses são propulsores deste movimento permitindo uma auto avaliação, atualização estratégica e uma nova engenharia política. Esta última vem a constituir-se de uma parte nominal e outra real. A primeira é revelada enquanto que a segunda é camuflada, posto ser exatamente o objetivo almejado e não enunciado. Todas as ações nominais sempre serão pensadas e coordenadas pela parte real e subterrânea.



No imaginário popular o estabelecimento de um Estado socialista se dará através da tomada do poder pelas armas, numa revolução ou golpe de Estado no sentido clássico do termo. Sendo suprimidos direitos e garantias, propriedade privada e a adoção imediata da socialização dos meios de produção. Ledo engano. A extinção da propriedade privada e a total socialização dos meios de produção são impossíveis. Uma economia planificada funciona tão bem quanto um automóvel sem motor e rodas. Sempre haverá uma economia de mercado ilegal, estimulada e protegida pelo governo socialista. A china é um bom exemplo. Seu governo é comunista, porém sua economia é de mercado (um mercado estrambótico, mas mercado). O socialismo precisa do capitalismo para financiar-se uma vez que seu modelo econômico é inviável. Existe uma simbiose entre o capitalismo e o socialismo. Ambos se favorecem. Tanto o capitalismo quanto o socialismo se aproveitam da cultura esquerdista, seus signos e símbolos para ganhar dinheiro. Aliás, no capitalismo ganha-se dinheiro até mesmo quando se denigre o próprio capitalismo. Porém, quem espera uma ruptura abrupta é melhor tirar o cavalo da chuva. A implantação do regime do partido único e onipresente já está acontecendo e a maioria das pessoas não está se dando conta disso. Uns por ignorância e outros por conveniência. No Brasil, a Declaração de Março de 1958 (documento aprovado pelo Comitê Central do Partido Comunista do Brasil em 22 de março de 1958) diz, textualmente: [para estabelecer um] “governo nacionalista e democrático através da conquista de espaços, da luta pacífica e das eleições.” Portanto, a mais de meio século que a esquerda revolucionária já compreendia a impossibilidade da tomada do poder através das armas, especialmente levando-se em conta um país com tais dimensões. Ocupar espaços, luta pacífica (revolução cultural) e participar de eleições são os três elementos que possibilitaram a ascensão da esquerda ao poder. A luta armada nas décadas de 1960 e 1970 era parte integrante da estratégia da esquerda revolucionária para desviar a atenção dos militares enquanto punham em prática aqueles três elementos primordiais ocupando sindicatos, redações de jornais e revistas, emissoras de rádio e televisão, movimento editorial, universidades, entidades representativas, associações, etc. promovendo uma revolução cultural planejada, invertendo, subvertendo, suprimindo e acrescentando elementos capazes serem assimilados e cristalizarem-se determinando novos paradigmas e, participar do jogo político pelas regras estabelecidas antes, durante e depois do regime militar (1964-1985). Fizeram isto com extrema competência e total apoio da Igreja Católica, dos banqueiros e empresários, dos conservadores (estes por omissão e preguiça intelectual), dos militares (em matéria de política não passam de “vacas fardadas”, segundo o general Olímpio Mourão Filho, 1900-1972) por ingenuidade, cumplicidade ou ignorância mesmo. O regime militar nunca combateu o comunismo de fato. Poderia ter feito campanhas que revelassem à população as atrocidades que cometera mundo a fora. O comunismo produziu mais vítimas fatais do que a primeira e segunda Guerra Mundial juntas. Os generais limitaram-se a combater as organizações clandestinas convictos de que assim estavam desmantelando o comunismo. Enquanto os militares distraiam-se dando tiro, prendendo, torturando e perseguindo integrantes destas organizações que desempenhavam o ingrato papel de bois de piranha o rebanho passava tranquilamente, sem maiores sobressaltos. Infiltrados nos partidos políticos legalmente constituídos iam conquistando espaços legitimados pelo voto o que lhes permitiu a ascensão e os meios para corroer, deturpar e destruir os valores e direitos da democracia desde dentro. E é exatamente o que vêm fazendo. O fato é que ao examinarmos todo o período do regime militar constata-se esta associação da esquerda revolucionária com estas forças que, supostamente, deveria combatê-la e não afagá-la. A omissão por opção, vocação ou ignorância constitui-se num afago, num estímulo, num consentimento não declarado à esquerda revolucionária. Por outro lado não seria justo imputar somente aos militares a responsabilidade pelo sucesso da esquerda no Brasil. Outros fatores podem ser apontados. No entanto, neste período percebe-se a dilatação do movimento esquerdista revolucionário com a ocupação de espaços e a propagação da revolução cultural não somente nos meios acadêmicos, sindicais, representativos, políticos, econômicos, etc., mas alcançando toda a sociedade maquiando, invertendo e mesmo suprimindo significados. Esta foi a primeira etapa. A segunda foi a conquista do poder em 2003 com a eleição do ex-presidente Lula. A terceira está ocorrendo neste momento. A ruptura. O processo de ruptura está em pleno curso e depende apenas do rumo dos acontecimentos para que se efetive ou aguarde uma conjuntura mais propícia. O elemento fundamental nesta etapa é deficitário: uma militância numerosa e unívoca para respaldar a ruptura. Não do dia para a noite e sim de forma gradual e segura (para a esquerda) por que, mesmo dispondo desta militância em número apreciável, encontramos um vasto número de cidadãos que resistirá ao estabelecimento de um regime de partido único e onipresente formal. Esta é a principal dificuldade. Porém, não é intransponível, posto que lancem mão de inúmeros artifícios para aliciar e arregimentar parcelas significativas em todas as camadas sociais. Mesmo instaurado o processo de ruptura a esquerda forçosamente continuaria equilibrando-se entre manter-se obediente a legislação que rege o país e o atendimento as suas premissas. É um equilíbrio muito delicado e sensível que só pode ser levado a cabo por um político muito habilidoso, astuto e carismático. E Dilma Rousseff não se enquadra neste perfil.



