domingo, 14 de dezembro de 2008

É DEFINITIVO: ÍNDIO NÃO QUER APITO.


A pendenga estabelecida na Serra Raposa do Sol deixou de ser apenas uma questão entre fazendeiros e índios sobre a posse da terra para transformar-se num debate polêmico. Uns defendem a reserva contínua, como o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou com a possibilidade das Forças Armadas e a Polícia Federal intervirem quando necessário para garantir nossas fronteiras e a tal da segurança nacional, o diabo é saber quando, como e quem vai achar necessário. E com a disponibilidade material que as Forças Armadas contam certamente no momento que intervirem o estrago já terá sido feito. Outros não aceitam destinar-se mais de um milhão e setecentos mil hectares a pouco mais de dezesseis mil silvícolas, mesmo sabendo que em 1500 somavam algo em torno de cinco milhões dispondo de mais de oito milhões de quilômetros quadrados. Tem aqueles que abraçam a idéia de reservas descontínuas o que ilharia os fazendeiros e sitiá-los seria uma brincadeira de criança, ou melhor, de índio. Após examinar a questão muito amiúde pude chegar a três soluções. Primeira: se expulsa todos os fazendeiros, destrói-se toda vila, povoado ou cidade que existam na reserva. Mas o que fazer com toda essa gente? Simples. Os transformaríamos em pescadores, por exemplo, pois possuímos extensa faixa litorânea e poderiam morar em seus próprios barcos poupando-os dos contratempos existentes em lidar com a terra e reduzindo o déficit habitacional. Segunda: se expulsa os índios. Mas ai vem a mesma questão. O que fazer com eles? Bem, poderíamos demarcar reservas na caatinga e outras regiões inóspitas do Nordeste onde poderiam se deitar em suas redes o dia todo e ao crepúsculo caçar calangos e cobras, de qualquer maneira não gostam mesmo do batente. Terceira: entregamos o país incondicionalmente para os índios que passariam a exercer as maçantes atividades inerentes à nossa civilização e passaríamos à condição de tutelados confinados em reservas que nos determinasse e desfrutaríamos plenamente da ociosidade só a gozar a maravilha que é viver.


Como as três alternativas que apresentei são inverossímeis, estapafúrdias e completamente transloucadas é preciso pensar-se em algo minimamente razoável que possa atender ambos os lados. Não tenho muitos cuidados com índios ou fazendeiros porque, afinal, não são flores que se cheire. O que temo é que a excessiva benevolência do Estado deflagre, estimule e alimente um provável rompimento na soberania nacional a partir de ações que venham a agredir a nossa integridade territorial. O que, aliás, já vem ocorrendo de maneira ainda cautelosa e por caminhos legais, é só examinar a quantidade de terras naquela região adquiridas por estrangeiros e isto não é novidade para quem quer que seja. Orquestra-se há muito tempo um movimento fomentado por entidades nacionais e internacionais e países interessados sim numa internacionalização da Amazônia. Os governos brasileiros fazem vista grossa para o fato por motivos políticos e econômicos, sejam pessoais ou corporativos. O que continuaremos a assistir são as invasões, os assassinatos, a depredação e uma horda de politiqueiros fazendo a mais descarada demagogia.


Não tem cabimento algum demarcar-se uma reserva tão grande para tão poucos, sejam eles índios, cablocos, mamelucos, negros ou brancos. Isso foge ao racional. Foi-se o tempo que os silvícolas viviam da caça e da pesca. Hoje dirigem automóveis, navegam na Internet, comunicam-se através de aparelhos celulares, vestem-se com roupas de grife, praticam delitos que vão desde o furto até o estupro e assassinato passando pelo seqüestro, tortura e ocupação ilegal, possuem barcos a motor, viajam de avião e o cacete a quatro. Qual a origem do dinheiro para contemplá-los com maravilhas tecnológicas e as parafernálias consumistas? Resposta: as imensas reservas onde permitem a exploração ilegal. Porém, quando é para obter o que desejam do Estado (a Constituição além de tutelá-los os considera inimputáveis), vestem-se no melhor estilo indígena, sassaricam a dança da guerra e acampam em Brasília para intimidar a República que, corriqueiramente, está representada por incompetentes, vendilhões e hipócritas, para não falar dos corruptos. A propriedade privada é parte do nosso sistema capitalista e não importa que seja selvagem ou domesticado é preciso respeitá-la. A questão fundiária nunca entrou na pauta de qualquer governo neste país tenha sido ele colonial, imperial ou republicano. O que se deve levar em consideração é a ocupação produtiva da terra e não essa lengalenga de “função social”, uma ambigüidade safada, para se começar a pensar em qualquer coisa. O Brasil possue milhões de hectares nas mãos de uns poucos que não produzem nada além de capim, quando muito. Não posso deixar de admitir a necessidade de existirem reservas, porém, não posso aceitar a forma como se lida com a questão. É destrambelhada. Não é nada responsável entregar-se o galinheiro à guarda da raposa. Seja ela do Sol ou da Lua.


CELSO BOTELHO

14.12.2008