As manifestações que vem acontecendo no país desde o mês de junho são um balão de ensaio dos agentes da ruptura. É uma tolice pensar que as manifestações ocorrem espontaneamente. São planejadas, coordenadas e executadas por gente que sabe o que está fazendo. Até os vândalos, depredadores e saqueadores fazem parte da estratégia. Por certo que muitos bandidos e oportunistas aproveitam-se da situação. A baderna é um meio da esquerda por à prova o governo Dilma Rousseff e avaliar sua capacidade para atuar como agente da ruptura ou se deve ser substituída. Tudo indica a segunda opção, posto ser óbvia a incompetência “do presidenta” em debelar, acomodar e gerenciar a situação a que foi submetida. Nesses meses que nos separam da eleição não é impossível que d. Dilma possa se recuperar e manter-se no cargo, porém creio ser pouco provável. Vale a pena relembrar o ex-governador de Minas Gerais Magalhães Pinto (1909-1996) quando dizia que política é igual às nuvens, muda de forma toda hora. Provocar um tensionamento na sociedade para avaliar a estratégia esquerdista em curso, determinar onde e como impor mais controle social legal aumentando seu poder de repressão não se constitui em novidade dentro da estratégia da esquerda revolucionária. Para aqueles que ainda pensam que a descrição deste processo não passa de teoria da conspiração ofereço como prova irrefutável a participação de cinco funcionários públicos federais detidos durante a manifestação que ocorreu em Brasília no dia 14 de junho deste ano quando uma avenida foi interditada com a queima de pneus (o motorista em depoimento afirmou haver recebido R$ 250,00 para transportá-los). São eles: Mayra Cotta Cardozo de Souza, assessora especial da Secretaria Executiva da presidência da República; Daniel Gobbi Fraga da Silva, especialista na Assessoria Internacional do Gabinete da Secretaria-geral da presidência da República; João Vitor Rodrigues Loureiro, assessor da Subchefia para Assuntos Jurídicos da presidência da República; Gustavo Moreira Capela, assessor do Gabinete da Subprocuradoria-geral da República e Gabriel Santos Elias que até maio deste ano desempenhou a função de assessor técnico da Subchefia de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Relações Institucionais da presidência da República. Dia 27 de junho em Fortaleza os vereadores Ronivaldo Maia (PT) e João Alfredo (PSOL) estiveram presentes no 16º Distrito Policial ao término da partida entre Espanha e Itália pela Copa das Confederações e pagaram R$ 2 mil para que os presos em flagrante durante o protesto em Fortaleza fossem liberados pela Polícia. Dia 28 de junho a Polícia Militar deteve um grupo de manifestantes e com eles três coquetéis Molotov sendo um dos detidos filho do vereador Marcos do Psol. São inúmeros os integrantes do governo e parlamentares envolvidos com as manifestações em todas as esferas e por todo o país. De acordo com o serviço secreto da Polícia Militar de São Paulo o PSOL recrutava punks para atuarem nos protestos. Somente esses casos são suficientes para detonar qualquer insinuação de teoria da conspiração.



As manifestações não refluíram como apostou muito analista por ai. E nem poderia. Somente tomaram direções diferentes daquelas que a deflagraram. É óbvio que o processo, uma vez desencadeado, tende a sair do controle e produzir resultados que foram calculados e que não foram. Porém, isto não perturba a estratégia como um todo. Pelo contrário, sinaliza e aponta os ajustes que devem ser feitos. Todas as direções são avaliadas e selecionadas numa ordem de prioridades indicando quais as que precisam ser robustecidas e quais a ser aplacadas. As reivindicações nominais (saúde, educação, transportes, etc.) são meras alegorias e podem ser substituídas a qualquer momento dependendo do rumo dos acontecimentos. A insatisfação generalizada põe em xeque o moribundo Estado brasileiro. Este é o objetivo. A esquerda deseja substituí-lo pelo Estado onipotente e onipresente do partido único. Na prática isto já acontece tendo em vista não haver nada no Congresso Nacional que se pareça com oposição. Provocar o caos, confusão e desorientação baixando os critérios de julgamento moral da sociedade mutilando toda e qualquer escala de valores. E a maneira como instrumentalizam estes propósitos é facilmente reconhecida dentro da estratégia da esquerda revolucionária. Não se trata, portanto, de teoria da conspiração, vidência ou mágica. Basta uma análise um pouco mais apurada a partir da década de 1950 para se constatar que a esquerda brasileira vem ocupando espaços cada vez maiores e posições estratégicas que facilitam grandemente sua atuação. Com a criação do Foro de São Paulo, na década de 1990 por Lula e Fidel Castro, que reúne toda a esquerda latina americana e organizações criminosas como as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) foi possível dominar praticamente todo o continente sul americano. Esta entidade planeja, coordena e executa as ações a serem desencadeadas no Brasil e nos países vizinhos com toda desenvoltura sem ser questionada ou investigada. Mesmo sendo público e notório seu envolvimento com narcotraficantes, sequestradores, homicidas, etc. Existem provas contundentes acerca desta entidade criminosa, porém “as autoridades” (policiais, fazendárias, etc.), a grande mídia e outros jumentos insistem em classificá-la como um clube onde a esquerda se reúne para jogar gamão e beber cachaça e nunca para conspirar contra a democracia, o Estado e o cidadão. Mas ainda vagueiam por ai “iluminados” imbecis que, incapazes de uma leitura analítica da situação, tentam desqualificar quem procura estudar e compreender o processo com o único argumento que possuem: um “há, há, há, há” de desdém, o que já denuncia uma bagagem intelectual paupérrima, chegando aos píncaros da ignorância em contemplar-me com o rótulo de “extrema esquerda”. Só mesmo uma vistosa besta quadrada pode supor que eu seja um militante da “extrema esquerda” ou coisa pior. Não há nada nos textos que já escrevi que indique qualquer possibilidade de pertencer a extrema esquerda, extrema direita, extremo centro, extrema do extremo ou outra porcaria qualquer. Nem eu sei em qual corrente integrar-me que dirá um sujeito que sequer assinou a baboseira que escreveu, detalhe que demonstra seu despreparo e covardia.



Nas estratégias da esquerda revolucionária devem-se privilegiar suas essências em detrimento das aparências ou, como já disse os objetivos reais e não os nominais. Estimular, financiar e proteger movimentos de todas as ordens, contra e a favor, aparentemente desconexos, esdrúxulos e até irracionais fazem parte da estratégia e se presta para ajustá-la, corrigir direções, substituir agentes, torná-la mais palatável. Rigorosamente nada é executado sem planejamento, coordenação e um acompanhamento atento e ininterrupto. Há muito profissionalismo no movimento esquerdista. Ressalte-se que um profissionalismo voltado para a destruição de direitos e valores. O Estado brasileiro há muito se encontra em acelerado processo de deterioração e sua ruína total já não é mais uma questão de como e sim de quando. Quisera possuir a fórmula para reverter todo este caos em nosso país. No entanto, descrevendo mesmo que superficialmente a situação proponho que se avalie, reflita, identifique-se, questione-se e rejeite-se as intervenções que mostrem-se nocivas à sociedade e a nação removendo camada por camada dos discursos que as envolvem.



CELSO BOTELHO

14.08.2013